Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A BANALIDADE DO SEGREDO


por Mario Sales, FRC, S.:I.:, M.:M.:




Nós, místicos, achamos que o esoterismo tem um papel a desempenhar no engrandecimento do homem.
Na minha opinião este é um ledo engano.
Tudo que é esotérico em excesso, só atrapalha.
Perdeu-se nas noites dos tempos e deixou de cumprir seu papel de transmitir as maravilhosas verdades veladas por seus símbolos.
Os significados foram perdidos, ou pelo menos esquecidos, e penso, com um sorriso, na ingenuidade daqueles que acham que os símbolos não devem ser expostos aos profanos por receio de serem entendidos, como se os profanos pelo menos se interessassem em entender os símbolos, ou ainda , sua interpretação.
Estamos mergulhados numa sociedade apática e superficial, descrente e desprovidos de élan vital, para lembrar Bergson.
São os apáticos da forma, os que consomem cascas sem densidade.
Sim, haverá sempre aquelas honrosas exceções. Mas o Segredo De Forma perdeu todo o sentido por absoluto desinteresse de todas as partes que poderiam se interessar por ele e, em vez disto, demonstram desprezo, considerando o mar de informações inúteis e atraentes de cada dia, das quais as verdades esotéricas ocupam um parte ínfima e com as quais não tem a mínima chance de competição.
Importa mais o último escândalo do que o significado oculto na Tábua De Esmeralda.
Assumamos: nós, místicos, não temos nada de interessante para a mídia, para o consumo dos “Amantes Das Cascas”.
A noção do sagrado continua a ser um fenômeno pessoal e particular.
Nada têm a ver com razões externas e objetivas.
Não há um protocolo de aspectos, imutáveis, que determina aquilo que deve ser mantido sob sigilo.
Há muito que isto não existe mais. Só que muitos de nós, ainda achamos que temos algo a esconder.
Se tivermos, tal coisa está no nosso interior, e se não quisermos ou fizermos algum esforço particularmente importante jamais será tirado de lá.
Não, a época não é mais de esconder, mas de revelar, pois Apocalipse vem do grego apocalupsis, revelação.
E como revelar? Didaticamente, mastigando o sentido daquilo que é esotérico, ou está esoterizado.
Tenho certeza de que muitos que defendem o segredo são incapazes de colocar em termos modernos aquilo que o esotérico encobre, talvez por que nem eles saibam exatamente o que aquelas passagens obscuras de seus amados e esotéricos textos signifiquem, mas não queiram admitir, por que isto lhes tiraria a única sensação de superioridade que possuem: a de parecerem saber coisas que não sabem, aos olhos dos não iniciados.
Esta farsa precisa acabar; primeiro internamente, dentro das muitas escolas esotéricas sérias do planeta, depois externamente.
Precisamos, nós, membros de todas as tradições místicas, começar a estudar melhor nossos textos, em conjunto se necessário, pois a dificuldade é imensa e precisamos de ajuda, temos que admitir.
Ao final, veremos, estou certo, que não havia tanto a ocultar. E que os discursos de todas as culturas são semelhantes.
Talvez quem saiba, possamos recuperar o texto inicial que deu origem a tantas lendas e variações.
O TEMA INICIAL, a Sabedoria Primeva, a Herança dos Atlantes e Lemurianos, estão ocultas na noite dos tempos. Qual será sua face, sua voz?
Não sabemos.
O vaso sagrado foi partido em milhares de pedaços: sufismo, budismo indiano, tibetano, japonês; xintoísmo, islamismo, cristianismo, judaísmo e cabala;vedanta, sankya, yoga.
Tantos pedaços que sem um esforço coletivo, corremos o risco de esquecermo-nos, todos nós, do significado oculto em todas estas tradições, partido em mil pedaços.
É uma escolha que teremos que fazer . Nós, preservadores da Tradição, em breve teremos que decidir o que faremos com o conhecimento que guardamos há tantas centenas de anos.
Aquele que tem consigo uma carta guardada há muitos anos, às vezes esquece que ela foi escrita para ser entregue a alguém.
Somos tradutores e mensageiros .
Se não entregarmos a carta que nos foi confiada, estaremos trabalhando a favor das Forças da Trevas e ocultando do destinatário exatamente aquilo que deveríamos entregar.
A História e o Tempo nos observam e nos julgarão.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O SAGRADO



Por Mario Sales, FRC, S.:I.: ,M.:M.:

Salmo 123, vers. 1,2,3
Cântico dos degraus, de Davi
“1.Para Ti que habitas nos céus, levanto os meus olhos.2.Eis que como os olhos dos servos atentam para as mãos de seus senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora,assim os nossos olhos atentam para o senhor nosso Deus, até que tenha piedade de nós.3.Tem piedade de nós, ó senhor,tem piedade de nós, pois estamos assaz fartos de desprezo.”

Assim diz o salmista, o Rei Davi, acerca de sua compreensão peculiar de Deus, Todo Poderoso.
Quais as inferências que fazemos deste texto tão singelo?
Vejamos, a mais evidente é a de que o salmista fala com outro ser: ele, Rei Davi, conversa com Deus, e o compara a um senhor e, o Rei, ele mesmo, apresenta-se como seu servo. Servo e senhor, dicotomia irreconciliável, dois pólos de uma única equação. O que concluímos? São dois seres, não um.
Davi, o Rei salmista, considera-se separado de Deus. Deus está lá, em algum lugar, e o salmo esclarece, “tu que habitas nos céus”, portanto um ser distante, no alto.
Ele, por sua vez, aqui em baixo, na Terra, presume-se, bradando ao seu Deus distanciado.
O Salmista, portanto, postula uma separação entre ambos, talvez intransponível; Deus, para aquele autor, é um fenômeno extremamente distante, e por isso, inatingível.
Toda a tradição judaica aposta nesta separação.
Existe Deus, o Criador, e existem suas criaturas, os homens. Duas entidades separadas.
Separação.
Toda a cultura Judaica, e mais tarde aquela que derivará do ensinamento cristão, continuará esta tradição de separação.
O Sagrado sempre esteve e foi Separado, do comum dos mortais.
Entre os membros da Igreja, Santo Agostinho afirma, ainda no século IV de nossa era, no texto de suas Confissões:
“Quem é Deus? Perguntei-o à Terra e disse-me: “Eu não sou.” E tudo que nela existe respondeu-me o mesmo.Interroguei o mar, os abismos e os répteis animados e vivos e responderam-me: “Não somos o Teu Deus; busca-o acima de nós”.
Separação. Separado. Deus não está no salmista, não está no santo, nem mesmo está na Criação, mas separado de todos, distante, embora capaz de captar suas súplicas.
Este é o postulado não tão oculto, mas que na maioria das vezes opõe o que chamamos crenças religiosas ou pelo menos o Cristianismo Institucional e o Misticismo Rosacruz.
São diferenças irreconciliáveis como poderemos demonstrar.
Todos nós, estudantes rosacruzes, conhecemos esta imagem: uma ligação em série de algumas lâmpadas, uma do lado da outra, pelas quais passa a mesma corrente, todas acesas pela mesma energia. Lâmpadas diferentes, talvez até de cores diferentes; mesma fonte, mesmo substrato. Em cada uma, a resistência determina a intensidade da luminosidade. Ao espiralar pelo filamento, a energia que por ali flui gera calor.
Calor e Luz.
Este é o modelo rosacruciano.
Nós somos lâmpadas, aparentemente diferentes, mas em série conectadas com a mesma fonte, que alimenta igualmente a todos nós. Se somos, somos porque ela garante que sejamos. Se existimos, existimos porque esta energia existe em nós. Nada somos se não pela sua Sagrada e aquecedora presença. Nada, absolutamente nada somos que não seja expressão daquela força.
Cessat Causa, cessat effectus.
Cessando a Causa, cessa o efeito.
Se a fonte desaparecesse, desapareceríamos com ela. Se nós desaparecemos, se uma das lâmpadas queima a energia persiste fluindo por todo o conjunto. O Sagrado no rosacrucianismo não é separado, é imiscuído, misturado, interpenetra todas as entranhas de nosso ser, e nos dá existência, garante a nossa presença no mundo.
Mundo. Uma das Lâmpadas. Não mais que outra lâmpada, acesa pela passagem da mesma energia, proveniente da mesma fonte.
Toda a natureza, um conjunto iluminado, que como uma árvore de natal brilha no contraste da escuridão a sua volta, e se diferencia dele.
Retire-se a tomada, entretanto, e tudo se apaga; recoloque-se a tomada, e tudo se acende numa demonstração primária e indiscutível da dependência de todo este espetáculo luminoso de uma única fonte, de uma única energia.
Para o místico verdadeiro, não há possibilidade de separação de seu Deus, do qual ele não pode se apartar. Nem necessidade de reintegração alguma àquilo mesmo de que ele já é parte integrante. Na verdade, nem mesmo parte ele é, pois não houve qualquer partição.
Como estimular qualquer místico rosacruciano à uma Re-integração, se nada para ele foi Des-integrado?
Como, como fala a monografia citada, falar-se em Unidade, em Re-União, se nada para o rosacruz está Des-Unido?
Por fim, como supor-se que Deus está Incógnito, Desconhecido, para um rosacruz que o sabe dentro de si?
Esta separação é e sempre foi didática, teve intenção didática, fez e faz parte dos esforços de explicar o chamado inexplicável, para homens que não podiam desfrutar do conceito de circuito em série de lâmpadas, umas ligadas às outras, tornadas luminosas pela passagem da mesma energia.
Que exemplo poderoso, que ordem poderosa esta que, com algumas linhas e um desenho, consegue demonstrar um dos conceitos mais importantes da vida mística.
Esta é a noção de sagrado para o místico. Mais que uma percepção, uma vivência. Um processo diário de polir, como Espinoza, a lente de seu corpo e sua mente para permitir o extravasamento mais claro e transparente desta luminosidade e deste calor interno que a Presença Sagrada manifesta dentro dele.
A Luz dentro de nós é infinitamente bela. E nós também. A Luz em nós é infinitamente forte, e nós da mesma forma, com ela. Somos faróis a lançar esta Luz para frente de nós e a nossa volta.
Somos a própria Luz. Sair da frente desta luz: esta é a nossa oração. Permitir que ela se propague livremente: este é o nosso desejo.
Que mais se pode dizer?
No capítulo XIII do Bhagavad Gita, intitulado “A Natureza, o Desfrutador e a Consciência”, Krishna diz a Arjuna: versículos 2 e 3:
“ Este corpo, ó filho de Kunti, chama-se o campo, e quem conhece este corpo chama-se o conhecedor do campo. Ó descendente de Bharata, deves entender que, em todos os corpos, Eu também sou o conhecedor, e compreender este corpo e seu conhecedor chama-se conhecimento. Esta é a Minha opinião.”
Krishna está em nós, diz o texto. Buda, ou o estado Búdico está em nós, diz o Sidartha. Cristo está em nós, diz Paulo Apóstolo. O Sagrado está, pois em nós, os profanos, tornados sagrados pela presença de Deus, ou melhor, pela Consciência de Deus em nós.
O que aumenta ao longo das eras?
A consciência de uma presença. A clareza acerca desta inexistência de distância, dessa amálgama do qual somos constituídos. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”, diz Delfos. Mas quem somos? Somos Deus manifesto; lâmpadas de sua Sagrada Luz, sua Sagrada Fonte.
Conhecer-se é saber-se um ser sagrado.
É respeitar-se, tratar-se a si mesmo com a deferência que trataríamos o Todo Poderoso se estivéssemos separados dele e o reencontrássemos. Tratar a si mesmo com respeito e devoção, não menosprezar-se, não subestimar-se, não nos desvalorizando achando que somos outra coisa distinta de Deus e iludidos por Maya julgamo-nos diferentes Dele.
Não, o homem não deve supor-se um caído, um ser menor, um exilado de um mundo melhor, pois Deus não está entre nós, mas em nós, e, portanto, este é o melhor dos Mundos, pois estamos N’ Êle e não com Êle.
Como o amante pode sentir-se mal na presença de sua amada?
Como o devoto pode sentir-se esquecido, na presença d’Aquele que é a sua devoção?
Como por fim acreditar-se nesta separação se cada fibra, cada célula de nosso ser místico, grita em nossos ouvidos espirituais
“Eu estou aqui, Eu estou aqui!!!”?
Não, a noção de separação não interessa ao místico, só ao religioso.
Só uma religião necessita deste nefasto conceito. É através dele que se justifica a necessidade do intermediário, daquele que intervirá entre nós e um ser qualquer distante, que só ele sacerdote pode tocar, só ele pode sentir, experiência proibida a todos os que não pertençam ao clero daquela fé.
Criam-se dificuldades para vender facilidades.
Só fazendo que os mais simples de espírito creiam que necessitam de um facilitador deste contato mantém-se a dependência desses mesmos indivíduos, deste esquema maligno, que conspira para afastar do homem sua Consciência, que faz do Sagrado, o Separado.
A droga mais viciante e mais cara, no início é fornecida de graça.
É preciso criar o mercado, o consumidor.
Depois, basta suprir a demanda, abastecer os que necessitam deste ópio maldito chamado Separação de Deus.

Agora, libertemo-nos de todas estas tristes imagens e fechemos os olhos.
Por um breve instante, deixemos que as trevas caiam sobre o mundo externo.
Respiremos, profundamente, uma, duas, três vezes.
Quietos, tranqüilos, levemos nossa consciência para o nosso peito, para o nosso coração. Sintamos as suas pulsações, sintamos sua regularidade, sua cadência.
Segundo a segundo, 70, 80 vezes por minuto, sentiremos nosso coração bater em nosso peito, manifestando e testemunhando a vida em nós.
Respiremos novamente, profundamente. Deixemos que o ar penetre nossos pulmões, e com ele, a Vida que ele garante.
Dependemos deste ar, deste coração em nosso peito, do oxigênio bombeado em nosso sangue e levado por nossas artérias por todo o nosso corpo.
Corpo. A Vida está em nós, e faz deste corpo uma de suas manifestações.
Por mais que nossa ciência tenha avançado, ainda não sabemos como criar Vida. Mas Deus sabe, e aqui estamos sentindo a pulsação de nosso coração e o bombear rítmico de nossos pulmões, Vivos, pelo poder e pela vontade de Deus, que nos alimenta com sua energia, que é a nossa energia, a nossa Vida.
Esta Vida, este corpo, aparentemente tão sólido, e no passado tão injustiçado, cujos desejos legítimos, programados em nós pelo Criador foram transformados em objeto de vergonha e nojo, este corpo, perseguido e humilhado pelas regiões, por ser perigosamente prazeroso e belo, é na verdade a morada de Deus. Nada deixa de ser santificado quando o sagrado está presente.
E se o sagrado está em nós, e não separado de nós, ele está, também em nosso corpo, neste momento, neste mesmo instante em que, de olhos fechados, percebemos sua presença pela sua manifestação de Vida nos movimentos automáticos de nossos corações e pulmões.
Existe Vida em nós. E nós não a Criamos.
Desfrutamos dela, mas não é nossa. Somos apenas Sua expressão, da mesma maneira que nosso corpo também é Sua expressão, Seu templo.
“Vimos a este templo sagrado, tornado sagrado pelos nossos pensamentos e conduta...” para viver, para experimentar em nós mesmos esta comunhão com a matéria e com o conhecimento.
Na Carne Sagrada que habitamos, evoluímos.
Na matéria, crescemos, e trabalhamos, e nos divertimos, pois este não é um exílio, mas nosso destino verdadeiro. Nada há além da vida e parafraseando Saint Martin “não há para mim dois tipos de vida, mas apenas uma vida” dentro ou fora do corpo, manifesto de forma visível ou invisível não importa, mas manifesto, pela graça do Sagrado que somos, e no qual estamos mergulhados.
Sim, como gotas no Oceano, que saltam na ilusão passageira e fugaz de independência da grande massa d’água ao seu redor, e para a qual, por gravidade retornará, devemos permitir o Sagrado em nós pela redescoberta de nossa beleza profana.
Pois só pela eliminação dos preconceitos contra a vida, veremos que o sagrado não está nos templos, mas que todas as coisas e todos os espaços são transformados em templos pelo sagrado em nós.
Então, como o Mestre, não oraremos em Igrejas ou Sinagogas, mas nos montes e Desertos;à beira do oceano e em barcos de pesca; nas festas de casamento, nos funerais; na casa de pregadores, dos rabinos ou de coletores de impostos; entre Judeus ou entre Romanos, pois ,diz Pedro, “Deus não faz distinção de Pessoas”.
Não oraremos apenas nos momentos de angústia, mas nos momentos de Glória; e agradeceremos todos os dias, por nossos dias, por nossas noites, por nosso sono e nossa vigília, num movimento de retroalimentação desta divindade em nós.
Agradeceremos pela Vida em nós, e em nossos descendentes, por nossas esposas e maridos, filhos e filhas, por nossos servos e senhores, pois em todos veremos a presença de Deus.
E como o Brâmane, não faremos distinção entre o sábio, o comerciante, o cachorro e o comedor de cachorro, pois em todos veremos a presença da mesma luz divina, independente da cor da lâmpada por onde passa a energia sagrada.
E ouviremos em nós a Sagrada Canção do Senhor, como no Gita, mantricamente a repetir:
“Fica sabendo com toda a certeza que Eu sou a origem e a dissolução de tudo o que é material e de tudo o que é espiritual neste mundo. Ó conquistador de riquezas, não há verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim, como pérolas encartadas num cordão. Ó filho de Kunti, Eu sou o sabor da água, a luz do Sol e da Lua, a sílaba om nos mantras védicos; Eu sou o som no éter e a habilidade no homem. Eu sou a fragrância original da terra e sou o calor no fogo. Eu sou a vida de tudo o que vive e sou as penitências de todos os ascetas. Ó filho de Pritha, fica sabendo que Eu sou a semente da qual se originam todas as existências, sou a inteligência dos inteligentes e o poder de todos os homens poderosos. Eu sou a força dos fortes, desprovida de paixão e desejo. Eu sou a vida sexual que não é contrária aos princípios religiosos; ó Arjuna, fica sabendo que todos os estados de existência – sejam eles em bondade, paixão ou ignorância – manifestam-se por Minha energia.”
Paz profunda a Todos.

sábado, 3 de abril de 2010

A VISÃO MÍSTICA



SEMINÁRIO
“CONHECE-TE A TI MESMO”
PRONAOS ROSACRUZ ITAQUERA

1° semestre de 2007





1.O homem não místico entende que Deus surge como criação da mente do homem
2.O místico sabe que o espírito, a mente e o corpo do homem são criações de Deus
3.O ateu , ou melhor , o ser sem sensibilidade mística, pensa o mundo e, quando o percebe, usa para isso seus sentidos físicos limitados, os quais mostram uma pálida idéia do que o cerca. Além da percepção física,que traz as informações de fora, o homem comum percebe também suas emoções, que lhe trazem as informações de dentro, com isso fechando o leque de possibilidades perceptivas.
4.São, portanto seres diferentes, que percebem universos diferentes e não há possibilidade de diálogo entre visões tão distintas
5.Didaticamente falando,o homem comum é como um computador não conectado a Internet enquanto o Místico é como um computador conectado.
O homem comum está só com seus pensamentos e depende inteiramente das coisas que possui em sua memória e em seu disco rígido.
Já o Místico não está só.Divide pensamentos e imagens com todos aqueles que estejam conectado através da Mãe de todas as redes .
Não está restrito ao seu próprio cabedal, mas, enquanto simples terminal, exibe o resultado de pesquisas feitas em toda a face da Terra .Sabe que a autoria de todo o conhecimento que ele transmite ao seu usuário não é sua, mas, mesmo assim, tem acesso a este conhecimento através da rede.
6.Por que algumas pessoas têm esta conexão estabelecida com a Rede Cósmica e outras não?
7.Trata-se da diferença de desenvolvimento da sensibilidade transpessoal.
Quanto a isto vamos fazer algumas considerações.
7.1.Quem busca uma boa conexão com a Internet?
Primeiro:quem tem um bom computador,capaz de um desempenho digno da rede;
Segundo:quem sabe da existência da rede;
Terceiro:quem tem condições de manter esta conexão (seja financeira ou intelectualmente).
7.2.Em termos místicos, quem busca esta conexão com Deus, ou com a Consciência Cósmica ou Rede Cósmica, como queiram?
Primeiro:quem tem um mente clara,capaz de perceber com clareza as inspirações que vem da Mente Cósmica
Segundo:quem sabe da existência da Mente Cósmica, ou Deus.
Terceiro:quem tem condições de manter esta conexão,(física e espiritualmente).
7.3.O que deduzimos desta imagem?Que é preciso chegar a determinado nível de sensibilidade intelectual e físico (saber usar um computador e ter acesso a um computador) para começar a ambicionar uma conexão rápida com a Rede , a Internet.Da mesma maneira, é preciso já um certo nível de sensibilidade espiritual e física (saber que a Mente cósmica existe, ter uma mente clara capaz de entrar em contato com esta Mente Cósmica e um corpo em bom estado psiquiátrico e neurológico) para desejar-se esta conexão rápida com a Mente Cósmica.
8.Para explicar por que uns sabem e outros não da existência desta Mente Cósmica precisamos recorrer à noção da Reencarnação.
9.Só a reencarnação explica a diferenciação entre os diversos tipos de pessoas que, desta forma, podem ser explicadas por maior ou menor antiguidade espiritual.
10.Corpo, personalidade-alma,( como chamam os rosacruzes ou espírito como chamam outras correntes), e mente, devem estar aptas a manter esta conexão desde que a pessoa conheça sua existência e queira entrar de maneira produtiva em contato com ela.
11.Sim , porque se pode ter contatos não muito produtivos.Não é preciso falar inglês para ir a Internet, mas é bom ter-se noções da língua e se falarmos e compreendermos a língua mãe da rede aproveitaremos muito mais os diversos sites que podemos visitar com duas opções de língua: a nossa e o inglês. Da mesma forma não é preciso ser uma pessoa intelectualizada para entrar em contato com Deus, mas seria bom que a pessoa tivesse algum grau de discernimento e algum vocabulário para descrever mais ricamente as inúmeras imagens que o todo poderoso do seu jeito peculiar desaba sobre as nossas cabeças.O Sistema Nervoso humano é limitado e se , ainda for pouco desenvolvido intelectualmente , gerará ao ter contato com a Fonte de Todo o Conhecimento relatos e descrições demasiado simbólicas e confusas complicando o que, em si , já é complicado.
12.Portanto, como para o contato com a Internet precisamos ter algum preparo, para o contato com a Mente Cósmica também. Recomenda-se que problemas de origem pessoal, vicissitudes da vida já estejam resolvidos ou que sejam administráveis para que não perturbem a relação entre o homem e a mente.
13.Para que o computador funcione bem toda a sua maquinaria (hardware) deve estar íntegra.Para o contato com Deus é recomendável que o corpo e principalmente o cérebro e a mente sejam saudáveis , da mesma maneira.Gostaria aqui de ressalvar que a parte mais importante de nossa existência é sem sombra de dúvida a nossa Lucidez, sendo que limitações físicas podem ser superadas com inteligência e sensibilidade enquanto que problemas de natureza neurológica ou psiquiátrica inviabilizam qualquer desempenho socialmente útil.
Para que a conexão seja boa com a Internet , os programas (navegadores) que rodam no computador (software) devem ser atualizados e eficientes.Da mesma maneira a mente do indivíduo que entra em contato com Deus deve estar em bom estado psicológico , equilibrada e tranqüila.Emoções pesadas como raiva, ódio, inveja, são como vírus de computador que destroem a qualidade do programa original.Além disto, é interessada que a mente seja sempre renovada com informações e habilidades que potencializem nossa capacidade de tradução das informações que chegarão a nossa mente.
Finalmente , nosso acesso à linha telefônica ou sem fio deve ser de boa qualidade.Da mesma maneira, o acesso do indivíduo espiritualizado deve ser fundamentado em métodos seguros e de boa qualidade para não prejudicar este contato.
14.Quero explorar este ultimo comentário, a qualidade do acesso.Todos concordam comigo que , para se ter um bom acesso precisamos de um bom provedor, alguém que tenha cacife para receber várias conexões com a Internet sem redução de velocidade ou qualidade de conexão.Da mesma maneira muitas pessoas no mundo conectam-se com Deus através de técnicas que vem da sua Religião ou formação esotérica e espera-se que estas técnicas e orientações permitam este contato sem redução da qualidade ou interferência na comunicação.
Bons provedores são tão importantes quanto uma boa máquina e bons programas de conexão.

ESQUEMA 1
Que adianta, portanto , que eu seja uma pessoa saudável física e mentalmente , satisfatoriamente equilibrada do ponto de vista emocional, e possuidor de alguma cultura, e venha a cair nas mãos de alguma organização de reputação duvidosa, que de várias maneiras interfira na minha conexão com a Mente Cósmica?Portanto, se eu for a Internet , é bom que eu vá armado de bom senso e discernimento, para não abrir qualquer programa e para não acreditar em todo e-mail que eu receba,ou em tudo que é publicado; e se eu for conversar com Deus, é bom que use uma comunicação de alto nível para que a baixa qualidade de conexão não me leve a receber como verdadeiras mensagens deturpadas, mal intencionadas, truncadas que ,somadas a minha ingenuidade, podem se transformar em adulterações grosseiras da mensagem original ou mesmo na contaminação maléfica de toda a minha espiritualidade, da mesma maneira que um vírus de computador só consegue entrar em computadores mal protegidos ou operados por usuários despreparados.

ESQUEMA 2



Técnicas para melhorar a Conexão com a Mente Cósmica

15.Falei que precisamos de recursos para entrar em contato com a mente cósmica tanto quanto com a Internet. E isto é verdade.Vimos também que antes de buscar recursos para o contato, eu já tenho que saber da existência da rede , saber o que é um navegador, saber manipular um teclado ou o mouse , e que esse conhecimento não se aprende do dia para a noite, assim como não apenas CRER, mas SABER da existência da Consciência Cósmica, de forma a ter esta Consciência Cósmica ,não como uma filosofia de vida ,mas como uma realidade que pode ser contatada, não é um conhecimento de domínio público.Alguns sabem que Deus é real.Outros não. Pouca coisa pode ser feita quanto a isto. Justifiquei a diferença entre as pessoas que tem ou não tem este conhecimento pela antiguidade espiritual de cada uma , o que depende do número de encarnações que estas pessoas têm em sua bagagem.
16.Pois bem, mesmo quando já temos este conhecimento, nossa evolução não pára, POIS A EVOLUÇÃO É CONTÍNUA E ININTERRUPTA. Aquilo que já sabemos sempre poderá ser aperfeiçoado e ampliado desde que nos esforcemos para isto e continuemos trabalhando sempre.
17.Desta forma, aquele que já sabe que Deus está dentro de si mesmo, mas que ainda não tem uma fusão , uma Yoga perfeita com o Ser Supremo, dedicará duas , talvez três encarnações a aperfeiçoar este contato através das mais variadas maneiras.
18.A meditação é uma das formas mais conhecidas e aí começa uma pequena e ao mesmo tempo grande confusão. O real significado da palavra meditação. Meditar , para o místico indiano, o yogue,não é pensar. Para o místico Rosacruz, a palavra é usada de modo pouco claro e dúbio:ora no sentido indiano de mente vazia, ora no sentido ocidental de mente cheia de pensamentos sobre os quais tecemos considerações, ou seja,sobre os quais meditamos.Vou me ater ao primeiro sentido, o sentido indiano, Yogue, de mente aparentemente vazia (veremos mais à frente porque aparentemente). Para esclarecer isto eu me permito transcrever um trecho de um trabalho meu antigo sobre o fluxo do pensamento e o real significado da palavra meditação.


O fluxo do pensamento

Vamos de novo para o exemplo do rio. Por sua natureza o curso d’água corre sempre para frente em busca do mar.
Uma pedra e ele a contorna. Uma valeta e ele a supera , sempre em frente.
Então , vem o homem e suas usinas hidroelétricas. Constrói , primeiramente uma enorme barragem.
Depois , regula a saída de água deste lago artificial , formado pela barragem , de forma a que ele flua pelas comportas que ele deseja e na quantidade que ele permita , movimentando mais ou menos intensamente uma,duas , três turbinas,de acordo com a necessidade.
O PENSAMENTO É COMO UM RIO. Ele flui, incessantemente , em direção a consciência cósmica. Este fluxo constante sofre a barragem dos condicionamentos mentais , as tais paredes do corredor citado acima , que nos moldam a personalidade e que nos ensinam a como regular a intensidade do nosso fluxo de idéias e como encadeá-lo da maneira mais útil , de acordo com nossas necessidades .



Natural x Artificial

O rio , entretanto, é diferente da usina.
Livre , ele obedece apenas aos ditames do clima.Mais chuvas,mais caudaloso ele se torna,menos chuvas,menos intenso é seu fluxo.A água que faz o rio é a mesma água dos oceanos , que evapora, transforma-se em nuvens, cai sobre as montanhas e volta a ser rio, que volta a correr para o mar para de novo evaporar e reiniciar o ciclo.
A represa não é assim.
Ela retém, retém, e retém a água enquanto for necessário. A quantidade que é liberada depende da demanda de energia elétrica e não de ciclos naturais.

A represa não é natural .Ela é artificial.Dialoga com a natureza,mas não é natureza.
Os condicionamentos também são uma represa artificial do fluxo do pensamento. Funcionam de maneira semelhante , porque entendem que o fluxo do pensamento deve ser contido para ser aproveitado. Para usar o pensamento,o homem resolveu torná-lo mais lento, mais controlado , pois o fluxo livre de idéias não lhe parecia aceitável como fonte de informação.
Foi através desta desaceleração do fluxo das imagens que o homem criou a linguagem ,e depois a lógica, base da nossa cultura e ciência.
No entanto , não se pode tirar o fluxo de um rio e ainda chamá-lo de rio , como não se pode chamar de fogo a chama sem o seu calor.
São qualidades inerentes a estas coisas que lhe dão um senso de identidade.
Assim , ao represar o fluxo das idéias para tentar compreendê-las melhor, o homem destruiu a sua natureza mais sublime transformando-o em um conjunto intelectual artificial , mecânico, seqüencial, quase estático , em vez de rico em movimento e pleno de variedade .
O rio foi feito para ser rio. O fluxo do pensamento, no meu entender, foi feito para ser fluxo.
Interromper ou limitar a velocidade deste fluxo só impede que o aproveitemos em toda a sua plenitude.
Pois, ao contrário do rio , represar o pensamento não é fonte de energia, mas de desgaste, de tensão. Os condicionamentos mentais , portanto, são , muitas vezes , fontes de ansiedade.
É preciso perder o medo de abrir as comportas e deixar o rio fluir livremente,com toda a energia que lhe é peculiar.
Esta seria a cura para a ansiedade.


A Meditação

A liberação deste fluxo chama-se meditação.
Imagine que seus pensamentos são como cavalos selvagens que estão presos em um curral. Inquietos , tensos , vêem a sua frente toda a pradaria que lhes chama a cavalgar, mas não podem atender o chamado porque a porteira do curral está fechada.
Imagine então que você abra a porteira deste curral : o que aconteceria? Todos os cavalos , provavelmente, sairiam em desembestada carreira, comemorando a liberdade desejada. Não existiria mais tensão.
Assim é o ato de meditar.
Abrimos a porteira da mente, e deixamos que os pensamentos fluam livremente. Alguns falam em esvaziar a mente. Bobagem. Quando meditamos , a mente fica plena de pensamentos, num fluxo tão intenso que deixam de ser intelectualizáveis, discerníveis, perdem sua clareza, mas não deixam de nos invadir e nos oferecer sua presença e influência.
Imediatamente, nossa tensão desaparece , pois o fluxo está livre.
Há uma outra imagem que me agrada em relação ao processo meditativo . Imagino que exista um cano transparente por dentro da minha cabeça,de um lado até o outro.E que meus olhos sejam virados para dentro. Na verdade, para que isso aconteça, basta fechar os olhos . Meditar é contemplar o fluxo das imagens por dentro deste cano.Ela nos atravessam em velocidade infinita,vindas do Todo e retornando ao Todo, deixando-nos , entretanto , impregnados pela sua passagem , como a chuva que quando cai nos encharca de água , água que fica em nós ainda durante um certo tempo , depois que a chuva se vai.
Meditar é mergulhar num oceano de consciência , como queria Rajneesh. Sempre que isto acontece , nos encharcamos de Deus e de sua Magnífica Presença , e assim permanecemos por um bom tempo , mesmo depois que saímos do estado meditativo.
A água nos refresca.Meditar nos vivifica e restaura.
Infundidos que somos com este por este sopro divino , manifestamos uma capacidade de percepção ampliada horas após o episódio ter-se encerrado.
Meditar com freqüência nos faz estar em contato com o Deus Interior regularmente e com o manancial universal de sabedoria,o que só nos enriquece mental e fisicamente.
Dancemos, sem medo, na chuva de inspiração que é meditar.
Que estas abençoadas gotas nos encharquem até os ossos , todos os dias de nossa vida.
[1]



19. Meditar, da forma como foi descrito, exige alguma prática, habilidade que é desenvolvida com o tempo e a experiência. Não se consegue fazer uma boa meditação sem exercitar a técnica durante anos. E aos poucos vamos conseguindo um estado mais límpido de comunhão com estados mais altos de consciência e percepção da mesma forma que o rosacruz com seus exercícios de refinamento mental e elevação da consciência. Prática, prática, prática, sem lamentações, desanimo, ou hesitações.
20.Mal comparando , aos poucos vamos fazendo o upgrade de nosso Hardware e de nossos Softwares , melhorando nosso desempenho místico ao melhorar nosso desempenho meditativo. Melhor qualidade de conexão, maior velocidade, e assim , nem sempre damos conta de tudo que recebemos nestes poucos momentos em que a mente entra neste manancial e volta repleta de fatos, imagens , inspirações.Não ;é uma coisa fácil. O Buda precisou de cinco anos embaixo da sua árvore santa para atingir o êxtase. E Ele era o Buda. Pensem em nós, pobres estudantes.
21. Portanto , mesmo que o computador seja bom, precisamos de tempo para dominar a informática. Mesmo que a mente e o corpo estejam bem, precisamos de estudo e preparação para penetrar com lucro na conexão com o Ser Maior. E aqui quero fazer um alerta: a simplicidade, tão alardeada como sinônimo de evolução , deve ser vista como uma armadilha de imagem. O Cristo parecia simples, mas , convenhamos, um espírito daquele porte era e é altamente complexo. Quando se fala em ser como as crianças , falamos em estar em um estado em que estejamos despidos de preconceitos , os quais adquirimos pela educação materialista que recebemos em nosso mundo. Tenho certeza de que não se queria dizer ser ingênuos e inocentes como crianças, mas sim puros de coração o que não impede uma mente altamente elaborada e um intelecto altamente refinado. Devemos para de cultuar a ignorância como um estado perto da Sabedoria. A Ignorância é o que é : Ignorância , com todos os perigos e problemas que isto costuma trazer. Ser simples é ser refinado o suficiente para parecer simples aos olhos menos elaborados. O rosacruz sabe disso. O homem comum e alguns religiosos, não. Por isso vemos a apologia entre alguns homens de fé da renúncia as posses e do martírio do corpo como um caminho para a Luz Espiritual. A Luz Espiritual não é bloqueada pela matéria. A Luz revela a matéria em perspectivas mais amplas do que aquelas que os olhos da carne conseguem perceber. Miséria não coaduna com progresso espiritual. Os Yogues mais nobres olham com tristeza e pena aqueles que escolhem o caminho do Sadhu, desfazendo-se de tudo relacionado a vida mundana de forma a assim encontrar Deus.

Precisamos do corpo como o mergulhador de profundidade precisa do escafandro e nenhum mergulhador seria louco de destruir seu escafandro quando a 6000 metros de profundidade.
E o que é a encarnação no plano material senão nada mais , nada menos, do que um mergulho do espírito na carne, e, diga-se de passagem, um mergulho voluntário, desejado?
22.Desaprender o que aprendemos de errado acerca daquilo que nos cerca é mais difícil do que aprender alguma coisa nova. Nós estamos todos repletos de idéias pré-concebidas e errôneas acerca do que é o Real, da nossa condição do Universo, do quanto somos limitados, que nos são repetidos como reforço positivo no convívio social mundano diariamente fora as imagens e maldições bíblicas que as religiões jogaram sobre nós de forma sistemática nos últimos séculos.
23.Precisamos ir além disto, ir além dos preconceitos, além das falsas limitações. Precisamos sonhar de maneira clara e vívida e para isso vamos precisar de um corpo e de uma mente sadios, tanto quanto de uma personalidade alma de boa qualidade; precisamos acreditar no sonho, sem ingenuidade, sem simplicidade de espírito, no sentido ruim da expressão, mas por que chegamos a um tal grau de complexidade que finalmente compreendemos o imenso poder que recebemos e que por incompetência, deixamos escorrer por entre os dedos. E este poder é o Poder de criar o mundo que quisermos, desde que adequadamente guiados pela Mente Cósmica, fonte de todo o conhecimento e inteligência, das quais somos apenas meros terminais de recepção.
24.Para que isto aconteça, não é suficiente apenas uma alma devidamente voltada para este encontro mais um sistema nervoso em estado satisfatório, uma mente mais poderosa em realização, não isolada , mas conectada e serva do Poder Supremo.
Suzano, 28/02/2007
Mario Sales FRC,75939PM
[1] Retirado da palestra “O Real, o Mental e a Meditação”, de 28 de janeiro de 2005

sexta-feira, 2 de abril de 2010

À TARDE, EM FAMÍLIA


Por Mario Sales,FRC,S.:I.:,M.:M.:





Stanislas de Guaita

Sexta feira da paixão. Cunhado e esposa com seus filhos, em visita, preparamos a ceia.
As crianças ( e até os adultos) se dividem entre desenhos animados e vídeo games antigos.
Em meio a este delicioso burburinho doméstico, leio dois textos de poucas páginas cada, ambos biografias de Marie Victor Stanislas de Guaita, que fez sua transição precoce aos 36 anos, como a confirmar que “ o misticismo encurta a vida”.
Diz uma delas que Charles Barlet comentava acerca da obra de Guaita:
“A Harmonia dos contrários é a fórmula mais indicada para caracterizar tua obra... Teu método é, ao mesmo tempo, analítico e intuitivo... Nem pontífice nem inovador: tu serás o fiel apóstolo das verdades que recebestes”.
Solitário, às vezes recluso em seu apartamento de Paris por semanas, Guaita foi talvez o mais importante cabalista não judeu do final do século XIX.
Seu trabalho foi fundamental na continuação da tradição, no campo da alquimia, na cabala e no combate ao charlatanismo e ao satanismo, esta manifestação imbecil de seres perturbados por crenças infundadas na busca de um poder que jamais terão.
Com Osvaldo Wirth, a partir de 1887, nasceu uma sólida parceria de trabalho intelectual místico, que gerou a união do simbolismo maçônico com o simbolismo do Tarô, chamado “O Tarô dos Imaginários da Idade Média".
Na companhia de Papus, Barlet, Julien Lejay,Chaboseau, Polty,Marc Haven, Victor Emile Michelet,Sedir, Péladan, fundou uma sociedade chamada Escola de Magnetismo, em Lyon, onde se ensinava Cabala,Tarot, Astrologia,História Oculta, Magia e Medicina Oculta.
Criou também uma nobre ordem Cabalista para desenvolver o conhecimento do Cabala naqueles que tiveram o privilégio de desfrutar de sua presença neste mundo chamada Ordem Cabalista da Rosa Cruz, junto com as mesmas personalidades citadas.
Vivia 5 meses por ano em Paris e 7 meses no Castelo da família, em Alteville, com sua mãe, aonde aproveitava para visitar os doentes dos vilarejos vizinhos e praticar uma terapêutica caseira que herdara do pai.
Foi um grande ocultista, mas não conheceu a vida em família nem a graça de ter filhos e do convívio em família.
Enquanto segue este almoço, aqui em casa, entre as gargalhadas de sempre, penso na solidão desses homens e embora saiba que se foram solitários, o foram por opção, mesmo assim sinto que não tenham conhecido o ambiente comum doméstico.
Isto porque a família pode ser a fonte de muitas neuroses, ou de todas, mas também é a fonte de nosso equilíbrio e pode , se bem administrada nos dar a contraparte que todo místico precisa para não esquecer que para a cabeça ficar no alto é preciso que os pés estejam no chão.
A matéria em que estamos, e acredito que ele concordaria comigo, não é uma maldição, mas uma oportunidade de servir, melhorar e aprender. Abençoada seja.
Para encerrar, transcrevo um trecho da bela biografia pelo amado Irmão Sephariel da Hermanubis USA que sintetiza bem a impossibilidade de avaliar um ser humano deste calibre:
“... é impossível apresentar o interior de um Iniciado de sua envergadura e revelá-lo ao publico, sem efetuar uma grande profanação. O homem interior só se deixa revelar à própria Divindade. Aqueles que vivem no exterior recebem apenas os reflexos de sua grande luz. Da mesa do Senhor as migalhas caem no chão e são digeridas por todos aqueles que aspiram a poder, algum dia, partilhar do celeste ágape.
Possam todos os iniciados que se baseiam na vida e obra dos divinos Mestres da Humanidade, um dia participar de tão glorioso banquete.”
E eu digo, amém.