Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 30 de maio de 2013

MISTICISMO LITERÁRIO E MISTICISMO REAL

por Mario Sales, FRC e SI



É comum no ambiente esotérico ouvirmos a expressão "texto inspirador". Ela se refere, via de regra, a peças literárias, de rara beleza ou profundidade que, uma vez consultadas desencadeiam em nós uma sensação de enlevo e bem estar espiritual. São depoimentos, narrações de eventos, coleções de metáforas ou símbolos descritos de forma clara ou obscura de acordo com aquele que o escreve. Alguns destes textos são muito antigos, centenários, enquanto outros datam de algumas dezenas de anos, mas todos se igualam na capacidade de desencadear em nós um estado de reflexão mística e de identificação com o que ali está escrito.
Identificação esta que tem a ver com os pressupostos da vida mística, ou seja, com o reconhecimento naquele texto de conceitos que são comuns ao discurso místico e esotérico mundial, como por exemplo, a noção de vida eterna do espírito a despeito da mortalidade do corpo, ou como dizem os rosacruzes, da personalidade-alma, e por decorrência deste conceito, o axioma da reencarnação; a existência de um só Deus, só perceptível por Sua Obra, um Ser incognoscível dada a Sua grandiosidade; a noção de evolução espiritual cumulativa, aperfeiçoadora daquela personalidade alma que atravessa centenas de vidas; o Panteísmo, a noção de que Deus está em todas as coisas, seja na concepção espinosista de classificar Deus como o conjunto de Sua Obra, seja na visão mística de atribuir uma inteligência a este ser, uma Independência como Entidade, ao mesmo tempo em que está misturado a toda a sua Criação (Panenteísmo).



Outros aspectos e paradigmas do discurso místico e esotérico internacional (sempre entendendo esoterismo como a prática de partilhar conhecimentos entre iniciados, com discrição, através de símbolos, e misticismo como a busca de um contato interno com aquela inteligência Divina supra citada) são a existência de grupos de seres em evolução paralela a nossa, manifestando-se em planos diferentes do nosso, invisíveis aos olhos dos homens comuns, que são a grande maioria; a noção de Campo Único, que em misticismo significa que todos estamos ligados , dividindo experiências e impressões emocionais pessoa-pessoa ou nação a nação, consciente ou inconscientemente (mais frequentemente); e finalmente a noção de causalidade para os acontecimentos, uma das mais fortes concepções místico-esotéricas, que é expressa geralmente pela frase "nada acontece por acaso" ou, por outra,"tudo que acontece tem uma razão"; e esta razão, via de regra, é didática, visa o aprendizado de algum valor emocional ou espiritual que contribui para o aumento da sabedoria desta personalidade alma em questão.
Ora, se reunimos estas noções em um texto (o espírito é 'eterno, reencarna várias vêzes, nossa vida visa o aprendizado e o aperfeiçoamento, nada é por acaso, Deus é um só e está em todas as coisas, o invisível é maioria e abriga outros seres em seu bojo, e todos nós estamos ligados a tudo que existe, seja nos planos visíveis como nos invisíveis) temos aí pelo menos sete grandes conceitos que sempre estarão, juntos ou separados, presentes em textos de natureza esotérica.
O resto vai depender do talento do escritor e de sua capacidade literária, do grau de sua inspiração.


Portanto, muita da cultura mística, talvez a maior parte dela, é essencialmente literária, já que não é comum contemplar o invisível, ou ouvir a Voz do Silêncio.
A maioria de nós é formada por homens e mulheres comuns, com limitações de percepção comuns a maioria dos seres humanos, e, por um motivo qualquer, sem que possamos ver ou tocar estas coisas, cremos que aquelas afirmações são verdadeiras, ou por senti-las em nosso interior como tal, ou por ter alguma experiência pessoal que nos leve a pensar dessa forma.
Experiências fundamentadoras destas crenças, por outro lado, a rigor, não são a maioria.
Cremos porque cremos e nem sempre sabemos descrever a razão de nossas crenças. Os céticos, os não iniciados, descreveriam tal situação como uma manifestação clara de superstição e falta de cientificidade, já que a base do pensamento científico é a presença da experiência direta do fenômeno, para depois surgir a crença, se bem que em astrofísica, a matemática vale mais que os fatos, pelas dificuldades inerentes a este tipo de área. Que eu saiba ninguém nunca chegou bem perto de um buraco negro para ver, em pessoa, como ele funciona.



De qualquer maneira, os místicos argumentam que suas crenças são fundamentadas, não em experiências externas, mas em experiências internas, de forte cunho emocional e psicológico, e embora impossíveis de serem testemunhadas por terceiros deixam marcas indiscutíveis naquele que as atravessa. Não se trata de uma crença sem uma fundamentação em fatos e ocorrências, mas sim de crenças fundamentadas em fatos e ocorrências íntimas, impossíveis de serem demonstradas exteriormente.
Racionalmente falando, o fato de crermos porque, diante do que sentimos, seria impossível não crer, a grosso modo, pode sim tanto (A)refletir um alto grau de sensibilidade espiritual, quanto (B)a presença de um pensamento fortemente supersticioso, já que, dentro de nós, o psicológico, nossas crenças e nossa personalidade, e nosso lado psíquico, nossas experiências místicas, se misturam dentro de nossa mente.



Não há como distinguir com facilidade uma situação da outra. E para sermos sinceros, no ambiente esotérico encontramos estes dois tipos de pessoas, (A) e (B).
O primeiro tipo(A) é alguém marcado pela experiência devocional, espiritual, com um mundo interior extremamente rico e dinâmico, em suma , um verdadeiro iniciado; o segundo (B) é impressionável e dado a crenças infundadas. Não há marcas em suas testas que os  distingam. Só os reconheceremos como membros de um ou de outro grupo quando conversarmos com eles. Existem entretanto algumas características de seu discurso que podem ser marcas de reconhecimento. Por exemplo, para o verdadeiro iniciado, o misticismo não pode ser essencialmente literário. Sua erudição não pode estar acima de sua vivência e experimentação das emoções ligadas à sua condição de Iniciado. Sabe que textos foram feitos para serem bóias de navegação, mas não são embarcações em si, nem constituem provas de quaisquer conceitos. Sagrados ou não para aquele que os lê, textos são apenas textos, e no máximo nos remetem a considerações que poderão nos levar a experimentar certas sensações, estas sim importantes, nas quais verificaremos a verossimilhança ou não do que está descrito no texto. Os textos mais poderosos não são, portanto, os mais longos ou obscuros, como supõem os esoteristas literários, mas sim aqueles que tem em si sinais indicativos deste ou daquele tipo de perspectiva de mundo, de uma visão do chamado real, nos propondo outras possibilidades de contemplar e nos relacionar com o que está a nossa volta.
Para tornar mais clara esta idéia, lançarei mão da arte. Ao contemplarmos um quadro, podemos olhá-lo de forma desarmada ou municiados de informações que modificam a nossa percepção dos detalhes.



A contemplação estética tem dois lados: o lado da sensibilidade, que se aperfeiçoa com a prática de contemplar, e o lado racional, que se aperfeiçoa com o acúmulo de informações sobre os estilos de pintura existentes e as características estéticas de cada artista.
Como no impressionismo[1]. Podemos olhar um quadro de Monet e dizermos :"Lindo". Ou podemos, por outra, "pensar" o quadro, o que só é possível se tivermos informações acerca das características básicas de um quadro desta escola de pintura. Se apenas observamos o quadro, desarmados, como eu disse, podemos gostar ou não gostar do que vemos. Mas, gostemos ou não, estando de posse de algumas informações ele nos parecerá muito mais interessante.
Como o fato de que o quadro impressionista deve ser uma pintura que mostra as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz do sol num determinado momento, pois as cores da natureza mudam constantemente, dependendo da incidência da luz do sol; que por isso também, é uma pintura instantânea (captação do momento), recorrendo, até, à aspectos da fotografia; que as figuras não devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal meio estrutural do quadro, passando a ser a mancha/cor; que as sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão visual que nos causam e que o preto jamais é usado em uma obra impressionista plena; que os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares e assim, um amarelo próximo a um violeta produz um efeito mais real do que um claro-escuro muito utilizado pelos academicistas no passado; que essa orientação viria dar mais tarde origem ao pontilhismo; que as cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura de pigmentos e, pelo contrário,devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas deixando ao observador, ao admirar a pintura, a tarefa de combinar as várias cores, obtendo o resultado final, fazendo com que a mistura deixe, portanto, de ser técnica para se tornar óptica; que os pintores impressionistas preferem representar uma natureza morta a um objeto; e que entre eles dá-se uma grande valorização de decomposição das cores. Nosso olhar ao pousar sobre o aquele quadro, municiado destas informações, não será o mesmo.
O quadro a nossa frente continua a ser o que era antes de termos toda essa informação, mas nosso olhar se modificou, pela cultura que absorvemos, pela educação de nosso sentido de visão.
A nossa experiência estética, portanto, foi levada a um plano superior, mais profundo, mais detalhado.
Isto não substitui, no entanto, a necessidade de termos sensibilidade, mas apenas instrumentaliza esta sensibilidade de dados que aprofundarão a experiência.
Textos esotéricos são, da mesma forma, experiências limitadas pela sensibilidade do leitor e pela sua capacidade intelectual de compreender todos os aspectos históricos e simbólicos presentes ali. Não podem ser a base de nossa experiência mística, mas podem se submetidos a uma exegese mais elaborada se estivermos capacitados por informações mais detalhadas destes mesmos textos. Isto, a semelhança dos quadros, não tornará desnecessário que tenhamos sensibilidade interior e intuitividade para interpretar o verdadeiro sentido destes textos, mas aguçará nossa capacidade de interpretação e nos mostrará aspectos que antes talvez nos passassem despercebidos.
Este longo arrazoado nos permite agora dizer que erudição mística nada tem a ver com o misticismo enquanto experiência pessoal e não a substitui, mas pode ser um instrumento útil no aprofundamento desta experiência.
E como não são instâncias intercambiáveis, posso ter três situações distintas quanto a classificação dos tipos psicológicos de esoteristas: primeiro, aqueles que acreditam que só a sua experiência interior é suficiente para atingir Deus e que não se interessam em consultar mais de um texto sagrado, mesmo que não conheçam bem o texto sagrado eleito; segundo, aquele que crê que pode atingir conhecimento místico pela leitura ininterrupta de textos esotéricos e que supõe que esta erudição lhe trará um misticismo mais profundo; e terceiro e último, aquele que usa estrategicamente esta erudição como auxiliar de suas experiências místicas, ou como complementação destas mesmas experiências, no sentido de auxiliá-lo a compartilhar aquilo que, via de regra, é impossível de descrever.
O terceiro tipo tem um forte senso de pertencimento ao grupo humano e sabe que sua experiência, (a considerar um dos axiomas da visão mística do mundo, aquele que diz que todos fazemos parte de um Campo Único) como citei acima, pode ser mais uma bóia que facilitará a navegação daqueles que são companheiros de oceano ou de outros que singrarão, no futuro, as mesmas águas.
Esta noção de que o que se sabe e o que se compreende precisa ser compartilhado de modo consciente e compreensível, da mesma maneira que é compartilhado automaticamente de modo inconsciente e, às vêzes, incompreensível, faz deste terceiro tipo de esoterista um ser diferenciado, misericordioso, preocupado tanto com sua evolução como com a evolução de toda a humanidade.
Compartilhar não é necessariamente escrever sobre alguma coisa. Mas o texto embora limitado, é uma forma internacional de consolidar idéias, conceitos e visões de mundo.
Se bem que não suficiente, é um instrumento válido para disseminar o conhecimento e aprofundar a sensibilidade de cada caminhante da senda.
Guardadas as devidas proporções, o Misticismo Literário deve caminhar lado a lado com o Misticismo Real, experimental, este sim fundamentado na vivência do místico e sustentador de crenças embasadas naquilo que é possível perceber em nossos corações e mentes.


[1] Impressionismo foi um movimento artístico que surgiu na pintura francesa do século XIX. O nome do movimento é derivado da obra "Impressão, nascer do sol" (1872), de Claude Monet. Tudo começou com um grupo de jovens pintores que rompeu com as regras da pintura vigentes até então.

sábado, 25 de maio de 2013

FÉ E PODER DE TRANSFORMAÇÃO DO REAL

por Mario Sales, FRC, SI


Por motivos particulares, tenho me dedicado a estudar as implicações da Fé como instrumento místico e o papel da Oração como veículo de manifestação oral desta mesma Fé, já que falo da Fé como compreendida no Martinismo, como elemento de conexão com o Altíssimo e não apenas a crença em algo sem fundamentação. Entre os trechos de textos sagrados que consultei neste particular, está uma passagem do novo testamento no Evangelho de Marcos, capítulo 5, versículo 22.



"...E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, E rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos, para que sare, e viva. E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. E certa mulher que, havia doze anos, tinha um fluxo de sangue, E que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior;
Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua veste.
Porque dizia: Se tão-somente tocar nas suas vestes, sararei. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal.
E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isto fizera. Então a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.
E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal.
Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principais da sinagoga, que disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre? E Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente.
E não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago. E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam. E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto. E mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer. "
Marcos 5:22-43

Nestas poucas linhas, além do relato da força mística do Mestre, existe um clara exortação a importância da crença e da fé como pressuposto para a consecução de um feito tanto dramático quando inusitado, que transcende as mais pessimistas previsões da experiência na carne.
Como médico e como místico estou habituado às limitações que nossa pequena capacidade de curar nos impõe. Por isso essas passagens me chamaram a atenção, não pelo aspecto religioso, mas pelo aspecto técnico operacional. Rosacruzes são os cientistas da Alma e da Mente, e buscam, incessantemente, maneiras de criar protocolos de como transcender a mediocridade humana, através da exegese de textos ditos sagrados, mas que na verdade, mais que sagrados, são manuais de como transformar a realidade de maneira impensável pelos nossos limitados conhecimentos científicos atuais.
A atitude mental, por este trecho citado, é a chave.
E ele lhe disse: 


"Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal.
Estando ele ainda falando, chegaram alguns dos principais da sinagoga, que disseram: A tua filha está morta; para que enfadas mais o Mestre? E Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal da sinagoga: Não temas, crê somente."


O que muda no homem que crê? Em que crê o homem ou a mulher que crêem? Em milagres, responderiam alguns. Mas o que são milagres? Coisas improváveis, tão maravilhosas e inesperadas que, via de regra, são impossíveis de realizar.
E quem acha essas coisas impossíveis? Nós mesmos.
E porque achamos isso? Por que , em função de nossa experiência e educação, fomos levados a crer que este é o pensamento correto.
Ora, ao que tudo indica, crenças, fundamentadas ou não, são crenças. Diríamos que crenças fundamentadas são a base da ciência e que as não fundamentadas são a base da religião ou da superstição. E estaríamos corretos. Mas a fé de que falamos e da qual o Cristo fala é mais do que uma crença: é uma transformação de visão de mundo, uma iniciação, possível apenas aos que se permitem tal transformação.

Se não fosse assim, os fatos descritos não seriam fatos.
Como explicar então os fatos narrados por Marcos e também por Lucas, em seus Evangelhos? Como uma narração metafórica, simbólica, e não histórica? Ou terá existido mesmo um homem, de uma sinagoga, chamado Jairo que teve uma filha morta ressuscitada pelo Mestre Jesus?
Vamos partir do pressuposto de que este é um relato histórico, apenas para levarmos em frente nosso raciocínio.
Se assim é, estamos diante da realização de feitos, nos moldes atuais, inexplicáveis, ou por outra, sobrenaturais.
A maioria dos religiosos tendem a não tentar explicar tais coisas, alegando que não são compreensíveis já que são milagres, e só o Cristo tinha tal poder, sendo como era o Filho de Deus, aliás, o único Filho de Deus.
Vejam, Rosacruzes não pensam desta forma.
Acostumados as técnicas dos Essênios, descritas no sexto grau de templo da Ordem, os rosacruzes sabem que é possível para qualquer pessoa dedicada e que estude e pratique as técnicas, realizar curas que são aparentemente milagrosas com o uso de uma abordagem original do problema da doença. Trata-se apenas de um conhecimento, de uma técnica, reprodutível e possível de ser partilhada.

Além disso, creio que o uso de antibióticos modernos em infecções do passado, se possível, também pareceria um milagre a quem não o compreendesse como produto do conhecimento.
Portanto, para o estudante rosacruz, os feitos do Cristo, Jesus, não estavam apenas ligados a sua filiação divina, já que, para os místicos, todos nós temos a mesma filiação divina, tenhamos uma maior ou menor consciência disso, mas também ao fato de que ele possuía um conhecimento diferenciado de como realizar estas curas. Somos, deste modo, todos nós seres humanos, em toda a face da Terra, tão filhos do mesmo Deus quanto o Cristo Jesus. A luz que o iluminava e ilumina também ilumina a todos nós e a grande diferença entre nós é a nossa consciência desta luz, a nossa crença de que somos menos luminosos do que ele, ou de que Deus não está dentro de nós como estava e está dentro do Cristo.
Superar esta crença discriminatória é parte do processo deseducador positivo do ensinamento místico, que retira de nós certas crenças e as substitui por outras, entre elas a crença de que cada homem e cada mulher, sobre a face da Terra, tem dentro de si o mesmo poder e a mesma presença de Deus que o Cristo exibia em seus feitos.
É necessário descondicionar as pessoas de sua baixa auto estima, de sua crença na sua inferioridade espiritual, recuperar nelas a noção de que todos nós somos príncipes por nossa origem e que devemos deixar aflorar em nós esta nobreza espiritual que se manifestava em Jesus.
Por outro lado, a fé como conexão é uma chave possível de se desenvolver por esta Nova Educação que é dada nas escolas de Mistério, já que podemos trabalhar a sensibilidade das pessoas e melhorá-la, não pela repetição mecânica de cantos ou hinos, mas pela busca incessante desta força em nosso interior, seja pela prática da introspecção e da meditação, seja pela prática da Intuição no dia a dia. Podemos através deste método, pouco a pouco, recuperar a capacidade de ouvir a Voz Interna, a Voz do Mestre Interior, e perceber que temos uma conexão permanente com a Fonte de Todas as Coisas, e que só parecemos não tê-la por que fomos levados pela educação a crer nisso. Nossas convicções são fruto de nossa educação e se estamos hoje convictos de todo tipo de tolices depressivas e auto depreciativas do ponto de vista espiritual isto é produto direto da educação nefasta que as diversas religiões lançaram sobre as massas, reforçando entre elas a idéia de que só o Cristo pode fazer certas coisas, embora Ele mesmo nos lembrasse, a todo instante, de que "é nossa fé que nos cura" e não ele , o Cristo.
Mas o que essa Fé de que ele fala?, perguntemos novamente. Não se trata, com certeza de uma mera crença sem fundamento nem daquilo que chamamos de crendices, produtos da ignorância.
Em uma monografia de grau elevado, Spencer Lewis diz: 


"O Estudante que alcançou o estágio da Iluminação vê-se em "verdes pastos". Para o místico, esse estágio é semelhante ao de outros dedicados a suas igrejas e a sua Bíblia, e tem suas armadilhas. Para essa boa gente , tudo o que acontece é da Vontade de Deus. Num filme intitulado A Cidadela, um jovem médico está assistindo uma paciente em um parto e o bebê é natimorto. O método usual (pancadas) não provoca a respiração do pequeno corpo. O médico passa então a usar métodos científicos. A velha avó que está observando diz: "Deixa estar, é a vontade de Deus". Quando o médico, finalmente, soprou nas narinas do bebê e este chorou, a velha acreditou que acontecera um milagre. O estudante também tende a deixar tudo ao Deus Interior e mergulhar numa segurança perniciosa, que impede o progresso. É por isso que os ensinamentos rosacruzes enfatizam a necessidade de exercícios diários formadores de hábitos, bem como do uso e teste de princípios e leis na vida diária. Este método leva o estudante a fazer mais esforço, que ativa a imaginação do corpo psíquico, divinamente concedida".

Este é um 
aspecto importante . O treino desfaz crenças em limitações acerca do que podemos ou não podemos fazer, e também nos habilita a fazer coisas que para outros pareceriam milagres. Além disso nos liberta da falsa idéia de que nada precisamos fazer para nos aprimorar. O trabalho de auto aperfeiçoamento é fundamental.
No caso do Cristo, é notório o fato de que o período entre os treze anos quando ele dá aulas aos doutos da Sinagoga, e os 30 anos, quando ele começa o seu Ministério, são até hoje um mistério. O próprio Spencer Lewis fala em outro livro, sobre a estada do Cristo em contato e aprendizado com os Essênios e com as escolas egípcias de Mistério, aonde desenvolveu as habilidades que exibiria na Palestina, e que aos seus contemporâneos pareceram milagres, ou seja, a realização de coisas aparentemente impossíveis, quando talvez fossem apenas a aplicação de princípios terapêuticos que todos nós, desde que interessados e dedicados a isto, pudéssemos aprender.
Por isso o estudante rosacruz lê o Evangelho com outros olhos. Ele quer entender a mensagem nas entrelinhas, e esta mensagem, neste caso específico, é a mensagem de que a crença, a Fé, é a base de feitos extraordinários.
E, novamente, que fé é esta? Aparentemente, trata-se de uma mudança de postura em face a realidade, a compreensão, hoje tão fácil de entender, nesta era quântica, de que o Observador muda o que é Observado.
A física quântica, ao afirmar que as partículas tendem a ter comportamentos diferentes se estiverem ou não sendo observadas[1], gerou grande interesse em físicos, mas também confirmou antigas expectativas dos místicos.
Até que estas observações fossem feitas, falar que o olhar modifica a paisagem referia-se apenas a aspectos psicológicos, ou estéticos, de forma que se entendia que "cada pessoa veria um mundo diferente de acordo com sua capacidade pessoal". Após o trabalho de Louis de Broglie, em 1924, o mundo, como o conhecíamos, desapareceu, para surgir outro em que a estabilidade da matéria foi substituída por uma instabilidade permanente, dependendo do momento e das circunstâncias. Embora os trabalhos de Broglie e Planck sejam da década dos anos 20 do século passado, até hoje a sociedade ainda não absorveu totalmente o que foi por eles descoberto, de que o mundo não é nem nunca foi estável e sólido, mas um emaranhado de campos e partículas instáveis , sujeitas a mudanças de comportamentos constantes.





Louis-Victor-Pierre-Raymond, 7.º duque de Broglie


Portanto, cabe a pergunta: a Fé, a crença em um estado diferente daquele que contemplamos, pode influenciar e modificar mesmo a situação contemplada? 
Tudo indica que sim.
A ignorância sobre outras possibilidades, pode fazer com que creiamos que nada há a fazer em determinada situação e que por isso, por causa desta crença nefasta, nos omitamos e aceitemos situações perfeitamente reversíveis como inevitáveis? Ao que parece, também é verdade.
Não só o conhecimento, mas a mudança de atitude mental em relação a existência, tendem a ter um efeito transformador e 
avassalador da realidade dada.
Além disso, o conhecimento místico, das técnicas místicas, só pode ser desenvolvido depois desta mudança de atitude mental. É preciso livrar-se da falsa concepção de que tudo que necessitamos saber está na ciência ortodoxa ou no conhecimento esotérico, para passarmos a um novo patamar em que tudo que pudermos aprender da ciência ortodoxa é apenas uma parte do que precisamos saber e não a totalidade do conhecimento, entendendo que esoterismo e ciência devem andar de mãos dadas e serem entendidos como um único e mesmo campo de conhecimento.
O mais importante: é preciso crer na possibilidade de novas realidades, não apenas naquelas que são possíveis, mas também naquelas que são imagináveis ou que podem ser intuídas.
Já foi dito que "tudo que o homem puder imaginar ele é capaz de fazer", e com certeza isto é verdade.
Grandes cientistas, artistas e místicos concordam quanto a isto. O fato de que, a cada dia, estarmos materializando idéias que antes eram chamadas de "pura ficção" é a prova disso.
Mais importante do que isso, no entanto, é a mudança de atitude mental em relação a realidade.
A Fé que cura é aquela que representa uma mudança de atitude mental, um entregar-se a um estado de união com o Deus Interior, uma confiança na Providência Divina, que não significa, como lembrou Spencer Lewis, o abandono da compreensão de que "todos os acontecimentos fabulosos são produto do preparo e do conhecimento, fruto do treino e da preparação pessoal" e não de um fenômeno sobrenatural, mas sim a percepção de que existe em nós uma fonte de conhecimento e poder que pode ser acessada em momentos especiais de grande angústia e necessidade, real necessidade, a qual pode, se acionada, exercer sobre o real ao nosso redor um efeito transformador quântico que modifica o mundo palpável de acordo com nossa vontade e desejo, força que o Cristo chamou, de modo simples, de Fé.
Mais que uma crença, trata-se de uma convicção, de uma mudança de patamar psicológico.
Não se trata mais de uma mera maneira de ver o mundo, mas de uma certeza inabalável, do vivenciar intimamente uma percepção deste mundo a tal ponto de que nada possa se interpor entre o que acreditamos ser real e o real.
Este é o caso de Jairo e da mulher da história bíblica.
Crer, na simplicidade da fala do Cristo, é vivenciar uma nova realidade dentro de nós com extrema intensidade, só possível quando acelerada e magnificada pela emoção e pelo amor ( o medo da morte e da doença na mulher e o amor de pai em Jairo).
Não se trata, portanto, de um processo meramente racional.

É algo muito mais intenso, e provavelmente só pode ser mobilizado com segurança em condições muito especiais e justas, como quando visamos o bem daqueles que amamos, ou sentimos uma certeza da providência Divina inabalável.
O Amor é uma energia importante neste desencadear da Fé. 

As águas da Fé só fervem e se elevam em vapor santo à Deus, movidas e aquecidas pelo fogo do Amor Incondicional.
Aos rosacruzes é importante o esclarecer destes passos. É a natureza do ensinamento rosacruz compreender o mecanismo interno de cada acontecimento do Universo, seja natural ou aparentemente sobrenatural, para que, antes de tudo, possa ser reproduzido, como se espera que seja.
O Cristo tentou ensinar a todos que todos poderiam ser como Ele. 

Durante séculos a Igreja tentou provar o contrário, convencendo a maioria dos seres humanos de que só o Cristo era daquela forma e que nenhum de nós poderíamos ser como ele, já que só ele era filho de Deus.
A Fé transformadora portanto, que ele nos recomendava no Evangelho, foi reduzida de técnica poderosa de fusão com Deus em uma mera crença sem fundamento.
É função da natureza do pensamento rosacruciano desfazer este equívoco e restaurar a força da mensagem do Cristo, tanto de poder como de esperança, de que todos os homens podem fazer milagres desde que permitam que esta energia que se encontra no fundo de todos nós se manifeste livremente, movida por um amor intenso a tudo que existe, a alguém por quem temos um amor sublime, ou pelo menos pelo Amor a própria Vida.



[1] A dualidade onda-partícula, também denominada dualidade onda-corpúsculo ou dualidade matéria-energia, constitui uma propriedade básica dos entes físicos em dimensões atômicas - e por tal descritos pela mecânica quântica - que consiste na capacidade dos entes físicos subatômicos de se comportarem ou terem propriedades tanto de partículas como de ondas 1 . A dualidade partícula-onda foi enunciada pela primeira vez, em 1924, pelo físico francês Louis-Victor de Broglie, que anunciou que os elétrons apresentavam características tanto ondulatórias como corpusculares, comportando-se de um ou outro modo dependendo do experimento específico. A experiência de Young (experiência da dupla fenda) exemplifica de maneira sensível o comportamento ondulatório do elétron; e pelo que já se conhecia do mesmo como partícula - a citarem-se os experimentos realizados com o tubo de Crookes, e outros - a dualidade onda partícula deste ente: difração em fenda dupla é uma propriedade notoriamente ondulatória. De Broglie fundou seu raciocínio inicialmente na intuição e nos conhecimentos acerca do efeito fotoeléctrico para chegar a esta conclusão. Durante seus estudos acerca do efeito fotoelétrico - estudo que lhe rendeu o prêmio nobel - Albert Einstein havia concluído que os fótons que atuavam no efeito fotoelétrico exibiam todas as propriedades esperadas de um feixe de partículas, comportando-se cada qual como uma partículas com energia E=h•f, onde f representa a frequência de onda da onda eletromagnética associada aos fótons em consideração. Einstein concluiu desta forma que, em determinados processos, as ondas se comportam como se corpúsculos fossem. De Broglie imaginou então o inverso, ou seja, se ondas se comportam como partículas, porque não esperar que partícula se comportem como ondas? Levando sua ideia a cabo e confrontando-a com dados empíricos o físico francês foi capaz de relacionar com sucesso o comprimento de onda associado ao comportamento ondulatório da "partícula" com a massa da referida "partícula" mediante a formula λ=h/P, onde P representa o módulo do vetor quantidade de movimento , ou seja, o produto da massa pelo módulo da velocidade (m•v) do ente; h representa a constante de Constante de Planck, e 'λ', o comprimento de onda associado. Observando-se a fórmula verifica-se facilmente que, à medida que a massa ou sua velocidade aumenta, diminui consideravelmente o comprimento de onda. Os corpos macroscópicos têm associada uma onda, porém a massa é tão grande que se pode afirmar que apresenta um comprimento de onda desprezível, porém não nulo. Embora no mundo macroscópico tais efeitos ondulatórios sejam por tal imperceptíveis, no mundo subatômico estes certamente não o são, e por tal, na hora de se falar sobre "partículas" atômicas é muito importante se considerar a dualidade - já que o comportamento ondulatório determinado pelo comprimento de onda que possuem é a única forma de se explicar muitos de seus fenômenos. Alguns propõem explorando os recursos de linguagem (neologismo) que não se tem "partículas" e "ondas" no mundo quântico, e sim apenas "partículas-onda" - entes físicos que se comportam ora como partícula, ora como onda. A dualidade onda-partícula estendeu o conceito de relação de dispersão antes presente em ondulatória ao âmbito da mecânica.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dualidade_onda-corp%C3%BAsculo

terça-feira, 21 de maio de 2013

COMO A PENA DE MAAT

"E aquele que entrar no reino de Anubis será testado na balança do deus de cabeça de chacal: para entrar, seu coração será pesado em um prato e deverá ser mais leve que a pena de Maat, a Verdade, que está no outro prato"

domingo, 19 de maio de 2013

SEM PALAVRAS


O MISTICISMO E IVAN LINS

DAQUILO QUE EU SEI

IVAN LINS




Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu!
Usei todos os sentidos

Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!

sábado, 18 de maio de 2013

A CONFRARIA "IN VINO VERITAS"

Da esquerda para a direita, Robson, eu, Carlos e Fernando. Amigos constantes, leias e presentes, em todas as horas e em quaisquer condições.

terça-feira, 14 de maio de 2013

OMISSÃO E AÇÃO NA VIDA DO INICIADO E A VERTICALIDADE ROSACRUCIANA X A HORIZONTALIDADE MAÇÔNICA


por Mario Sales, FRC, SI, CRC




Talvez eu devesse esperar e fazer dois comentários, dois ensaios diferentes sobre estes temas mas a idade aos poucos cobra o preço da memória e quero compartilhar essas reflexões, movido pelo frescor das conversas.
Fernando acabou há pouco de sair daqui de casa. Veio para uma visita fraterna e como sempre, os assuntos caem nos caminhos do Iniciado, e nos caminhos das duas Ordens que veneramos, eu a Rosacruz e ele, a Maçonaria.
Primeiro fizemos considerações sobre os problemas da vida cotidiana, os problemas pessoais e o Carma de cada um, um tema inesgotável, alimentado pelas experiências pessoais.
Concordamos quanto ao fato de que a "Vontade de Deus", também conhecida como "Os Fatos da Vida", não poder ser contestada, e a necessidade do Iniciado lidar com as intempéries e vicissitudes da existência, aceitando-as com resignação diante de sua inevitabilidade. Só que também concordamos em que, embora não haja como contestar a "Vontade de Deus", a qual, por puro bom senso, devemos aceitar, devemos concomitante a isto tudo fazer no intuito de melhorar o desfecho dos acontecimentos, negando o estigma do Fatalismo, da idéia de que certas coisas "não tem jeito", e lutar, consciente, racional e equilibradamente com todas as forças em nosso poder para alterar para melhor os acontecimentos que, independente de nossa vontade, nos atingem.
É como se disséssemos: existe a inexorável força dos acontecimentos com os quais temos de lidar e existe a ação que desencadeamos sobre estes fatos, de forma que a resultante é o acontecimento, digamos assim, não mais em forma de Pedra Bruta, mas sim de Pedra Polida.
Didatizei então o tema com o exemplo do navegador de um barco a vela.
Ele tem, enquanto navegador forças involuntárias e voluntárias com as quais lidar. Sobre o barco agem o Vento e as correntes marinhas, as quais ele não controla; e além disso tem o timão, este sim, que ele pode manejar.
O curso do barco será a resultante do encontro destas três forças que juntas agem sobre a embarcação, e que não serão controladas necessariamente, mas administradas, de forma a que a embarcação atinja o porto com a segurança e precisão possíveis e desejáveis.


Viver é navegar um barco a vela, nessas condições. Existem coisas que não podemos mudar e coisas que podemos alterar, e que agirão juntamente com as outras forças do Universo na busca de uma resultante final, a melhor possível para nós. Observem que, se eu não posso criar correntes ou ventos favoráveis, posso ao menos antecipar as condições do clima naquela parte específica do Oceano, me valendo da experiência de outros navegadores. Todas as informações que eu puder ter acesso, colhidas no passado por antigos navegadores, são bóias que me ajudam a navegar melhor.
Esta é a importância do Conhecimento da Tradição, o qual facilita a navegação, mas não rouba a aventura da jornada.

Horizontalidade Maçônica e Verticalidade Rosacruz

Depois falamos sobre o foco das duas Ordens. Falamos da famigerada horizontalidade da maçonaria e da conhecida verticalidade da AMORC, aonde a Hierarquia é mais rígida e aonde as condições de discussão livre de idéias cada vez mais se tornam escassas.
Comentei com ele que precisamos, nós rosacruzes, recobrar a horizontalidade fraterna que nos caracterizou ao longo dos séculos, precisamos nos desfazer do medo de punições pela expressão livre de nossas posições e lembrar que a Verticalidade sem a Horizontalidade não forma a Cruz sobre a qual repousa a nossa Rosa.
Isso me preocupa muito. Conversei com ele muito sobre a característica  dos maçons de se visitarem, o que não acontece com os rosacruzes. Não sei em outras partes do país, por que a Rosacruz tende a ter o perfil de cada região, mas aqui em São Paulo, embora exista camaradagem entre os frateres não há a sociabilização que é comum entre os maçons. Não que não haja esforço para isso, sempre dos mesmos rosacruzes, que sustentam as colunas de seus corpos afiliados. Promovem festas, encontros , churrascos. Mas são eventos preparados, trabalhados, eventualmente muito bem, sucedidos, mas que não garantem que, mesmo que o evento seja bem sucedido, no dia a dia esta mesma camaradagem seja mantida, e a convivência seja tão intensa fora dos corpos afiliados como dentro deles.
Não sei como está no Rio de Janeiro, no Nordeste, em Paris ou em Quebec.
Só sei que tantos na Maçonaria, na Amorc e no Martinismo, os números continuam diminuindo, tanto na frequência às Lojas, Heptadas e Corpos Afiliados, quanto no interesse na sociabilização e na formação de uma egrégora sólida.
O que fazer? Horizontalizar a prática rosacruz seria bom, mas não suficiente, embora melhorasse o relacionamento profano entre os muitos iniciados da Ordem Rosacruz e da TOM, a Tradicional Ordem Martinista.
E o problema não é exclusivo das Ordens Iniciáticas mas das associações de serviço como o Lions e o Rotary.
Os relacionamentos humanos estão se esgarçando como um tecido que se rasga.
Precisamos reavaliar as estratégias de consolidação de nossas afiliações, precisamos dar atenção ao membro de modo quase individual. Só a informática pode fazer isso, se bem usada, na minha opinião.



Se o Grande Mestre de uma Potência Maçônica não pode visitar todas as Lojas de sua Jurisdição, institua-se a Vídeo conferência simultânea via Skype para todas as Lojas que se reúnem às segundas, às terças, às quartas ou em qualquer dia.
Se o Grande Mestre da AMORC e da TOM quer contato rápido e pessoal com seus corpos afiliados e Heptadas que faça o mesmo, na mesma noite, sem precisar se deslocar de Curitiba.
Estamos no século XXI. Novas estratégias devem ser pensadas, para que a Egrégora não se desfaça pouco a pouco, vítima de pouca agilidade administrativa, e da lentidão de procedimentos, hoje , graças a Tecnologia, absolutamente obsoletos e desnecessários.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A TURMA DO DEIXA DISSO E O ANJO OMAEL


por Mario Sales,FRC



Ao menos ninguém pode acusar este blog de ser um ambiente piegas, onde power points de auto ajuda se sucedem uns atrás dos outros.
Nos últimos dias, provocado em momento inadequado, manifestei-me de forma intempestiva e pouco polida. 
Um leitor do Blog, que pelo termo inicial , "Prezados", me pareceu familiar, embora assine como "Inc", que deve ser a abreviatura de "Incógnito", postou no blog o seguinte comentário: 
"Prezados, não entendo o porquê desta discussão. Ao fim e ao cabo todos buscamos o mesmo objetivo (assim eu espero), independentemente da filiação. Como dizia o próprio PAPUS, se formos analisar o início de qualquer Ordem, ela terá sido dissidente ou fundada por alguém, fato que não lhe retira o mérito. E, considerando que todos somos irmãos (como o cristianismo já prega desde seu nascimento), não existe ser mais ou menos legítimo para ser irmão de alguém. Abraços. em COVARDIA E LOUCURA
Flavio, meu três vezes irmão, me telefonou agora há pouco, enquanto eu estava no supermercado:"Voce anda muito bravo" disse ele; "Tenha calma", completou. 
É verdade. As emoções estão à flor da pele, por motivos bem mundanos, questões pessoais, nada a ver com misticismo ou elevação espiritual. É que a flecha kármica de Páris atingiu meu calcanhar fazem três anos, e eu, que me sentia invulnerável dentro da armadura abençoada por Palas Atenas, me vi caído ao solo, enfraquecido pelos fatos comuns da existência. E aí , o demônio da auto comiseração e da auto piedade fez o resto. 
Tenho lutado como posso contra isso, só que nessa luta, uma característica minha, pelo qual já fui várias vezes elogiado, que deveria ser marcante pelo menos aqui neste espaço, aonde eu deveria ter mais cuidado e ponderação, se desvaneceu: a paciência. 
Meu anjo protetor, Omael, o qual "ajuda as pessoas que estão em desespero a ter mais paciência, domina a proteção ao reino animal e influi na perpetuação das espécies e das raças; influencia os químicos, os médicos e os cirurgiões (como se cirurgiões não fossem médicos também)" , ao que tudo indica, perdeu a paciência comigo e me deixou por alguns dias. 
Bem que agora eu , místico sem dotes místicos, sem capacidade de vidência, incapaz de distinguir com clareza uma aura, sem nunca ter sequer visualizado nenhum fenômeno incomum, poderia receber algum tipo de ajuda de natureza mágica. 
Só que isto não é Magia, mas "pensamento mágico", uma expressão do discurso psicológico, não do campo iniciático, que denota esta vontade infantil de que os problemas se resolvam como que por encanto, e que sejamos subitamente retirados do Caos e transferidos para os jardins aonde jorram leite e mel eternamente. 
Só que, via de regra as coisas não são assim, e se precisamos, para ser bons místicos, de serenidade, precisamos, além disso, de maturidade. 
No campo das coisas hodiernas, os fatos são os fatos e o mito, mais mito que história, de Aquiles, jaz por terra. 
Daí este cansaço de ter de me explicar a quem não quer ouvir, de ser lido e comentado por quem não compreende o que comento, ou que simplesmente não concorda com minha linha de raciocínio, um direito inalienável de qualquer homem e mulher livre, mas de qualquer forma um paradoxo, este de ser, com assiduidade, lido por pessoas que não comungam com o rosacrucianismo spenceriano. 
Não faz sentido. 
Por outro lado, eu não tenho nenhuma importância, como esoterista, escritor ou intelectual; minhas opiniões não tem nenhum peso no rumo administrativo das minhas ordens, são apenas opiniões, honestas posições discutidas aqui como se eu estivesse conversando no cafezinho de um corpo afiliado, da Heptada, ou na "Sala dos Passos (não tão) Perdidos" de uma Loja Maçônica. 
Porque tanta celeuma por causa de idéias isoladas de um escritor mediano, de um blog lido por no máximo 10 pessoas, entre elas, Flávio, José Marcelo, Yamashita, Julio, Fernando e mais cinco anônimos? 
Não faz sentido. 
Não quero mais confrontos. Tudo isto é absolutamente inútil, desgastante e só satisfaz as emoções mais primitivas das quais todo estudante rosacruz deve se libertar. 
Flavio está certo, e eu, obviamente, estou errado. Mesmo que minha causa seja justa, meu modus operandi é primitivo e ineficaz. 
Existem outros caminhos para lidar com o contraditório. 
Hinduístas não conhecem a palavra "arrependimento"tão cara aos cristãos de todas a linhas, portanto não procuro com esta reflexão, de alguma forma, demonstrar arrependimento pelas minhas emoções recentes. Orgulho-me delas. Foram e são emoções honestas das quais nenhum homem na carne deve se arrepender. 
No espírito todos somos perfeitos e por isso, imóveis. 
Na carne nos mobilizamos, e movidos ou não pelo vento da Emoção ou pelo remo da Evolução, avançamos, melhoramos, nos aperfeiçoamos. 
Só não evoluímos pela omissão. 
No hinduísmo, a omissão é o único pecado. 
Eu não me omito de expressar meus sentimentos, independente de fazê-lo da maneira mais adequada ou não. 
Gostaria que todos fossem assim, extrovertidos, claros, confiáveis portanto quanto às suas intenções verdadeiras. 
O silêncio não é uma característica da sabedoria, mas da prudência ou do medo. 
Não organizei este espaço para ficar em silêncio, nem para causar constrangimento a liberdade de ninguém. 
Aliás, prezo que todos se sintam a vontade para expor suas posições, desde que com um mínimo de elegância e civilidade, e sempre, sempre assinando com um nome qualquer, e não com estes pseudônimos esotéricos que só servem aqueles que não querem o bom combate, o das idéias. 
Não me tornei místico para preservar o mistério, mas para levantar seu véu, para revelar a mim mesmo e a quem eu possa, aquilo que eu possa descobrir, desde que aquele que recebe a informação esteja apto a recebê-la. 
E sempre em um ambiente de serenidade e fraternidade, não em um clima de confronto e desgaste. 
Foi bom o seu puxão de orelhas Flavio como também as ponderações da "turma do deixa disso". 
Procurarei ficar mais sereno, dentro do possível. 
A flecha kármica de Páris ainda machuca muito meu calcanhar, e talvez por isso até Omael entenda que, sem paciência, é impossível ser um bom anjo protetor de um rosacruz carioca e filho de nordestinos como eu.

domingo, 12 de maio de 2013

COVARDIA E LOUCURA



por Mario Sales, FRC



"Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "INDIFERENÇA":
Frater procure um psiquiatra.

Postado por Anônimo no blog IMAGINÁRIO DO MARIO em 12 de maio de 2013 10:54 "




A internet é o paraíso dos covardes. Talvez seja o meio de comunicação mais rápido na disseminação de mentiras e ofensas, de modo anonimo, sempre, que o homem já conheceu.
Aqui é possível inventar, mentir, caluniar alguém, sempre de modo anonimo, já que o covarde caracteriza-se por sua incapacidade patológica de assumir aquilo que diz.
Ele não tem rosto, não tem nome, não tem identidade, e nesta zona de conforto se sente a vontade para dizer o que quiser sem consequências, sem retorno, sem pudor, sem senso de fraternidade.
Sua intolerância é semelhante e diretamente proporcional a sua covardia e, uma vez protegido pelo anonimato, destila sua maldade e agressividade de forma calma e segura.
E ainda é capaz de chamar os outros de Irmãos (Frater em latim). Que irmão seria capaz de agir com tal falta de ética, com tamanha ausência de caráter, com um nível tão baixo de dignidade?



Só alguém que não pertence, mas finge pertencer a uma Ordem Tradicional, pagando em dia mensalidades que lhe dão a ilusão de ser um iniciado, teria tão pouco senso de hombridade a ponto de se comportar com um profano.
Lembremos que a iniciação é um processo interno de transformação alquímica do homem chumbo em homem ouro, e o homem ouro é um ser humano digno, íntegro que, aja como agir, é sempre leal, de forma até ingênua, a ponto de assinar suas opiniões sejam elas quais forem, como um homem digno deve fazer.
É certo que a dignidade nunca foi mercadoria farta, mesmo entre esoteristas; basta ver o trabalho de Aleister Crowley, este sim capaz de arrebanhar admiradores e adoradores descontrolados, já que independente das leis de karma, usou de forma intensa o recurso de seduzir as massas ignaras com técnicas primárias de sugestão e indução, coisas que quanto mais fraca a mente, mais eficácia tem.
E mentes fracas abundam. Mentes tão sem energia que são incapazes de pensar por si próprias e precisam de alguém que as guie, parafraseando Marília Gabriela, mentes de carneiro a tal ponto carneirais que necessitam de um pastor.
Graças aos Mestres não são estes a maioria das pessoas que vem a este espaço. Só lamento que as manifestações positivas que recebo venham a maioria das vezes por email e não comentários no blog. Muitos não querem participar do debate aberto por vários motivos.
E assim, no espaço vazio deixado pelos bons rosacruzes, avançam os falsos rosacruzes, os de mente limitada e pouca sensibilidade mística, os incultos e os indiferentes.
Não sou dado a profetizar, mas arriscarei agora.
Tais pessoas necessitam ter cuidado. A mesma covardia que os caracteriza os perseguirá em sua vida pessoal.
Não é possível que aquilo que eu sou anonimamente não se torne eventualmente revelado, pois, na Lei Cósmica, não existem flechas que avancem sempre em frente, mas apenas e tão somente bumerangues, que retornam diretamente sobre aqueles que os lançaram.
Que o Cósmico os proteja, porque nós, os Iniciados, já estamos protegidos pela nossa própria dignidade, esta loucura santa que é característica daqueles que vivem a experiência da comunhão íntima coma Divindade.
Assim Seja

sábado, 11 de maio de 2013

INDIFERENÇA


por Mario Sales,FRC

"É verdade que, como gostamos da Ordem, reclamamos e ficamos aborrecidos com o comportamento de determinados Grande Oficiais; se não nos aborrecêssemos , significaria que (para nós) a Ordem é indiferente. Seria um sinal de que não teríamos um amor verdadeiro por ela."

De um email de um frater, como comentário ao post "Em Defesa da AMORC"




Administradores lidam mal com a diferença e a crítica. Por vêzes, porque esta demanda vem de forma agressiva e intempestiva. E em outras vêzes, porque supõem sem fundamento o que está sendo demandado.
Fora os comentários que visivelmente são feitos de má-fé,com intenções visivelmente ruins. 
A intensidade emocional de uma crítica, isto eu aprendi, não é diretamente proporcional a sua inadequação. 
Às vêzes dizemos coisas de grande importância no calor da emoção; e em outras vêzes, falamos com muita polidez, palavras venenosas e traiçoeiras. 
Aliás, a pessoa realmente desleal, via de regra é polida e educada. Só a intuição e a ausência de preconceitos pode nos ajudar a separar cada caso com Justiça, a virtude dos mestres , importante degrau da Escada de Rá, que todo rosacruz conhece. 
De qualquer forma, boas ou más, críticas são atitudes, são ações, escritas ou verbais, que denotam que o criticado, não aquele que critica, é o foco das atenções. 
Alguém que faz comentários ou reclamações acerca deste ou daquele procedimento, importa-se com ele, demonstra importar-se com aquela pessoa ou instituição que criticou. 
Ou pelo ocorrido ou pela Instituição serem importantes para si, de tal forma que é impossível manter-se indiferente. 
É mais ou menos como a atividade política. Quem participa desta atividade, seja através da via partidária, seja através de ONGs, mostra que se interessa pela qualidade da vida em seu país e mobiliza-se para poder aumentar esta mesma qualidade. 
Não quer ser um espectador dos fatos, mas um participante da História. 

Isto define cidadania. Isto define o ato de importar-se. 
E tal coisa, embora não seja, deveria ser comum nos relacionamentos, mesmo entre aqueles de níveis hierárquicos diferentes. O oficial mais importante de uma hierarquia qualquer deveria ser sempre aquele mais disposto a servir, mais disponível para o serviço, não o mais inacessível, não o menos presente, mas aquele que pudesse, por meios pessoais ou informatizados, fazer-se presente em todos os níveis da sua administração, sempre com alegria e um espírito aberto aqueles que o busquem para fazer suas ponderações, por mais maçantes e descabidas que possam parecer. Porque trazer opiniões e comentários ao seu superior hierárquico é uma forma de participar do processo administrativo, já que a Grande Mente é formada de todas, e eu digo TODAS as mentes de TODOS os seres humanos, aqui e em outros Mundos. 
E da forma errática, ao nosso olhar despreparado, como a Energia do Altíssimo desce sobre nós, ora manifestando-se aqui, ora acolá, ora naquele indivíduo de grandes qualidades intelectuais, ora naquele indivíduo simples e de poucas letras, é preciso estar atento a todos que nos cercam, pois de qualquer das bocas ao nosso redor pode vir a palavra divina. Palavra que é inspiração, conselho, orientação. Palavra que responde nossas questões secretas e reveladas. 
Lembro-me da passagem do Gita em que Krishna se revela em sua forma real a Arjuna, forma tão grandiosa que ao contemplá-la, Arjuna implora depois de poucos instantes que Krishna retorne a forma humana por que ele não suportaria continuar a contemplá-lo. 

E parte da descrição diz de Krishna, em sua forma divina, no capítulo XI, versículo 16 : 
16. Ó Senhor do Universo, ó forma universal, vejo em Teu corpo muitos e muitos braços, ventres, bocas e olhos, expandidos por toda a parte, sem limite. Em Ti, não vejo começo, meio nem fim. 
Esta passagem é esclarecedora da concepção hinduísta da Divindade como um somatório de mentes que cria , por si, uma Super Mente, uma Consciência Cósmica, capaz de ser acessada e pesquisada, como um GOOGLE Cósmico, mais conhecido como Akasha. 
Os Registros Akhásicos guardam toda a informação porque são formados de todas as mentes que produzem informação, assim como a Internet é formada de todos os computadores ligados a ela. 
Por isso todos querem opinar e comentar aquilo pelo que se importam. Seu amor aquela pessoa ou instituição automaticamente faz com que esteja em harmonia com todas as coisas que dizem respeito aquele assunto e quanto mais se importar, mais inspirações receberá da Consciência Cósmica, inspirações estas que quererá compartilhar. 
Muitas vezes dizem em esoterismo que o silêncio é uma manifestação de sabedoria. 
Partindo do princípio de que não somos na maioria sábios, eu acrescentaria que , na verdade, no silêncio ocultamos apenas nossa indiferença ao que ocorre ao nosso redor. 
Esta mesma indiferença que torna as pessoas apáticas e de pouco entusiasmo, em místicos sem paixão. 
Reputo a Indiferença de muitos quanto ao destino da Ordem Rosacruz como o nosso pior inimigo no momento, trevas que avançam, e que devem ser detidas o mais rápido que pudermos. 
O futuro da própria Ordem e a sua existência neste plano depende deste combate. 
Essa é a minha opinião.

terça-feira, 7 de maio de 2013

EM DEFESA DA AMORC


por Mario Sales, FRC



“Por várias vezes em minhas cartas anteriores eu fiz referência às dificuldades que talvez tivéssemos no futuro para visitar a terra dos Faraós e mantenho essa posição, sempre esperando, todavia que eu me engane. Como resistir à pressão de fanáticos e de terroristas cujas ações e influência progridem lenta, mas certamente há algumas décadas? É um longo debate que não diz respeito unicamente ao Egito, mas a todo o mundo. Não cabe a mim abri-lo nessa carta, mas temo ser pouco confiante quanto ao futuro de nossas sociedades se nossos dirigentes permanecerem surdos e cegos. No ritmo em que as coisas vão, todas as conquistas do século XX, condições da mulher, respeito às crianças, tolerância religiosa etc., logo serão apenas uma lembrança, se o ser humano perder, todavia ...o simples direito de pensar. 

Frater Christian Bernard, na carta de 2013 – Imperator AMORC.”

Por motivos óbvios, simplicidade de espírito antes de tudo, as pessoas que me vêem aqui analisando criticamente os problemas internos das três nobres ordens a que pertenço, por mais de uma vez me confundiram com alguém que milita contra as mesmas.



Não entendem que parte dos problemas destas ordens advém exatamente da falta do hábito dialético e que as modernas tecnologias de comunicação permitem que tenhamos um convívio e uma troca de idéias muito mais dinâmica que no passado, principalmente se for uma troca franca e elegante, a qualquer momento, estejam os estudantes rosacruzes e os oficiais administrativos aonde estiverem.
Não há mais necessidades de cartas e textos passeando pelos canais dos correios se podemos ter um diálogo direto via Skype.
E se trouxe este hábito de refletir publicamente sobre temas tabu foi exatamente para lançar luz sobre os mesmos.
Aqueles que lêem meus posts podem não concordar, podem sentir desconforto com o que é colocado, mas dificilmente ficam alheios ao que foi discutido e talvez por uma razão bem amorquiana,(o medo de opinar e de expressar suas posições de maneira clara, hábito disfarçado de tolerância e compreensão, mas que na verdade não passa de puro receio e insegurança) não participam do debate como eu gostaria, mesmo que discordando de minhas posições, e expressando as suas.
Tudo isso considerado, o que faço aqui é, à minha maneira e do meu jeito, lutar pela qualidade do trabalho de AMORC. As pessoas que vem ao blog devem entender que não posso ir contra a Ordem na qual consegui todo meu equilíbrio e cultura esotérica. Aliás, as únicas pessoas que pouco comentam meus posts são os membros de AMORC. Martinistas e Maçons participam alegremente das discussões.
Dos temas relacionados a AMORC, não costumo receber a participação de membros ativos, que como eu tem uma dívida de gratidão com esta nobre e tradicional Ordem, e a qual jurei defender de todos os detratores que tentassem agredi-la.
Recebo, isto sim, o apoio de quem não desejo, que equivocadamente acham que foram chamados a discussão e que não fazem parte dos quadros da nossa Ordem.
São pessoas que tem um passado não muito bom com AMORC, que se afastaram da confraria, que entraram em rota de colisão com os ensinamentos depois que os receberam. Beberam da água e esqueceram da fonte que os alimentou.
Agora que tem alguma informação, julgam-se aptos a tecerem comentários críticos, estes sim com o intuito de ferir a honorabilidade de AMORC e de seus fundadores.
Ao contrário deles, tenho minhas posturas e me coloco não como inimigo ( e quem me conhece sabe disso) mas na posição de adversário dialético e leal deste ou daquele tipo de postura que julgo, em minha limitada percepção, que sejam contrárias as posições originais e fundamentais de AMORC como Ordem.

Recebo frequentemente apoio às  minhas colocações de outros artesãos como eu, não quaisquer artesãos, mas aqueles que lutaram e lutam por AMORC, aqui em São Paulo, na Bahia , no Nordeste, o que me causa a sensação de que não estou falando meras tolices, mas expressando sentimentos que não são apenas meus mas de muitos que, ao contrário do que faço, pelos mais variados motivos, se calam.
Alguns falam que aguardam a conclusão de suas leituras monográficas para sair da Ordem e isto em muito me entristece, porque estes são os estudantes mais antigos,que passaram por todos os cargos administrativos e ritualísticos, que estão mais do que aptos a se tornarem baluartes de nossa Ordem, mas pensam em deixá-la, porque não encontram eco em seus anseios, em seus questionamentos.
Isto não significa que a Ordem queira que eles saiam, mas sim que, por alguma razão desconhecida e provavelmente inconsciente, não sabe como mantê-los.
Nós, membros da AMORC, membros desta Egrégora, pelo bem de nossa Ordem , não devemos deixá-la, pura e simplesmente.
Talvez AMORC hoje seja muito grande e talvez por isso pareça um tecido mais esgarçado, esticado, aonde nem todos se sintam confortavelmente abrigados.
Mas é exatamente por isso que devemos nós, os mais antigos, cerrar fileiras em torno dela e fortalecê-la, unindo-nos para protegê-la de tudo que possa ser prejudicial.
Helio de Morais é nosso Grande Mestre e devemos, independente de nossas posições, auxiliá-lo a conduzir da melhor maneira possível a Grande Loja de Língua Portuguesa, atentos ao que seja necessário para conseguir viabilizar esta ajuda.
Infelizmente ainda não temos um canal direto com o Grande Mestre e quando for a hora, o Cósmico proverá.
De qualquer maneira AMORC é nossa casa e devemos, juntos, mãos unidas, cercá-la em uma corrente de proteção para que se fortaleça, não por nós, mas por todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer a mensagem rosacruciana e seus maravilhosos efeitos.
Eu lembro de mim antes de pertencer a rosacruz nesta encarnação e me comparo com o que sou hoje.
A diferença para melhor é imensa e credito diretamente a rosacruz este ganho de qualidade.
Gostaria que outros jovens de 17 , 18 anos como eu pudessem receber o que eu recebi, e pudessem crescer com isso, como eu cresci.
Por isso faço aqui neste espaço, repito, um exercício de reflexão permanente sobre os caminhos administrativos de AMORC, não sobre os místicos ou os esotéricos.
Todas essas reflexões visam defender AMORC , melhorá-la, aperfeiçoá-la para o século XXI. Não podemos , pelo bem de AMORC, dormir sobre os louros ou trair o pensamento criativo, inquieto, e o grande senso organizacional de Harvey Spencer Lewis.
Em defesa dos rosacruzes e de seu sagrado trabalho de espargir a Luz;  em defesa de AMORC como veículo físico deste trabalho.
Precisamos manter nossas mentes alertas pois as ameaças a dignidade humana são permanentes e a forma mais segura, como lembra Frater Cristian Bernard, nosso Imperator é manter o pensamento livre. Pois "...No ritmo em que as coisas vão, todas as conquistas do século XX, condições da mulher, respeito às crianças, tolerância religiosa etc., logo serão apenas uma lembrança, se o ser humano perder ...o simples direito de pensar."
Pensar, segundo nosso Imperator , é um direito do homem em geral, como também do rosacruz.
Eu diria mais, é um dever.
Não tenhamos medo de fazer o que nosso Imperator nos recomenda. Em defesa da dignidade humana e em defesa de AMORC.