por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:, M.:M.:
Vimos no ensaio anterior (“O Navio, o Oceano e o Farol”) que podemos didaticamente dividir os símbolos em simples ou compostos, como também em estáticos e dinâmicos. Simples seriam os que fossem formados de uma única figura geométrica ou biológica e compostos os que combinassem vários elementos dos dois tipos descritos; e os estáticos aqueles que possuíssem características bastante rígidas, como principalmente os símbolos maçônicos (esquadros, compassos, malhos e cinzel, pedra bruta ou polida) em oposição a outros que incorporassem caráter mais dinâmico, como aquele que é mais conhecido como o símbolo do Ying e do Yang.
Mas o Diagrama do Taijutso Tu não é o único símbolo que podemos usar como exemplo de um símbolo dinâmico. A maioria das Mandalas indianas também o são e um antigo símbolo védico que tornou-se tristemente notório, exemplifica bem este dinamismo, a Suástica.
Longe de ser um símbolo eminentemente nazista como possa parecer, ela sofre de uma reputação proveniente de seu uso histórico mais recente. Da mesma maneira que a cruz foi apropriada como símbolo particular de certas linhas religiosas, a suástica, símbolo primitivamente indiano, tornou-se aparentemente propriedade do regime nazista. Só que não o é. Ela pertence a história do povo ariano que colonizou o norte da Índia milhares de anos antes da segunda Guerra mundial, como demonstra achados arqueológicos insuspeitos como o da foto abaixo.
Colar indo-ariano, escavado em Kaluraz, Guilan (cerca de 1000 dC, Museu Nacional do Irã).
Não há dúvida, no entanto , que ninguém como os indianos souberam produzir símbolos, não só compostos como altamente dinâmicos. A profusão de mandalas produzidas pela arte religiosa hindu enche os olhos e enriquece nossa sensibilidade.
Tudo parte de um princípio simples: continente e conteúdo, periferia e centro, externo e interno. A partir daí a criatividade do artista determina até onde vai seu símbolo sempre atento ao fato de que um mandala deve induzir concentração perfeita até que o praticante atinja o estado de meditação e o mantenha.
Existe um jeito certo de contemplar o mandala.
É preciso que olhemos para seu centro e nos deixemos absorver por sua beleza de tal maneira e com tal persistência que a parte lateral do mandala desapareça de nossos olhos.
Embora complexos e variados , todo mandala tem a estrutura demonstrada abaixo:
A fase em que nos concentramos no ponto central é chamada de Dharana, Concentração, mas não é a primeira parte do processo. Existe em Yoga uma compilação, a mais antiga conhecida, que foi feita por Patânjali (Patanjali (em sânscrito: पतञ्जलि , Patāñjali) viveu entre 200 a.C. a 400 d.C.) dos conhecimentos da técnica.
Patânjali, metade cobra, metade homem
Foi baseada nos Vedas e Upanishad em aproximadamente 150 DC. Estes textos são chamados de Yoga Sutras.
Lá Patânjali descreve o Ashtanga Sadhana ou Caminho de 8 partes para atingir a Iluminação pelo Yoga.
A primeira e a segunda partes são normas de conduta chamadas Restrições e Prescrições, Yamas e Nyamas, coisas que não se deve fazer e coisas que se deve fazer.
A terceira e a quarta tratam especificamente da pratica física que compõe o sistema de exercícios para estímulo de glândulas e plexos nervosos, os Ásanas, posturas físicas, e os Pranayamas, técnicas respiratórias para controle do Prana, a energia Vital que entra no corpo pela Respiração; as últimas 4 partes referem-se a parte mais sutil do método e envolve a disciplina mental, ensinando como entrar em estado propício a Iluminação.
Juntos compõem o Yoganidra, e são a Abstração, Pratyahara, a Concentração, o Dharana, a Meditação, Dhyana e finalmente, o Samadhi , a Iluminação em Si.
Os mandalas são particularmente importantes nesta fase.
Para se concentrar a mente com perfeição é preciso abstrair-se de todo o resto que nos circunda, ou para falar do Mandala, é preciso tirar os olhos do Círculo, da periferia, e concentrar-se no centro, o ponto.
Se Pratyahara e Dharana precisam ser praticados, Dhyana e Samadhy são estados em que se está ou não se está, dependendo da excelência de nossas fases anteriores.
Contemplar um símbolo como o Mandala é mergulhar no Fluxo da Consciência e deixar-se arrastar por ele, perdendo por instantes, os instantes da meditação, a noção do Eu e de Si Mesmo.
Personalidade, Sexo, Posição Social, tudo desaparece dentro de um torvelinho de consciência aonde nos tornamos apenas pura energia.
É uma experiência muito poderosa que se repetida por várias vêzes deixa reflexos em nosso intelecto e no nosso comportamento, mudando nossa perspectiva da realidade.
Terminada a prática, é comum em posição de lótus executar-se mais uma fase, para a qual as Oito Partes anteriores nos levam normalmente: a prática do Mantra.
O mais poderoso Mantra da tradição Hindu é o Om ou Aum, segundo Blavatsky formas diferentes de emitir o mesmo som.
A palavra mantra identifica um som repetido a exaustão, procurando desencadear na parte psíquica do indivíduo que o entoa o mesmo estado que o mandala a seu modo provocou. O mandala é uma das ferramentas auxiliares para se atingir, pelo método do Yoga, o estado de Samadhy. A outra ferramenta é o mantra.
O som Om em sânscrito é famoso, hoje, em todo mundo e é em sí um símbolo também muito dinâmico embora não tenha uma proposta arquitetônica de movimento. Porém seu desenho é de linhas curvas, com suavização nos seus contornos, mostrando um estado pré-dinâmico , mais flexível do que um símbolo de linhas extremamente retas como os símbolos maçônicos.
Emitido repetidas vêzes, induz a um estado de mono-tonia, que anestesia nossas percepções e aquieta nossa mente.
Mantras e Mandalas só tem uma finalidade: aquietar o turbilhão da mente. Yoga é uma técnica para conseguir isso, e em sânscrito diz-se que Yoga Chitta Nirodah, ou seja, a Fusão só é conseguida com a Cessação do Turbilhão Mental.
Desta forma levamos nossa discussão sobre símbolos a um nível mais alto, uma interação com o símbolo não só de natureza intelectual, mas mental, que deve ser transferida dos símbolos orientais, verdadeiras máquinas psicológicas para os símbolos ocidentais, reproduzindo aqui o caráter contemplativo inerente a prática oriental.
Se nos aprofundarmos nos símbolos ocidentais que contemplamos conseguiremos extrair sentidos antes insuspeitos e que só podem ser percebidos quando vamos além do próprio símbolo.
Como por exemplo o Pêndulo conhecido como Perpendicular ou Fio de Prumo, aquêle que simboliza a profundidade do estudo e da investigação do maçon. Embora a Maçonaria o valorize pelo seu caráter estático, pendendo do alto até embaixo na busca pela estabilidade representada na sua imobilidade, podemos especular que este estado de repouso que eventualmente é atingido pelo Fio de Prumo foi antecedido por uma oscilação a direita e à esquerda a qual é natural para todo objeto pendurado por uma pequena corda. E na análise deste símbolo, podemos enriquecê-lo trabalhando este aspecto tão desprezado em sua análise, o balanço que antecede a estabilidade.
Existe muito mais vida e movimento no Fio de Prumo quando ele não atingiu ainda a estabilidade, na qual se apresenta como se morto estivesse, imóvel, refém da força gravitacional. A busca acabou, o deslocamento terminou, a incerteza cessou na medida que cessou o movimento.
Só que a cessação da incerteza e da indefinição é a cessação da própria vida do Fio de Prumo ou Perpendicular e isto , que eu lembre, nunca é considerado na análise deste magnífico e dinâmico símbolo maçônico.
É como se matássemos o processo e trabalhássemos apenas com o produto final, como se tudo aquilo que acontecesse antes daquele evento perdesse importância.
Prumos, como também os Níveis em construção, são objetos com movimento, e na verdade, carregados daqui para lá em uma determinada obra jamais estão totalmente em repouso a não ser naqueles poucos instantes em que são chamados a dar seu julgamento sobre a perpendicularidade ou horizontalidade de determinada superfície. Uma vez que isto esteja verificado, cessa sua obrigação como aparelho e lá vai ele balançando na mão do mestre que o carrega.
Que podemos especular desta imagem? Que os instrumentos de um mestre têm movimento juntamente com o movimento de seu portador. Que a rigor, nem no momento em que estão atestando a estabilidade de uma superfície estão imóveis, posto que a Terra, abaixo de nossos pés, gira, e portanto, está também em movimento.
A gravidade nos engana. Não existe estabilidade estática mas sim uma estabilidade dinâmica, como o objeto que só levanta vôo e mantém sua altitude enquanto aquele que o gira preso em uma corda dá voltas em torno de si mesmo, forçando-o a manter-se no alto.
E já que toda estabilidade dinâmica é passageira, em suma, é uma estabilidade instável, nada justifica que roubemos aos símbolos mais dinâmicos entre os símbolos maçônicos, seu movimento interno natural, sua oscilação, sua busca, seu deslocamento.
Esta talvez seja uma maneira de revolucionar, outra palavra de movimento, o interior do pensamento maçônico, em muitas oportunidades avêsso a alterações de perspectivas tradicionais.Na verdade a questão é semelhante ao Mandala. O que o Mandala ensina é que devemos desprezar o periférico para podermos ver perfeitamente o centro.Da mesma maneira, para se enriquecer a simbologia de um símbolo maçônico é preciso ir ao seu interior e ali descobriremos novas possibilidades, livres das distrações do aspecto periférico de símbolos e da ilusão de sua aparente estabilidade pétrea.
Muito bom esse texto! Os símbolos são instrumentos que permitem a autopercepção, no entanto, muitas vezes conceitualmente mal interpretados. Essa dinâmica em símbolos aparetemente estático é que propicia o lado prático deles.
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