UM EXERCÍCIO SOLITÁRIO, POÉTICO E FILOSÓFICO, BASEADO NO PRECEITO ROSACRUZ DA MAIS COMPLETA LIBERDADE (POSSÍVEL) DENTRO DA MAIS PERFEITA TOLERÂNCIA (POSSÍVEL). O MARTINISMO E O ROSACRUCIANISMO COMO REFLEXÃO.
Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).
domingo, 30 de novembro de 2014
domingo, 23 de novembro de 2014
DAMARU
por Mario Sales, FRC,SI,M.:M.:
Não há existência sem o ritmo, dos dias e noites, do pulsar
do coração, da respiração que nos dá o alento vital.
Existem os ritmos da digestão e dos intestinos, do sono e da
vigília, ininterruptamente se sucedendo através dos meses, dos anos.
Estações também se sucedem, monotonamente, mesmo que suas
aparências contemporâneas fiquem menos nítidas a cada manifestação.
Este pulsar da vida lembra as batidas de Shiva em Damaru,
seu tambor, com o qual marca a pulsação da existência na criação, enquanto
dança. A dança de Shiva representa a instabilidade das coisas do Universo e só seu ritmo
constante dá um senso de equilíbrio dinâmico dos fenômenos.
O Shiva que dança, conhecido por Shiva Nataraja, (que toca o
seu tambor com uma das quatro mãos enquanto em outra segura o Trishula, seu
tridente cujas pontas lembram os três modos da manifestação, rajas, o rápido; tamas, o lento e sattva, o equilibrado), é o símbolo na Trimurti ou trindade
indiana do aspecto renovador da natureza, que a todo momento se mantém em
movimento, seja na vibração invisível das moléculas, o movimento browniano, seja
nos maremotos, terremotos e furacões.
Embora, como lembra Marcelo Gleiser em seu último texto, a
instabilidade das coisas nos aflija e a estabilidade nos acalme, ambas serão
sempre parte de nossa existência, dançando uma com a outra, como um casal
enamorado.
Não esquecer que na imagem clássica de Shiva dançarino ele pisa as costas de um anão, "símbolo da ignorância interior que nos impede de perceber o nosso verdadeiro eu".
Assim são as coisas.
E lembrando Darwin, adaptemo-nos ou pereçamos.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
GRUPO VIRTUAL DE ESTUDOS MARTINISTAS Va PARTE
TEMA GERAL ATUAL: CABALA
TÓPICO PARTICULAR: A ÁRVORE DA VIDA
TENSÕES
Mario Sales, Flavio Bazzeggio, Wilson
Hackmey e outro
Começamos este sábado lendo um trecho muito inspirador do nosso texto base, o qual diz que "...segundo Isaac Luria, a Luz Divina se fez brilhar na cabeça de Adão Kadmon, e (dali) se irradia através de seus olhos, boca, orelhas e narinas. Aquela que jorra de seus olhos, atravessa as sephirot para ser recolhida nos vasos."
Ora, é uma metáfora interessantíssima. A maneira como nos relacionamos com o mundo é através de nossos sentidos. É interessante que este trecho desenhe um jorrar de luz através dos nossos órgãos perceptivos, olhos (visão) boca (paladar, gosto), orelhas (audição) e narinas (olfato). Mais simbólico ainda é a afirmação de que "Aquela (luz) que jorra de seus olhos, atravessa as sephirot para ser recolhida nos vasos." Ou seja, é através do Olhar que se cria a realidade.
Vemos o que compreendemos, compreendemos o que podemos mental ou fisicamente enxergar.
Foi assim, através de um olhar diferente de Flavio, que entendemos novos aspectos da interpretação da Árvore.
No estudo desta semana do Grupo Virtual de Estudos Martinistas, no momento trabalhando o universo conceitual da Cabala Judaica, eu, aqui em Suzano , Hackmey, em Guarulhos, Flavio, em São Paulo e nos minutos finais, Fernando do Rio Grande do Sul, conseguimos um fato raro, ou seja, fazer duas abordagens interessantes e inovadoras em sábados sucessivos de um assunto tão profundo quanto os conceitos cabalísticos.
É natural que períodos menos criativos sucedam períodos de grande criatividade. E já que sábado passado foi um encontro muito enriquecedor, seria perfeitamente compreensível que hoje o encontro fosse apenas protocolar. Não foi assim, felizmente.
Flavio trouxe uma contribuição, em uma palavra, belíssima, à nossa reflexão.
E que contribuição foi essa?
Segundo ele, da leitura do texto em que nos baseamos, concluiu que os vasos aonde a Luz da Criação de Deus, o Kav, foi recolhido no processo de formação da Criação, e que depois se romperiam, no fenômeno conhecido como Shevira Há Kelin, não pré existiam à descida da Luz como ingenuamente supomos.
O que ele observou, corretamente a meu ver, é que as tensões geradas pelo atravessar gradual dos planos de densidade cada vez maiores (Atzilut, Beriah ou Briah, Yetzirah e Assiah) entre o raio que penetra o meio e algumas áreas em particular do meio atravessado, por assim dizer, materializaram este estado de tensão neste ponto, digamos assim, superaquecendo a região até a explosão.
De modo que o próprio movimento de descida da Luz de Deus foi desenhando a localização das sephiroth da Árvore da Vida, ponto a ponto, sefira após sefira, na medida que atravessava densidades cada vez altas.
Isto me levou a visualizar, em seguida, uma deformação na imagem ortodoxa da árvore, que como normalmente é exposta, compõe-se de triângulos regulares aonde o raio de Ain Sof zigzagueia até Malkuth para de lá retornar.
O certo, a partir da colocação de Flávio, é pensar uma Árvore Assimétrica, já que o stress é progressivamente maior nível após nível, sefira após sefira, a ponto de gerar pontos de tensão energética e explosões, no limite; pontos de tensão estes que foram cognominados "vasos", mas que na verdade surgiram a partir do choque da energia que desce ou emana do Ain Sof com a densidade dos meios que atravessa, progressivamente, como uma faca que desce cortando um pedaço de pão.
Cada sefira seria, pois, habitante ou resultante de um plano de densidade diferente e não dividiria este plano com a sefira anterior.
A Assimetria da Árvore talvez fosse melhor representada por triângulos irregulares, assimétricos como representado na imagem anterior, o que pode ser até tridimensionalizado como uma espiral.
O raio do Ain Sof, Kav, já não atravessa quatro planos apenas de densidade, mas 10 , e cada sefira é, não um vaso estático, mas um ponto de tensão entre a energia e a densidade específica de um destes dez planos.
Isto resultaria em múltiplas explosões que aparentemente seriam "vasos", continentes, que explodiriam pela intensidade do conteúdo, mas que, na verdade, são explosões que resultam, não da incapacidade de contenção dos vasos, mas da incompatibilidade da energia pura com a densidade própria de um plano ou outro.
Mas que importância tem estas reflexões (para usar mais um termo que fala da luz) sobre a vida do Cabalista?
Primeiro: a percepção de que as sefiroth estão, sim, hierarquicamente dispostas, e algumas das virtudes da Árvore serão, sequencialmente, de frequência mais elevadas do que outras ou, dito de outra forma, a manifestação de virtudes posteriores dependerão de virtudes anteriores.
Como exemplo, a Luz de Deus, a Coroa , Kether, seria condição si ne qua non para a sabedoria.
Não seria possível, visto deste ângulo, a sabedoria, sem alguma noção, mesmo que inconsciente, da existência de uma entidade superior de onde e para onde todas as coisas provém e retornam. A espiritualidade viria sempre antes da sabedoria, que por sua vez , sempre antecederia o mero entendimento intelectual, o que nos previne quanto a falsa suposição de que acumular informações e ser capaz de fazer correlações entre dados seja suficiente para entender verdadeira e profundamente a existência. O entendimento intelectual só é real e útil se provém da sabedoria, senão é apenas "klipa", casca vazia.
Da mesma forma, só uma pessoa que tem o poder da reflexão sabe que ser misericordioso é uma atitude mais sensata do que ser cruel. É apanágio de homens inteligentes e sábios a misericórdia, a capacidade de apiedar-se do sofrimento do alheio, não por bondade, mas pela compreensão da natureza humana, de que estamos todos juntos nesta existência e ajudar os menos afortunados é uma ato de inteligência por agregar mais uma pessoa ao conjunto dos que lutam pelo Bem, por elevar o nível e melhorar a sociedade como um todo através de um ato bondoso, nem que seja com uma única pessoa, que será transformada por este gesto de bondade e, por gratidão, sentir-se-á obrigada a repassar a outros o bem que recebeu, como o personagem Jean Valjean dos livro "Os Miseráveis" de Victor Hugo.
Um ato de misericórdia, Hesed, é pois, um ato que deriva da inteligência (Binah). A inteligência gera a Misericórdia que gerará, por sua vez, a verdadeira Justiça, Geburah, aquela que perdoa, compreende e reeduca, não apenas pune.
A rigor, nenhum de nós erra por maldade, mas sim por ignorância. Mais lucraria a sociedade se em vez de punir os erros conseguisse recolocar no caminho do Bem os infratores, pois precisamos de todos nesta luta.
Isto é sempre possível? Não, nem sempre, mas o ideal seria que nosso amor à Humanidade, ao Adam Kadmon, gerasse em nós um espírito de Misericórdia suficiente para que buscássemos realmente Entender as razões por trás do erro, e não simplesmente retaliar, punir, maltratar aquele que, por ignorância, maltratou e feriu a sociedade como um todo.
Só uma justiça devidamente alinhada com a Misericórdia pode gerar e ver a verdadeira Beleza (Tipheret) do Mundo, aqui não apenas expressão do que é esteticamente agradável, mas acima de tudo , do que é Harmônico em si.
Na vida em Malkuth, somente um indivíduo equilibrado e harmonico, harmonia esta proveniente de uma visão espiritual, sábia, culta e misericordiosa do mundo a sua volta, pode ser bem sucedido em todos os sentidos, seja físico ou psicológico, sucesso e Vitória esta (Netsah) sobre as aparentes contradições da vida em Malkuth que restaura o equilíbrio do Mundo.
Este Iluminado é, na Terra, a verdadeira presença do Ain Sof , e apenas por estar no Mundo torna este mesmo mundo mais Belo (tipheret).
São estas as condições para a manifestação pois, da Glória (Hod) de Deus na vida de um ser humano, Glória esta que sustenta a existência e que é a Fundamentação ou Fundação (Yesod) da vida no Reino (Malkuth), ou de outra forma, do Reino da Vida.
Não fossem pessoas assim ( e graças a Deus são muitas) a vida no mundo seria inviável, pois tais seres são forças de construção permanentes que garantem o crescimento saudável do tecido social e, ao longo das eras, a evolução da Humanidade (o Adão Kadmon) como um todo.
Segundo: é importante aqui especular também que este raio que se afunila plano após plano é um criador permanente de Almas, já que podemos concluir que as explosões dos "vasos" não aconteceram e pararam, mas continuam acontecendo toda vez que o Kav desce do Ain Sof e mergulha, através do Ain Sof Aur em Kether e depois na "Árvore", agora entre aspas já que ficou clara sua natureza de representação conceitual e não realidade factual.
Terceiro, como o raio desce em forma pura, não modulada, e vai se modificando a cada sefira até Malkuth, a Alma, ao ascender no retorno ao Ain Sof, encontrará uma liberdade maior a cada nível, exatamente porque, moldada pela experiência em Malkuth, este facho de Luz que retorna ao Ain Sof , aperfeiçoado pela experiência, sobe menos caótico e mais regular. É talvez por isso que o retorno à fonte deve ser mais rápido que a viagem de descida aos planos mais densos.
Cada sefira representa um ponto de refração e modulação de um raio que se refrata sucessivamente, nível após nível, e se complexifica, ele que antes era apenas um.
O fundamental a extrair deste arrazoado é que a Luz não chega aonde chega e como chega de modo incólume e suas alterações, suas modulações, são essenciais para que assuma a forma que possui em Malkuth, e para que Malkuth seja do jeito que é, um local dual e contrastado nesta dualidade, mas também uma região aonde o progresso do espírito imortal é possível.
Lembremos que Netsah significa Vitória na acepção de Maestria, superação das limitações e da ignorância e domínio sobre um conhecimento ou técnica, e portanto a Glória (Hod ) em Malkuth só é possível após o alcançar da Maestria, e esta só é possível pela conjugação das virtudes ou condições anteriores.
São algumas das interessantes conjecturas teóricas do maravilhosamente produtivo estudo deste sábado.
terça-feira, 11 de novembro de 2014
domingo, 9 de novembro de 2014
"AARON GOODWYN - ATONEMENT"
Salmo 96
1 Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra.
2 Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia.
3 Anunciai entre as nações a sua glória; entre todos os povos as suas maravilhas.
4 Porque grande é o Senhor, e digno de louvor, mais temível do que todos os deuses.
sábado, 8 de novembro de 2014
GRUPO VIRTUAL DE ESTUDOS MARTINISTAS: CABALA E AS PROJEÇÕES NA ÁRVORE DA VIDA.
por Mario Sales, FRC,SI,CRC gr.18°
Sabadão, 9 e meia da manhã.
Hora é dia de estudar Martinismo, especificamente Cabala.
Não atualizei para todos que já participaram destes encontros virtuais, mas interrompemos a leitura do Ministério do Homem Espírito, me perdoem o que vou dizer, por completa impossibilidade de aceitar a melancolia de Saint Martin.
Saint Martin é um grande espiritualista, mas é um homem muito triste, que quase o tempo todo lembra o quanto estamos mergulhados em um mundo imperfeito e o quanto somos imperfeitos. Essa é a visão de um religioso, não de um iniciado. Já discuti este tópico, mas, vá lá, vejamos uma outra vez.
Ver o mundo apenas como ele se apresenta à nossa percepção, o fe-númeno, que dá origem ao termo fe-nômeno, não deve ser suficiente ao místico para tecer considerações e juízos de valor sobre esse mundo, lembrava Kant. No caso de iniciados, precisamos, ao menos, se somos homens de fé e tementes a Deus, crer que a sua criação não é tão imperfeita quanto aparenta aos nossos despreparados olhos.
Ver o mundo através dos olhos de Saint Martin é lamentá-lo, é querer que ele melhore mas partindo do princípio de que é muito, muito ruim. Qualquer melhora portanto será difícil, lenta e penosa.
Ora, partindo do princípio de que, para o místico, religioso ou não religioso, a concepção de mundo que nos vai na mente é o próprio mundo que contemplamos, pensar o mundo como simplesmente um mar de lágrimas e tormentos é crer naquilo que nossos sentidos percebem, é não ser capaz de ultrapassar os véus de Maya, os sete véus de Ísis, é não compreender a noção de Ilusão Perceptiva, tão clara hoje para místicos quanto para psicólogos.
O iluminado, ou pelo menos o iniciado, não é nem pode ser triste.
Ele vê o mundo através de lentes transparentes, nem marrons, nem vermelhas e nem azuis.
O mundo sem disfarces é belo e funcional e seu equilíbrio é, embora dinâmico, permanente.
O Mal, ou o aspecto Sinistro da realidade, não é expressão única do real, mas parte dela em combinação com o Bem, ou o aspecto Dextro, e um sem o outro não são capazes de gerar existência.
Osho, em uma entrevista, chocou seu interlocutor, um cristão ocidental, quando afirmou, de modo correto esotericamente, que os Demônios (antropomórficos) não existiam já que um Deus (antropomórfico) não existia também. Na cabeça do entrevistador, o que ele afirmava é que era ateu, ou algo equivalente.
Na verdade ele dizia que entender o Universo através de um de seus polos é o mesmo que não entender nada, mas ater-se a aspectos fenomênicos, parciais.
Na verdade, não há deus ou demônio em si, mas apenas energias de polos opostos, que se somam e complementam para gerar a criação em si.
Louvar ou divinizar um ou outro polo é limitar o Deus Verdadeiro, o Universo, a Criação, à apenas uma de suas faces, o que é equivocado, novamente, por ser parcial. O verdadeiro iniciado não pode ver o mundo dessa forma.
E foi por isso que ao ler que "o primeiro grau da cura que o homem tem de fazer em si mesmo consiste então em separar dele todos esses humores corrompidos e secundários que se acumularam nele depois da queda"[1] que resolvemos interromper esse tipo de leitura, por mais que reconheçamos a nobreza de seus propósitos, a dignidade de seu esforço.
Passamos ao estudo da Cabala segundo os ensinamentos da Tradicional Ordem Martinista.
Já lemos sobre a história da Tradição do Cabala, sua evolução desde o Misticismo Merkavah, ou da Carruagem, baseado na visão de Ezequiel, capítulo 1, até a poderosa reformulação feita por Isaac Luria, com as noções de Shevira Hakelin, a quebra dos vasos, Tikum Olam, a reparação do mundo estilhaçado, e a interessantíssima idéia da retração do Altíssimo que possibilitou um espaço para a Criação, o Tzim Tzum.
Lemos sobre letras hebraicas, aonde inclusive presenteei os irmãos com cópias do curso sobre o assunto que já levei à alguns corpos afiliados e à Morada do Silêncio, com preciosas e enriquecedoras contribuições do inesquecível Reginaldo Leite, meu amigo e mestre de devoção neste e em outros assuntos.
Participou da última reunião o Ir.: Fernando do Rio Grande do Sul, com intervenções de muita sensibilidade e erudição. Ficamos ele, eu e Flavio semana passada, ainda trabalhando conceitos de "O Ministério... ". Já havíamos parado de ler "O Ministério...", mas como Fernando é um aficcionado pelo trabalho de Saint Martin, assumiu o papel de seu defensor em função da avaliação que fizemos. E o sábado, mesmo com o estudo de Cabala já no meio, foi de modo excepcional, novamente Martinista.
Hoje, no entanto, estudamos eu , Flavio e Wilson Hackmey que voltou da Bahia, e foi a vez de Fernando não participar. Frater Francisco Canalli também não compareceu mais depois de uma participação, provavelmente pela mudança do horário ou obrigações com a Heptada (átrium) de Mogi das Cruzes.
O estudo de hoje valeu pela análise da Árvore da Vida e as sephirot, e por uma abordagem espacial diferente da mesma.
Embora às vezes, não pareça, sempre existe uma forma nova de ver um conceito antigo.
Por exemplo, a Árvore, como é ensinada, é um esquema vertical. Esta forma linear de alto abaixo limita a possibilidade de compreendermos alguns aspectos interessantes da representação deste esquema esotérico tão caro aos cabalistas.
Especulamos na reunião, eu Flavio e Wilson o seguinte: e se modificássemos a posição da Árvore do vertical para o Horizontal?
Senão vejamos:
Ao invés disso, horizontalizemos:
Muito bem, mas e daí? Ao colocarmos a árvore na horizontal, deitada, vemos Kether ficar no mesmo plano que Malkuth, e entendemos melhor a noção de que a energia que antes descia no aspecto vertical, emana, propaga-se, na apresentação horizontal, de Kether para Malkut, e é mais fácil ver que a energia tem um movimento bidirecional, indo e voltando através das sefiras. Malkut, entendido como um espelho, reflete a luz que vem de Kether de volta para a fonte de onde emanou, de forma que Malkut é o espelho onde Kether se contempla, e a criação, vista desta forma, é um grande exercício narcísico.
Um dos conceitos discutidos se coaduna com esta concepção reflexiva da criação.
É sabido que os cabalistas consideram que a Árvore da Vida é uma expressão da face de Deus "e o meio pelo qual o invisível adquire certa visibilidade".
Assim, dividem-na em duas partes: Arik Anpin, que em grego é Macroprosopo (O Grande Rosto ou Grande Face) e Zeir Anpin, que em grego é Microprosopo (Pequeno Rosto ou Pequena Face).
A Grande Face compreende as três sephirot superiores, Kether, Hochmah e Binah; e a Pequena Face as seis inferiores, Hesed, Gevurah, Tiphereth, Netsah, Hod e Yesod. Estas se condensam e manifestam em Malkuth, a décima e ultima sefira.
O nome Grande e Pequena Face não é feliz ao descrever o conceito. Poderíamos de modo mais fiel falar em Face Superior e Inferior, ambas do mesmo tamanho; só que naqueles tempos, os adjetivos "grande" e "pequeno" referiam-se mais a uma hierarquia de importância do que propriamente a uma descrição de tamanho; algo mais qualitativo do que quantitativo.
A árvore em pé: descida.
propagação
Em nosso momento, não usaríamos a mesma metáfora, fiéis que somos a nossa objetividade contemporânea.
O importante é que ver a Árvore em pé supõe a imagem sendo refletida de baixo para cima e emanada de cima para baixo. E se existe uma Árvore em pé é porque, aristotelicamente, o que está no alto, espacialmente, é superior qualitativamente, da mesma forma que, no espaço, o que está embaixo deve ser inferior em qualidade. Esotericamente, no entanto, não é assim.
O que diz a Tábua de Esmeralda, na sua segunda linha?
"(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.”
Vejam a frase, leiam com atenção. O que está embaixo é como o que está em cima. Malkuth está embaixo. A frase não se refere a nenhuma diferença de qualidade, só de posição. O Homem está embaixo. O que a frase diz é que o Homem, o Mundo, é como Deus que está em cima, idêntico em importância e poder.
Não é isso que a maioria das religiões ensinam. Para as religiões, isto seria uma blasfêmia.
Elas falam em um Criador e uma Criatura, um ser que pode tudo e sua criatura, que não pode quase nada.
Um antagonismo que lembra a noção hierárquica das nobrezas humanas, transferida para a compreensão do mundo espiritual.
Ora, se Deus é o Criador, se ele é Todo Poderoso e nos criou, estamos separados dele como a escultura e o quadro estão separados do artista. Se não existe esta divisão, Criador/criatura, então temos o mesmo poder, mas também a mesma responsabilidade. Somos jardineiros da criação e cuidamos de suas rosas tanto quanto o senhor do jardim. O conceito de Criador é pobre porque oculta uma série de pressupostos, não necessariamente verdadeiros.
Por exemplo: Deus como Criador, temporalmente, vem antes do homem. No tempo linear, existe um antes e um depois. O antes é antigo ou muito antigo e o depois é o mais recente.
Ora, um Deus eterno contrapõe-se a noção de um Deus apenas antigo, pois por mais antigo que este Deus possa ser, por ser datado teve um inicio, e portanto não é mais eterno.
Ou Ele é eterno, e por isso não pode ser antigo, ou Ele não é eterno e teve sim, um princípio, o que vale dizer, terá um fim.
Ora, supor um ser Onipotente limitado, seja em uma ou em outra extremidade do que chamamos (para usar um termo de Henri Bergson) Duração,(o tempo linear), é contraditório do ponto de vista lógico, mas é algo repetido muitas e muitas vezes, por muitas mentes menos elaboradas.
Eterno significa sem começo e sem fim, portanto algo que não tem um princípio, mas que permanece sempre o mesmo como existência, embora se transforme continuamente quanto a sua consciência, expandindo-a pela experimentação, em planos mais densos, de suas concepções acerca do real.
Colocar a Árvore deitada também faz com que lembremos de uma sala de projeção, a belíssima metáfora de Richard Bach em "Ilusões", que não me canso de repetir.
Kether lança sua luz criadora para Malkut assim como um projetor de cinema lança a sua luz criadora de imagens sobre a tela branca de projeção, criando assim a ilusão de um drama, de uma aventura ou tragédia, de diferentes ambientes, de diferentes situações que provocam reações emocionais em quem contempla, tanto quanto em quem produziu ou projeta o filme.
Olhar para o que se desenrola na tela desencadeia em nós respostas psicológicas que nos transformam, de modo que as pessoas que entram em um filme de cinema nunca saem iguais, mas sim modificadas pelas experiências emocionais decorrentes deste exercício estético moderno. Isto vale também para o Teatro, já que o cinema também é teatro, em última instância.
Representação, fazer de conta, ilusão que conta e narra uma história, que defende um ponto de vista, de modo elegante e artístico, com forte impacto psicológico.
Certos filmes lembram, pela suntuosidade e beleza e pela impressão que nos causam, iniciações esotéricas templárias.
Da mesma forma a vida mundana também pode ser entendida como um grande teatro aonde participamos emocionalmente de acontecimentos que nos modificam momento após momento, evento após evento, cena após cena.
d´aprés Reginaldo Leite
Reginaldo Leite, modificado.
O Cabala Luriano fala de Kav, o raio da criação que vem do Ain Sof para o centro do vazio criado pela retração de Deus e forma tudo que existe.
O Vedanta, ecoado pela Escola Teosófica, fala de Fohat, o raio de criação, que mergulha pelo espaço em direção a Koilon, matéria amorfa para juntos gerarem o chamado mundo manifesto.
Kether da mesma forma emana, se a colocarmos horizontalmente , para Malkut, seu raio de criação, o qual serpenteia pelas sephirot ao longo chamada Árvore, plano após plano de densidade, para manifestar-se no mundo visível.
Finalmente, do mesmo modo, o raio de luz que sai do projetor de cinema, na sala escura, e passa sobre nossas cabeças, nós, os expectadores, choca-se com a tela branca de projeção para produzir a ilusão, o Maya, do filme, transportando-nos magicamente, se é que assim podemos falar, para terras distantes, situações diferentes, das quais psicologicamente, concordamos em participar, permitindo que durante aquele espaço de tempo, as cenas que se desenrolam sejam para nós como se fossem reais.
Mesmo que tudo seja um truque da luz em nossas retinas.
"(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo (ou o que está de um lado do espelho, está do outro), para realizar os milagres de uma única coisa.”
Nós não somos criaturas, afinal concluímos, apenas pela modificação da posição da Árvore. Nós somos o próprio criador, seu reflexo, iguais e ao mesmo tempo diferentes D´Ele. Daí a frase "feitos à sua semelhança", como reflexos perfeitos do Ser. Somos tão responsáveis pela criação quanto Deus já que nós somos Ele, manifesto. Espinoza estava certo.
Tudo é Luz, que se projeta em meio às trevas do Ser, como já discutido no post "As Trevas" de 24 de agosto de 2013.
Depois deste exercício de abstração, encerramos a reunião e, quase em seguida, consegui contato com Fernando em Porto Alegre, aliás, Erechim, aonde descansava. Falei de nossas elucubrações matinais e mais para tentar dividir com ele esses pensamentos, fiz este resumo.
[1]
"O Ministério do Homem Espírito",LCSM, pág 78, Diffusion
Rosacruciene, 2a Ed. em Língua Portuguesa
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
domingo, 2 de novembro de 2014
CAMADAS
por Mario Sales, FRC,SI,CRC gr.18°
Lá pelas tantas do artigo "O Inimigo Interno",
mencionei que especialistas do pensamento também podem se equivocar e defender
tiranias, regimes de exceção, levados por um romantismo aparentemente
inexplicável.
Isto pode ter causado estranheza naqueles que ainda crêem que
a razão é o melhor instrumento de compreensão e intervenção no Mundo
da Vida (o "Lebenswelt" de Jürgen Habermas).
Não é.
Há décadas, a razão está sob suspeita.
E tudo começou ao final da 2a Grande Guerra.
Os pais do pensamento filosófico moderno e contemporâneo, os
alemães, preconizaram naquela época a mais organizada, científica e metódica
máquina de genocídio já vista.
As análises posteriores de Hannah Arendt sobre a "banalidade
do mal" em seu livro "Eichmann em Jerusalém"; a descoberta da
filiação nazista de Heidegger e de sua traição ao seu mentor, Edmund Husserl,
somadas a percepção de que a ciência, cume da razão humana, (usada para a
construção tanto das câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau e Treblinka quanto na dos
terríveis mísseis V2, que mataram milhares de ingleses), não era
necessariamente uma atividade sempre voltada ao bem da humanidade,
acabaram com esta ilusão.
A lógica não nos protegeu da sordidez, já que o método de
extermínio de judeus era extremamente lógico.
A razão não nos protegeu do mal, já que a guerra, antes
justificada por valores morais (a honra), ou religiosos (a vontade de Deus),
agora encontrava justificativas racionais (criar um império de seres supostamente
superiores geneticamente).
E já que falei de Heidegger, em nada sua visão política
distorcida e equivocada prejudicou sua lucidez como pensador. Suas
contribuições à filosofia ainda são importantes e fundamentais, mesmo que como
cidadão e ser humano ele tivesse demonstrado um indivíduo precário.
As duas atividades da mente, a emocional e a essencialmente
intelectual, são camadas diferentes de nossos filtros mentais.
Podemos ter um raciocínio claro e poderoso e emocionalmente sermos frios ou maquiavélicos. O que não é o mesmo que dizer que é o
intelecto que nos torna mesquinhos ou cruéis, já que não é a faca na mão do
assassino que perfura a carne da vítima, mas sim a mão do algoz movida pela
vontade de seu cérebro.
Instrumentos são tão inocentes quanto qualquer coisa inerte
pode ser. Não possuem valores, não decidem qual o objetivo e finalidade de seu
uso particular por este ou aquele indivíduo.
Instrumentos são coisas mortas que ganham vida na mão de
seus usuários, da mesma forma que o barro ganhou vida pela intervenção do sopro
divino.
Não há vida sem o sopro, apenas barro.
O segredo é o sopro, o alento.
Assim, a razão não merece
confiança, se não conhecermos as emoções por trás de seu uso.
Na compreensão das atitudes, entendamos, os resultados
finais dependem de camadas mais profundas de filtragem, e o que a razão trabalhará,
inocente e competentemente, será sempre o que restar da filtragem da emoção.
É na filtragem da emoção que se define o material a ser
elaborado, nada mais, nada menos. Caberá à razão, apenas, justificá-lo pelo
discurso e viabilizá-lo através da técnica.
Existirá uma camada anterior a da emoção?
Existem controvérsias.
Os biólogos e bioquímicos dirão que antes de sentirmos,
certas substâncias em maior ou menor quantidade em nosso sistema
endocrinológico e neuroquímico nos levarão a sentir o que sentimos, sendo a emoção
escrava da neuroquímica e dos hormônios.
Espiritualistas, por sua vez, dirão que o espírito ou a alma
ditará ao corpo certas secreções que levarão a certas emoções e daí em diante,
na cascata de eventos.
Existem aqueles que acham que ambos estão corretos, e preferem
um pensamento intermediário, em que alma e o cérebro dialogam com o meio
externo, materializando compreensões resultantes destes diálogos.
Assim o homem não seria produto de seu meio, nem o meio
produto dos homens, mas ambos refletiriam a combinação de mútuas influências de
um sobre o outro, o que geraria o resultado final.
Entrariam no cálculo deste resultado as consequentes
alterações descritas dentro do ser humano, as tais filtragens, que seriam
afetadas pela experiências e, ao mesmo tempo, gerariam novas experiências.
O que chamamos Mente seria o conjunto de ações
neuroquímicas, emoções e razão.
De qualquer forma, antes da razão "fundamentadora"
e justificadora, e da técnica que dá materialidade às idéias surgidas da
reflexão racional, estariam as emoções, pela velocidade destas, em contraste
com a natural lentidão daquela.
É preciso estar atento às camadas mais profundas, portanto.
O que move as pessoas vem do fundo, e por mais límpido e
cristalino que pareça seu discurso, ele é apenas a consequência de intenções já
filtradas e direcionadas pela camada emocional, que é mobilizada apenas e tão
somente por traumas capazes de varar até às regiões abissais da mente e ali
depositar impressões diretoras.
Esses traumas e modulações da mente profunda são mais comuns
em momentos da vida que somos mais mentalmente indefesos, geralmente a
infância.
Nada impede no entanto que, dependendo da intensidade destes
traumas pessoas adultas também não tenham seu ser profundo alterado por
experiências emocionais no período da maturidade.
Esta análise nada tem de original.
Escrevo, descrevo e compartilho estes pensamentos apenas como um exercício de organização de conceitos, que é o que faço todo o
tempo neste imaginário.
Talvez, quem sabe, não sejam conceitos tão óbvios para
outros e possa de alguma forma, auxiliá-los a compreender sua própria natureza.
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