Por Mario Sales
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.”
Mateus 6:25-34
Essa é uma afirmação de forte impacto, se compreendida, se
realmente assimilada, se não for lida com desinteresse ou descrença.
Ela afirma que o homem, qualquer homem ou mulher, têm dentro
de si “um poder criador que é parte da força universal criadora e parte da
energia criadora que Deus soprou no espaço”, mas poderia ter afirmado que
qualquer ser humano têm dentro de si o mesmo poder que emana de Deus,
e não “uma parte” dele.
Todas as vezes que leio este trecho em literatura da Ordem
ou trechos que propõem uma concepção semelhante, sou tomado de forte emoção.
Primeiro pelo significado intrínseco destas declarações que
se lidas com a devida atenção trazem uma afirmação assustadoramente poderosa;
segundo porque por mais que creiamos na correção e veracidade da afirmativa a
maioria de nós está distante de perceber ou de implementar tal conhecimento em
sua totalidade. Pelo contrário: sentimo-nos, via de regra, limitados por
condições objetivas, problemas de natureza social, psicológica ou física.
Situações de caráter financeiro ou emocional.
Não nos sentimos cheios deste poder.
Não percebemos tal energia criadora em nós.
E por quê?
A resposta está em nossas convicções. No livro “As cartas
dos mahatmas para A.P.Sinet”, no volume 1, página 166 lemos que “os senhores
Sinet e Hume são exceções. As suas crenças não são barreiras para nós, pois não
têm nenhuma. (quanto a manter contato e troca de ideias). Eles podem ter tido
influências ao seu redor, más emanações magnéticas resultantes da bebida, da
sociedade mundana e de associações físicas promíscuas (resultado até mesmo de
apertar a mão de homens impuros); mas todos esses impedimentos são físicos e
materiais, aos quais podemos nos opor com um pequeno esforço – continua mestre
Morya - , e mesmo eliminá-los sem muito esforço para nós. Mas é diferente com o
magnetismo e os resultados invisíveis produzido por crenças errôneas e
sinceras.”
Errôneas e sinceras, diz Mestre Morya, ou seja, convicções
profundas absolutamente equivocadas, contra as quais pouco podemos fazer. Todo
diálogo, toda mudança, esbarram nestas convicções que, como zinabre, impedem a
conexão necessária que geraria a energia latente em nosso ser.
Obstruções de fluxo.
E precisamos deste fluxo livre para que a força latente em
nós possa ser manifestada, como se manifestava no Cristo ou em Buda.
Tal poder não é nosso, mas está disponível a todo ser
vivente, e em última análise, é da mesma natureza daquele que nos garante a própria
existência através do cordão de prata.
Não é preciso crer nele. Precisamos isto sim, nos libertar
da dúvida sobre ele, de todo pensamento de limitação que nos faz crer,
primeiro, que somos separados uns dos outros e da Fonte de toda a Vida; e
segundo, de que, por isso, não temos poder algum para modificar nossa existência
ao nosso bel prazer.
Permitir-nos ser o que somos, tornarmo-nos aquilo que somos,
como diria Nietszche, é nosso destino e meta.
A experiencia de vida seria muito diferente se percebêssemos
em nós 1/10 deste poder.
Para isso, no entanto, temos de abandonar convicções errôneas
e sinceras, nossos preconceitos e crenças acerca do que somos, ou de nossas
limitações.
Este salto de qualidade só é possível pela deseducação, pelo
esquecer do que acreditamos e, pelo menos, darmos uma chance a outras
possibilidades de compreensão.
Não é tão simples como bem lembra mestre Morya; mas é
possível. Não é suficiente querer, mas sim esquecer o que achamos sobre a vida e
sobre nós mesmos.
Este é o segredo da transformação.
E aí perceberemos como lembra Mestre Jesus no evangelho de Mateus, nossa divina filiação e nossa ligação permanente com Aquele que não só nos deu a Vida, mas também a mantém.