Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A "ÁRVORE DA VIDA", NA VERDADE, NÃO É UMA ÁRVORE

"por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Foi Mestre Reginaldo Leite, meu estimadíssimo frater e amigo de Pernambuco, companheiro de longas conversas no Skype, quem me atiçou a curiosidade para a possibilidade de conexão entre a visão de Martinez de Pasqually e a cosmogênese na visão do Cabala, principalmente a Cabala Luriana.
Comentava ele a propósito de um curso que fará sobre "A Mística das Letras Hebraicas", que gostaria de encontrar uma ligação entre ambas as tradições e sugeriu-me um primeiro ponto: na transição da região da Imensidade Divina para a Imensidade Supraceleste, do Quadro Universal que está no Tratado da Reintegração, Martinez chama os espíritos que guardam o ponto de intersecção entre estes dois domínios de Espíritos Denários e lhes atribui o número 10. Diz ele que os ESPÍRITOS SUPERIORES DENÁRIOS, não foram chamados a participar da execução do plano divino. Estão imóveis, como que guardando a transição entre um e outro plano. Em um outro ensaio chamado, presunçosamente “Explicando o Quadro Universal”, eu dizia na época que esta imobilidade não inútil dos superiores denários significava que eles estavam fazendo o papel de transformadores da energia de criação de Deus, da mesma forma que transformadores elétricos impedem que a corrente de alta voltagem entre em nossa casa sem ter sido modulada para 110 volts. Imóveis, dizia eu, mas trabalhando. Frater Reginaldo deu um passo além. Ancorado em uma intuição e conhecimento únicos, dizia ele que eram 10 sephirot na Árvore da Vida, ou seja , a Árvore da Vida é denária, como os espíritos da junção supracitados. Haveria paralelismo? Não é preciso dizer que o que nos diverte, a mim e a meu querido frater, nestes contatos especulativos, como diria o Conselheiro Acácio, é especular.E eu penso com imagens. Imediatamente comecei a procurar imagens que mostrassem esta ligação entre uma e outra tradição.


Enquanto brincava com a ajuda do Google de um lado e do Paintbrush do outro, com um sem número de imagens, comecei a ter um insight sobre a natureza da própria “Árvore da Vida”.
No espírito da mesma estratégia intelectual que me fez meses atrás dar tridimensionalidade ao Eixo Fogo Central Incriado, percebendo a partir daí que era Nous, o sustento da existência que a todos penetra, comecei a olhar para a Árvore da Vida e deslocá-la de posição.
Frater Reginaldo sempre lembra que em cada sephira da árvore temos um torvelinho de energia. Isto me fez extrapolar que a própria árvore poderia ser um torvelinho de energia também. Talvez um tornado energético de tal magnitude que a época em que foi descrito, chamar-se-ia, adequadamente de árvore.
Pensando nisso comecei a juntar imagens.
Primeiro: a “Árvore”


Escolhi este modelo de árvore e não outro por causa da evidencia das três colunas constituintes. Importava muito para o desenvolvimento do meu raciocínio visual que as três colunas componentes estivessem destacadas no arranjo.
Segundo: colocar a árvore no lugar dos Denários de Pasqually




Nessa imagem, a aparência de tubos pelos quais passa “alguma coisa” provavelmente nos dois sentidos , descendente e ascendente, é compatível com a idéia de que “Deus se vê no espelho de sua Criação”, ou melhor , de que há uma retroalimentação constante da Criação para o Criador , na forma de dados da experiência de todos os seres criados. Não só desce energia criadora mantendo e sustentando Maya, a grande Ilusão, palco das experiências das personalidades alma deste mundo, mas da mesma forma estas experiências e suas conseqüências são imediatamente reportadas a Fonte de Todas as coisas, alimentando-a. São três colunas de Luz que sobem e que descem da Imensidade Divina, mais ou menos como na representação abaixo:


Terceiro passo: pensar a “Árvore” tridimensionalmente. Deformei-a e levantei-a, da forma que se segue. A esta altura tinha me fascinado pela “Árvore” e esquecido do Quadro Universal de Pasqually. Ficou primeiro assim:




Neste momento, eu estava levantando a “Árvore” para ver suas colunas de uma perspectiva inferior, imaginando que por baixo seria possível ver os vórtices. Ficou dessa forma a visão inferior:


Pensando nestas espirais, me veio a mente o quarto passo: pensar a “A Árvore como uma espiral em si e elaborei o seguinte modelo:



Não é preciso muita imaginação para entender que a imagem acima lembra muito uma árvore, sem sê-lo. Padrões energéticos em uma época primitiva não encontrariam nem um vocabulário para descrevê-los, como demonstramos em “Explicando o Quadro Universal”, na referência ao Eixo Fogo Central Incriado, o qual recebeu este nome trocando-se Energia por Fogo, única imagem capaz na época de representar a idéia.
Agora, se esse modelo acima, um torvelinho de energia, era uma manifestação do processo criador na Terra, e se ele se reproduzisse em vários níveis, teríamos algo parecido com a imagem que se segue:




Cada um destes vórtices em posições compatíveis com as sephirot, rodopiando e emanando energia que recebem de níveis mais altos e passando para os níveis mais baixos, ao mesmo tempo recebendo esta energia dos níveis mais baixos e os repassado para os níveis mais altos , de Malkuth até Kether. Animado com minhas brincadeiras visuais, deformei o vórtice mais ainda esticando-o e para minha surpresa surgiu nada mais nada menos do que uma “ARVORE”. Prestem atenção:


E agora a explicação da razão porque usei aquele modelo e não outro do esquema da Árvore da Vida. Três “Colunas de Fogo”, três colunas de energia como vistas acima:




E na versão Vórtice de Energia ficariam assim:


Diga-me você que lê este trabalho: é ou não é uma “Árvore”?
Só falta agora colocá-lo no Quadro Universal.

Qual o sentido de toda minha especulação com imagens? Postular que Misticismo e Tradição são apenas a ciência de outra época, uma época em que contemplavam-se fenômenos tão fantásticos e fascinantes como aqueles que o Hubble e seus companheiros telescópios da atmosfera nos apresentam todos os dias nos jornais da manhã. Em minha humilde opinião, tudo que a Tradição nos traz são relatos toscos e deformados de fenômenos indescritíveis naquela época, ou mesmo na nossa, visões de Iniciados que, ao transmiti-las, lançaram mão das comparações possíveis no seu tempo. Não compreender isto, a meu ver, é procurar sentido no que não tem, tentar entender o objeto real por sua sombra, como os prisioneiros da Caverna de Platão, no diálogo A República. Descrições toscas não significam que sejam falsas. São apenas toscas por que não poderiam ser de outra forma e ao místico é demandado um esforço intuitivo hercúleo para ir além das sombras que a Tradição às vezes tem preservado por milênios, na esperança de algum dia a mensagem ser entregue a quem de direito.
Confesso que sou pragmático e que às vezes me faço a pergunta assassina do prazer: para que servirá este conhecimento, que importância ele pode ter para a vida cotidiana? Ainda não sei. Mesmo assim me divirto em tentar surpreender formas esquecidas, dissimuladas em representações ruins, porém possíveis numa época de poucas luzes.
Se alguém quiser me criticar pelo meu esforço chamando-o de descabido e delirante, defendo-me com as palavras da Tábua de Esmeraldas: "O que está em cima, está em Baixo, assim como o que está em Baixo, está em Cima", lembrando como Espinoza que não existem várias realidades, mas apenas uma em sucessivos níveis de refinamento ou densidade. O que não podemos e não devemos fazer é parar de pensar.
Este ainda é o nosso último direito e nossa inquestionável liberdade.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

OS SÍMBOLOS ESTÁTICOS, OS DINÂMICOS E OS PRÉ-DINÂMICOS OU SUAVIZADOS

por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:, M.:M.:

Vimos no ensaio anterior (“O Navio, o Oceano e o Farol”) que podemos didaticamente dividir os símbolos em simples ou compostos, como também em estáticos e dinâmicos. Simples seriam os que fossem formados de uma única figura geométrica ou biológica e compostos os que combinassem vários elementos dos dois tipos descritos; e os estáticos aqueles que possuíssem características bastante rígidas, como principalmente os símbolos maçônicos (esquadros, compassos, malhos e cinzel, pedra bruta ou polida) em oposição a outros que incorporassem caráter mais dinâmico, como aquele que é mais conhecido como o símbolo do Ying e do Yang.
Mas o Diagrama do Taijutso Tu não é o único símbolo que podemos usar como exemplo de um símbolo dinâmico. A maioria das Mandalas indianas também o são e um antigo símbolo védico que tornou-se tristemente notório, exemplifica bem este dinamismo, a Suástica.


Longe de ser um símbolo eminentemente nazista como possa parecer, ela sofre de uma reputação proveniente de seu uso histórico mais recente. Da mesma maneira que a cruz foi apropriada como símbolo particular de certas linhas religiosas, a suástica, símbolo primitivamente indiano, tornou-se aparentemente propriedade do regime nazista. Só que não o é. Ela pertence a história do povo ariano que colonizou o norte da Índia milhares de anos antes da segunda Guerra mundial, como demonstra achados arqueológicos insuspeitos como o da foto abaixo.

Colar indo-ariano, escavado em Kaluraz, Guilan (cerca de 1000 dC, Museu Nacional do Irã).

Não há dúvida, no entanto , que ninguém como os indianos souberam produzir símbolos, não só compostos como altamente dinâmicos. A profusão de mandalas produzidas pela arte religiosa hindu enche os olhos e enriquece nossa sensibilidade.
Tudo parte de um princípio simples: continente e conteúdo, periferia e centro, externo e interno. A partir daí a criatividade do artista determina até onde vai seu símbolo sempre atento ao fato de que um mandala deve induzir concentração perfeita até que o praticante atinja o estado de meditação e o mantenha.
Existe um jeito certo de contemplar o mandala.
É preciso que olhemos para seu centro e nos deixemos absorver por sua beleza de tal maneira e com tal persistência que a parte lateral do mandala desapareça de nossos olhos.
Embora complexos e variados , todo mandala tem a estrutura demonstrada abaixo:



A fase em que nos concentramos no ponto central é chamada de Dharana, Concentração, mas não é a primeira parte do processo. Existe em Yoga uma compilação, a mais antiga conhecida, que foi feita por Patânjali (Patanjali (em sânscrito: पतञ्जलि , Patāñjali) viveu entre 200 a.C. a 400 d.C.) dos conhecimentos da técnica.




Patânjali, metade cobra, metade homem


Foi baseada nos Vedas e Upanishad em aproximadamente 150 DC. Estes textos são chamados de Yoga Sutras.
Lá Patânjali descreve o Ashtanga Sadhana ou Caminho de 8 partes para atingir a Iluminação pelo Yoga.
A primeira e a segunda partes são normas de conduta chamadas Restrições e Prescrições, Yamas e Nyamas, coisas que não se deve fazer e coisas que se deve fazer.
A terceira e a quarta tratam especificamente da pratica física que compõe o sistema de exercícios para estímulo de glândulas e plexos nervosos, os Ásanas, posturas físicas, e os Pranayamas, técnicas respiratórias para controle do Prana, a energia Vital que entra no corpo pela Respiração; as últimas 4 partes referem-se a parte mais sutil do método e envolve a disciplina mental, ensinando como entrar em estado propício a Iluminação.
Juntos compõem o Yoganidra, e são a Abstração, Pratyahara, a Concentração, o Dharana, a Meditação, Dhyana e finalmente, o Samadhi , a Iluminação em Si.
Os mandalas são particularmente importantes nesta fase.
Para se concentrar a mente com perfeição é preciso abstrair-se de todo o resto que nos circunda, ou para falar do Mandala, é preciso tirar os olhos do Círculo, da periferia, e concentrar-se no centro, o ponto.



Para isto precisamos abstrair(pratyahara) , desviar a atenção do que não é importante, e concentramos-nos ( Dharana) no centro do mandala. Portanto a mais perfeita Abstração é o estado de Concentração. Do mesmo modo quando a mente está aquietada por uma concentração perfeita, o mais alto estágio de Dharana, atingimos o estado de Meditação, Dhyana. E finalmente, em meditação perfeita, Dhyana, atingimos um estado ainda mais refinado aonde nossa mente e a mente do Absoluto, da Totalidade se fundem e praticamos finalmente a Yoga (Fusão) com tudo que existe tornando-nos Iluminados (Samadhi).
Se Pratyahara e Dharana precisam ser praticados, Dhyana e Samadhy são estados em que se está ou não se está, dependendo da excelência de nossas fases anteriores.

Contemplar um símbolo como o Mandala é mergulhar no Fluxo da Consciência e deixar-se arrastar por ele, perdendo por instantes, os instantes da meditação, a noção do Eu e de Si Mesmo.
Personalidade, Sexo, Posição Social, tudo desaparece dentro de um torvelinho de consciência aonde nos tornamos apenas pura energia.
É uma experiência muito poderosa que se repetida por várias vêzes deixa reflexos em nosso intelecto e no nosso comportamento, mudando nossa perspectiva da realidade.


Terminada a prática, é comum em posição de lótus executar-se mais uma fase, para a qual as Oito Partes anteriores nos levam normalmente: a prática do Mantra.
O mais poderoso Mantra da tradição Hindu é o Om ou Aum, segundo Blavatsky formas diferentes de emitir o mesmo som.
A palavra mantra identifica um som repetido a exaustão, procurando desencadear na parte psíquica do indivíduo que o entoa o mesmo estado que o mandala a seu modo provocou. O mandala é uma das ferramentas auxiliares para se atingir, pelo método do Yoga, o estado de Samadhy. A outra ferramenta é o mantra.
O som Om em sânscrito é famoso, hoje, em todo mundo e é em sí um símbolo também muito dinâmico embora não tenha uma proposta arquitetônica de movimento. Porém seu desenho é de linhas curvas, com suavização nos seus contornos, mostrando um estado pré-dinâmico , mais flexível do que um símbolo de linhas extremamente retas como os símbolos maçônicos.

Emitido repetidas vêzes, induz a um estado de mono-tonia, que anestesia nossas percepções e aquieta nossa mente.
Mantras e Mandalas só tem uma finalidade: aquietar o turbilhão da mente. Yoga é uma técnica para conseguir isso, e em sânscrito diz-se que Yoga Chitta Nirodah, ou seja, a Fusão só é conseguida com a Cessação do Turbilhão Mental.
Desta forma levamos nossa discussão sobre símbolos a um nível mais alto, uma interação com o símbolo não só de natureza intelectual, mas mental, que deve ser transferida dos símbolos orientais, verdadeiras máquinas psicológicas para os símbolos ocidentais, reproduzindo aqui o caráter contemplativo inerente a prática oriental.
Se nos aprofundarmos nos símbolos ocidentais que contemplamos conseguiremos extrair sentidos antes insuspeitos e que só podem ser percebidos quando vamos além do próprio símbolo.
Como por exemplo o Pêndulo conhecido como Perpendicular ou Fio de Prumo, aquêle que simboliza a profundidade do estudo e da investigação do maçon. Embora a Maçonaria o valorize pelo seu caráter estático, pendendo do alto até embaixo na busca pela estabilidade representada na sua imobilidade, podemos especular que este estado de repouso que eventualmente é atingido pelo Fio de Prumo foi antecedido por uma oscilação a direita e à esquerda a qual é natural para todo objeto pendurado por uma pequena corda. E na análise deste símbolo, podemos enriquecê-lo trabalhando este aspecto tão desprezado em sua análise, o balanço que antecede a estabilidade.
Existe muito mais vida e movimento no Fio de Prumo quando ele não atingiu ainda a estabilidade, na qual se apresenta como se morto estivesse, imóvel, refém da força gravitacional. A busca acabou, o deslocamento terminou, a incerteza cessou na medida que cessou o movimento.
Só que a cessação da incerteza e da indefinição é a cessação da própria vida do Fio de Prumo ou Perpendicular e isto , que eu lembre, nunca é considerado na análise deste magnífico e dinâmico símbolo maçônico.


É como se matássemos o processo e trabalhássemos apenas com o produto final, como se tudo aquilo que acontecesse antes daquele evento perdesse importância.
Prumos, como também os Níveis em construção, são objetos com movimento, e na verdade, carregados daqui para lá em uma determinada obra jamais estão totalmente em repouso a não ser naqueles poucos instantes em que são chamados a dar seu julgamento sobre a perpendicularidade ou horizontalidade de determinada superfície. Uma vez que isto esteja verificado, cessa sua obrigação como aparelho e lá vai ele balançando na mão do mestre que o carrega.
Que podemos especular desta imagem? Que os instrumentos de um mestre têm movimento juntamente com o movimento de seu portador. Que a rigor, nem no momento em que estão atestando a estabilidade de uma superfície estão imóveis, posto que a Terra, abaixo de nossos pés, gira, e portanto, está também em movimento.


A gravidade nos engana. Não existe estabilidade estática mas sim uma estabilidade dinâmica, como o objeto que só levanta vôo e mantém sua altitude enquanto aquele que o gira preso em uma corda dá voltas em torno de si mesmo, forçando-o a manter-se no alto.


E já que toda estabilidade dinâmica é passageira, em suma, é uma estabilidade instável, nada justifica que roubemos aos símbolos mais dinâmicos entre os símbolos maçônicos, seu movimento interno natural, sua oscilação, sua busca, seu deslocamento.
Esta talvez seja uma maneira de revolucionar, outra palavra de movimento, o interior do pensamento maçônico, em muitas oportunidades avêsso a alterações de perspectivas tradicionais.


Na verdade a questão é semelhante ao Mandala. O que o Mandala ensina é que devemos desprezar o periférico para podermos ver perfeitamente o centro.Da mesma maneira, para se enriquecer a simbologia de um símbolo maçônico é preciso ir ao seu interior e ali descobriremos novas possibilidades, livres das distrações do aspecto periférico de símbolos e da ilusão de sua aparente estabilidade pétrea.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O NAVIO, O OCEANO E O FAROL

por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Símbolos são expressões de uma língua muito particular, o verdadeiro idioma universal, aliás, planetário, para ser menos pretensioso, além de atemporal e transcultural.
São manifestações complexas e sintéticas de uma narração em que uma imagem determina inúmeras compreensões. Sempre digo a minha filha menor que o bom escritor é aquele que é um bom descritor e que uma idéia é tão poderosa quanto a sua riqueza de cores, contrastes e paisagens.
Por isso a qualidade desses símbolos depende tanto da habilidade em representar uma determinada compreensão do mundo em um pequeno conjunto de traços, geralmente de caráter geométrico, ou seja, matemático. E a habilidade em decifrá-los depende em muito da capacidade de abstração geométrica do interpretador.
Essa geometria é composta de peças imóveis (quadrados, triângulos, círculos) associada ou não a alguns elementos biológicos (águias, leões, serpentes).
Citando a WIKIPEDIA: “A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais") ou Semiologia, nas ciências da linguagem, conforme sua origem (americana ou européia) é a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ambos os termos são derivado de "Semeion", que significa "signo", havendo desde a antiguidade uma disciplina médica chamada de "semiologia".

Ferdinand de Saussure

Mais abrangente que a lingüística, a qual se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico - Artes visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciência, etc.

Charles Sanders Peirce

Surgiu, de forma independente, na Europa e nos EUA. Mais frequentemente, costuma-se chamar "Semiótica" à ciência geral dos signos nascidas do americano Charles Sanders Peirce e "Semiologia" à vertente européia do mesmo estudo, as quais tinham metodologia e enfoques diferenciados entre si[1].
Na vertente européia o signo assumia, a princípio, um caráter duplo, composto de dois planos complementares - a saber, a "forma" (ou "significante") e o "conteúdo" (ou "significado") - logo a semiologia seria uma ciência dupla que busca relacionar uma certa sintaxe (relativa à "forma") a uma semântica (relativa ao "conteúdo").
Ferdinand de Saussure (1857-1913) é considerado pai da semiologia, a vertente européia do estudo dos signos, por ser o primeiro autor a criar essa designação e a designar o seu objeto de estudo. Segundo este, a existência de signos - «a singular entidade psíquica de duas faces que cria uma relação entre um conceito (o significado) e uma imagem acústica (o significante) - conduz à necessidade de conceber uma ciência que estude a vida dos sinais no seio da vida social, envolvendo parte da psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral. Chamar-lhe-emos semiologia. Estudaria aquilo em que consistem os signos, que leis os regem.»
A concepção de Saussurre relativamente ao signo distingue o mundo da representação do mundo real. Para ele, os signos (pertencentes ao mundo da representação) são compostos por significante - a parte física do signo - e pelo significado, a parte mental, o conceito.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica#Ferdinand_de_Saussure
Quanto a este último comentário da citação, existe um exemplo famoso que descreve o conceito através de um símbolo: o cachimbo de Renée Magritte, abaixo do qual ele escreve, em francês (Magritte era Belga) que aquilo “não era um cachimbo”, insinuando o fato de que tratava-se apenas de uma pintura de cachimbo e não o cachimbo real.

Místicos também buscam a compreensão de mensagens ocultas em imagens como as descritas acima, geométricos ou com formas de animais, simples ou compostos, aonde idéias e discursos inteiros estão acondicionados.
Exatamente como embrulhos, símbolos místicos precisam ser desembrulhados. Para usar a imagem e o conceito de Ferdinand de Saussure, desembrulhamos o significado do papel do significante.
Estabeleçamos, a título de didatismo, que existam dois grandes tipos de símbolos místicos: os símbolos simples e os símbolos compostos.
Símbolos simples seriam aquêles compostos apenas de um único simbolo geométrico, seja ele plano ou sólido (por exemplo, um quadrado, um triângulo, um cubo ou uma esfera). Composto seria o símbolo que fosse formado por mais de um elemento geométrico ( por exemplo, um círculo com um quadrado dentro e dentro deste quadrado uma imagem qualquer, como um triângulo ou mesmo uma cruz).
Interpretar um símbolo simples, como o nome diz, não é menos complexo, como possa parecer, do que interpretar um símbolo composto.

É a mesma coisa que escrever sobre um determinado tema excessivamente genérico.
É mais fácil escrever sobre a “Natureza do comportamento das nuvens na produção de chuvas em altas temperaturas no Gabão” do que escrever um ensaio sobre, digamos, “A Verdade”.
Ou seja, símbolos compostos podem ser de-compostos, progressiva e metodicamente, e podemos nos divertir encontrando os muitos significados ocultos dentro de suas muitas partes.
Símbolos simples, ao contrário, podem siginificar um sem número de coisas, como no caso de um simples ponto, o qual pode representar O Uno, O Todo, Aquele ou aquilo que não tem Dimensão, O Centro de Tudo, etc.
O Ponto

Neste caso, dos símbolos simples, é necessário que ele seja acompanhado de um direcionamento, um sub símbolo explicativo, ou um sub conjunto de símbolos, ou seja, um texto, que o complemente.
São raros os símbolos simples capazes de sózinhos expressarem seu sentido desejado ou imaginado pelo seu autor sem a necessidade de uma intervenção elucidativa, no caso um texto auxiliar.
Podemos citar como representantes deste tipo entre os símbolos geométricos a cruz com braços iguais, que sempre significará a interseção do que está no alto com o que está em baixo e, entre os biológicos, o leão como símbolo de força e realeza.


Se por exemplo a cruz não tiver braços de mesmo comprimento, embora o símbolo cruz não seja monopólio do Cristianismo, assemelhar-se-á a cruz cristã e passará a ter significados religiosos os mais variados.
De qualquer maneira, muito importantes para o trabalho místicos como agregadores de conceitos, os símbolos esotéricos trazem em seu bojo uma enorme gama de significados éticos, espirituais e emocionais.
Gostaria de destacar a tradição simbólica maçônica para concluir esta revisão.

Ali encontramos uma profusão de símbolos baseados nos instrumentos de trabalhos dos pedreiros, os quais foram recrutados como símbolos místicos com rara sagacidade. Na lista encontramos as três Jóias Móveis da Loja Maçônica, o Esquadro,a jóia do Venerável, o Nível, a jóia do 1° Vigilante, e o Prumo, a jóia do 2° Vigilante.

O simbolismo destes elementos, como por exemplo a Justiça, Equidade e retidão para o Esquadro; a Igualdade, representada pelo Nível, segundo Ragon, citado por Jules Boucher ; e o “ emblema da busca em profundidade da verdade, representada pelo fio de prumo ou Perpendicular, por causa de sua verticalidade, símbolo do 2° Vigilante, expressam em seu conjunto valores, idéias, mas principalmente metas e horizontes.
Porque metas? Porque os símbolos, principalmente os maçônicos, são notórios pela falta de dinamismo interno, pela seu perfil estático, inerte: pedras,polidas ou não, cinzéis, colunas, etc.

Quando falamos em retidão, também sofremos com esta representação estática, como se fosse possível a seres biológicos comportarem-se como entidades geométricas.
E isto, o bom senso nos diz, é impraticável. Pois todos os homens têm em sua vida, uma evolução não retilínea, mas sinuosa, com altos e baixos, viva, em síntese. Só os seres mortos são retilíneos, equilibrados. Vida é desiquilíbrio, instabilidade e não estabilidade.
Nenhuma existência neste mundo de contradições e contrastes pode ser reta como uma régua e nenhum ser humano terá sempre gestos retos como o ângulo de um esquadro, pois somos mais que pedras , somos almas mergulhados em corpos, sujeitos a um sem número de forças que nos deformam e formam, dia após dia.

Comparando, se cada símbolo deve servir de guia para nossas vidas e para nosso comportamento, como os símbolos maçônicos guiam os passos de um maçon, é importante deixar claro aos aprendizes que estão chegando a Ordem que esses mesmos símbolos são estáticos como Faróis, impertigados na praia ou na rocha sólida, lançando sua luz sobre o Oceano da Vida , mas nós, os navios que procuramos sua luz e que precisamos de sua orientação, balançamos violentamente neste Oceano, sem nunca repousar, sem nunca encontrar uma posição definitiva.
Isto é a Vida Real: movimento, instabilidade, ebulição.



Por isto símbolos estáticos devem ser sempre entendidos como intenções, mas não como realidades factíveis, da mesma maneira que o quadro do cachimbo de Magrite não é um cachimbo de verdade.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DIÁLOGOS ROSACRUCIANOS:CAPÍTULO 8: 5° E ÚLTIMO SEMINÁRIO: KARMA, ANJOS E HARMONIA.

Bernardo: Bom dia a todos. Estamos iniciando o último de 5 seminários que nos tomaram os últimos meses. Sejam todos bem vindos.

Comenius: Neste encontro , temos um tema que gostaríamos de propor a assembléia de rosacruzes aqui presente: o karma.
Bernardo: Quero colocar de início que não acreditamos como rosacruzes em maldições do passado, e, além disto, acreditamos que karma resulta de opções cotidianas, ininterruptamente, gerando situações que terão efeito cármico.
Não há nenhum ato que não seja kármico, que não gere reação, porque afinal, da genética e do karma é impossível fugir.
Aliás, genética também é karma.
Comenius: Ora, tal fatalismo não implica em tragédia. Leis naturais e universais, como dissemos, não são maldições, como alguns querem fazer crer mas parte da mecânica interna do Cosmos. A mão que vai ao fogo, queima e dói.
O indivíduo não repetirá o mesmo ato. O fogo, no entanto, não o puniu por nenhum pecado. É a natureza do fogo queimar, como da água molhar. O contato entre naturezas diversas, uma que se queima e outra que queima é o encontro entre forças antagônicas que se reconhecem e portanto se afastam, mantendo a tendência de adaptação constante entre os elementos da realidade.
Não há caráter moral a ser considerado. Trata-se de um fenômeno físico, o qual por sua regularidade e constância, torna-se conhecimento científico. Uma vez que saibamos que não devemos fazê-lo não o faremos, porque aprendemos que é melhor que seja assim. Não há nobreza intrínseca em nosso ato. Apenas sensatez. Atitudes sensatas são amorais, mas nem por isso deixam de ser sensatas. Nem por isso deixam de ser boas. Espera-se que um ser humano equilibrado seja, antes de moralista, sensato.
O estudante rosacruz é, via de regra, um ser humano equilibrado.
Portanto sua visão do karma é tão sensata quanto ele. Não um sistema de punições e prêmios, mas um mecanismo de balanceamento de forças, amoral, mas eficaz e automático. A justiça cármica é uma lei da natureza, não dos homens, portanto não atende, embora o homem desejasse que assim fosse, aos valores comezinhos de certo e errado que cada cultura estabelece em cada período histórico da sociedade, e em cada região do planeta.
O fogo queima aqui e na China, bem como nas Antilhas e na Suécia. Em todas as partes do planeta, ou mesmo do Universo, onde uma mão humana encostar em uma chama sofrerá queimaduras imediatas por causa de sua atitude, seja a mão de um homem mau ou de um homem bom, segundo os critérios particulares de cada cultura.
Não haverá petições, apelações ou pedidos de desculpas que poderão ou não ser aceitos. Apenas uma queimadura. Nada mais. E o fogo não se sentirá culpado por queimar nem a mão terá qualquer benesse por ser queimada.
Ação e reação terão se manifestado, de forma automática, mecânica.
Bernardo: Isto não implica em um universo sem Deus ou sem dignidade, mas sim em uma visão da Natureza sem romantismo ou idealismos particulares, que escondem a tentativa de impor concepções humanas à realidade e à Divindade. Esconde a atávica tentativa do ser humano de dar a Deus qualidades também humanas, de antropomorfizar a Divindade. No passado, Deus já foi “um Deus de vingança”, “um Deus Cruel”, “um Deus de Fúria”, “um Deus guerreiro”; depois tornou-se “um Deus de amor”, “um Deus bondoso”, “um Deus de perdão”.


Na verdade estes são adjetivos humanos para um fenômeno além do humano, que na impossibilidade de ser compreendido recebe vestes mais palatáveis e acaba mais parecido com o observador do que consigo mesmo.
O que realmente ocorre é que não podemos conhecer o Criador e nem compreendê-lo, mas o contemplamos através de sua Obra, a Criação.
E quem se esforça em compreender esta Criação, vê claramente que não há intenção específica na Natureza de ser boa ou má. A natureza apenas é. E ponto.
Pensemos agora como místicos. Os instintos dos animais são absolutamente naturais. Autopreservação, satisfação da fome, da sede e do ar, a necessidade de abrigo e de afeto, a sexualidade que garante a perpetuação da espécie, são fenômenos naturais em todos os seres, inclusive em nós.

EQUANIMIDADE

Ora, se como místicos concordamos que a Criação é obra de Deus, todos as programações automáticas internas dos seres vivos, mediadas por substâncias químicas poderosas, os hormônios, que conhecemos como instintos, são desígnios deste mesmo Deus e por isso, são santos.
Não há nada mais puro ou em harmonia com Deus do que satisfazer tais necessidades. Elas não podem ser objeto de crítica ou de punição pois foram colocadas em nós por Aquele que não pode ser desobedecido.
É sensato que um animal siga seus instintos, da mesma maneira que é sensato um homem, dotado de consciência, não ser escravo dos seus. O que em si não implica negá-los ou maldizê-los.
Da mesma forma que o fogo, os instintos são o que são por que esta é a sua natureza.
O mesmo Deus que criou os instintos criou o karma. São dois subsistemas do mesmo grande esquema. Portanto é sensato pensar que não sejam sub sistemas, sub rotinas antagônicas, mas sinérgicas, que buscam um trabalho em conjunto na busca pelo equilíbrio da Criação.
Então porque a destruição da vida não implica em remorso para um tigre que devora sua presa, ao mesmo tempo que matar outro homem nos afeta, a nós, homens, de forma tão devastadora?

Por que o homem, ao contrário do tigre, sabe o que faz, e avalia intimamente seus atos em conjunto com Deus.
Isto faz do homem uma criatura particular. Ele tem o poder da auto análise. O homem tem em si algo que o tigre não tem: consciência; mais do que isso: o homem tem consciência de si mesmo.
Deste modo, ele julga a si mesmo, através de sua consciência, e estabelece, em conjunto com a mente universal, a correção de seus atos, dadas as suas particulares circunstâncias.
Isto é o karma humano. Além de reações mecânicas na interação com o chamado mundo material, por causa de sua consciência o homem também tem de estar atento aos seus pensamentos e atitudes íntimas, por causa das reações que colherá no mundo mental.
A consciência gera para um homem um segundo nível de exigência, que o obriga a ter um comportamento mais cuidadoso, consigo mesmo tanto quanto com a criação a sua volta. Não fosse a consciência não haveria culpa, ou remorso, mas por causa da consciência, não temos a liberdade de arbítrio que apregoamos.

Podemos arbitrar entre duas opções, mas não livremente. Nossa consciência guiará nossas opções e determinará o tipo de escolha que deveremos fazer.
Mais consciência, menos liberdade de escolha.
Mais e mais nossas escolhas estarão atreladas àquilo que sabemos ou acreditamos ser a coisa mais sensata e mais certa a fazer. E assim o fazemos. Vejam, não há como ir contra nossos sentimentos mais profundos
Pois tanto quanto o fogo, a consciência gera uma reação em nós. Sem ela não sentiríamos nada, nem pudor, nem vergonha.
Sem consciência, não há karma.
Assim, existem mecanismos de autoregulação que devem ser considerados, quando lidamos com a Criação, tanto no nível de existência menos elaborada, reguladas pelo instinto ou pela autopreservação, como nos níveis mais elevados de manifestação da vida, com a consciência em nós. Instinto e Consciência são modos de a presença divina se manifestar em nós, como em todos os seres vivos da natureza.
Jamais estamos sós, ou livres, como gostamos de achar.
Frater João: Já que o frater expôs este tema com tanta elegância eu confesso que uma curiosidade me assaltou.
A questão é: se os animais têm instinto, e os homens têm consciência, dois mecanismos intrínsecos de auto-regulação comportamental, como ficam os anjos? Se eu não me engano eles são mensageiros de Deus. Terão eles algum mecanismo semelhante?
Comenius: Questão interessante.
Bernardo: Eu gostaria de dar a minha opinião.
Comenius: Fique a vontade.
Bernardo: Acho meu frater, elaborando sua interessante questão, que os chamados Anjos são seres de evolução paralela aos humanos, e, portanto, com características muito próprias. De certa forma, baseado nas muitas descrições em livros santos, sabemos que não são seres necessariamente voltados para a prática do bem, e isto se entendermos o bem como a ausência de violência, brutalidade e beligerância.
Basta acompanhar a descrição de um único livro: a Bíblia cristã. Lá os encontramos destruindo cidades, expulsando Adão e Eva com espadas em fogo ou lutando uns contra os outros no combate às forças de Lúcifer. E porque são então chamados “Santos Anjos”, se essas mesmas criaturas são capazes de atos tão violentos? Talvez por uma certa ingenuidade de compreensão do homem do passado.
Se olhamos com o olhar místico moderno, vemos a descrição dos Anjos como forças da natureza que, à semelhança de Tigres de Bengala, são, a um só tempo, belas, poderosas e perigosas, desde que motivadas a isto. E, se nos tigres temos o instinto que os guia, nos Anjos temos a Vontade de Deus, ou seja, Anjos não têm vontade própria e possuem, da sua maneira, uma conexão íntima com a vontade do Universo. São seres assexuados. São gloriosos em esplendor, mas também, da mesma forma, são energias que se mobilizam em função de valores diferentes dos valores humanos.
Há relatos de antigos rabinos que aprisionavam anjos com a finalidade de roubar-lhes a força e a bênção, a semelhança da luta de Jacó com o Anjo, que, segundo dizem, é uma história mais cabalística que histórica e indica a possibilidade de interação entre humanos e Anjos, claro que considerada a devida hierarquia angélica.
Como o irmão deve saber, dos textos de Dionísio o pseudo-Aeropagita , existem três coros de anjos, cada um com três níveis dentro dele:

1° nível: Serafins, Querubins e Tronos; 2° nível: Dominações, Potestades e Virtudes ; 3° nível: Principados,Arcanjos e Anjos, propriamente ditos.
Tenho a impressão que nesta classificação oculta-se também uma hierarquia de força, sendo que os mais poderosos e mais fortes seriam os Serafins, os que queimam por Deus, e os mais frágeis os Anjos propriamente ditos, que podem inclusive, ser objeto de captura por cabalistas mal intencionados.
Não é objetivo nosso aqui, tentar julgar os atos de Místicos de outras linhas, mas ao saber desta prática de capturar Anjos em busca de sua bênção, senti o quanto ainda é necessário, entre místicos, a melhoria do comportamento que advém da cultura e da civilização.

Considero a Ordem Rosacruz a escola de místicos mais refinada no Ocidente, e entre meus pares, reputo conviver com as mentes mais lúcidas do misticismo ocidental.
Seria impensável para um místico rosacruz, ao menos supor tal ato de barbárie no relacionamento com seres da Natureza, sejam animais, sejam Anjos.
Os Anjos têm seu próprio caminho.
Homens jamais serão Anjos e Anjos jamais serão homens. São linhas de evolução paralelas e é assim que deve ser.

Sua interferência no destino dos homens ainda está para ser melhor explicada. (Por exemplo, a justificativa de que Sodoma e Gomorra foram destruídas, por causa das barbaridades e orgias que lá aconteciam não se sustenta, se fosse assim, muitas cidades modernas e do passado, nestes últimos 2000 anos deveriam também ter conhecido a Ira dos Anjos, a começar pela Roma de Calígula, ou a Bagdá de Sadam Hussein).

Mesmo assim, nenhum homem, nenhum Mago, em sã consciência, pode se colocar na posição de ter, sabe-se lá de onde, autorização para capturar e aprisionar qualquer ser desta estranha espécie que conosco divide o Universo, do mesmo modo que os golfinhos ou os pássaros.

Anjos são seres que , mal comparando, parecem-se com os animais: não possuem como nós consciência,vivem pelo impulso interior, são forças instintivas, só que neles o instinto chama-se Vontade de Deus, seja lá o que isto queira significar para os Anjos.
Da mesma maneira que podemos nos afeiçoar pelos nossos animais domésticos, e comunicarmos-nos com eles essencialmente pelo sentimento, também, ao que parece, anjos relacionam-se com os humanos muito mais pelo sentimento do que pela razão.
Teremos a proteção desses seres desde que estejamos na mesma freqüência vibracional de bondade e docilidade.
Portanto, meus irmãos, os Anjos não são mais divinos do que nós, homens, ou que os animais, pois que todos nós, seres vivos, compartilhamos o título de filhos de Deus.
Somos todos irmãos na criação, e semelhantes pela filiação divina.
Aliás, este é o segundo racismo que teremos que superar no futuro: o racismo entre espécies. O homem sempre lidou mal com o diferente. Cabe aos místicos, principalmente aos místicos rosacruzes, mais sensatos, mostrar a humanidade que espera-se de todos um comportamento a altura do refinamento espiritual mais elevado no trato com a natureza, seus habitantes e suas forças.
Jamais dominaremos a Natureza pela força, como desejava o homem do passado.
Poderemos no entanto, ter todo o seu poder aos nossos pés, desde que nos harmonizemos com ela, que vivamos em harmonia com a Vontade da Consciência Cósmica, como vivem os animais da floresta, os peixes do mar, e os Anjos do Céu.
Como parte desse discurso sobre os Anjos, gostaria de lhes dizer do meu amor e carinho por esses seres fortes, nobres e dignos mensageiros.
São nossos companheiros de Universo, porém estão mais próximos do Todo Poderoso, já que não possuem ego que os iluda. Precisamos de nosso Ego para sentir e experimentar sensações. É isto que nos diferencia, nós, humanóides, dos outros seres: nosso discernimento, Viveka, na língua dos deuses, o Sânscrito.
Gostaria de poder compartilhar o que sei, como homem, com os Anjos e com os outros seres da natureza, mas só poderia fazer isso através da emoção do Amor.

Porque como a música e a matemática, o Amor é uma linguagem universal. Se qualquer um de nós quiser se comunicar com todos os seres do Universo, e encontrarmos o ponto aonde a compreensão verdadeira se estabelece, precisamos do Amor. Pelo Amor podemos entender as plantas, as nuvens, as rochas e ver em cada coisa a presença divina.
O Amor não é apenas um sentimento. O Amor é a linguagem dos seres que não possuem Ego, como é o caso dos Anjos.
Para se conversar com Anjos, portanto, é preciso amá-los, profunda e decididamente.

Alguém poderia, pragmaticamente, como é normal entre Rosacruzes, perguntar qual a finalidade de se amar os Anjos.
Afinal o mundo evoluiu e já sabemos que não devemos tentar descobrir as coisas que precisamos através de outros seres, pois no passado não tão distante, era comum a certos tipos de místicos pedir aos Anjos que lhes dessem sinais ou instruções sobre o nosso comportamento, nosso próprio mundo ou outro mundo, acima do nosso, ou devo dizer, o mundo que fica ao lado do nosso, já que as dimensões são contíguas e, certas vezes, até se interpenetram.
Anjos eram consultados sobre temas universais partindo-se do princípio de que, já que eram seres tocados pelo divino, poderiam nos falar melhor sobre Ele do que qualquer humano.
Só que hoje sabemos que a evolução é feita com nossas próprias pernas, nossas próprias intuições e percepções e transferir nossa busca de conhecimento a outrem, humano ou não, é retardar ou tornar excessivamente complexa uma busca que em si já é difícil.
Então porque esta fascinação pelo tema angelical, aliás recentemente descoberto?
Parte, eu suponho, por mera curiosidade inconseqüente.
Nada mais.
E, em parte, porque tornando-nos como os anjos, plenos da emoção do amor que conseguiremos a percepção que eles possuem, quase palpável, do que chamamos acima de A Vontade de Deus.
Por que, assim como os seres simples têm o instinto, os Anjos têm o Amor Infinito que sentem pela Divina Presença.
Um Amor tão intenso que nos levaria, a nós, humanos, a autoconsumição, caso fosse sentido de uma vez, sem uma gradual aproximação, sem a prudência de senti-lo pouco a pouco, até alcançar a sua intensidade plena.

Não por outra razão os Anjos mais perto de Deus são chamados Serafins, “os que permanentemente queimam por ele”.
Portanto, meus irmãos, como qualquer encontro entre humanos, ou entre os homens e outras espécies do Universo, o encontro com Anjos tem um caráter didático.
Podemos aprender como sentir o Criador através da convivência com os Anjos, já que, como eu disse, estão mais conectados a ele pela ausência do que chamamos entre nós humanos, Ego, embora devamos ter em mente que o mero contato com tais seres não nos torna melhores, pois isto, evoluir, é única e exclusivamente responsabilidade nossa.
Anjos não tem vontades pessoais: são e fazem apenas o que o Amor a Deus os manda ser ou fazer.
Para nós humanos, isto pode ser enriquecedor.
Comenius: Tema interessante. Sua abordagem Bernardo foi surpreendentemente original, sem a reverência ou o romantismo comuns a este assunto. Agradeço por sua objetividade. Existe alguma referência que possa ser consultada sobre este assunto?
Bernardo: O texto mais conhecido sobre os Anjos é o de Dionísio o pseudo aeropagita.


Comenius: Meus frateres, minhas sorores, mais alguma questão.
Frater Alberto: Eu tenho.
Comenius: Diga frater, e com a concordância de todos, encerraremos o nosso seminário com sua questão.
Frater Alberto: Minha questão é a seguinte: no passado,havia a intenção entre alguns místicos de conseguir poder mágico sobre a natureza. A vida, então, era muito difícil. A civilização não existia. Os direitos humanos não existiam. A democracia não existia. Era um planeta de tiranos absolutistas ou de classes sociais pétreas, chamadas nobres, absurdamente privilegiadas.
Sim existia a violência, mas era infinitamente mais grave do que agora. A magia era um recurso válido, parte por causa da insegurança parte por causa da falta de alternativas. Havia doenças de todo o tipo, incuráveis. Hoje ainda existem , mais diminuíram em número e existem mais recursos de tratamento. Ou seja, houve progresso material, social e político. A magia operativa deixou de ser o único meio para conseguir a felicidade e o equilíbrio entre a matéria e o espírito.
A cultura está difundida pela Internet e temos um acesso nunca visto a um sem número de fontes.
Ora, se não tenho a ilusão, por ser rosacruz, de que qualquer ser, anjo ou demônio, possa fazer por mim aquilo que só eu posso fazer; se sei que minhas opções e escolhas somadas a graça de Deus, como lembrou bem o frater Bernardo, são as únicas coisas que serão realmente decisivas na minha evolução; se sei que meu progresso material será diretamente proporcional ao meu esforço intelectual e profissional; minha questão é: qual a razão de sermos rosacruzes hoje? Para ser mais provocante: qual a utilidade em sermos rosacruzes hoje?
Sim, as iniciações rosacruzes são tremendamente inspiradoras; mas, de resto, textos de São João da Cruz, de Santo Agostinho, ou mesmo de Paulo apóstolo, também são.
Digo mais: necessariamente, os estudantes rosacruzes não apresentam modificações significativas em sua existência.
Então, o que a herança de nossa Ordem faz, objetivamente, que poderia impedir que muitos a abandonassem, tornando-se mais um de muitos rosacruzes inativos, como tem acontecido?
Bernardo: Frater, eu queria começar a responder a sua questão lembrando a frase de que muitos são chamados, mas pouco são escolhidos. Por causa disto, muitos abandonarão a ordem, comprovando o que é mostrado na parábola do semeador. Esta é a razão de muitos rosacruzes tornarem-se inativos, como o frater bem lembrou.
Comenius: Outra coisa: não nos tornamos rosacruzes, na minha opinião, apenas por opção. Fazemos isto principalmente por necessidade. Alguma coisa nos faz sentir forte atração pelos símbolos, ensinamentos e textos publicados pela Ordem em todo mundo. Em todo o planeta, mesmo diante de todo o progresso material que o frater descreveu, permanece em alguns o vazio espiritual e a insatisfação que desde eras priscas são os responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da humanidade.
Dizia um antigo material sobre rosacruzes que todos nós, membros da Ordem, somos Buscadores.
E o que buscamos? Poder, glória, saúde, fortuna material, abundância? Talvez tudo isto, ou nada disto.
A busca é pessoal. Cada um tem aspirações particulares ou ilusões que precisa desfazer. E talvez seja exatamente aí que o trabalho da Ordem se destaca num mundo tão avançado materialmente como o nosso, mesmo que persistam bolsões de miséria aqui e ali, em toda a parte.
O ser humano melhorou seu domínio sobre centenas de aspectos de sua vida no planeta, mas permanece sem controle de sua imaginação.
Bernardo: Se os rosacruzes ensinam como preservar a saúde, embora com técnicas complementares a medicina ortodoxa e não em substituição à esta, é para que a doença física não distraia o estudante de seu processo criativo através de sua imaginação.
E, ensinando como organizar o pensamento lógico, estimulando o estudante a se familiarizar com os grandes pensadores da humanidade, fazemos com que tenha sensatez em seu processo de raciocínio, e clareza em sua imaginção.
A maioria de nossas técnicas não prescindem da participação ativa do processo imaginativo, seja como desencadeador de energias astrais, seja como guia dessas energias fora ou dentro de nossos corpos.
Nossos ensinamentos nada devem as modernas escolas pois atualizamos as monografias de acordo com as mudanças de paradigma da ciência. Entretanto é notável que essas modificações sejam de forma e não de conteúdo.
Não antecipamos os antibióticos, mas o conceito de seres invisíveis que provocam doenças já estava em nossos textos da idade média.
Não antecipamos a ciência da acústica, mas o conceito de que sons poderiam causar efeitos específicos sobre os seres vivos ou sobre objetos sempre esteve em nossos ensinamentos, aliás, nossa mais sagrada herança do conhecimento atlantiano, que ainda não foi totalmente percebida pela ciência ortodoxa.
Antecipamos a importância do sistema nervoso autônomo na gênese da doença psicossomático, fato amplamente aceito hoje em dia pela Medicina, se bem que ainda não esgotado em todas as suas nuances.
E mais coisas ainda virão pela frente. Principalmente no capítulo do uso terapêutico da nossa energia sutil no tratamento de moléstias as mais variadas.
Se concordarmos que somos, essencialmente, uma Escola de Aperfeiçoamento da Imaginação, podemos depois destas ponderações concordar que, mesmo hoje, ainda temos uma ou outra coisinha a ensinar ao mundo lá fora.
Comenius: Não fosse meu irmão por essas coisas que Bernardo enumerou, a Ordem não teria atrativo; mas, embora concorde com você que muitos abandonam suas fileiras sem aproveitar 1/10 de seu potencial benefício, gostaria de ressaltar o fluxo ininterrupto, geração após geração, daqueles que chegam ao nosso portal.
Quem são essas pessoas que continuam a nos procurar com os olhos cheios de questões e o coração cheio de esperança de encontrar respostas? Buscadores, como nós, pessoas que não estão satisfeitas com o que têm ou com o que são e que sabem que podem ser melhores como seres humanos, como indivíduos.
Suas aspirações são legítimas, mas são apenas o princípio de qualquer caminhada. Descobrirão ao chegar até nós, que as respostas não serão dadas mas, isto sim, construídas e conquistadas, a partir do Aperfeiçoamento da Imaginação Criativa e da utilização de técnicas ainda hoje avançadas e eficazes na melhoria de nosso desempenho pessoal e social.
Bernardo: O fato é que para usufruir destas técnicas todos devem dominá-las e para isto é preciso praticá-las.  O rosacrucianismo é uma experiência e uma vivência, não um conceito.
Os experimentos mostrados em nossas monografias não são decorativos. Devem ser utilizados exaustivamente ou não terão nenhum valor.
Estimulo o frater a fazer suas práticas.
Aí é que encontrará a razão pela qual devemos, todos nós aqui, vivenciar o rosacrucianismo entusiasticamente e, se possível, mostrá-lo ao maior número possível de pessoas.
Comenius: Assim seja. Meus irmãos, vamos encerrar este seminário e, com ele ,esta seqüência de seminários voltados a discutir a prática rosacruciana.
Agradecemos a todos pela participação, em meu nome e em nome de frater Bernardo, mas principalmente em nome de nossa Amada Ordem, acredito que tão fundamental nas nossas vidas quanto na vida de todos vocês.
Que todos fiquem em paz profunda. Assim seja.
Todos respondem: Assim seja.
E se retiram.
FIM