Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 30 de maio de 2014

O MEDO E A INEVITÁVEL FRAGILIDADE HUMANA COMO MOTIVOS DA BUSCA DO PODER

 por Mario Sales, FRC,SI,CRC

John Dee


 "Vim aqui a procura de algo a mais sobre o misticismo. Mas percebi que não conhece muito (d)o que fala e tem um ego maior do que o seu próprio intelecto.
Não conhece verdadeiramente a origem dos termos "ocultismo", "magia", teurgia". E muito mais ainda desconhece a origem da perpetuação do corpo astral no manto sideral através de práticas mágicas.( Rsrsrs) Seu "misticismo" ainda é magia, fraca, porém magia. Só os tolos não perceberiam."

Comentário em O OCULTISMO E A TEURGIA ESTÃO FORA DE MODA 1 , como sempre Anônimo, postado no blog no dia 29 de maio de 2014 às 00:48hs



Eram duas e meia da manhã quando minha irmã chegou com minha mãe, de 83 anos, com a perna direita imobilizada por uma fratura de patela recém operada.
Pedi que a trouxessem porque acredito que aqui tenho mais condições de cuidar dela com mais atenção e presteza, além de poder oferecer companhia, carinho e atenção de todos nós, eu, minha esposa e filhas.
Pais idosos, lúcidos, mesmo frágeis, devem ser respeitados no seu direito de querer ou não querer sair de suas casas e ir morar mais perto de seus filhos. É talvez sua última manifestação de autonomia em uma fase da vida em que tudo conspira para nos tirar a liberdade e independência.
Visão enfraquecida, dores lombares, fraqueza muscular, doenças limitantes que nos obrigam a estar perto de serviços médicos ou de parentes, causam desconforto e uma sensação desagradável de tornar-se um estorvo para terceiros.
Se o ambiente familiar é estável e harmonioso tudo é mais fácil.
Quando no entanto, como frequentemente acontece, a terceira idade transforma-se na época da retribuição, quando pais pouco amorosos durante toda a vida ficam indefesos aos cuidados de filhos revoltados e sem carinho, pessoas de muita idade sentem-se acuadas e com medo, tensas e inseguras todo o tempo.
Pessoas fragilizadas, sejam idosas ou não, sempre sentem medo. E o medo, somatizado, transforma-se em descompensações hipertensivas, diabéticas, circulatórias ou até psiquiátricas.
Sempre lembro a minha equipe, no serviço de idosos em que eu trabalho, que um ambiente acolhedor e gentil é 70% da consulta e cria uma condição de relacionamento mais produtiva entre o serviço e o cliente do serviço, seja em procedimentos de enfermagem, administrativos ou na própria consulta médica.
É preciso tratar as pessoas com carinho, semear carinho, para colher equilíbrio e serenidade.
Como qualquer filho comum me preocupa a solidão e a distância de meus pais, mesmo esta sendo voluntária, e não forçada. Minha impossibilidade de poder socorrê-los com rapidez, (como nesta crise mais recente da queda com fratura da rótula de minha velha mãe, o que resultou em uma, graças a Deus, breve internação e um bem sucedido procedimento cirúrgico, crise esta que minha irmã conduziu diligente e eficientemente), é o que me torna mais apreensivo. Confio em Deus no entanto e nas palavras do evangelho em Mateus 6, 26-34 da qual extraio apenas este trecho: "Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles."
Achamos arrogantemente que controlamos alguma coisa com nosso intelecto e nosso conhecimento, mas na maioria das vêzes somos folhas secas carregadas ao acaso pelos ventos de um outono frio. A velhice nos lembra isso, de nossa fragilidade permanente diante da Criação, às vezes tão bela e tranquila e às vêzes tão violenta e furiosa.
Uma inundação, um furacão, um tornado, apenas um grande terremoto e vemos a fragilidade da sociedade diante da vontade até hoje imprevisível das alterações climáticas e geológicas, como que a nos lembrar que , se estamos aqui hoje, amanhã, repentinamente, podemos não estar mais, e que toda a nossa cultura não poderá evitar, se assim for a vontade do Altíssimo, que desapareçamos, rápida e definitivamente, junto com toda a nossa espécie e nossas mesquinharias e ódios e lamentações em um cataclisma cósmico, entre tantos que temos contemplado, espantados, em nossos telescópios.
O que os velhos nos lembram a todo instante, com sua debilidade, é que todos nós somos também poeira das estrelas e que habitamos um corpo temporário que se desfará, do mesmo modo que se formou, seguindo as leis de construção e destruição de tudo que é ou está matéria.
A entropia do Universo segue a lei do Rosacruz Lavoisier, que garante que "na natureza, nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma", transformação que faz, por definição, que aquilo que era antes deixa de existir para dar lugar a outra forma, a outra coisa.
A impermanência é permanente.
E algo tão efêmero e tão precioso como a vida deveria ser melhor aproveitado na construção de uma sociedade mais espiritualista, mais voltada para a autodescoberta, e não para o acúmulo de vaidades ou discórdias.
E a maior das Vaidades é a ilusão de ter algum Poder sobre nós, ou sobre o ambiente que nos cerca. Seja através do dinheiro, da política ou até através da hierarquia das religiões, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Só quando entendemos que todo o poder que precisamos é aquele que emana de nossos corações, começamos a entender o significado da existência. Só quando entendemos que ter poder verdadeiro é não ter poder nenhum; que poder na verdade é permitir que sobre nós desça a mão do Todo Poderoso e nos transforme em seus agentes na Terra, como queria Saint Martin; só quando a nossa vontade é a vontade de Deus em nós, e não desejamos nada de Deus, a não ser mais Deus, como dizia meu querido José Hermógenes, em um de seus últimos textos, "O Essencial da Existência", podemos sentir, intensamente, o poder da presença de Deus em nós.
Nosso ego não existe mais, nossa vontade não tem mais importância, nosso coração transforma-se num receptor da vontade divina e nossos pés vão aonde não sabemos, e nossas mãos fazem coisas que não entendemos, e nossa língua fala sobre coisas que não conhecemos, sempre com sabedoria e perspicácia, mas não nossa sabedoria ou nossa perspicácia, mas sim a sabedoria e perspicácia de Deus através de nós." ...Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim..." lembra Paulo em Gálatas, 2:20.
A partir desse instante, qualquer ilusão de que possamos voluntariamente interferir na realidade a nossa volta, seja através de nossa ciência ou de algum tipo de técnica mágica, sem que antes o Altíssimo tenha permitido, desaparece de nós. Não temos mais, uma vez tocados pela Luz da Consciência Divina, qualquer impressão de que estejamos separados dele e de seus desígnios.
Lembra Mateus, ainda no capítulo 6 de seu evangelho, versículos 31 a 33, as palavras do Mestre Jesus: "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;
Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas."
Buscai primeiro o Reino de Deus, diz o Mestre, ou seja, a comunhão com a vontade de Deus, despojando-nos de toda ilusão de separação D' Êle e de Sua vontade.
Não temos possibilidade de garantir nem se nossa espécie durará mais uma década, quanto mais supor que temos poder para alterar de modo súbito ou mágico as vicissitudes de nossa existência mundana.
Todos, como os velhos lembram, somos ou estamos fragilizados por nossa condição humana, e "o mais poderoso dos magos" ainda deverá atender as ordens da natureza e terá que urinar e defecar quando a natureza ordenar.
"O mais poderoso dos magos" conhecerá dores na coluna, gripes, problemas financeiros, como aconteceu com Martinez de Pasqualy, que morre no Haiti em meio a resolução de assuntos mundanos de uma herança; ou Papus, que morre de Tuberculose em uma trincheira de batalha na primeira guerra mundial, ele, conhecido pelo seu poder místico; a ciência ou a magia não nos protege da calúnia e da prisão, como sucedeu ao nobre Conde de Verulâmio, Imperator dos Rosacruzes no século XVI, Francis Bacon, ou com o grande Giusepe Bálsamo, Conde de Cagliostro; nem a ciência ou a magia nos protege da vergonha e da traição, como ocorre com John Dee, matemático, astrônomo, astrólogo e geólogo, mentor esotérico de Francis Bacon e no entanto, vítima de um embusteiro de quinta categoria, Edward Kelley, que o convence a uma jornada infrutífera e dispendiosa pela Europa, marcada pelo fracasso e pela vergonha de ver sua própria esposa seduzida por este mesmo indivíduo, pasmem, por crer que isto tinha sido ordenado por um anjo.
Tanto a ciência como a chamada Magia, renegada por Saint Martin como inútil e desnecessária "para ver Deus", não são necessariamente fonte de sabedoria se antes "não buscarmos primeiramente o reino de Deus e a sua justiça".
Quem se dedicar às artes mágicas ou a ciência ortodoxa deve precaver-se de que nada é superior a comunhão com o Altíssimo e que corre o risco de, tomado pela sua própria vaidade, supor-se capaz de controlar tudo a sua volta e de ser sim superior a tudo e a todos inclusive superior a Vontade de Deus ou da Natureza.
Se a doença e a desdita não trouxerem juízo a estes desmiolados, ao menos a velhice os obrigará a curvar, junto com suas colunas, suas cabeças, em sinal de respeito Àquele que é o Verdadeiro e Único Senhor de Todas as Coisas, do qual somos apenas pálidos reflexos.
É por isso que, quando olhei no meu celular e li este comentário infantil no alto da página à um antigo ensaio meu de três anos atrás em que eu alertava, como o Mestre no Evangelho de Mateus ou  Saint Martin nos seus textos, que o poder vem de dentro e do Alto, e não de gestos e chapéus ridículos ou palavras em latim, ao mesmo tempo que minha mãe entrava, caminhando com a dificuldade de alguém com fratura de rótula  aos 83 anos, fiquei repentinamente cheio de enfado e sono. O medo causado pela inevitável fragilidade humana são os motivos da busca do poder. Não queremos ser pobres, não queremos ser feios, não queremos sofrer por doenças ou limitações físicas, enfim, não queremos envelhecer. Só que a Magia nunca protegeu os Magos, (os grandes Magos da História, não os "aprendizes de feiticeiro" que supõem ser Magos porque leram algum livro empoeirado ou fizeram um curso idiota por correspondência) da pobreza, da doença, da vergonha ou da velhice. A Magia, por último, nunca protegeu nenhum Grande Mago conhecido, da Morte. 
As pessoas lêem livros fantasiosos demais, vêem filmes demais, esquecendo-se de que vivem não num filme ou num livro, mas no mundo real.
E enquanto lia este comentário idiota, ao mesmo tempo que, junto com minha irmã, colocava minha velha mãe na cama, no meio da madrugada de um dia comum, na manhã do qual eu teria que trabalhar normalmente, e providenciava cobertores para prevenir a noite fria pela frente, pensava com meus botões: "Meu Deus, quanta mediocridade, quanta ignorância ."

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A CURIOSA QUESTÃO DO SAGRADO E DA ONIPRESENÇA

por Mario Sales, FRC,SI,CRC


Talvez por estarmos quase sempre em estado não reflexivo, repetimos sem pensar conceitos que, ou são vazios de sentido, ou tão profundos e amplos que, se compreendidos, anulariam várias elementos da equação da existência.
Um conceito que lembra este último perfil são os chamados "Atributos da Divindade", que, se fossem levados realmente a sério, desautorizariam toda a lenda do Gênesis, impossibilitariam a existência de outros conceitos como o da "Rebelião dos Anjos Caídos", ou a própria noção de um Deus Bíblico real, e não apenas literário.
Eu explico: se eu aceitar que Deus é Todo Poderoso (o nome já diz), não posso entender ou aceitar diálogos Bíblicos como aquele entre Deus e Caim, após este último matar seu único irmão. Pois é dito que Deus faz a Caim a seguinte indagação: "Caim, aonde está Abel teu irmão?" Gênesis 4:9.
Onisciência, saber todas as coisas, implica em não precisar perguntar nada, a ninguém, quanto mais a um assassino.
Significa poder antecipar tudo o que ocorre e poder impedir aquilo que não condiz com Sua Divina Vontade. Se não o fez, não o fez por que não quis, pois sabia e acompanhava os acontecimentos através de Sua Mente Todo Poderosa.
E que dizer da tentação da Serpente? Como poderia Eva ser tentada, sem que Aquele que Tudo Sabe não acompanhasse os fatos em Sua Onisciência, e , se o desejasse, o impedisse? Se o Ser Supremo é, como se diz Onisciente e Onipotente, sabe tudo e pode tudo, e aquilo que ocorre não ocorre sem sua permissão e nunca, nunca contra a Sua Toda Poderosa Vontade.



Ou Deus é Onisciente e portanto não poderia ser traído por um grupo de Seus próprios anjos, ou não é Onisciente e tem sim, zonas mortas em Sua dita perfeita visão.

Onipotência


Ou Ele é Onipotente e o Caos e as contradições do Universo e da Existência são produto de Sua Santa Vontade, ou Seu Poder não é completo e certos fenômenos tem uma insuspeita autonomia e independência , já que nesta perspectiva existiriam áreas sem lei na Criação onde forças cegas e sem propósito ditariam, caprichosamente, o ritmo dos acontecimentos.

O Olho que Tudo Vê

Essas questões dilaceram a mente dos pensadores místicos, mas não mais a dos filósofos, que de há muito mergulharam suas atenções em uma realidade onde o conceito de uma Divindade, seja ela qual for, foi substituído pelo conceito de natureza, ou Natura Naturante, como gostava de dizer Baruch de Espinoza.
Só retornei a estas insustentáveis contradições, manifestas no desenho de Deus da mente dos religiosos, para falar da terceira grande contradição das três descritas: a Onipresença.

Onipresença

É comum falarmos na característica de Onipresença de Deus na Criação. Onipresença é como se sabe, estar em toda e qualquer parte, na Luz ou na Sombra desta vastidão que chamamos nossa realidade.
Ora, se assim é, a mera suposição que a presença de Deus Todo Poderoso está entre nós ou mesmo ao nosso lado, torna, por definição, o nosso lado ou mesmo a nós mesmos, presenças sacralizadas pela Divina Presença.
Nada mais será comum ou mundano esteja em nossos pulmões ou nos nossos intestinos. Nenhuma praça, nenhuma rua ou viela, nenhuma poça, seja de água da chuva ou de lama, será mais ou menos santa, já que a magnífica presença do Todo Poderoso sacralizará estes locais, estas coisas, este mundo.
Não seria possível, se considerarmos como correta ou se ao menos aceitarmos o conceito de Onipresença, que exista algum local ou espaço não sagrado.
Desaparece assim o chamado mundano, o profano, o terreno. Tudo, em toda parte, torna-se imediatamente sagrado pela Divina e ostensiva presença.
Os animais, suas lutas e necessidades; os insetos, mesmo os mortais; as serpentes e os pássaros; os vírus e as bactérias; os homens bons e os assassinos; os chamados de boa vontade como também os de má vontade, todos estarão automaticamente abençoados pela presença de Deus, dentro e fora deles, bem como entre eles.
Isso é Onipresença.
Ou Deus está em toda parte, ou não está. E se está, não existem "locais santos", mas tudo, em toda parte é santo e nossos pés sempre estarão em solo sagrado.
Se acreditarmos nisso, retiremos nossas sandálias, também santas. Deixemos que nossos santos pés toquem o santo solo abaixo de nós.
E sintamos-nos embevecidos com isso.
A Bem aventurança, portanto, depende de nossa compreensão do mundo, e não do mundo em si.
Ele, o mundo chamado profano, será tão sagrado quanto permitirmos em nossa mente, em nosso modo de olhar este mundo.
E o Deus Onipresente lá estará se olharmos a Criação com olhos de ver.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

NUVENS

por Mario Sales, FRC,SI,CRC

"Bohr reconheceu a importância do princípio da incerteza, mas foi além de Heisemberg ao destacar que este não é um problema que vem da interferência física envolvida na medição, mas uma questão mais fundamental - o próprio ato de fazer uma medição muda a situação(ou sistema) que está sendo examinada. Isso lança dúvidas em toda a premissa do método científico. Pode não haver um observador objetivo se o ato da medição ou observação em si afetar o resultado."

"História da Física", Anne Rooney, Ed M.Books, 2013, pág.134

O avião já estava chegando à Guarulhos, mas não se via sinal algum da cidade abaixo de nós, somente as nuvens, um oceano delas se espalhando por baixo de nós em todas as direções. Nuvens cinzas e carregadas como uma provável chuva para mais tarde.
Pelos instrumentos, em vôo de visibilidade zero, o piloto manobrava para aterrissar e mergulhava na camada cinza abaixo, no seu movimento gradual em direção a pista.
Por alguns instantes tudo a nossa volta ficou envolto em fumaça e de repente, saímos da fumaça para entrar em um espaço entre dois oceanos de nuvens, um acima de nós de onde vínhamos e outro abaixo de nós, nuvens agora muito brancas, mas também espalhadas em todas as direções. Nesse sanduiche de nuvens a sensação era de tranquilidade e calma. Acima e abaixo, apenas as nuvens a nos proteger e envolver.
A descida continuou e entramos nas segunda camada e, aí sim, depois de alguns segundos, começamos a ter vislumbres de casas e automóveis, de cores, de ruas e estradas abaixo de nós ainda com detalhes fracos que iam se tornando mais nítidos a medida que nos aproximávamos mais e mais do solo.
Não só as pessoas nunca são normais quando olhadas de perto, como lembrava o poeta, mas as coisas em geral também mudam de aparência e aumentam em complexidade na medida que nos aproximamos mais e mais. Divisamos seus detalhes de modo mais claro, suas nuances, suas características, idiossincrasias.
Para vê-las de perto no entanto, é preciso que ultrapassemos as nuvens que impedem nossa visão, e nossos instrumentos nos ajudam nesse particular e nos guiam quando nossos olhos nada vêem.
Ainda no aeroporto do Rio eu comprei o livro do qual retirei o trecho em epígrafe, o qual em certa altura discute a física do muito pequeno, de George Thompson, De Boglie, Einstein, Bohr e Max Plank, que hoje convive com a física Newtoniana do grande e do muito grande, de modo contíguo, mas ainda não contínuo.
Durante o vôo fiquei lendo sobre as vicissitudes que a comunidade científica atravessou ao longo destes últimos duzentos anos construindo o modelo atômico que deu origem aos reatores e as bombas nucleares, o modelo tipo planetário, com elétrons instáveis pulando de níveis de tempos em tempos, impossíveis de serem vistos, mas passíveis apenas de serem calculados em um grande oceano de possibilidades.
Na física do muito pequeno também viajamos por instrumentos, como meu avião ao pousar, só que o radar dos físicos hoje e cada vez mais é a matemática, a mesma matemática que previu buracos negros, a deformação da luz ao passar perto de grandes massas gravitacionais, e que fala não de três ou quatro dimensões, mas de onze, apenas para que suas contas façam sentido.
Faz algum tempo que o método experimental, principalmente em Cosmologia e Mecânica Quântica, foi aos poucos substituído por cálculos no lugar das observações, gerando inclusive um certo desconforto em físicos sempre acostumados a verificarem suas teorias através de experimentos no chamado mundo real.
É como se em física também não tivéssemos ultrapassado o limite das nuvens e nada pudéssemos fazer a não ser olhar para nossos números, já que nossos olhos não vêem nada ou quase nada diante de nós.
Não que os cálculos falem de algo irreal, não, de forma alguma. Não fosse o fato de a matemática ser uma linguagem de interpretação do real confiável, não poderíamos entrar em um shopping center sem mexer nas portas de vidro que, automaticamente, abrem-se ao perceber a nossa proximidade. É graças a compreensão do muito pequeno que hoje somos capazes de usar o efeito fotoelétrico, a verdadeira razão do Nobel de Einstein, e não a Teoria da Relatividade Restrita ou Geral. Não. Antes de tudo isso, Einstein ganha o Nobel ao explicar porque a luz, ou um fóton de luz, consegue mobilizar um elétron de sua posição em uma órbita atômica qualquer, criando uma corrente que se espalha e desencadeia um fenômeno elétrico. É a isto que se convencionou chamar de Efeito Fotoelétrico.(veja o vídeo ao final do texto)
Luz movendo matéria.
Esta é a natureza dos estudos do muito pequeno, do que chamamos Física ou Mecânica Quântica, onde as coisas são bem diferentes, para dizer o mínimo, do que no mundo perceptível. Aliás, o mesmo Bohr dizia que só não se espanta com a Física Quântica quem não a compreendeu.
Assim como meu avião ultrapassou as nuvens sobre o aeroporto de Guarulhos, assim também a ciência ultrapassou as nuvens de elétrons em volta do átomo para descobrir que o átomo não é atômico, ou não divisível, em grego, mas sim composto de sub partículas, a começar pelos prótons e neutrons, que por sua vez são compostos pelos quarks e leptons, menores ainda (veja o quadro).
Hoje, 2014, já se fala em realmente transformar energia, no caso luz, em matéria, como previam os cálculos de Einstein[1].



No endereço http://gizmodo.uol.com.br/luz-materia/ lemos que "...em um artigo recém -publicado na Revista Nature Photonics, o professor Steve Rose – junto a seus colegas do Departamento de Física no Imperial College de Londres – concebeu um processo de dois passos para transformar a luz em matéria.
No primeiro passo, o experimento utiliza um laser para acelerar elétrons a pouco menos que a velocidade da luz, antes de dispará-los em uma placa de ouro para criar um feixe de fótons. Em seguida, os cientistas iriam disparar um laser de alta potência dentro de um recipiente de ouro, para criar um campo de radiação térmica semelhante à luz produzida por estrelas. Usando o fluxo de fótons criado no primeiro passo, e combinando-o ao campo de radiação térmica do segundo passo, os fótons (luz) iriam colidir uns com os outros e gerar elétrons e pósitrons (matéria)."
Fascinante, como diria Spock.
Nada é impossível, mas sim impossível hoje com nossas limitações técnicas e de conhecimento.
E assim como ultrapassamos as nuvens atomicas e descobrimos que o átomo não é a menor parte da matéria e sim o início de um mundo de subpartículas, assim também, abaixo das nuvens da ignorância repousa toda uma miríade de coisas a descortinar desde que cheguemos mais e mais perto, e consigamos detalhes mais nítidos das coisas que, finalmente, poderemos observar.
Falta-nos, isto sim, tecnologia e instrumentos, e não coisas a descobrir, assim como um simples microscópio mostrou todo um universo de seres vivos pequenos o bastante para serem invisíveis mas suficientemente poderosos para nos jogar na cama com febre e tosse e dores musculares.
O muito pequeno sempre se relacionou com o muito grande. O que acontece é que agora sabemos como alguns destes relacionamentos ocorrem, sejam através de infecções bacterianas ou virais, seja abrindo automaticamente, com a nossa proximidade, uma porta de vidro de uma loja de conveniência.
Mais coisas nos aguardam abaixo destas nuvens que a matemática vasculha antes de nossos olhos. Coisas que, segundo Bohr nos diz, poderão ser modificadas apenas por serem observadas. Que realidade instável é esta que nos cerca, que Maya tão estranho é este que somos incapazes de contemplar sem modificar? 
Aguardo ansiosamente por novas revelações.





[1] A fórmula é atribuída a Albert Einstein, que a publicou em 1905 no artigo "Ist die Trägheit eines Körpers von seinem Energieinhalt abhängig? (A inércia de um corpo depende da sua quantidade de energia?)", um dos seus artigos do Annus Mirabilis.

domingo, 18 de maio de 2014

DON'T ARGUE WITH IDIOTS!

DE VOLTA A CONFRARIA DA LOJA DE SÃO CAETANO DO SUL

por Mario Sales, FRC,SI,CRC



Hoje retorno de dois dias de trabalho apresentando a oficina de revisão do sexto grau rosacruz que faço há 14 anos nos corpos afiliados da região e na Morada do Silêncio. Agora sou recebido pelo frater Claudio, mestre da Loja e pela simpático grupo local. Um dia e meio discutindo fisiologia, sistema nervoso espinhal e simpático, anatomia, neuroanatomia, anatomia das glândulas e fisiologia do pulmão e circulação, nous de polaridade negativa e positiva, respirações, chakras e transmissão da energia universal através dos dedos da mão.
O sexto grau tem grande apelo entre os rosacruzes já que é totalmente dedicado ao estudo de técnicas práticas e, na maior parte do tempo, objetivas e regidas por protocolos bem estabelecidos. Supomos, nós que as estudamos, que sejam a expressão moderna das famosa técnica de cura dos essênios, a Ordem dos Terapeutas, que a Ordem Rosacruz absorveu em sua viagem através de eras e civilizações.


Mas com certeza, não é só isso. Parte integrante da técnica terapêutica rosacruz fundamenta-se no uso de sons vocálicos, com efeitos bem definidos, que se agregam a terapia de contato ensinada neste grau, tanto nesta versão mais nova, como na versão antiga.
Por falar nisso, este era um projeto, que, salvo engano, foi o último esforço de organização de Mestre Reginaldo neste plano, como parte de um trabalho de normatização e diagramação brilhante e sintético ao qual ele se dedicou nos últimos anos, do qual emergiram duas partes, a lista de enfermidades terapêuticas com mais de uma centena de moléstias contempladas, acompanhadas da técnica de respiração, positiva ou negativa e a monografia onde se encontram, e o quadro do protocolo da aplicação da terapia do sexto grau de acordo com as características dos sintomas da moléstia em questão.




É, como tudo que fez em vida, de um brilhantismo e de uma genialidade que faz supor a quem contemple que seja algo bem fácil, mas, para quem estuda como eu este grau, posso assegurar que foi um esforço de organização de um sem número de informações extremamente complexas.
Este era o espírito spenceriano, na tentativa de traduzir a tradição para uma linguagem contemporânea e acessível.
Espero que tenha feito um trabalho digno neste fim de semana, que estimule a quem ouviu pesquisar e aprofundar esses numerosos conhecimentos tão necessários ao cotidiano.
Só o tempo, no entanto, responderá a esta dúvida já que não cabe ao semeador cuidar da semente que ele lança, mas lançá-la, em exercícios de livre semeadura, os seminários, os quais só o Altíssimo pode prever suas reais consequências.
Em suas mãos, como sempre, entrego meu esforço e meu barco.

Que chegue a um bom destino.

sábado, 10 de maio de 2014

RECIFE E KURUKSETRA

por Mario Sales, FRC,SI,CRC

Frater Paulo, eu e Sóror Teresa, atrás à direita.



Os rosacruzes são impressionantes, pela sua heterogeneidade, pela sua sensibilidade e pelas histórias pessoais. Saímos no sábado passado, à noite, para jantar, eu, o Mestre da Loja Rosacruz Recife, Frater Paulo Dutra, e sua família, a esposa sóror Teresa e seu filho.
Entre um e outro assunto, revelo que não sou cristão, mas que minhas tendências espirituais são ligadas ao hinduísmo. Mestre Paulo me confidencia então que ele é devoto de Satya Sai Baba e que já havia estado duas vezes em seu ashram,o Prasanthi Nilayam (Morada da Paz Suprema), em Puttaparthi, no estado de Andhra Pradesh. Em uma delas, contou-me, trabalhou na cozinha do asrham, acordando às quatro horas da manhã, o trabalho mais difícil e talvez o mais recompensador karmicamente, se bem executado.


Satya Sai Baba

E daí pra frente, enquanto a pizza se consumia a nossa frente, a conversa se desloca para os interesses vedanticos, o Gita, Arjuna, enquanto uma chuva fraca e breve caía sobre o Recife.
Eu, hinduísta, jamais estive perto do Ganges.
Meu Ganges, como já disse uma vez, é o Paraíba do Sul, em torno do qual construí minha história pessoal de várias maneiras e com várias pessoas. E como diz o título do blog que Frater De La Maria de Recife gosta, "minha montanha é aonde estão meus pés".

Ganges, Khumba Mela de 2010, Haridwar, Utharakand, Índia


Ele, Frater Paulo, no entanto, relatava que já esteve lá no Ganges e banhou-se em suas águas, se bem que cuidadosamente, cumprindo uma obrigação kármica de todo praticante do hinduísmo.
Frater Paulo lembra Arjuna. Faltam-lhe talvez os músculos que aparecem nos quadros que retratam o príncipe reticente da batalha de Kuruksetra; mas o bigode está lá.
E se existe alguma coisa que identifica Arjuna mais do que seu arco, é seu bigode, ao que parece parte do estilo de época.
Frater Paulo, com seu nietzschiniano bigode, me fala de suas peripécias em suas duas viagens ao território indiano, esse país complexo e heterogêneo, em que todas as tendências da humanidade estão representadas, tantos aquelas de características típicas ocidentais quanto aquelas ligadas ao mundo oriental.
E é desta conversa que obtenho a inspiração para o próximo ensaio a trabalhar: Kuruksetra, a batalha para alguns histórica e metafórica da qual muitos sentidos e ilações podem ser extraídos.
Humano, demasiadamente humano, que em Recife, terra do frevo, comendo uma pizza paulista com borda recheada de queijo cheddar, passássemos uma noite entre goles de guaraná e considerações sobre Krishna e Arjuna, seu diálogo, seu simbolismo.
Kuruksetra tem um oceano de sinais para quem sabe reconhecê-los.
Frater Paulo, como eu, bebeu na fonte de Yogananda, em seus livros, seus rodapés de página, seus comentários. E entre esses livros, para compreender o básico do trabalho deste transmissor da cultura hinduísta para o Ocidente muito mais didático e muito menos hermético que Blavatsky, o livro de ouro é Autobiografia de um Yogue Contemporâneo, do qual tenho um exemplar traduzido da 11a edição norte americana de 1971 pela Dra Adelaide Petters Lessa Pantas para a Summus Editorial, em 1976. Paramahansa encarna muito bem a minha idéia de conexão entre os dois pólos do planeta. Ele é indiano, mas forma-se em literatura. Como religioso, torna-se devoto da Virgem Maria Cristã, e reconhece nela a manifestação feminina da Divindade Sem Nome, presente em tantas tradições.

Paramahansa Yogananda


Cita em seu livro passagens da Bíblia bem como dos Vedas, realizando o sonho de um misticismo verdadeiramente planetário. Seus textos são pessoais e humanos e seu linguajar simples e direto.
Sua biografia narrada de forma elegante e concisa nos faz participar do cotidiano da Índia, desde seus aspectos mais corriqueiros e mundanos até os mais sagrados e esotéricos. E ele passa de um a outro campo sem ruptura de continuidade, sem que sintamos que deixamos o terreno do profano e passamos ao do sagrado, aliás, sua narrativa desfaz a separação entre uma coisa e outra.
E isto sempre me fascinou.
Toda Tradição precisa de Tradução.
Paramahansa com seu texto, traduz a tradição, e a revela.
E os rodapés de página? Pequenas preciosidades, só lembradas por alguém que se dedicou ao trabalho docente com jovens na Índia durante toda a sua vida.
Ele cita a literatura hindu, o Ramayana, o Mahabharata. Ele cita a Bíblia Cristã, Mateus, João; cita também São João da Cruz.
Existem, no entanto, apenas alguns comentários de rodapé em Autobiografia de um Yogue Contemporâneo acerca do Bhagavad Gita. Ele é citado no primeiro capítulo como o preferido para a meditação do pai do grande yogue, homem austero e reservado, segundo sua descrição, e espartano em sua vida pessoal.
Yogananda reservou um texto independente para fazer seu comentário pessoal sobre o Gita , em "A Yoga do Bhagavad Gita", copyright de 2009, do qual eu tenho uma edição em português, também de 2009, da Self Realization Fellowship (SRF), sua fundação, que existe desde 1920 e que reúne seus seguidores.
Aqui ele além de fazer a sua própria tradução do texto para o inglês, aproveitou para tecer suas considerações acerca deste épico e de suas possíveis significações.
No prefácio da SRF, lemos um trecho de Paramahansa sobre o tema:
"A mensagem de Sri Krishna no Bhagavad Gita é a resposta perfeita para a idade moderna e para qualquer idade: a yoga da ação determinada pelo dever, do desapego e da meditação para se alcançar a realização divina. Trabalhar sem a paz interior de Deus é o inferno; e trabalhar com a alegria de Deus sempre borbulhando na alma é levar consigo, aonde quer que se vá, um paraíso portátil interior."

Krishna, o Azul, já que veio do céu

E mais adiante, neste mesmo livro, Paramahansa, na página 27, avança na leitura do simbolismo do confronto entre Bharatas e Pandavas, ao dizer que " o corpo e a mente humanos são verdadeiros campos de batalha na guerra entre a sabedoria e a força enganosa consciente que se manifesta como avidya (ignorância). Todo aspirante espiritual que tem como objetivo estabelecer em si mesmo o governo do Rei Alma precisa derrotar os rebeldes: o Rei Ego e seus poderosos aliados."
É isso.
Estes são, no entanto, apenas algumas possibilidades interpretativas, mas, de longe, não são as únicas. 
Por exemplo, a relação entre Arjuna e suas obrigações e os vínculos afetivos entre ele e os seus adversários sempre foram os temas que mais me atraíram. Porque quando falamos de vínculos afetivos geralmente pensamos em relacionamentos com parentes, esposas, maridos, filhos, etc. Em todos estes anos, no entanto, jamais vi alguma interpretação que considerasse este mesmo apego em relação à coisas mais etéreas como convicções pessoais, valores que carregamos por nossas vidas e nos quais acostumamos a nos apoiar para dar conta de nosso cotidiano. E na mente estas coisas etéreas são tão sólidas quanto sentimentos, e devem ser considerados pois a fala de Paramahansa é que o corpo e a mente humanos são verdadeiros campos de batalha na guerra entre a sabedoria e a força enganosa consciente que se manifesta como avidya (ignorância), o que sugere algo como a fala de Paulo em Gálatas 5:17 que diz :" Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis", só que, no meu entender, não é esta a melhor interpretação, esta não é a única acepção possível do trecho de Paramahansa. Ele diz " o corpo e a mente... são campos de batalha " e não que existe uma batalha entre corpo e mente. Dito de outra forma, corpo combate corpo, ajudado pela mente, na busca por disciplina, saúde, diligência, determinação e mente combate mente,("... Rei Alma precisa derrotar os rebeldes: o Rei Ego e seus poderosos aliados...") ajudada pelo corpo, no esforço em busca de sabedoria, resistência aos preconceitos, destruição da ignorância, dos vícios e obsessões. A maioria dos espiritualistas do Ocidente fazem uma leitura infantil e simplista do nosso Kuruksetra cotidiano, achando que o corpo é sempre nosso inimigo e que a Alma sempre é nossa aliada. É preciso ressalvar que sem o corpo não haveria possibilidade de estar aqui e vivenciar dilemas que são úteis e necessários ao nosso aperfeiçoamento.
O corpo não é nosso adversário, mas sim um instrumento de trabalho, como também é o escafandro para o mergulhador que estuda a biologia marinha abissal.
O corpo não pode ser culpado pelos atos de quem o habita e nem muito menos este que o habita deve se eximir de suas responsabilidades morais e espirituais culpando o corpo pelas suas falhas.
Ninguém em sã consciência culparia a roupa de um assassino pelo fato deste ser um assassino ("sou inocente, matei porque meu paletó me obrigou a isso"), ou um macacão de um mecânico pela graxa que se acumula nele enquanto efetua seu trabalho. A graxa de um macacão de um mecânico são as marcas de seu ofício, sinais dignos de sua labuta e de sua competência, e não indícios de falta de higiene. Nosso corpo não possui pecado em si, qualquer biólogo sabe disso. Se o Mal está em nós, está portanto em nós, e não em nosso corpo.
Como alguém já disse, não somos um corpo tendo uma experiência espiritual, mas espíritos em uma experiência carnal.

A carruagem de Arjuna, com quatro cavalos, a Quadriga. Krishna é o cocheiro.


E é na mente que devemos concentrar nossa atenção, não no corpo; no cocheiro da quadriga, da carruagem, e não na carruagem em si.
É neste cocheiro, que em Kuruksetra representa a própria Presença Divina, que reside o segredo de nossa vitória ou derrota neste mundo de conflitos e estímulos permanente.
E quando fraquejarmos e deixarmos, paralisados pelo medo, nosso arco cair de nossas mãos, não será a carruagem que nos aconselhará mas o cocheiro da carruagem. Ele dirá: "- Levante-se e lute.", como Krishna disse a Arjuna. Ao ver nossa hesitação, Deus nos indagará, no silêncio antes da luta "- Meu querido ..., como foi que estas impurezas desenvolveram-se em ti? Elas não condizem com um homem que conhece o valor da vida. Elas não conduzem aos planetas superiores, mas à infâmia. Ó filho de Pritha, não cedas a esta impotência degradante. Isto não te fica bem. Abandona esta mesquinha fraqueza de coração e levanta-te, ó castigador dos inimigos."

Krishna instrui e inicia Arjuna no Yoga


Não será nosso inocente corpo que nos levantará, porque também não foi ele quem nos lançou ao solo, mas nossa mente, a mesma que nos constrói ou nos destrói.
Bem lembram os Budistas que a mente é a fonte de toda ilusão e de todo equívoco. Mente equilibrada, visão de mundo equilibrada, vida equilibrada; ao contrário, mente desequilibrada, visão de mundo desequilibrada, vida desequilibrada.
Nosso Kuruksetra principal, é portanto o Kuruksetra Mental.
É lá que vamos resolver medos, inseguranças, receios, preconceitos, e aonde daremos o golpe de misericórdia em nosso pior inimigo, a ignorância. Só a falta de conhecimento pode, verdadeiramente, ser chamada de O Mal. E aqueles que pregam a favor da chamada "simplicidade" a qual, na verdade, é a identidade secreta da "Mediocridade Espiritual", pregam a favor do Mal.
Todo homem e mulher cultos são complexos.
Tudo que é aparentemente simples e facilita enormemente nossa vida é, em verdade, altamente complexo.
A mente não é o Mal, mas por ser extremamente complexa, precisa ser objeto de estudo demorado e profundamente conhecida e dominada para ser usada em toda a sua plenitude, senão, por uso inadequado, nos levará a equívocos constantes, ao erro e ao sofrimento.
Dê um tablet, estes computadores com telas sensíveis ao toque, a uma criança de menos de dois anos e observe.
Sua inexperiência fará com que golpeie com força desnecessária a tela, sem conseguir extrair desta os resultados que ela pode dar.
Falta-lhe conhecimento; falta-lhe a iniciação.
O uso da mente é igual. É preciso que tenhamos a iniciação necessária no campo mental para entendermos que culpar o corpo pelos erros da mente é ridículo como culpar o paletó pelas bobagens que fala quem o veste.
É a mente que comanda nossa interação com o mundo e precisamos aperfeiçoá-la como limpamos a lente de nossos óculos para enxergar melhor. Lentes limpas, visão clara; lentes sujas, visão turva, deformada.
O interessante é que da mesma maneira que não somos o corpo, também não somos a mente, mas usamos um e outro para nos relacionarmos com a criação a nossa volta. Nós não somos nossas roupas, nós não somos nossos óculos; mas sem eles não poderíamos viver aqui.
Quando falamos de um Kuruksetra Mental não queremos dizer com isso um combate à nossa própria mente, "aos nossos próprios óculos", mas sim um esforço "para mantê-los sempre limpos e transparentes", pois se o Mal está na Mente, não é a Mente em si o próprio Mal, mas sim seu uso inadequado. A Mente sempre foi considerada por Budistas um problema a ser superado, mas me pergunto se ela não é, mais que isso, um instrumento a ser dominado.
Como uma espada de samurai, muito afiada, que pode cortar um fio de cabelo com seu gume, e que se bem manipulada torna-se poder para seu usuário, mas se mal manipulada pode decepar a mão de quem a segura.
Para os rosacruzes, a Mente é um instrumento poderoso e pode e deve ser conhecida, para poder ser adequadamente utilizada.
Este é nosso desafio, este é nosso mais importante Kuruksetra, que sempre será um grande desafio, diante do qual algumas vezes fraquejaremos.
Nessa hora, ouçamos o Deus Interior, o cocheiro da Quadriga, que nos lembrará de nossa linhagem, de nossa dignidade, dizendo-nos "- Voce é um Rosacruz, nunca se esqueça disso. Levante-se e lute."

segunda-feira, 5 de maio de 2014

PRESENÇA NA REUNIÃO MENSAL DOS ARTESÃOS DA LOJA RECIFE , 3 E 4 DE MAIO, 2014


Sábado no Recife, dia 3 de maio de 2014, frater Paulo Dutra anunciando o Curso para o dia seguinte

O Cartaz do Evento


Mestre da Loja Recife, Frater Paulo Dutra, Mestre da Classe de Artesãos Frater Virgílio e Eu no ágape pós atividade

Os artesãos do Recife

As coincidências e sincronicidades da vida
Cerimonia da Festa da Columba 
Columbas da Loja Recife
Da Esquerda para a Direita:Sandy, Beatriz, Augusta e Yasmin

quinta-feira, 1 de maio de 2014

AOS AMIGOS DO BLOG





Entre 2010 e 2014, publiquei no blog 191 ensaios místicos e 77 ensaios psicologico-comportamentais, num total de 268 textos, todos em português. Agora , gostaria de retomar um antigo projeto de traduzir para a língua inglesa e francesa estes textos. E para isso preciso de auxílio, se alguém se dispuser a colaborar. Desta forma, peço a todos os rosacruzes e maçons que dominem uma destas duas línguas que entrem em contato comigo no endereço de email mariosergiosales@gmail.com.br para que possamos juntos realizar estas empreitada. Ao ritmo de um texto traduzido por semana, eu precisaria de 268 semanas ou 5 anos para realizar todas as traduções. Uma tarefa árdua e que poderia ser abreviada com a ajuda de muitos fratres e sorores ou irmãos martinistas e maçons que queiram colaborar.