Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 26 de junho de 2011

AGRADECIMENTO


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



Gostaria de agradecer a confraria rosacruz da Loja Jacareí, São Paulo, pela acolhida ontem a noite e pela simpatia com que receberam a mim e a minha família.
Agradeço ao Mestre da Loja e a todos os frateres e sórores pela oportunidade de servi-los nos laços da nossa Amada Ordem.
Abaixo uma imagem da Loja quando de uma visita de Frater Helio de Morais.
Paz Profunda a todos


Frater Helio, nosso Grande Mestre, em visita a Loja Jacareí, com a Confraria Local

sexta-feira, 24 de junho de 2011

CONVITE 2



Aos meus frateres e sórores


Estarei neste sábado do feriadão, dia 25 de junho, às 19:00 hs, na Loja AMORC Jacareí, apresentando a palestra “O Sagrado”, aliás tema da nossa Convenção Internacional em Agosto próximo, em Curitiba, sempre atual para iniciados e não iniciados. A entrada é franca e gostaria de convidar a todos que morem nas redondezas e leiam o blog para comparecerem. Serão bem vindos. Poderemos confraternizar no melhor espírito de convivência rosacruciana.



Lembro a todos que dia 7 de julho, se inicia o curso de Terapia Rosacruz ( o 6º Grau), na Morada do Silêncio, na Estrada da Graciosa, Chaminé da Serra, em Curitiba. Acredito que ainda existam vagas. Informações na página do calendário de eventos da Morada do Silêncio, http://www.amorc.org.br/prog_morada.htm
com a sóror Vivian Tedardi, no Museu Egípcio em Curitiba, ou com frater Nelson, no Financeiro, ambos pelo telefone 0 XX 41 33513000.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

RELENDO A DOUTRINA SECRETA


por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:;M.:M.:

“O conheci­mento do Espírito absoluto, assim como a refulgência do sol ou o calor no fogo não é outra cousa senão a própria Essência absoluta", diz Shankaracharya.[1] É "o Espirito do Fogo", não o próprio Fogo; portanto, "os atributos deste último, Calor ou Chama não são atri­butos do Espírito, mas sim daquilo de que este Espírito é causa in­consciente". Não é a sentença anterior a verdadeira tônica da filoso­fia dos últimos Rosacruzes?"

Helena Petrovna Blavatsky, in “ A Doutrina Secreta”, volume 1, Cosmogênese, pág 75, Ed.Pensamento, 1973



Estou iniciando com um grande amigo, antigo companheiro de Heptada Martinista Guarulhos, um estudo sistemático da Doutrina Secreta.
Começamos, acacianamente, pelo princípio, o primeiro volume intitulado “Cosmogênese” onde Blavatsky principia seu ambicioso projeto de descrever a história do Conhecimento Esotérico em sua totalidade.
Como todos sabem, a metodologia segue a ordem de falar sobre a formação do Universo, a Cosmogênese; depois, o Simbolismo Arcaico Universal, o volume II; no volume III, a história da humanidade,as chamadas raças e sub raças, estudo que ela denominou Antropogênese; no volume IV, O Simbolismo Arcaico do Mundo das Religiões e da Ciência, na tentativa de mostrar a origem comum da cultura humana; no volume V, um comparativo entre Ciência, Religião e Filosofia, na mesma linha do anterior, em busca de conexões entre as diversas linhas de manifestação da cultura; e finalmente no volume VI, a Filosofia Oculta em si, que ela denominou “Objeto dos Mistérios e Prática da Filosofia Oculta”.
Este ambicioso projeto literário foi coroado anos mais tarde pela publicação do Glossário Teosófico, obra fundamental de apoio à leitura dos seis tomos anteriores.
No Brasil, o Glossário, publicado originalmente em 1892, obra póstuma, que veio a luz um ano após sua transição, foi traduzido pela Editora Ground, em 1988, em primeira edição, e em segunda edição em 1992.
O Glossário possui 18000 verbetes e é uma obra de fôlego, fundamental ao estudo do Misticismo, seja o hindu ou o Ocidental.
O que chama atenção na Doutrina Secreta, no entanto, é a mudança de linha de pensamento brusca que ocorre de um parágrafo para outro, como se o texto não fosse de um único autor mais a combinação da colaboração de outras mentes.
Como exemplo, no princípio do volume da Cosmogênese, no alto da página 74 da edição citada.

Kuthumi, Morya e Saint Germain, de pé, atrás. Blavatsky sentada.


Após fazer uma bela e erudita introdução acerca da natureza do Cosmos e da compreensão do que as religiões ocidentais costumam nomear pelo termo Deus, mostrando a peculiar perspectiva que a cultura vedântica e budista tem sobre o tema, repentinamente muda o assunto e discorre por dois parágrafos sobre símbolos esotéricos, relacionados a explicação da Manifestação do Imanifesto e Incognoscível no mundo.
Na verdade, a própria Blavatsky dizia que realmente ela não era a autora do texto da Doutrina Secreta, mas sua redatora.
Seu companheiro de trabalho, o Coronel Olcott, descrevia assim seu trabalho literário:

Olcott

Vê-la trabalhando era uma experiência rara e inesquecível. Sentávamo-nos geralmente em lados opostos de uma grande mesa, e eu podia ver cada movimento seu. A sua pena voava sobre a página; quando ela parava de repente, olhava para o espaço com o olho vazio do profeta clarividente, diminuía sua visão como que para olhar algo suspenso invisivelmente no ar à sua frente, e começava a copiar em seu papel o que via. A citação terminava, e seus olhos retomavam a expressão natural e ela continuava a escrever até parar novamente por uma interrupção similar… Uma destas caligrafias de H.P.B. era muito pequena, mas clara; uma, grossa e livre; outra, clara de tamanho médio, e muito legível; e uma apressada e difícil de ler, com seus aa, xx e ee singulares e exóticos. Havia também a maior diferença possível no inglês desses vários estilos. Às vezes eu tinha de fazer correções em cada linha, enquanto que em outras eu podia passar muitas páginas com quase nenhum erro de língua ou de grafia para corrigir. Os mais perfeitos de todos eram os manuscritos que ela escrevia enquanto estava dormindo… E havia também uma nítida mudança de personalidade, ou antes, de peculiaridades pessoais, no modo de andar, expressão vocal, vivacidade de hábitos… com agudeza mental diferente, opiniões desiguais sobre coisas, domínio diferente da ortografia, de expressões e da gramática inglesa, e um domínio muito, muito diferente sobre o seu temperamento, que nos momentos mais joviais era quase angelical, e nos piores, o oposto".
O texto riquíssimo desta que é a obra mais densa do misticismo moderno, talvez o verdadeiro tratado de Misticismo como área de conhecimento, segundo seu depoimento, seria o produto da mente de três grandes mestres da Fraternidade Branca: Saint Germain, El Morya e Ku-Thu-Mi, líder e hierofante dos rosacruzes e da Ordem Rosacruz. Hierofante é a designação dos sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios da Grécia e do Egito. De modo geral, é assim que são tratados os Mestres da Grande Fraternidade Branca, que está acima de todas as Ordens Esotéricas e que é, em última instância, o objetivo de todo iniciado ao tornar-se membro desta ou daquela escola de mistério.
Todos nós, maçons místicos, rosacruzes, teósofos, em nossas egrégoras, nos preparamos para pertencer a esta nobre Ordem, e tudo que queremos, tudo que sonhamos, é tornarmo-nos, não mestres, mas discípulos destes Mestres Ascensionados, como também são cognominados.
Blavatsky foi, digamos assim, a secretária destes três mestres, os quais lhe ditavam, telepaticamente, todos os dados que ela transformou em páginas e páginas ao longo de anos, e que se esforçou para corrigir sempre e revisar, na busca de maior fidelidade as imagens que recebera, até seu último dia de vida nesta existência.
Dessa forma é preciso ler a obra de Blavatsky com o discernimento de que estamos diante de um volume imenso de informações, que lembram uma divertida imagem que ouvi em um dos programas do Café Brasil, o podcast de Luciano Pires que comentei no texto anterior.
Dizia lá em um dos podcasts, acho que aquele cujo tema era a “Globalização”, que ao pesquisar alguma coisa na Internet, recebia um tal número de informações que se sentia como se estivesse “bebendo água em um hidrante”.

manuscrito de Blavatsky e Morya

Ler um livro de Blavatsky é “beber água no hidrante” do Misticismo, tal o volume de dados que os três mestres lhe passaram durante a execução da obra.
Isto explica a riqueza e também a dificuldade de ler esta obra imensa, se bem que se o leitor possuir uma boa formação na cultura filosófica religiosa hindu sairá com muitos corpos de vantagem neste desafio.
Chama atenção a deferência que a mesma tem pelos rosacruzes, não no seu aspecto formal, mas como movimento transnacional, composto de muitas mentes ao longo dos séculos. Ela nos chama, a nós rosacruzes, de filósofos do fogo, aqueles que foram capazes de perceber a distinção entre a essência da criação e sua manifestação externa.
Além disso, por Ordem de Morya, como mostra o manuscrito acima, ela recebe a incumbência de formar uma escola que tenha por modelo a Rosacruz, para dar andamento aos estudos do misticismo.
Isto mostra a importância e a pertinência que o trabalho rosacruz tem no mundo místico, invadido vez por outra por oportunistas de toda espécie, mas que também é território de intelectuais e pesquisadores da maior importância como é o caso de HPB.
Uma última consideração. Quem leu deve achar estranho o comentário da citação de HPB acerca dos "filoso­fia dos últimos Rosacruzes". 
Estávamos, na época, em período de recolhimento.
Syr Hyeronimus cuidava de preservar nossa herança na Europa e a transição para o século vinte, com o trabalho de Harvey Spencer Lewis, ainda não começara. O estranho é que tendo o contato que tinha com os mestres, Blavatsky desconhecia que os rosacruzes ainda estavam ativos, discretos, porém aptos a 
reerguer a estrutura externa da Ordem assim que o momento propício chegasse. Como chegou.
Pra terminar este comentário quem quiser ter o texto deste primeiro volume, digitalizado, em seu computador para agilizar a pesquissa, baixe no endereço



[1] Shânkara (c. 788 820) foi um metafísico e monge errante indiano. Foi o principal formulador doutrinal do Advaita Vedânta, ou Vedânta não-dualista. Segundo a tradição, foi uma das almas mais excelsas que já encarnaram neste planeta, chegando a ser considerado uma encarnação de Shiva Sua vida encontra-se envolta em mistérios, prodígios e lendas que a tornam semelhante à de outros insignes mestres espirituais da humanidade, como Jesus e Maomé. Outras grafias do seu nome são: Sankaracharya, Sancaracarya, Shankaracharya, Sankara, Adi Sankara, Adi Shankaracharya ou Adi Shankara, também chamado de Bhagavatpada Acharya (que significa "o Mestre aos pés do Senhor").
Escreveu profundos comentários sobre os Upanishades, o Bhagavad-Gita e outros livros da sabedoria hindu.

domingo, 19 de junho de 2011

COISAS ESCONDIDAS EM UM IPAD



Por Mario Sales, frc.: ;S.:i.:; M.:M.:


Uma das coisas mais corriqueiras de se ouvir de alguém que compre um produto Apple é: “Como uso isso?” Os produtos imaginados e comercializados pela empresa de Steve Jobs são tão diferenciados que realmente significam um outro mundo, um outro universo para quem está habituado ao uso dos aparelhos com software Windows. Eu nunca usei um computador ou aparelho tipo iPod, da Apple, embora minha filha mais nova já tenha tido dois.
Foi por isso que uma minirevolução ocorreu comigo ao manipular nos últimos 30 dias um iPad (1, é bem verdade) que comprei de um amigo.

Principalmente ao descobrir o IMO, um aplicativo Apple que permite condensar em um único serviço todos os meus comunicadores instantâneos, desde os Messengers da Microsoft, até o Skype, agora também deles, como o Yahoo Messenger que há anos eu não mexia, e, pasmem, meu antigo ICQ, esse morto e enterrado, um Lázaro ressuscitado pelo IMO. Tudo na mesma coluna, no mesmo espaço da tela.

Muito legal.
O mais legal ainda estava por vir.
A conseqüência imediata de usar um produto Apple é ficar atrelado a Loja e ao intermediário dos produtos para aparelhos Apple, o iTunes.

E, entre as inúmeras coisas que através do iTunes estão disponíveis para os usuários Apple estão centenas de podcasts [1], acerca dos mais variados assuntos e divididos por temas desde Arte até Religião. POD é uma abreviação de Personal On Demand,( ver nota de rodapé) ou seja, um produto disponibilizado de acordo com o interesse de seus usuários, talvez a revolução mais importante que a internet provocou com a sua chegada há 15 anos.
A rede pulverizou os gostos os interesses e as ofertas de produtos artísticos e destruiu monopólios culturais. Tudo na internet é oferecido On Demand, de acordo com o interesse de quem procura e no momento que o indivíduo quer.
Lembro-me que não fazem muitos anos, o país parava às 8 horas da noite para assistir o jornal nacional da rede globo, considerado referencia de jornalismo por décadas.
Com a pulverização das notícias através da rede, tudo isso desapareceu e hoje a queda de audiência do Jornalzão das 8 da Noite é notória. Quando o telejornal começa, a maioria das informações já foram repassadas pela rede em tempo real.
É como em uma cidade pequena, bem pequena, em que todos sabem das notícias na praça, pelo boca a boca, antes de serem publicadas pelo único jornal local.
A internet transformou o mundo em uma grande praça em que todos, ou pelo menos quase todos, conversam todo o tempo, sobre tudo, sem parar. Uns vão deitar e outros acordam e a conversa continua com interlocutores diferentes.
Os podcasts são assim: programas acerca de assuntos os mais variados e que interessam não a todos, mas a certos segmentos de ouvintes que se tornarão assíduos em acompanhá-los, desde que a abordagem seja afinizada com seu gosto e perfil.
E no iTunes, por causa do iPad, eu comecei a fazer downloads de alguns desses podcasts, de acordo com meu interesse.
Achei algumas preciosidades para quem é Rosacruz, por exemplo, na rubrica de Espiritualidade, podcasts da Grande Loja Espanhola da AMORC, sobre o Sanctum Celestial; podcasts com gravações de música clássica e oficinas acerca da composição, em português, sobre Beethoven e a 9a sinfonia, pela OSESP, a Orquestra Sinfonica do Estado de Saõ Paulo, ou em alemão, sobre uma cantata de Bach, gravada na Alemanha.
A melhor descoberta entre os podcasts foi no entanto a que fiz hoje de manhã.
Ontem a noite cheguei tarde em casa e cansado por uma viagem de 6 horas, de ida e volta até o Conservatório onde minha filha mais velha estuda piano.
Dei uma olhada nos títulos e deixei o download ser feito enquanto eu dormia.
Hoje pela manhã, fui dar uma olhada em um programa chamado Café Brasil, disponibilizado via algumas rádios e já no episódio de número 50, mas que eu nunca tinha ouvido.
O tema que escolhi foi “Esta tal de Espiritualidade”.
Não esperava a qualidade que encontrei.
Capitaneado por Luciano Dias Pires Filho (nascido em Bauru, 1956) é um escritor e cartunista brasileiro, o programa esta disponível também no endereço http://www.lucianopires.com.br/cafebrasil/podcast/ o programa é um primor de bom gosto e brasilianismo, produzido com o auxílio do Itaú Cultural.
Luciano Pires

Não quero falar mais pra não estragar a surpresa.
Espero que tenham a mesma impressão que eu tive.
E se deliciem com mais esta dádiva a qual só tive acesso fuçando neste esotérico iPad.


[1] Podcast é o nome dado ao arquivo de áudio digital, geralmente em formato MP3 ou AAC (este último pode conter imagens estáticas e links), publicado através de podcasting na internet e atualizado via RSS. Também pode se referir a série de episódios de algum programa quanto à forma em que este é distribuído. A palavra é uma junção de iPod ou de "Personal On Demand" (numa tradução literal, algo pessoal e sob demanda) e broadcast (transmissão de rádio ou televisão). O podcast em vídeo chama-se "videocast", geralmente em arquivo formato MP4.

domingo, 12 de junho de 2011

O PIQUENIQUE MÍSTICO

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

Em um artigo para o jornal O Estado de São Paulo (que, abençoadamente, pude ler com calma hoje, nesse maravilhoso domingo, doméstico, ao sabor de um delicioso chocolate dietético como diabético disciplinado que sou), o Dr. Carlos Granés, colombiano, doutor em Antropologia Social pela Universidade Complutense de Madri, tece comentários sobre Jorge Luis Borges e seu mundo ficcional.


Carlos Granés



Lá pelas tantas, diz:
"Mas o mais significativo de Borges, seu legado mais importante, foi ter mostrado que a ficção se confunde com a vida real. Seus contos ilustram metaforicamente como a ficção desliza para a vida humana para transformá-lá. Depois de Borges nós sabemos que a vida humana não é feita apenas de acontecimentos e realidades, mas também de fantasias, desejos, aspirações e ficções que se tecem sobre as pessoas e as coisas. Não podemos escapar da ficção do mesmo modo que não podemos escapar da realidade. Temos um pé em cada mundo. Nossas vidas" conclui ele "se desenvolvem em espaços concretos, reais, rodeados de pessoas de carne e osso, mas a forma como nos relacionamos com tudo isso é mediada por nossas crenças, desejos e expectativas."


Jorge Luis Borges

A mente como intermediária entre o homem e a realidade.
A noção kantiana que até agora não teve a repercussão que poderia ter tido se compreendida em toda a sua extensão, agora, nas palavras do antropólogo colombiano, ganha as dimensões de um artigo de jornal.
Não creio que agora seja totalmente compreendida, mas , de qualquer forma, é gratificante ver que uma das mais antigas verdades do misticismo, a de que construímos todos os dias universos absolutamente pessoais com nossas mentes, ganhe agora as linhas de um periódico.
Existe toda uma ciência positivista baseada em consenso de opiniões sobre determinados assuntos. Mas o que é um consenso a não ser um conjunto de pessoas que pensam de maneira semelhante? 



E se todos estiverem errados? Reza a Escola de Frankfurt(1) que para evitar o subjetivismo, estas pessoas devem ser sumidades em suas áreas e referências científicas que dêem a este consenso credibilidade e sustentabilidade. Repito, entretanto: e se todos estiverem errados? Tudo o que temos são boas opiniões acerca de certos fenômenos e a ciência concede que, mudados os paradigmas, mudem-se os postulados. Estamos todos em um mundo provisório com a estabilidade possível de se ter. Mas até positivistas sabem disso.
Ser um cientista ou um filósofo é ter esta consciência do fluxo das coisas, de sua eterna mutabilidade, é não acreditar na solidez, principalmente levando em consideração que não podemos ver o mundo a não ser através da mente, o que necessariamente deforma a imagem como o prisma desvia a luz que o atravessa.
É um problema de física, de ótica, não só de filosofia , ciência ou epistemologia. 






Nossas concepções modificam o mundo a nossa volta. Precisamos nos concentrar nas lentes de nossos óculos e não nas imagens que vemos através delas.
Como dizia um monge budista lá do Rio, com um nome muito estranho, Don, de um mosteiro que fica em Santa Teresa, vemos o mundo por nossas lentes coloridas: se a lente é vermelha, o mundo é todo vermelho sangue; mas se a lente é azul, o mundo todo é azulado, como o Mágico de Oz e a Cidade das Esmeraldas.




Lembra muito o ensinamento das escolas esotéricas só que elas são mais radicais. Falam mesmo de criação de mundos sólidos e não só de idéias de mundo. Transformação da realidade e não apenas de idéias sobre o real.
Mais assustador ainda, não?



Por isso são conhecimentos esotéricos.
Tão complexos e revolucionários em seus paradigmas de compreensão do que chamamos vida real que necessitam ainda ultrapassar a fase de serem considerados dignos de credibilidade para depois serem estudados e praticados, o que os místicos rosacruzes fazem todos os dias de suas vidas.
Misticismo não é religião, nem fantasia. Apenas ciência e psicologia avançada.
Diz uma piada rosacruz que quando os cientistas chegarem no alto da montanha os místicos já estarão por lá fazendo um piquenique.
Vamos ver. Só o tempo dirá. Mas é bem provável.

(1) Escola de Frankfurt (em alemãoFrankfurter Schule) refere-se a uma escola de teoria social interdisciplinaneo-marxista, particularmente associada com o Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. A escola inicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de ideias de Marx, usualmente em defesa dos ortodoxos partidos comunistas. Entretanto, muitos desses teóricos experimentaram que a tradicional teoria marxista não poderia explicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século vinte. Críticos tanto do capitalismo e do socialismo da União Soviética, as suas escritas apontaram para a possibilidade de um caminho alternativo para o desenvolvimento social. 
Apesar de algumas vezes apenas espontaneamente afilhados, os teóricos da Escola de Frankfurt falaram com um paradigma comum em mente, compartilhando, portanto, os mesmos pressupostos e sendo preocupados com questões similares.
 A fim de preencher as percebidas omissões do marxismo tradicional, eles solicitaram extrair de outras escolas de pensamento, por isso usaram ensaios de sociologia antipositivistapsicanálisefilosofia existencialista e outras disciplinas. As principais figuras da escola foram solicitadas a aprender e sintetizar os trabalhos de variados pensadores, como KantHegelMarxFreudWeber e Lukács

Seguindo Marx, eles estavam preocupados com as condições que permitiam mudanças sociais e o estabelecimento de instituições racionais.
 A sua ênfase no componente "crítico" da teoria foi derivada significativamente da sua tentativa de superar os limites do positivismo, materialismo determinismo retornando à filosofia crítica de Kant e aos seus sucessores no idealismo alemão, principalmente a filosofia de Hegel, com sua ênfase na dialética e contradição como propriedades inerentes da realidade. 

Desde a década de 1960, a teoria crítica da Escola de Frankfurt tem sido crescentemente guiada pelo trabalho de Jürgen Habermas na razão comunicativa, intersubjetividade linguística e o que Habermas chama de "discurso filosófico da modernidade".(WiKipedia)

TUDO ESTÁ INTERLIGADO



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Martha Argerich






Leio, num artigo de João Marcos Coelho para o jornal O Estado de São Paulo, sobre os 70 anos da pianista argentina Marta Argerich ( sugiro que toquem o vídeo enquanto lêem este ensaio), uma linda frase do psicanalista Jacques Lacan, citado pelo biógrafo de Marta, Olivier Belamy. Diz Lacan que tocar piano é “dar o que não se tem segurança de ter para pessoas que não estão seguras de querer.”
A “tigresa do teclado”, como Marta é referida, ainda sente um friozinho na barriga imediatamente antes de entrar em cena.
Este é um fenômeno absolutamente interessante e humano.
Interessante porque diz respeito a vida de um sem número de jovens e adultos , que supõem que a sua insegurança diante de desafios é só sua, e que imaginam fantasiosamente que existem pessoas que não sentem medo de fracassar quando solicitadas a dar mostras de seu talento, seja este talento qual for.

Jacques Lacan


O medo é nosso companheiro mais constante, diria eu.
A frustração, necessariamente, não.
Podemos ter medo do fracasso antes de um desafio, mas uma vez que desempenhemos bem nosso papel, este medo se desfaz. Nos intuitivos, este medo dura apenas alguns segundos, apenas o tempo de estabelecerem contato com a “fonte de todas as fontes”, “a luz de todas as luzes”, e depois deixar-se penetrar pela sabedoria que vem do alto, o que os gregos chamavam Sofia.
Livres do peso de assumirmos sozinhos o papel de responsáveis pelo que fazemos a ansiedade diminui muito e às vezes desaparece.
A tranqüilidade diante de um desafio é inversamente proporcional ao orgulho egocêntrico.



Quanto mais supomos, em nossa vã concepção, que é de nós que vem a inspiração para executar de forma belíssima uma partitura, um texto ou uma pintura, mais a insegurança estará presente.
Só quando percebemos que estamos “on line” com uma rede universal, um Google espiritual que alimenta a tudo e a todos em toda parte, nossas preocupações diminuem.
É possível que um artista não admita, por orgulho, que é apenas sócio do seu processo criativo, que outras forças, não tão ocultas, participaram do projeto. Mesmo assim ele reconhece que recebeu imagens, compassos, entonações que não pode precisar de onde vieram e que atribui à “sua própria genialidade”.



O conhecimento deste contato ainda engatinha. Quando for mais sólido, perceberemos que isto não tem nada de religioso ou místico, mas é parte integrante da constituição do ser humano, e que a simples suposição de estarmos a sós, no Universo, com nossos pensamentos, é tola e descabida.
Tudo conversa conosco, desde bactérias e plantas até os mestres da Fraternidade Branca, todo o tempo.
Há uma enorme rede de conhecimento, que foi chamada por textos do passado de Registros Akhásicos, onde todos nós colaboramos pelo aumento cotidiano do conhecimento de toda a criação, pela glória do Altíssimo, causa e conseqüência deste conhecimento acumulado.
É nesta rede que mergulhamos quando acordamos e as idéias, as mais variadas, vêm a nossa mente.



O professor Hermógenes, nosso decano brasileiro em Yoga, lembrava sempre que na fala de Santa Teresa D´Ávila, “a mente é a louca da casa”. Milhares de idéias passam por nossa cabeça sem que peçamos, sem que solicitemos, a cada segundo. E este fluxo, que Faulkner chamou de “fluxo de pensamento” em sua literatura, é a natureza do fluxo de toda a criação, em toda parte, em todas as coisas.
Quando pensamos apenas recolhemos seletivamente uma parte do fluxo, como se nos abaixássemos em um regato que corre a nossa frente e com as mãos em concha capturássemos um pouco d´água para matar uma sede repentina. Mesmo este texto que redijo agora nesta manhã fria de 5 a 6 graus aqui em Suzano é produto deste fenômeno, apenas um pouco d´água deste rio imenso que atravessa minha cabeça todo o tempo, ou como eu tenho chamado, meu imaginário.




Eça de Queiroz

Não somos donos de nada, nada nos pertence, nem mesmo aquilo que chamamos “nossos pensamentos”, ou “nossas idéias”.
É o Universo que pensa através de nós, e a forma que damos a Grande Verdade é aquela que nosso cérebro consegue dar, mas a Verdade por trás da forma é a mesma que atinge todos os cérebros em toda parte, neste e em outros mundos.
E para lembrar Eça de Queiroz, em “A Cidade e a Serra”, pela boca de Jacinto, seu príncipe, “ veja, quando eu bato o pé aqui, o Sol balança.”
Tudo está interligado.



quinta-feira, 9 de junho de 2011

QUASE 20000 DIAS



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

“Para mim a espiritualidade só tem significado
quando tem a ver com a vida concretamente vivida.”

Lorenz Marti[1], in “Como um místico amarra os seus sapatos”

Lorenz Marti

Tenho em mãos um livro pequeno e com uma capa quase infantil. Seu título é “Como um místico amarra os seus sapatos”.
Seu autor, um suíço com graduação em Filosofia da História de Ciências políticas, no entanto, escreveu uma pequena obra prima.
Este livro tem passeado pela minha pasta e depois no meu carro, sempre na ilusão de que naquele dia, um tempo vago, que nunca vem, permitirá a leitura de algumas páginas, de alguns capítulos, talvez. Hoje deu tempo. 12 graus, muita gente faltou. Aproveitei.
São capítulos pequenos, objetivos, ricos de uma espiritualidade não ideológica, preocupada exatamente com o sentido do misticismo no mundo.



E o misticismo, eu concordo, só tem sentido, quando está relacionado à existência real.
E ele diz mais acerca da espiritualidade. Diz ele “A partir de suas raízes hebraicas, a palavra espiritualidade agrega os conceitos de espírito, amplitude e vento. O vento sopra onde quer. Não se deixa planejar, organizar, dominar. Sua força movimenta, derruba ordens estabelecidas, abre espaço para o novo.”
O novo. Como o místico e o misticismo precisam do novo.
Não mudar as tradições, mas a expressão lingüística destas tradições. É preciso atualizar a linguagem, é preciso modernizar a didáticas destes ensinamentos.
E embora as palavras do Mestre para os pescadores ainda sirvam muito bem em nossos dias, nem todos os textos místicos são parábolas. E quando são, na maioria das vezes não são tão boas.
Didática é inovação.
É preciso soprar as narinas da tradição com o sopro da vida para que não seja casca morta e sem valor.
O texto de Marti é um desses sopros.
No capítulo " Do não saber ao não saber", Marti fala sobre a sua vida e o tempo. Cita que "hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. O primeiro dia! E pensar que já se passaram quase 20000 dias."
Parei pra fazer as contas. Também eu me aproximo dos meus 20000 dias neste corpo atual. Mais 25 dias terei completado minhas duas dezenas de milhares de dias errando, acertando, vivendo enfim.
O primeiro dia. Espero que eu possa absorver o espírito da novo, sentir-me recomeçando a encarnação como Marti sugere. 
Talvez este senso de renovação seja a iniciação mais importante da existência.



[1] Lorenz Marti nasceu em 1952. Formado em Filosofia da História e Ciências Políticas, é colaborador de "Redação Religiosa" na Rádio Suíça e mora em Berna. É autor também de Wer hat dir ded Weg gezeigt? Ein Hund! (Quem mostrou o caminho? Um cachorro!), que será também publicado pela Editora Vozes