Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 30 de junho de 2013

CABALA, COSMOLOGIA, NEUTRINOS E VISUALIZAÇÃO DA AURA

por Mario Sales, FRC,CRC,SI



Terminou ontem a tarde o Curso de Introdução ao Cabala, na Morada do Silêncio. Foi uma forma de homenagear o trabalho de um eminente esoterista e meu amigo, Reginaldo Leite, relembrando em muitos slides os conceitos que ele ensinou com tanto brilho para vários rosacruzes em todo o país e na própria Morada do Silêncio, nas únicas duas vezes que lá compareceu.Percorremos os textos fundamentais, mais como um inventário do que como uma análise aprofundada. Sefer Yetzirah, Bahir e Zohar juntos com a Bíblia, os quatro livros fundamentais para qualquer tipo de discussão sobre este nobre tema. Discutimos os tipos de Cabala: a Hebraica, a Cristã de Picco della Mirandola, verdadeira mistura, a meu ver pouco criteriosa de perspectivas que necessariamente não se harmonizam, e finalmente, a Hermética. Vimos que dentro da Cabala Judaica, podemos ter uma abordagem teórica, mística ou prática. Falamos das correntes dentro do Cabala Judaico, a Obra da Carruagem, Merkhavah; falamos da cidade de Safed, de Moisés de Leon, de Isaac Luria.
Discutimos o Ayn e o Ayn Sof; em Luria, analisamos os conceitos de TzimTzum, Shevira ha-Kelin (a quebra dos vasos) e Tikun Olam (a reparação do Mundo).
Realizamos três meditações orientadas na monografia básica da Grande Loja da Língua Inglesa, por sóror Julie Scot: a primeira, a meditação dos 231 Portais, essencialmente mântrica; em segundo lugar, praticamos meditações sobre as três letras mães hebraicas, desenhando-as, contemplando-as, imaginando-as no contexto do elemento ao qual estão associadas.



Depois assistimos um filme italiano aonde um escultor faz em argila um molde de Alef, uma das propostas de sóror Julie como método de meditação.
Mais a frente, baseando-nos no último capítulo da monografia que fundamentou nosso trabalho e que traduzi do inglês, avançamos pela Cosmologia. Com a ajuda de três filmes didáticos, apresentados por ninguém menos que Stephen Halking, feitos para a BBC em 1996, percorremos as etapas teóricas e práticas da recente história da consolidação da Teoria do Big Bang, discutindo o legado do padre George Lamaitre, do próprio Albert Einstein e de Edward Hubble, este último responsável pela observação e comprovação do movimento de fuga das Galáxias, que comprovou para Einstein que o Universo estava em expansão, como afirmava padre Lemaitre, coisa na qual Einstein não acreditava.



Daniel C. Matt, Ph.D. uma das maiores autoridades do mundo em misticismo judaico, trabalhou como professor de Espiritualidade Judaica na Graduate Theological Union em Berkeley, California, por mais de vinte anos. Ele recebeu seu título de Ph.D. de Brandeis University e também lecionou na Universidade de Stanford e na Universidade Hebraica em Jerusalém.



Estudamos Teoria do Universo Estacionário, Super Novas e Quasares, em um esforço preparatório fundamental para lermos o texto do professor doutor Daniel Matt, da Universidade de Jerusalém e de Stanford. Em uma peça de argumentação brilhante, ele estabelece um paralelo entre a compreensão da Cosmologia Contemporânea e a visão da Origem do Universo no Cabala. Ali, com a mesma tranquilidade que descreve o significado do Tikun e da shevira há-kelin, ele comenta a visão do Big Bang ortodoxa, comentários para os quais os participantes do curso foram preparados pelo trabalho da BBC Inglesa.
Todo o tempo do curso com pequenos intervalos, uma crise de dor ciática me acompanhou, reduzindo minha mobilidade, mas não impedindo que o curso fosse ministrado aos inscritos. Talvez por causa do incômodo da dor, minha impressão era de que podíamos ter feito mais e melhor do que fizemos, mesmo entremeando entre todos estes movimentos slides originais de Reginaldo, apresentados em seu estudo sobre o Misticismo das Letras Hebraicas, em outubro de 2011 e no início do ano passado.
Agora, fazendo este inventário, vejo que mesmo com os meus problemas, foi uma jornada interessante. Ainda mais que, ao ter dificuldade para dormir, na noite de sábado, resolvi continuar a ver a segunda parte dos vídeos da BBC, que não cheguei a dividir com os frateres e sorores que participaram deste trabalho.
Lá o assunto era matéria escura e buracos negros e , lá pelas tantas, cita-se a possível composição da matéria escura como um resultado da combinação de trilhões de micro partículas, resultantes das explosões nucleares estelares, chamadas neutrinos[1]. No vídeo, mostra-se como estas partículas extremamente diminutas e rápidas, passaram a ser objeto de estudo da física com detectores colocados na mina mais profunda da Inglaterra, uma mina de sal, a um km de profundidade, aonde mergulhados no interior do planeta os cientistas esperam captar sinais de neutrinos atravessando o planeta sem a presença comum na superfície de raios cósmicos que poderiam interferir nesta detecção. Pelo fato de que, ao atravessarem o planeta, os neutrinos chocarem-se com outras partículas e, neste encontro, liberarem uma determinada dose de energia, no caso luz, de baixíssima intensidade, parte do trabalho de detecção consiste em amplificar esta muito fraca irradiação luminosa resultante dos choques de partículas e , para isso, usavam, lá em 1996, um dispositivo semelhante ao bulbo de uma enorme lâmpada, chamado fotoamplificador.



Imediatamente me lembrei de minha obsessão em encontrar uma maneira de tornar visível à não videntes, as emanações extremamente sutis da aura humana e, de quebra, dos canais de acupuntura, partindo do pressuposto de que sejam emissões fotônicas, e portanto detectáveis. Se tal aparelho consegue amplificar o sinal débil do choque entre um neutrino e outras partículas, talvez pudesse me ajudar a realizar meus objetivos e criar uma ponte entre pesquisas eminentemente rosacruzes e a física de partículas. 
É pena que físicos membros da AMORC, que consultei sobre o assunto alguns anos atrás, não queiram participar desta empreitada por considerarem a hipótese da aura ser uma emanação fotônica descabida. Digamos que estejam certos. Considerando as implicações de uma tal descoberta acho que deveriam, pelo menos, tentar.
Aproveito para agradecer a sempre simpática acolhida que a Sóror Celi, esta Maga dos Alimentos, e do Frater Avelino, seu marido, administradores da Morada, que em solidariedade e sincronicidade comigo, também nos recebeu com simpatia prestativa e um sorriso, mesmo sofrendo com o desconforto de uma grave crise de dor ciática, igual a minha.
Agradeço também a visita fraterna de Frater Elias, que esteve no sábado na Morada, para nos cumprimentar.
A todos os frateres e sorores que compareceram ao evento e aos funcionários da Grande Loja, incluindo a Sóror Vivian do Museu Egípcio, nosso muito obrigado.



[1] O neutrino é uma partícula subatomica sem carga elétrica e que interage com outras partículas apenas por meio daforça gravitacional e da força nuclear  fraca (duas das quatrointerações fundamentais da Natureza, ao lado da eletromagnéticae da força nuclear forte ) . É conhecido por suas características extremas: é extremamente leve (algumas centenas de vezes mais leve que o elétron), existe com enorme abundância (é a segunda partícula mais abundante do Universo conhecido, depois do fóton ) e interage com a matéria de forma extremamente débil (cerca de 65 bilhões de neutrinos atravessam cada centímetro quadrado da superfície da Terra voltada para o Sol a cada segundo). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neutrino

terça-feira, 25 de junho de 2013

A CAMINHO DA MORADA


por Mario Sales, CRC,FRC,SI




Sigo na quinta feira, dia 27 de junho, para a Morada do Silêncio, em Curitiba, para o curso "Introdução a Cabala", baseado na tradução que fiz da edição da Revista Especial sobre o tema publicada pela Grande Loja de Língua Inglesa e que está disponível para download no site dos Estados Unidos.



A Morada do Silêncio é parte importante do patrimônio rosacruz. Construída na Administração de Frater Parucker, a Morada constitui um local de refúgio importante num "mundo em constante transformação". Seu silêncio, sua majestade imponente, seu aspecto de retiro isolado, propõe a quem lá esteja a sensação de realmente fazer parte de uma Ordem no sentido monástico.
Sanctum individual padrão no quarto da morada

Uma única vez pude desfrutar da paz e da tranquilidade da Morada do Silêncio como aluno de um curso, já que em todas as outras vezes que estive lá, as obrigações ligadas ao serviço rosacruz não me deram folga suficiente para descontrair de forma completa.


Foto da entrada do prédio da Morada feita pelo Frater Amadeu

Ser facilitador de um encontro implica a exposição de temas, o esclarecimento das dúvidas no corredor, durante o almoço, às vezes no próprio quarto. Os Rosacruzes, via de regra, são curiosos e inteligentes. Isto estimula a todos que tem contato com eles, sejam artesãos, sejam pessoas que não pertencem à Ordem e que encontram com rosacruzes em expedições ao Egito, aos países do Oriente Médio, ou nos Açores. 


Existe uma simpatia especial nos rosacruzes e frequentemente uma polidez nos gestos e nas palavras que é a sua marca registrada.
Existem exceções, é bem verdade, mas em um ambiente assim alegre e sereno, são encaradas mais com bom humor do que com desconforto.
A Morada, por ser o ambiente que é, dedicado a todos os rosacruzes e ao rosacrucianismo, amplia imensamente estas características dos rosacruzes descritas nestas linhas. Ela nos inspira a ter durante estes poucos dias de encontros para estudo ou para aprofundar a nossa sensibilidade espiritual, como 


Encontros de Recolhimento Interior (ERINs), muita mais senso de pertencimento à Rosacruz do que na nossa prática em corpos afiliados. A Morada é um lugar, embora simples, limpo e imponente. Ela nos faz sentir orgulho de nossa afiliação e nos fortalece nas nossas convicções místicas.
É um ambiente, sem sombra de dúvida, catalizador de valores positivos.

Sóror Celi e Frater Avelino, administradores atuais da Morada do Silêncio

A Ordem sempre recomenda que façamos do local de nosso sanctum no lar algo parecido, um ambiente reservado e protegido de práticas mundanas, para que sempre que nos aproximemos sejamos imediatamente envolvidos por um espírito mais elevado e por uma egrégora voltada a meditação e a comunhão com as hostes celestiais.


Sóror Vivian Tedardi, diretora do Museu Egípcio Rosacruz de Curitiba e responsável pelos cursos na Morada do Silêncio

Imaginem então um gigantesco sanctum, a semelhança de um castelo, aonde tudo convida a reflexão, a interiorização, enfim, a um espírito de comunhão com o Eterno dentro de nós.
Esta é a idéia que faço da Morada, é a sensação que ela me passa cada vez que a visito, em missão de serviço à Ordem, serviço sempre facilitado pela simpatia de seus administradores. Em minhas visitas contei com o apoio de Sóror Maria José, e nos últimos anos, com a simpatia do casal Avelino e Celi, frateres dedicados e de uma delicadeza com os hóspedes elogiada por todos.
É importante lembrar a simpatia de sóror Vivian Tedardi, responsável pelo Museu Egípcio Rosacruz e pelos Cursos na Morada, que com sua característica prestatividade dialoga com palestrantes e responsáveis de modo atencioso e fraterno.
A Morada é uma casa de paz e meditação, de estudo, de recolhimento. Talvez Frater Parucker não tenha pensado nisso, mas alguns anos atrás, quando ele se dispôs a construir uma Universidade da Ordem, poderia ao invés disto ter transformado a Morada na nossa Universidade, com uma agenda de cursos ininterruptos, em módulos, de forma que, ao mesmo tempo que teríamos um ambiente eminentemente rosacruciano para orar, vigiar e trabalhar, aumentaríamos em muito a movimentação dentro da nossa casa, do nosso refúgio, com evidente aumento do retorno tanto cultural como financeiro. Com um pequeno investimento em antenas e transmissão, poderíamos também estabelecer um Curso Online à Distância, para todo o país e países de língua portuguesa, a partir da Morada, sobre os temas que abordamos dentro da Morada.
Por ser em Curitiba, nem todos os irmãos do Nordeste e Norte podem ir aos cursos e a tese da construção de outras Moradas foi considerada inviável no momento pela GLP. A solução, sempre no espírito de ampliar o alcance e a acessibilidade dos cursos feitos na Morada, partindo do princípio que reflitam um ponto de vista oficial, seria transmiti-los, via internet, para todo território nacional e para o planeta, bastando que alguém ou um grupo de rosacruzes tenha um computador e uma conexão com a rede mundial de computadores.
São idéias para o futuro da Morada, para este século XXI que ora iniciamos, que nos oferece recursos tecnológicos antes inexistentes e que deliciariam uma pessoa que hoje já não está conosco, mas que, pelo que sabemos de seu entusiasmo de divulgação do trabalho rosacruz, nosso fundador neste ciclo de atividades, Frater Spencer Lewis.




quarta-feira, 19 de junho de 2013

O MILAGRE, O IMPOSSÍVEL E O DESCONHECIDO

por Mario Sales

A atitude mental mais importante para que aquilo que é sabidamente impossível, torne-se possível, é não duvidar disso. Parece um truísmo, uma obviedade tola, mas é um esforço hercúleo. Por que às vezes o que parece impossível não o é, só que não sabemos disso, mas nossa ignorância de outros fatos diferentes daqueles que conhecemos, luta contra isso.
Nosso conhecimento funda-se em algumas convicções que lhe dão um caráter de aparente solidez. 
Reflitamos sobre o que chamamos conhecimento sólido.
O peso que um conhecimento, nascido da experiência e de anos de contemplação da natureza, tem sobre nossa mente é indiscutível. A ciência, conjunto de conhecimentos fundamentados na experimentação direta com o chamado mundo real, é a sustentação das crenças de filósofos, cientistas e místicos rosacruzes. Crenças estas que são nomeadas de convicções, idéias de mundo que nos fazem fazer diagnósticos e prognósticos acerca de eventos no cotidiano.
Com nossa maneira de entender o mundo, vemos o mundo que entendemos. Não conseguimos enxergar outras possibilidades de mundo,  e não o conseguimos porque nossas convicções nos impedem de fazê-lo. Mesmo sendo um conhecimento científico, e não uma superstição, uma convicção científica é sólida o suficiente para que nossas projeções estejam em linha com suas diretrizes.
Quem está morto, morreu. Desde que o cérebro pare, não há mais forma de que esta pessoa retorne a ter atividade cerebral.
Cachoeiras não cairão para cima, pois seguirão a determinação da força da gravidade.
O céu, à noite, sempre será escuro e cheio de estrelas, pois o Sol estará encoberto pela própria Terra, e assim não refletirá na atmosfera, nos dando a impressão da cor azul do dia claro. As estrelas estarão lá, mas os fenômenos óticos não permitirão que as distingamos.
Como crer em situações opostas a estas que temos acompanhado e experimentado todos os dias?
O inusitado, o impossível, portanto, assim é considerado porque tem sido impossível por milênios (de acordo com nossa observação da Natureza ao longo de nossa curta existência juntamente com os relatos dos que nos precederam, ao longo de séculos).
Outra coisa é o desconhecido. 
Achamos, equivocadamente, que o possível é o que conhecemos e o que não conhecemos não é possível
E então, na Índia, no início do século passado, uma família abastada espera, triste, a morte de um de seus membros, muito doente e desenganado pelos médicos da época. Um mendigo, ou melhor, um sadhu, ou homem de renúncia, bate a porta em busca de doações de alimento e água. Ao ver a tristeza que se abate sobre a casa, indaga aos empregados por que todos se lamentam. É então informado de que um dos membros da família está à morte, vítima de uma doença grave. Pede, polidamente, para ver o moribundo.
O empregado, achando que naquela situação nada de mal aquele desconhecido poderia fazer, permite, como só um indiano permitiria, que o peregrino em trajes sumários entre na casa e chegue ao quarto do doente. Condoído da situação do doente, o sadhu retira de uma pequena bolsa de pano atada a cintura um macerado de folhas que esfrega no lábio do acamado e insere em sua boca. Diz algumas palavras, agradece, e vai embora.

Pela rapidez com que tudo acontece, o empregado não vê necessidade de dizer aos seus senhores nada sobre o ocorrido. Até que, meia hora depois, aquele que estava moribundo senta-se na cama, lúcido e diz que lhe tragam comida, porque está faminto.
A família, que já se preparava para o enterro, é tomada por um misto de incredulidade e alegria.
Pergunta-se várias vezes ao ex doente o que aconteceu que o fez recuperar-se tanto em tão pouco tempo. Este diz que não sabe. Que sonhou com um homem que lhe dava algo para mastigar, mas que não tem certeza se foi um sonho.
O empregado então, temeroso, se vê obrigado a revelar o que havia testemunhado.
É interrogado por todos: quem era este? Como se chamava? O que vestia? Para onde foi depois que saiu? A todas as perguntas o empregado responde com a perplexidade. Não, não sabia seu nome; não, não sabia de onde tinha vindo ou para onde tinha ido depois; não ele nada pedira a não ser alimento e água, o que na Índia é comum. Quanto ao que vestia, a resposta era: quase nada, apenas alguns panos, nada mais.
O episódio relatado acima, que, lenda ou realidade, foi relatado como fato em matéria publicada anos atrás sobre ocorrências que transformaram a visão de um filho de médico indiano, formado na Inglaterra, Sri Aurobindo, também ele educado na Inglaterra, ocidentalizado, num dos mais devotos adeptos da espiritualidade indiana, situa-se entre o impossível e o desconhecido.
Classificado como um milagre, ou seja, um fato tornado real embora impossível, como descrito acima, na verdade está mais para a manifestação de um conhecimento perdido, capaz de alterar nossas expectativas fundamentadas na experiência científica daquela época. Desde a década de 1920, quando o irmão de Aurobindo foi espantosamente salvo de um destino já dado como certo, a Medicina evoluiu. O que não impede que, naquela época, alguém fosse portador de um conhecimento que, para a época, poderia ser considerado sem erro, revolucionário.
Não é na verdade o impossível que foi tornado possível, mas sim o que eles achavam ser impossível, por causa de suas limitações de conhecimento, foi posto em cheque pela técnica deste sadhu que em muito, ao que parece, superava as técnicas oficiais da época.
Isto não acontece sempre, mas também não é incomum.
A vida é surpreendente. Quem tivesse um diagnóstico de sífilis, no mês de descoberta da penicilina, acharia que, como todos aqueles que tiveram sífilis antes dele terminaria sua vida louco em um hospício. E dias depois estaria curado, para sua surpresa, após uma simples injeção, na época, de 300000 unidades de penicilina.
O que antes não era possível, tornou-se possível através do conhecimento. Na cabeça deste indivíduo salvo do mal mais famoso de seu tempo por uma simples injeção, um milagre havia ocorrido. Na verdade estamos falando apenas de conhecido e desconhecido. O que eu não conheço, suponho que não existe e o que eu conheço, da mesma maneira, suponho que existe.
E no orgulho de nosso ego estúpido acreditamos convictos que o mundo conhecido é o único possível, quando na verdade, não é.
Existe sob nossos pés quilômetros e quilômetros de mistério sobre o qual caminhamos, inocentes.
O que chamamos milagre é apenas e tão somente a manifestação destes ainda misteriosos fenômenos, que no futuro, se Deus permitir, transformar-se-ão em conhecimento corriqueiro.
E ao visitarmos outras civilizações em outros mundos, mais atrasadas técnica e socialmente, poderemos disfarçados de mendigos bater à porta de um ou de outro, e de maneira discreta, abençoá-los com algo de nossa própria bolsa que provavelmente deixará a todos maravilhados, confusos, inventando explicações para fatos que para nós, mais avançados, não terão a mínima importância.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

PERCEPÇÃO

por Mario Sales, FRC,SI




Orei a Ti e não ouvi resposta,
e como "sei que Tu sempre me ouves"
julguei estranho o Teu silêncio.
Agora, após o ritual, vejo que não estavas calado
mas eu é que estava surdo.
Os tampões saíram de meus ouvidos,
Tua voz é ensurdecedora
e enche meu espírito de júbilo.
Louvado sejas, Senhor dos Mundos,
Eterno e Incognoscível,
meu Pai e Mestre de todas as coisas.
Tua Santa Voz me enche de júbilo.

QUANDO TREMEM OS DEMÔNIOS?


por Mario Sales, FRC, SI





"Meus irmãos, 
que aproveita se alguém disser que tem fé, 
e não tiver as obras? 
Porventura a fé pode salvá-lo?

E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, 
e tiverem falta de mantimento quotidiano,
E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, 
e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, 
que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; 
mostra-me a tua fé sem as tuas obras, 
e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. 
Também os demônios o crêem, e estremecem."


Tiago 2:14-19




O questionamento de Tiago me aflige nos últimos anos. 
O esoterismo tornou-se uma ágora grega, cheia de sofistas, aonde ouvimos discursos e falas as mais elegantes, mas não acompanhamos demonstrações que corroborem estas declarações.
Muitos se perguntam por que o Cristo teve um impacto tão importante na história do Ocidente, ele, um Oriental.
Talvez isto se deva à fórmula de seu ministério, um discurso, setenta curas, que arrebanhava centenas de pessoas para ouvir suas pregações. Aqueles que o ouviam, não ouviam o homem que falava , mas o Mestre que fazia e comprovava suas palavras com a força de seus milagres terapêuticos.
Reginaldo (que faria aniversário no próximo domingo) e eu, pouco antes de sua transição, comentávamos isto preocupados. Ele me contava, orgulhoso, o modelo da Classe de Artesãos da Loja Rosacruz , Recife, que junto com a dedicação e o zêlo de mestre José Marcelo, elevaram a presença dos artesãos nas reuniões de uns poucos para mais de duas dezenas.
Fatos, experimentos, isto motivava as pessoas a saírem de casa em um domingo e encontrarem seus pares, não para ouvir discursos acerca do Bem e do Belo, mas para praticar esoterismo experimental, essência e eixo do trabalho rosacruciano.
É preciso que demonstremos nossas propaladas habilidades psíquicas, nós, rosacruzes, para nós mesmos e para nossos iguais, na busca de aperfeiçoarmos nossas técnicas, mântricas e mentais.
Em um pequeno livro meu, perdido aqui no blog, "Diálogos Rosacruzes II ", anos atrás, descrevi a necessidade e importância de seminários nacionais de artesãos por especialidades práticas, como reuniões específicas com nossos melhores telepatas, ou com nossos melhores visualizadores de aura, ou com os rosacruzes telecinéticos, na intenção de que estes especialistas demonstrassem as técnicas descritas nas monografias aos principiantes ou aos mais antigos que não tivessem logrado conseguir este aperfeiçoamento.
Isto encheria os salões em Curitiba, não pelo apelo da curiosidade apenas, mas pela ânsia de, em um meio de pessoas afins, aprofundar os mais variados aspectos dos ensinamentos rosacruzes.
E como é bom estudarmos juntos, como recomendado até para o Cabala, pesquisarmos juntos, praticarmos juntos, como lembra o Salmo 133:1-3.

"Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre."

É como diz Tiago, "Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma"
Precisamos, nós, rosacruzes, desesperadamente, das obras; nossa fé, a fé rosacruz, a fé do experimentalismo científico esotérico, demanda as obras. É no trabalho experimental, tal qual os alquimistas, que cresce o estado de envolvimento rosacruciano com a Consciência Divina manifesta.
Pois esta é a essência do místico, a fé somada às obras.
Sem obras, não somos nada. Só nossas obras, visíveis ou mentais, "farão os demônios tremerem".

O resto é silêncio.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

TACHOS E PANELAS (ISTAMBUL, TURQUIA)

Parque Gezi, em Istambul, epicentro de protestos políticos, está ocupado há duas semanas

Assista ao vídeo e cante com eles.


"Eu vou dizer uma coisa
Tachos e panelas, a mesma velha canção "



Chega de observações inconsistentes e proibições
Chega de obstinados decretos e comandos
Chega de observações inconsistentes e proibições
Chega de obstinados decretos e comandos

Oh meu Deus, oh meu Deus, já tivemos o suficiente
Oh meu Deus, oh meu Deus, nós realmente estamos fartos
Que arrogância, que ódio
Venham devagar, bem devagar,
O chão está molhado
Oh meu Deus, oh meu Deus, já tivemos o suficiente
Oh meu Deus, oh meu Deus, nós realmente estamos fartos
Que arrogância, que ódio
Venham devagar, bem devagar,
O chão está molhado


Eles não poderiam vender suas sombras
Então, eles venderam as florestas
Derrubaram
Fecharam cinemas e praças

Eles não poderiam vender suas sombras
Então, eles venderam as florestas
Derrubaram
Fecharam cinemas e praças


Coberta de shopings e centros comerciais
Eu não sinto como (posso) atravessar esta ponte
O que aconteceu com a nossa cidade
Está repleta de edifícios idiotas


Oh meu Deus, oh meu Deus, já tivemos o suficiente
Oh meu Deus, oh meu Deus, nós realmente estamos fartos
Que arrogância, que ódio
Venham devagar, bem devagar,
O chão está molhado

Venham devagar, bem devagar,
o chão está molhado

(um Único cantor)

Oh Istambul amada
Mentira doente e estrelada
Sua beleza arruinada
Que desgraça, que gás,
Que dor é essa?
Tudo está nivelado com o chão
O que aconteceu com você?
Diga-me, diga-me...
Não quero você desse jeito
....................................
Não, eu não quero

(Todos juntos)

Oh meu Deus, oh meu Deus, já tivemos o suficiente
Oh meu Deus, oh meu Deus, nós realmente estamos fartos
Que arrogância, que ódio
Venham devagar, bem devagar,
O chão está molhado

Oh meu Deus, oh meu Deus, já tivemos o suficiente
Oh meu Deus, oh meu Deus, nós realmente estamos fartos
Que arrogância, que ódio
Venham devagar, bem devagar,
O chão está molhado

domingo, 9 de junho de 2013

TERAPEUTICA ESOTÉRICA, PAPUS E AS DOENÇAS FÍSICAS E PSIQUIÁTRICAS

Por Mario Sales, FRC, SI


"E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia;

E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe;

E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.
E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos.
E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz;
E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?
E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou"

Lucas 17:11-19


E chegaram ao outro lado do mar, à província dos gadarenos.

E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo;

O qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender;

Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas, e ninguém o podia amansar.
E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e ferindo-se com pedras.
E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o.
E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? conjuro-te por Deus que não me atormentes.
(Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.)
E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos.
E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província.
E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.
E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.
E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil), e afogaram-se no mar. 

Marcos 5:1-13



Por diversas vêzes, aqui no blog, pelejei contra a cristianização excessiva da Ordem Rosacruz. Por cristianização, quero dizer a imposição de um símbolo religioso, um modelo de compreensão do divino, em detrimento de outras tradições religiosas. Embora Spencer Lewis fosse metodista, portanto um cristão por definição, jamais confundiu as duas coisas.
A Ordem não é uma religião, não é uma seita, é, como o nome diz, uma Ordem Esotérica Mundial, de homens e mulheres que sentem e manifestam o divino em seu interior, e que tem a necessidade e o direito de expressá-lo de muitas e variadas formas de acordo com a sua própria visão deste divino, desta divindade.
O que seria dos rosacruzes japoneses xintoístas ou dos rosacruzes budistas se os obrigássemos a entrar num Sanctum Celestial aonde no leste deste templo tivéssemos, não a imagem neutra de um triângulo violeta de vértice para baixo, mas sim a imagem do Cristo, Jesus? E os possíveis rosacruzes que cultuam a religião islâmica, em países de tradição árabe? E aqueles que são, por nascimento e prática, adeptos do Judaísmo, origem e fonte da Cabala?
Por esses motivos, em 26 de dezembro de 2010 publiquei um artigo aqui no blog intitulado "Desconforto", onde analisava a situação no mínimo inadequada de, em uma Ordem que sabidamente cultua a pluralidade e o respeito à diferença, colocar como capa de um dos números de sua revista, ingenuamente, um quadro de Nicomedez Gomez, renomado artista místico, onde ele usava a imagem do Cristo como substituto do Leste Egípcio habitual de um templo rosacruz.
Digo ingenuamente porque tal atitude pressupôs que no Brasil ou no ambiente da Grande Loja Portuguesa não existam membros que sejam adeptos de outras denominações. O mundo, repito, é plural.
Em toda parte, a diferença é a mais constante semelhança.
Eu sou hinduísta e recebi, à época, o apoio de um frater budista, que se identificou com meu pleito.
Lembro no entanto, que comecei o artigo dizendo :
"Quando digo que não sou cristão, isto não quer dizer que não respeite e admire a personalidade e os feitos do Cristo, Jesus. Este ano, tornei-me ex-mestre da Heptada Guarulhos da Ordem Martinista, uma ordem sabidamente de orientação cristã. Considero-me, pois, um dos defensores da causa do Cristo, como Mestre Espiritual que foi para todos nós, seres humanos, e como exemplo para toda a Humanidade."
Ou seja, feitas as devidas ponderações, em nada isto queria significar uma postura anti cristã, o que seria um absurdo para um místico.



Jesus cura o possuído pela "Legião"

Pelo contrário. Embora não adepto de uma linha de pensamento religiosa eminentemente cristã, sempre me fascinou a postura terapêutica que o Mestre enfatizou em seu ministério.
Como médico, isto sempre me atraiu, sobremaneira. E embora saiba que tal poder de cura, considerando como reais todos os relatos dos evangelhos, significaria a perda da possibilidade de uma vida social normal, como bem lembrou Richard Bach em sua belíssima parábola, "Ilusões", nunca pude evitar a inveja de possuir um dom terapêutico tão exímio, tão eficaz.
Não por mim, mas em função dos inúmeros casos frustrantes com os quais me deparo, trabalhando, no momento, principalmente, as demências orgânicas em idosos, entre elas, Alzheimer. Os relatos sobre o Cristo são surpreendentes: cura de doenças incuráveis à época, ressuscitações, restabelecimento da visão à cegos, restauração da sanidade à dementes, se bem que através de um processo em tudo e por tudo semelhante ao exorcismo.




A cura dos dez leprosos


Mas entre todas essas coisas, o mais fascinante é a capacidade do Mestre , senhor de uma técnica indiscutível de cura, ser ao mesmo tempo, possuidor de enorme misericórdia. A todos os que o procuravam, necessitados de uma atenção terapêutica, ele não só acolhia, mas consolava ao mesmo tempo em que os curava. Havia, pari passo, técnica e compaixão.
Não era apenas um restaurador da saúde do corpo, mas um restaurador do bem estar completo, com a devolução aqueles que haviam sido excluídos pelo medo e pela falta de atenção de muitos, de uma nova possibilidade de integração a comunidade humana, da renovação da auto estima dos que estavam apartados da vida em sociedade.
Eu sou médico, e sei que as doenças são objeto de temor. Por ignorância, aliás, as pessoas tem, às vêzes, mais medo dos remédios do que da doença em si. Gostariam de curar-se apenas através de seu desejo, como já falei, não por Magia , mas lançando mão do Pensamento Mágico, a fantasia de que podem ir contra os fatos sem recorrer a nenhum esforço intelectual, farmacológico ou mesmo cirúrgico. Bom seria se assim fosse, mas não é.
Pelo menos se considerarmos aspectos da vida comum.
Para o Cristo e para seus discípulos diretos, os Apóstolos, aos quais deu este mesmo poder de cura, isto era possível. Talvez para alguns outros, ocultos pela poeira do tempo e da prudência, também. Alguns relatos esotéricos confirmam que muitos aprenderam como curar desta forma, ao estudar e dominar as técnicas ocultas de terapia.
Papus, relata-se, era um desses. O médico francês Gerard Encausse, seu nome de batismo, em seu consultório costumava usar técnicas esotéricas de cura, em uma época sem antibióticos, sem anestesia, sem antissepsia adequada. Ele mesmo, no entanto, faleceu em decorrência de uma tuberculose, hoje uma doença perfeitamente tratável e, se seguidas as orientações adequadas, curável.
Este paradoxo entre as técnicas de cura esotéricas que o Cristo tão bem encarnou e demonstrou e a dificuldade de manifestá-las em nossa época de maneira ampla, geral e irrestrita, pelo que dizem os textos, tem a ver com a qualidade espiritual dos seres humanos e não só com a seu conhecimento esotérico.
Papus era, de nascença, portador de dons místicos de vidência. Sua mãe, de origem cigana, deve ter lhe transmitido esta herança místico-esotérica. Como seus avós maternos, ele era fascinado por cartas de Tarot e métodos de adivinhação e pelo Ocultismo em geral. Mas isto provavelmente não seria suficiente para dar-lhe capacidade de cura. É minha opinião que a capacidade de trazer bem estar aos necessitados passa por um poderoso senso de misericórdia por estes pacientes, uma identificação com a dor alheia, uma empatia que transcende o mero conhecimento técnico.



A arte de curar não é apenas produto do conhecimento técnico, ela também demanda senso de misericórdia, portanto. Chesed, a Misericórdia, é a quarta sefira, parte do fluxo da energia de Deus que desce de Keter até Malkuth, mas também sobe de Malkuth até Keter, e além, para o Ain Sof. Não há como ir ao Pai , senão através deste caminho, senão através daquilo que o próprio Cristo era a expressão e representação, a um só tempo.
A etapa da Misericórdia traz as vibrações e bênçãos de Deus como leva nossas vibrações e nossas informações ao Todo Poderoso.
Compreender isto é entender a Árvore da Vida como um caminho e não apenas um símbolo. E portanto, ter este poder de Deus para curar os necessitados, não pode prescindir da virtude e condição da Misericórdia.
Teoricamente, todos os médicos deveriam possuir esta sefira bem trabalhada dentro de si. Infelizmente não é assim. Encontra-se entre os médicos muitos que não tem e nem tem interesse em desenvolver este aparentemente discreto detalhe em sua performance profissional.





E isto é um diferencial. Quando Binah, o conhecimento, se une a Chesed, a Misericórdia, o fluxo da Luz Divina é fortalecido e volumosas doses de Inspiração e Bênçãos Intuitivas são derramadas sobre aquele que faz essa junção mística. Não acidentalmente, Daath, a sefira oculta fica no meio exato do caminho entre uma e outra. Em Daat, todos as sefirot existem em seu estado perfeito de partilha de infinito. Era o que ocorria provavelmente com Papus, que jamais fez alarde destes dons por receio de ser tachado de charlatão ou curandeiro, acusação que rendeu a expulsão da escola de medicina de seu padrinho espiritual, Nizier Anthelme Philippe, o Monsieur e Mestre Philippe de Lyon. A ciência médica da época era implacável, como talvez hoje não seja, com dotes terapêuticos inexplicáveis, mesmo que eficazes.


Philippe de Lyon

Por isso Papus era extremamente discreto em relação ao que fazia em consultório e ao emprego de técnicas esotéricas em suas curas. Isto não o impediu de publicar em detalhes algumas destas técnicas no seu "Tratado Elementar de Magia Prática". Tenho comigo a 19a edição, Editora Pensamento-Cultrix, em Português. Embora não seja dedicado especialmente a terapêutica, inclui trechos em que ele, como médico, faz demoradas considerações sobre natureza esotérica de doenças as mais variadas, na sua época desprovidas de recursos farmacológicos que temos hoje.

Na página 63, discutindo a Loucura, a moderna Lepra, como doença que estigmatiza suas vítimas e afasta as pessoas pelo medo infundado e pela falta de habilidade em lidar com este drama familiar, até entre médicos desprovidos da sefirah Chesed em seus corações, ele diz:
"Todos os fenômenos que vimos até agora, o sono, a embriaguez, os estados determinados pelo hipnotismo, não são no fundo senão a evolução normal de uma série de fatos derivados de uma causa única: a ruptura do equilíbrio entre o ser impulsivo e o ser consciente. Vamos ver se o mesmo acontece com a loucura.O que é perigoso nos atos orgânicos, são as passagens bruscas de um estado para outro, as agitações, quer físicas, quer psíquicas. A força nervosa, sendo idêntica para todos os centros nervosos, não pode concentrar-se em um ponto do organismo a não ser sob a condição de deixar um outro, e esta passagem, para ser sem perigo, deve ser progressiva. É por isso que a idéia fixa do bêbado, ainda que perigosa para si e para os outros no momento, não persiste mais após a passagem da crise; é que o movimento excessivo impresso ao centro intelectual foi progressivo, não instantâneo. Mas se uma visão aterradora, uma nova inesperada, uma alegria ou um medo súbitos vêm, de repente, pôr em movimento de uma maneira excessiva o ser impulsivo, pode acontecer que o movimento assim adquirido assuma uma tal importância, que toda a força nervosa que une a organização ao espírito seja subitamente absorvida, e então a pessoa pode perecer ou tornar-se louca."
Ou seja, para Papus, a loucura é a ruptura de um equilíbrio entre duas forças poderosas que trabalham dentro de nós: a força impulsiva, representante do mundo orgânico e a força da consciência, que administra essa energia impulsiva e a transforma em ação social equilibrada.
É espantoso, mas não inesperado, que haja grande semelhança entre o pensamento de Papus e a psicanálise freudiana à qual, por ser contemporâneo, ele deve ter tido acesso.


Papus

Mais a frente, na página 310, ele faz um esforço interessante de caracterizar a pertinência de métodos terapêuticos considerando o tipo de patologia, criando pontes entre métodos e não opondo um ao outro, como se espera de mentes esotéricas esclarecidas.
Diz ele:
"As afecções que atingem o ser humano classificam-se também segundo o centro particularmente atacado. Estas afecções podem declarar-se quer sobre o corpo físico, quer sobre o corpo astral, quer sobre o ser psíquico, porém jamais sobre o espírito que só pode existir em sua essência."
Ressalte-se que aqui ele reafirma a inviolabilidade da parte divina em nós, emanada e não criada.
E continua:
"A alopatia encontrará, pois, sua aplicação nas doenças provenientes do corpo físico. A homeopatia, ao contrário, dará excelentes resultados nas afecções provenientes do corpo astral, como as doenças do peito, o cancro e certas formas de enfermidades nervosas (coréia, paralisia agitante, etc)"
A coréia, citada por Papus, é a doença de Huntington, doença genética e um distúrbio neurológico raro, com 3 a 7 casos em cada 100000 habitantes. Já a "paralisia agitante", suponho, se refere a Doença de Parkinson.
E conclui:
"A medicina hermética será utilizada nas afecções psíquicas , casos de obsessão ou de vampirismo tão pouco conhecidos pelos médicos atuais que os confundem com manifestações de loucura."



Nas páginas 312 e 313 ele descreverá dois métodos, um indireto e outro direto, de magia cerimonial, para desfazer patologias neuropsiquiátricas, relatando inclusive um caso clínico tratado na Inglaterra.
Não vou descrever o ritual em si, está no texto de Dr. Gerard, mas quero chamar a atenção para a diferença marcante na abordagem terapêutica como descritas por ele e os métodos empregados pelo Cristo, em sua passagem pela Terra. Nas suas curas, Jesus raramente se valia de algum tipo de ritual complexo, e quase nunca lançou mão de qualquer substância intermediária entre Ele mesmo e o paciente (relata-se apenas o caso do cego, na área de banho público, que curou com a aplicação de argila e saliva em seus olhos). Via de regra a cura dava-se pelo toque ou mesmo sem ele, como quando diz ao soldado romano que vá para casa e que seu criado já estava curado, sem que estivesse fisicamente em sua presença.
São dois estilos de cura metafísica ou esotérica, um simples e direto, outro cerimonial e complexo. Não faço juízo de valor sobre um ou outro, desde que sua eficácia se demonstre, mas chamo a atenção sobre o estilo terapêutico rosacruciano, eminentemente essênio, que lembra mais a terapia crística que a papusiana.
O problema e o grande critério de avaliação continua sendo, como não poderia deixar de ser pelo método científico, a eficácia e a reprodutibilidade.
Técnicas que realmente funcionem, e possíveis de serem retransmitidas à terceiros, seriam uma bênção para grande numero de pessoas atormentadas pela doença, seja física ou psiquiátrica. Não faz sentido, na minha perspectiva, segredo sobre essas coisas. São terapias e como tal, precisam ser repartidas, mesmo que impliquem em uma modificação dos próprios terapeutas, e não só no aprendizado deste ou daquele método.
Seria uma ponte possível entre esoterismo e ciência. Prática, pragmática, demonstrável, passível de verificação. O próximo passo seria investigar seus fundamentos e mecanismos internos de funcionamento, sem recorrer a quaisquer fantasias ou imagens românticas.
E pensar que a Misericórdia seria parte do processo me faz pensar na importância do terapeuta para a terapêutica, algo que é intuído mesmo por aqueles que não são afeitos ao pensamento esotérico. Porque senhores, isto não são relatos de milagres, mas de técnicas de cura, para nós, hoje, desconhecidas. E rosacruzes são seres curiosos, querem conhecer a técnica, querem, enfim, reproduzi-la. Isto, em si, já encerra profundas reflexões.
A situação dos pacientes não apenas com doenças físicas, mas principalmente os psiquiátricos no mundo inteiro, os estigmatizados modernos, pede que ao menos possamos casar os avanços da ciência moderna, e não são poucos, com os conhecimentos esotéricos.
Acredito que seria um recurso a mais neste bom combate, na busca de outra sefira, Netzach, a Vitória, sobre o sofrimento de milhões de pessoas.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

MISTICISMO LITERÁRIO E MISTICISMO REAL 2


Considerações sobre as  fantasias advindas de textos, capazes de confundir Magia com Pensamento Mágico.




"Portanto, muita da cultura mística, talvez a maior parte dela, é essencialmente literária, já que não é comum contemplar o invisível, ou ouvir a Voz do Silêncio. A maioria de nós é formada por homens e mulheres comuns, com limitações de percepção comuns a maioria dos seres humanos, e, por um motivo qualquer, sem que possamos ver ou tocar estas coisas, cremos que aquelas afirmações são verdadeiras, ou por senti-las em nosso interior como tal, ou por ter alguma experiência pessoal que nos leve a pensar dessa forma. Experiências fundamentadoras destas crenças, por outro lado, a rigor, não são a maioria.Cremos porque cremos e nem sempre sabemos descrever a razão de nossas crenças."
Trecho do ensaio anterior, com o mesmo título.

Como vimos no ensaio anterior sobre este tema, muito do trabalho místico beira a religião, já que não prescinde de Crença e Fé em certos valores e pressupostos que fazem parte do perfil psicológico do Místico.
O trecho em epígrafe ressalta que consolidar o conhecimento místico a partir de experiências palpáveis e perceptíveis pelos cinco sentidos comuns, que demonstrem sua eficácia enquanto visão de mundo e veracidade, não é o fluxo de eventos mais comum.
Porque alguém já comentou, se a memória não me trai, Marcelo Gleiser, o físico, que em ciência precisamos ver para crer enquanto em questões de espiritualidade precisamos crer para ver. Se assim fosse, eu até me sentiria mais confortável. O problema é que a parte do ver após o crer nem sempre ocorre. Muitos místicos dizem que sentem que estão corretos em suas crenças, intimamente, mas poucos, muito poucos, referem ou descrevem fatos perceptíveis ou reprodutíveis para demonstrar a veracidade de sua crença.
Assim, a equação de Gleiser deveria ser refeita do seguinte modo: em ciência é preciso ver para crer; no esoterismo, é preciso crer para, sabe-se lá quando, talvez nunca, ver alguma coisa. E esta falta de acontecimentos e de resultados das práticas místico-mágicas gera ansiedade no estudante comum.
É normal que seja assim. A ânsia de resultados está em todo ser humano. Naqueles ligados a ciência ou naqueles ligados ao esoterismo. Por isso, por mera ansiedade, muitas vezes pessoas de bom coração, mas impacientes, prestam-se a declarações infundadas seja em sensações internas ou fatos externos, acerca de experiências fantasiosas e vagas, às quais se agarram como " possíveis 'provas' " de seus pressupostos e crenças.
Há nestas pessoas um enorme receio de admitir o fracasso, a falta de dados e ocorrências que realmente possam ser chamadas de experiências reais de natureza transcendental. E então, já que a Magia não funciona, recorrem ao Pensamento Mágico, e inventam um mundo particular em que habitarão com mais conforto, desde que não sejam frontalmente questionadas.
O diferencial da AMORC, principalmente a AMORC spenceriana, sempre foi este.
O que sempre me fascinou nos escritos de Spencer Lewis foi exatamente a recomendação expressa de que nada que fosse ensinado pela Ordem Rosacruz - AMORC deveria ser aceito apenas e tão somente porque a Ordem dissesse que era real. Recomendava ele, em todos os seus textos, o cuidado que cada frater e cada sóror deveriam ter em testar os ensinamentos rosacruzes na vida diária, mundana, e dessa forma, pelo teste constante, não só aperfeiçoar esta técnica ou habilidade quanto verificar sua realidade, sua real aplicabilidade.
O certo é que por mais inspiradores que sejam os livros que consultemos e por mais que incendeiem nossa imaginação com suas afirmações, muitas das vêzes, verdadeiramente fantásticas, a boa atitude, a atitude mais prudente, é nos concentrarmos em trabalhar as informações que sejam possíveis de ser verificadas na vida hodierna.
Não que aquilo que não puder ser imediatamente verificado não seja verdadeiro, mas, seguindo a orientação de um pensador alemão, Edmund Husserl, o criador da Fenomenologia, o melhor é deixar tudo entre aspas, em suspenso, sem fechar uma conclusão sobre temas que não possam ser verificados imediatamente, com os recursos que possuímos no momento, para quando houver estes recursos possamos fazer esta verificação. Suportar com dignidade nossa própria incerteza e ignorância é uma prova de maturidade emocional.


Edmund Husserl

O mais curioso é que esta demonstração de prudência científica, mas também de equilíbrio mental, está presente em muitas linhas de pensamento orientais, como no Budismo e no Hinduísmo.
Conhecida é a seguinte frase de Sidarta Gautama:
"Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o."



Buda não era um cientista positivista. Buda nem mesmo era um acadêmico universitário. Buda era um mestre espiritual. Toda a sua vida foi dedicada a libertação (moksha) daqueles que estavam mergulhados no torvelinho do desejo e do apego. Mas sua frase cai como uma luva na metodologia mental de qualquer pesquisador moderno. Ciência é a arte de pensar com prudência, com calma, com vagar e cuidado. A Ciência é parecida com a arte da Alquimia, sua antecessora, da qual herdou o gosto pela metodologia, pela paciência, pela perseverança no cumprimento de todas as etapas de um processo. É lugar comum dizer que os cientistas modernos são os novos alquimistas. Muitos dirão que isto é uma sandice, que alquimistas eram supersticiosos e cientistas modernos são homens e mulheres da razão. Tolice. Vale aqui o ditado árabe: "Enquanto só vires as diferenças, todo o teu conhecimento não valerá uma rúpia; só começas realmente a compreender quando prestas atenção às semelhanças." E assim, para sermos coerentes com a sabedoria árabe, prestemos atenção nas semelhanças entre alquimistas e químicos contemporâneos.


Reações químicas tem seus próprios ritmos que podem ser acelerados por catalisadores, mas não podem ser alteradas quanto aos componentes e quanto aos resultados.
É preciso conhecimento, é preciso paciência, é preciso calma para se fazer ciência em química, como também em física ou em biologia. Esta última, mais que as outras, nos leva a lidar com sistemas muito voluntariosos, cheios de peculiaridades e comportamentos misteriosos, que uma vida inteira às vêzes não é suficiente para dominar. E é assim que as coisas são.


Para o Cientista da Biologia (como para o Alquimista) as peculiaridades dos sistemas com os quais trabalham devem ser conhecidas e respeitadas, já que a natureza não permite trapaças, mas é dócil à alterações que sigam as suas regras, regras que só podem ser utilizadas quando são conhecidas. É preciso estudar estas regras, portanto, sempre e sempre, já que são sistemas vivos e por isso dinâmicos, sempre se metamorfoseando, sempre evoluindo, como nós, seres humanos, partes deste universo biológico. Estar atento aos ritmos da natureza, harmonizar-se com este ritmo e este modus operandi, ter paciência e calma ao analisar os resultados, não é um procedimento eminentemente alquímico?
Essas são as interessantes semelhanças entre um e outro método de abordagem do real.



Udday Shankar, bailarino e coreógrafo

Mas, se o Budismo pensa com equilíbrio e prudência, se os Alquimistas dedicavam toda uma vida a produzir condições para gerar um único resultado, o que diremos do Hinduísmo? O irmão do grande músico recentemente falecido Ravi Shankar, Uday Shankar, disse uma vez a George Harison, o guitarristas dos Beatles e discípulo de seu irmão Ravi Shankar:
"Um deus que não pode ser sentido com meu interior não é um bom deus. Deus precisa ser uma experiência, algo percebido em nosso interior, e não o produto de uma crença, tão somente."
No Hinduísmo é muito importante a noção de fundamentação interior de qualquer experiência espiritual. Não existe espiritualidade descolada do devoto, não existe espiritualidade fundamentada apenas em textos, embora o Bhagavad Gita seja um livro sagrado para todos nós hinduístas. Mas a noção de livro sagrado no Hinduísmo difere do Cristianismo, com seu culto a Bíblia na forma e na letra. Para o Hinduísta, um texto sagrado é aquele que pode ser percebido internamente pelo leitor em suas afirmações, as quais transcendem o papel em que está escrito. Não é o livro que é sagrado, com suas páginas e tinta. É aquilo que ele representa e transmite e que deve ter, necessariamente, para ser realmente sagrado, eco no interior de quem o lê.
No Hinduísmo, como de resto no Budismo, não se confunde a vela com a luz que ela representa.
O que estas ponderações nos trazem como reflexão? Que para o orientalista, a experiência religiosa ou mística advém de uma compreensão extremamente racional tanto quanto espiritual. 
E embora exista uma tábula rasa na imprensa ocidental, notória por sua ignorância acerca dos valores daquele planeta para lá de Roma, pela qual nivela todos os orientais como fanáticos e terroristas ignorantes, como se não houvessem fanáticos brancos e cristãos, é um fato histórico que os orientais são detentores de uma civilização milenar, sendo que nós, ocidentais, para eles,  somos apenas bárbaros do ponto de vista humano, embora bastante avançados do ponto de vista tecnológico.
Na verdade, os verdadeiros místicos orientais, os reflexivos e meditativos místicos das muitas e milenares tradições espirituais orientais, são pessoas de um bom senso e uma prudência intelectual que em nada deixa a desejar aos cientistas ocidentais, racionais, cuidadosos e cautelosos.
A Ciência, enquanto Ciência, não é uma inimiga do Místico. A verdadeira inimiga é a Ansiedade por resultados, que dá espaço à fantasia e ao Pensamento Mágico.
O Universo Místico é muito, muito delicado e sutil. É preciso caminhar por ele com muita suavidade, dar um passo de cada vez. Não se deve esquecer que não é só o Mestre que aparece quando o discípulo está pronto. Tudo que possa ocorrer, ocorrerá somente depois que o discípulo se apronta, se aperfeiçoa.
Existem coisas, supostamente não tão fantásticas e imaginosas, que são tão ou mais importantes do que obter resultados mágicos práticos, objeto do desejo de todos os tolos aprendizes de feiticeiros, que no máximo, no mais das vêzes, se deliciam em dançar com vassouras, como o Mickey no desenho clássico de Disney.
Sem sombra de dúvida existem coisas mais importantes do que isso para se fazer enquanto temos a chance, esta grande oportunidade da vida na carne.
Precisamos nos aprontar como discípulos , eu disse, e isto implica o desenvolvimento das sete qualidades da escada de Rá: Temperança, outro nome para Moderação; Fortaleza; Prudência; Justiça; Fé; Esperança e Amor. Só aqui já temos material que ultrapassa o tempo de uma encarnação. 
Mas são passos fundamentais para se desenvolver um verdadeiro Mago, um verdadeiro Místico, um verdadeiro e nobre Ser Humano.
Leva tempo, dá trabalho, exige paciência, e nem sempre, ou melhor, nunca é glamuroso. Nosso Ego não precisa ser esquecido, mas terá uma vida discreta, às vêzes algo insuportável para o Ego. Só que absolutamente necessário. Porque se o Ego é fundamental na consecução do equilíbrio social e psicológico, torna-se um forte obstáculo ao desenvolvimento de uma visão espiritual do mundo.
É preciso Temperança, Moderação, tanto na Espiritualidade, quanto na vivência social, para que o Ego não se suponha mais importante do que aquele que lhe dá existência, para que a criatura não queira superar o Criador. Não vou discutir a necessidade de Força no viver, seria redundante, mas no terceiro degrau, chama-se a atenção para a virtude da Prudência de que tanto falamos neste ensaio. Prudência em tudo, mesmo na Fé, quinto passo desta escada. E se o degrau da Prudência vem antes do da Fé, isto tem uma razão. Fé sem prudência não é Fé, mas fanatismo.
Precisamos crer, mas com moderação, enfatizando a Fé não como ato de crer, mas como conexão com o Altíssimo, de forma que as fortes sensações (físicas mesmo) desta conexão sirvam de sustentação experimental de nossas crenças. Um Deus, como dizia Uday Shankar, que se sente nos ossos, é um bom Deus. Senão é fantasia.
Por isso, os textos que lemos neste gigantesco universo literário esotérico, devem ser filtrados pela nossa racionalidade. E não devemos combater o pensamento e o ceticismo metodológico científico como se ele fosse um demonio e nós, crentes, fossemos anjos.
O pensamento científico sempre foi a sustentação do discurso de Spencer Lewis. O pensamento científico, forjado por grandes rosacruzes como Descartes e Bacon, é prudente, é sólido, baseia-se em reflexões feitas ao longo de séculos; não é orgulhoso, pois sempre critica a si mesmo, duvida de si mesmo, e todos os seus postulados estão sujeitos a serem modificados, caso algo prove que estão errados. Portanto, uma das coisas mais importantes que o pensamento científico tem a ensinar a qualquer pensador dogmático é a humildade. Não devemos lutar contra os cientistas, (como Blavatsky faz, ao longo de toda a Doutrina Secreta, quase deixando entrever uma inveja da metodologia e da fundamentação daqueles outros, já que, pouco a frente de um ataque a ciência, procura legitimar suas afirmações com o apelo a pesquisas as mais variadas dessa mesma ciência), mas aprender com eles o cuidado com nossas afirmações e crenças. Não crer em tudo que lemos, mas nos concentrarmos nas coisas que nos trazem melhorias reais e palpáveis, como avanços em nossa condição humana ou mais dignidade espiritual as nossas existências.
Essas são metas nobres que devem ser objeto de nossa ambição enquanto místicos.
São cálices sagrados que devem ser procurados ávidamente por todos aqueles que querem tornar-se melhores para, finalmente, mostrarem-se dignos de ser discípulos pessoais de um Mestre, sem que percebamos que ao ascender a condição de discípulos, já estamos nós mesmos, mais perto da condição de maestria.
Aprender e evoluir sempre e sempre. Esta é a missão mais sagrada de todos os místicos, pacientemente suportando a ignorância e a limitação com elegância, como fazem os cientistas, sem se precipitar em explicações ou crenças infundadas, melhorando todos os dias como pessoa e como indivíduo.
Que mais um verdadeiro ser humano pode desejar?
Textos devem, portanto, ser para nós um deleite, um prazer, mas nunca objetos de adoração. Devemos lê-los com nosso coração, mas também com nossos cérebros, de maneira a que não percamos tempo cultuando afirmações que seremos incapazes de verificar como se fossem mais importantes do que a melhoria de nosso comportamento como seres sociais ou membros de uma Fraternidade de Iniciados. Ser verdadeiramente humano ainda é a maior magia e o maior milagre. Dediquemos-nos a isto, de todo o coração e com todo nosso ser.