Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 2 de abril de 2010

À TARDE, EM FAMÍLIA


Por Mario Sales,FRC,S.:I.:,M.:M.:





Stanislas de Guaita

Sexta feira da paixão. Cunhado e esposa com seus filhos, em visita, preparamos a ceia.
As crianças ( e até os adultos) se dividem entre desenhos animados e vídeo games antigos.
Em meio a este delicioso burburinho doméstico, leio dois textos de poucas páginas cada, ambos biografias de Marie Victor Stanislas de Guaita, que fez sua transição precoce aos 36 anos, como a confirmar que “ o misticismo encurta a vida”.
Diz uma delas que Charles Barlet comentava acerca da obra de Guaita:
“A Harmonia dos contrários é a fórmula mais indicada para caracterizar tua obra... Teu método é, ao mesmo tempo, analítico e intuitivo... Nem pontífice nem inovador: tu serás o fiel apóstolo das verdades que recebestes”.
Solitário, às vezes recluso em seu apartamento de Paris por semanas, Guaita foi talvez o mais importante cabalista não judeu do final do século XIX.
Seu trabalho foi fundamental na continuação da tradição, no campo da alquimia, na cabala e no combate ao charlatanismo e ao satanismo, esta manifestação imbecil de seres perturbados por crenças infundadas na busca de um poder que jamais terão.
Com Osvaldo Wirth, a partir de 1887, nasceu uma sólida parceria de trabalho intelectual místico, que gerou a união do simbolismo maçônico com o simbolismo do Tarô, chamado “O Tarô dos Imaginários da Idade Média".
Na companhia de Papus, Barlet, Julien Lejay,Chaboseau, Polty,Marc Haven, Victor Emile Michelet,Sedir, Péladan, fundou uma sociedade chamada Escola de Magnetismo, em Lyon, onde se ensinava Cabala,Tarot, Astrologia,História Oculta, Magia e Medicina Oculta.
Criou também uma nobre ordem Cabalista para desenvolver o conhecimento do Cabala naqueles que tiveram o privilégio de desfrutar de sua presença neste mundo chamada Ordem Cabalista da Rosa Cruz, junto com as mesmas personalidades citadas.
Vivia 5 meses por ano em Paris e 7 meses no Castelo da família, em Alteville, com sua mãe, aonde aproveitava para visitar os doentes dos vilarejos vizinhos e praticar uma terapêutica caseira que herdara do pai.
Foi um grande ocultista, mas não conheceu a vida em família nem a graça de ter filhos e do convívio em família.
Enquanto segue este almoço, aqui em casa, entre as gargalhadas de sempre, penso na solidão desses homens e embora saiba que se foram solitários, o foram por opção, mesmo assim sinto que não tenham conhecido o ambiente comum doméstico.
Isto porque a família pode ser a fonte de muitas neuroses, ou de todas, mas também é a fonte de nosso equilíbrio e pode , se bem administrada nos dar a contraparte que todo místico precisa para não esquecer que para a cabeça ficar no alto é preciso que os pés estejam no chão.
A matéria em que estamos, e acredito que ele concordaria comigo, não é uma maldição, mas uma oportunidade de servir, melhorar e aprender. Abençoada seja.
Para encerrar, transcrevo um trecho da bela biografia pelo amado Irmão Sephariel da Hermanubis USA que sintetiza bem a impossibilidade de avaliar um ser humano deste calibre:
“... é impossível apresentar o interior de um Iniciado de sua envergadura e revelá-lo ao publico, sem efetuar uma grande profanação. O homem interior só se deixa revelar à própria Divindade. Aqueles que vivem no exterior recebem apenas os reflexos de sua grande luz. Da mesa do Senhor as migalhas caem no chão e são digeridas por todos aqueles que aspiram a poder, algum dia, partilhar do celeste ágape.
Possam todos os iniciados que se baseiam na vida e obra dos divinos Mestres da Humanidade, um dia participar de tão glorioso banquete.”
E eu digo, amém.

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