Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

ANÁLISE DE UM SÍMBOLO SECRETO ROSACRUZ DOS SÉCULOS XVI E XVII EM 3 PARTES: 1a PARTE


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Com a colaboração inestimável do amigo e frater Reginaldo Leite, também FRC.: e S.:I.:

O conceito de segredo e de mistério são absolutamente diferentes, embora não pareça claro a uma primeira leitura.
A palavra segredo, diz o Dicionário Houaiss, na sua primeira edição de 2009, na página 1721, é “aquilo que a ninguém deve ser revelado; o que é secreto, sigiloso”; quanto a Mistério, no mesmo texto, já à página 1299, é "...algo que é secreto, escondido, não repartido com outros".
Parecem a primeira vista sinônimos, mas vejam a sutileza da diferença.
Enquanto no segredo existe uma intenção de esconder, por que para que haja segredo é preciso que alguém o torne secreto, que alguém o esconda de outros, no mistério o segredo é inerente ao fato misterioso, não dependendo da ação ocultadora de um agente externo.
Símbolos secretos são secretos pelas duas razões.
Por um lado, alguém os nominou de secretos, e embora tenha colocado neles toda uma gama de informações acerca de seu sentido, ocultou deliberadamente quaisquer explicações que os tornassem mais didáticos, em princípio. Em uma segunda camada, seu segredo enquanto símbolo constitui-se na própria natureza das questões que simboliza. São assuntos de uma tal profundidade, que de per si escondem do não iniciado seu sentido real, exigindo elaboração e meditação para que seja revelado.
Assim são os Símbolos, chamados Secretos, dos Rosacruzes do Século XVI e XVII, publicados numa edição primorosa, pela Editora Renes no Brasil, em 1978, e cujo copyright é da AMORC Americana em San José, de 1967.
São chamados Secretos, como que a propor que sejam intencionalmente obscurecidos de sentido pelos seus autores, mas uma análise mais profunda mostra que, na verdade, são muito mais misteriosos que secretos pois possuem uma natureza em si mesma, profunda e esotérica, mas que de várias maneiras busca se revelar, quer se tornar clara, e torna-se com isso um outro tipo de linguagem, que uma vez compreendida, torna-se transparente aos “olhos daqueles que, não só podem, mas também querem ver”.
Interpretar símbolos é como traduzir uma língua, um exercício de erudição, mas também de sensibilidade, reconhecendo os termos equivalentes na significação, como também na conotação.
Velhos amigos, unidos pela tecnologia, eu e Reginaldo temos dedicado às últimas três noites a interpretar símbolos por pura diversão.
Começamos com o símbolo dos Ellus Cohen, que já descrevi aqui neste mesmo espaço.
Continuamos com a Rosa Cruz Hermética, originariamente da Golden Dawn, mas encampada pela AMORC com uma pequena modificação que descobrimos ao analisá-la juntos, mas que deixarei para descrever em outro ensaio.
E ontem, continuamos com o símbolo abaixo, publicado erroneamente como do século XVIII, em uma publicação chamada "A Maçonaria, símbolos, segredos e significados", de W. Kirk MacNulty, da editora Martins Fontes, de 2007, mas que encontramos também na publicação rosacruz supracitada, referidos como do século XVI e XVII.
Os maçons nunca foram famosos, (salvo honrosas exceções, como Nicola Aslan), como grandes e precisos historiadores.
O símbolo em questão é belíssimo como podem ver em parte, abaixo, na sua versão em alemão.
Altamente esotérico (tendo a princípio me dado a idéia de que tinha feito uma má escolha para me divertir naquela noite) mostrou-se extremamente claro e didático à medida que cada trecho, cada centímetro foi esquadrinhado, no nosso exercício interestadual, no eixo esotérico-informático Suzano, (São Paulo) - Recife, ou melhor, Suzano-Jaboatão dos Guararapes, via Skipe.



De que adianta, no entanto, um símbolo de significado oculto? De que serviriam as reflexões de dois antigos rosacruzes se suas conclusões não pudessem ser compartilhadas com seus frateres e sorores, didaticamente? Didático é o exotérico, em oposição ao esotérico, o que é reservado “aos que conhecem”. Não é justo, pois, que em uma fraternidade, este conhecimento não seja repartido
Por isso acho importante dividir nossas elucubrações noturnas de ontem.
A prática rosacruciana mais tradicional é o compartilhar tudo o que for possível, com aqueles que foram iniciados na Terra ou com aqueles que foram iniciados pelo Altíssimo, como dizia minha saudosa amiga Diva Ogeda, uma batalhadora da Rosa Cruz brasileira.
Compartilhemos então.


Primeiro vejamos o símbolo de novo, agora em inglês.
O símbolo é composto de um grande círculo, em cujo interior encontramos três outros círculos, uns sobre os outros, que se interpenetram e representam três mundos: mundo celestial, terreno e infernal.
O grande círculo externo que os envolve, representando tudo o que existe aqui e além, é marcado por quatro pontos cardeais: acima e abaixo, meio dia e meia noite; à esquerda e à direita, manhã e tarde.



Em volta do grande círculo, encontramos a expressão: "O céu dos céus não pode englobar o Deus único, nem encarcerá-lo", mostrando a grandiosidade do Altíssimo, a ausência de possibilidade de concebê-lo no espaço. Isto lembra Luria, o cabalista, e o Tzim Tzum no Tehiru, o buraco aberto dentro dele para a criação existir.
Por dentro do grande círculo, abaixo da linha, encontramos duas frases. A começar do ponto onde está a palavra meio-dia, diz : “A presença eterna ou essência ou eternidade vem da eternidade para a eterna eternidade”.
Aqui estamos diante da revelação da ausência de temporalidade no Altíssimo, reforçada pela repetição do termo “eterno”, mostrando a incapacidade de concebê-lo no tempo.
Em diagonal abaixo e à esquerda, outra frase que começa no ponto em que por fora está escrito meia-noite: “Em Deus nada há que lhe seja próximo ou distante. Ele é tudo em tudo e por tudo em todos os lugares.”
Esta, obviamente, uma afirmação da Onipresença, outro atributo da Divindade. Quanto a este aspecto, remeto o leitor ao texto aqui do blog “Uma estranha noção de Deus”, de 27 de outubro de 2010.
Agora vamos por partes; começando pelo mundo de cima, ou mundo celestial, que tem escrito do lado esquerdo de seu círculo a expressão "Amor de Deus", e do lado direito Mundo Celestial.
Por dentro e em cima neste círculo, encontramos a expressão “O Céu sendo o Reino de onde Lúcifer foi expulso e para o qual entrará o ser humano e no qual Cristo é o Eterno Rei.”
Gosto do trecho referindo-se ao mundo celestial que diz “O Céu... para o qual entrará o ser humano...” uma afirmação de destino, como se estivéssemos condenados a luz e a iluminação forçosa ao final de nossa caminhada.
No meio desses dizeres, a palavra Jesus, em destaque, dentro de uma labareda envolta com uma cápsula de irradiação da Luz.
Abaixo vemos o círculo menor do 3° dia da criação, em torno do qual está escrito “A Mão direita de Deus”.
Interessante notar que o fato de o 3° dia da criação estar no céu aparentemente é fortuito e surpreendentemente não parece ter qualquer significado, sendo apenas uma situação espacial aleatória, já que o terceiro dia é o dia da criação da terra e vegetação, que em princípio, não tem nenhuma relação simbólica com o Céu em si. 
Os dias da criação apenas envolvem o mundo terrestre para evidenciá-lo como o mundo criado.
Desta linha para baixo começa o que vamos chamar um trecho de transição, aonde o Mundo celestial se interpenetra com o Mundo Terreno.
Por baixo e rente a esta linha de transição, encontramos a expressão: “O Paraíso e Selo de Abraão, terra dos vivos e lugar dos Justos.”
A expressão “selo de Abraão” , aparece aqui no sentido metafórico de sinal da aliança entre Deus e os Homens, no caso os Homens Eleitos, aqueles que foram autorizados pelo altíssimo, a entrar no paraíso ou no estado paradisíaco. Ou seja, selo aqui significa muito mais do que a circuncisão, citada por Paulo em Romanos 4:11, e que se referia a um sinal físico; significa, isto sim, o estado de Comunhão que o Iluminado alcança.
Ora, o Iluminado é um Justo. Por isso se diz que o Paraíso, transição entre o Mundo Terreno e o Mundo Celeste, é a Terra dos Justos.
Esta área de transição é dividida duas vezes, a primeira de forma horizontal, lhe conferindo uma área acima e outra abaixo, e depois uma divisão vertical, um septo que separa seu lado direito do lado esquerdo, em cruz.
Nesta linha vertical do lado esquerdo está escrito "ascensão do Cristo e do lado direito do septo vertical, Escada de Jacó.
No quarto superior esquerdo, temos a imagem de uma coroa circundada por uma guirlanda de flores, provavelmente simbolizando a nobreza e a realeza desta área e daqueles que nela se encontram; já no quarto superior direito encontramos a imagem de uma coroa de louros, aquela com que se agraciavam os imperadores, reforçando a idéia da nobreza do vínculo com o divino.
Sobre a linha horizontal que divide o acima e o abaixo desta região, do lado esquerdo encontramos a expressão “água celestial” e do lado direito, a expressão “2° princípio”.
Na parte de baixo da linha horizontal, do lado esquerdo está escrito: “Renascimento pela água do espírito”, revelando o significado da expressão “Água Celestial” como a bênção encontrada pelo iluminado ou buscador no conhecimento sagrado que vem do interior. Esta seria, nas palavras do Mestre Jesus, aquela água que uma vez bebida fará desaparecer a sede de quem a bebe.(João 4:14).
Do outro lado, o lado direito, temos a expressão “Crucificação do Corpo” que entenderemos por sublimação da matéria na consecução da espiritualidade e não a auto imolação ou a imposição ao corpo de qualquer sofrimento, visto que o corpo é criação divina como tudo que existe e está imbuído como as todas as coisas do Sagrado que tudo penetra ("Ele é tudo em tudo e por tudo em todos os lugares", inclusive no Corpo, que também é um lugar).
Na linha inferior dos limites desta região, uma curva que se projeta para baixo, no quarto inferior à esquerda, encontramos sobre a linha a palavra DEUS, sozinha, enquanto do outro lado, no quarto direito inferior, temos a expressão “Caminho para a vida pelas muitas dores”, ao lado de uma pequena cruz, o que provavelmente faz referência às vicissitudes da existência que se, em si, não nos trazem mais conhecimento, garantem-nos o desenvolvimento da paciência, da tolerância, e o exercício da serenidade diante da adversidade.
Deus é nossa rocha e a pedra que nos sustenta. A fé que depositamos nesta rocha nos fortalece diante destas mesmas adversidades que demandam nossa fé, que testam a veracidade nossas convicções.
É interessante que estas expressões estejam na linha inferior desta região, assim como na parte mais alta do mundo inferior, o mundo terrestre.
Isto indica que a primeira condição para ascender de um a outro mundo é a fé em Deus que sustentará esta transição, talvez fé na conotação que aprendi em um conventículo martinista, no sentido de conexão com o Altíssimo, e não de simples crença ou não crença na sua existência. Esta conexão com DEUS garante a possibilidade de transcender o Mundo Terrestre e chegar ao Mundo dos Justos.


Como vemos no detalhe acima, o Mundo Terrestre é composto e não uno e singular. Existe uma razão para isso que será revelada ao final do símbolo, por um texto extremamente elucidador que circunda todo o conjunto.
Assim, o chamado Mundo Terreno tem a parte de cima mergulhada no Mundo Celestial e a sua parte inferior mergulhada no Mundo Infernal.
Seu espaço próprio se resume a uma região afunilada, estreita no centro e larga nas extremidades laterais, como se vê.
À Esquerda dele lemos “A Graça de Deus” considerada à época dogma de fé e absolutamente necessária para a salvação da alma. E do lado direito temos escrito: “Divisão entre os Bons e os maus” assim mesmo, com "Bons" com letra maiúscula e "maus" com letra minúscula.
Também esta região se divide em quatro partes, divididas em regiões acima e abaixo por uma linha horizontal e sem linha vertical a dividi-la em lado esquerdo e direito, já que as linhas curvas componentes se tangenciam ao centro e formam elas mesmas este septo divisório. Nesta junção das curvas, como a decorá-las, encontramos um símbolo curioso: um coração, com uma cruz de braços de igual comprimento ao centro, e cercada por quatro nomes a nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste, respectivamente Pessoa, Corpo, Verbo e Deus. As palavras Deus e Pessoa estão no alto, e se esse símbolo segue o axioma aristotélico de que o melhor é superior e o pior ou menos importante é inferior, Deus tem a mesma importância de Pessoa, como a identificá-las.
É verdade que a personalidade de um ser humano é a presença de Deus naquela pessoa, sendo a sua expressão diferenciada apenas pelo cérebro e pelo corpo que ocupa, que lhe garante um meio original de expressão; consideremos, no entanto, que Verbo, ou ação, está no mesmo nível de Corpo, o que também confirma o Corpo como Veículo essencial à Ação na Terra. Cruz de braços de mesmo comprimento, de mesma importância, como a lembrar que são quatro elementos que não podem ser considerados separadamente quando contemplamos a manifestação da Vida no Mundo Terreno, onde o Corpo que veicula o Espírito é tão fundamental quanto o espírito inspirado, soprado por Deus, dentro dele.
Também significativo é o fato de que o invólucro deste conjunto seja um coração, a sede do Sentimento, caminho para a fusão do alto com o baixo, da matéria com o espírito, a chamada Via Cardíaca de Saint Martin.
O segredo da harmonia (Tipheret) reside na harmonia do sentimento em nós.
Como disse acima, este mundo é dividido também em quatro partes.
No quarto superior esquerdo, encontramos a expressão “Reino do Dia Profundo”, com três nuvens dominando o espaço, mas sem o Sol, que está curiosamente do outro lado, no quarto superior direito, junto com uma imagem que não conseguimos identificar inicialmente. Esta imagem tem uma forma retangular e linhas duplas nas bordas, como uma bandeja, ou um tapete que levita no meio do espaço. Ao olhar, no entanto, o mesmo símbolo no painel alemão colorido, na página 23 do livro sobre simbolismo maçônico supra citado, com lentes de aumento e um óculos adequado a minha idade, divisei não um tapete mas uma ampulheta.

Sim, uma ampulheta, embora mal definida, símbolo do tempo e da passagem do tempo, como a marcar a temporalidade do Mundo Terreno, ao contrário da atemporalidade de Deus e do Mundo Celestial. Faz sentido.
Acima e à direita da ampulheta, brilhando sobre ela, um sol, glorioso, Luz que ilumina o Tempo dos Homens.
Também na versão em alemão, colorida, percebemos que um e outro lados superiores são o mesmo espaço, embora aparentemente separados. Pois toda a região superior é de cor branca, clara, enquanto toda a região inferior do mundo terreno é amarronzada e escura, compondo a Noite Terrena, como descrita no quarto inferior esquerdo. Do lado direito a noite continua, com a representação da lua cercada de estrelas.
No quarto inferior esquerdo, da região da Noite Terrena, um símbolo estranho invade este espaço. É a “Árvore da Serpente”, que faz parte de outro conjunto que passo a descrever.
Os simbolistas da época não eram muito preocupados com precisão, mas com a representação.
Assim, nos quatro cantos do mundo terreno, certas imagens são associadas a estas extremidades.
Na extremidade superior esquerda encontramos o círculo do 4° dia da criação, aquele da criação dos Luzeiros no firmamento; só que associado a este local temos “A Árvore da Vida”, e a representá-la uma bela árvore esverdeada. No outro extremo, à direita, temos o círculo do 2° dia da criação, aquele da separação dos céus e das águas, mas que aqui é chamado de Porta ou Entrada para a Vida e tem como símbolo um querubim com a espada flamejante em punho, de pé.
Já nos extremos inferiores, encontramos à esquerda, o círculo do 5° dia da criação, aquele da criação dos pássaros e das criaturas do mar, mas aqui ele é relacionado a “Árvore da Serpente”, a "Árvore do Bem e do Mal”, chamado de “Ponto onde está a Árvore da Serpente”. Finalmente, do lado direito do mundo terreno, no quarto inferior, encontramos o círculo do 1° dia da criação, aquele da separação da luz e trevas, mas que aqui é denominado “Entrada para a Morte”.
Tudo indica que ao ascender, o espírito escapa da Dualidade, representada pela Árvore da Serpente ou Árvore do Bem e Do Mal, e alcança as portas do paraíso guardadas pelo anjo que, se antes o expulsou de lá, desta feita estará pronto a recebê-lo, ungindo-o com a mesma espada flamejante de poder que antes tinha sido usado contra Adão e Eva.
A Árvore da Vida é a Árvore da Unidade enquanto a Porta da Morte é a Dualidade. 
E mais uma vez aí, o suporte interpretativo vem do texto bíblico do novo testamento, onde lemos, em Marcos 8 : 35: “Porque qualquer um que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer um que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará”. A Ascensão, concluindo, implica purificação e desapego ao mundo.
Na linha horizontal que separa a parte do dia da parte da noite, embaixo da linha, está a palavra “Senhor” e acima dela a expressão “água terrena”, também provavelmente referindo-se aos ensinamentos do Cristo, Jesus, figura como vimos comum nos simbolismo dos séculos XVI e XVII. A “Água Terrena”, como chamada no Mundo Terrestre, seriam os Evangelhos do Novo Testamento, também conhecidos como “A Boa Nova”, que permitiriam a passagem da Noite Terrena, abaixo, ao Reino do Dia Profundo, acima, claro e solar, ou por outra, ao esclarecimento da alma.
Do outro lado a expressão abaixo da linha é “Céu vindo da água terrena”, e já que o Senhor ( Nosso Senhor Jesus Cristo) está no lado esquerdo da mesma linha, esta expressão confirma indiretamente que o Cristo, aquele que esteve conosco neste mundo, é o Céu da Água Terrena.
Cada “Água” ao que parece, é a sabedoria própria de cada mundo, na interpretação do simbolista.
Através destas “águas” somos batizados (leia-se iniciados) em novos valores, e as águas são diferentes porque diferentes são os ensinamentos de cada mundo para a alma em evolução.
Na interpretação de símbolos deste período é preciso pensar biblicamente, sempre, e particularmente, do ponto de vista cristão protestante.
Muitas das referências destes maravilhosos símbolos aludem aos valores dos seguidores de Martinho Lutero que na época representavam a esquerda da Igreja, entre os quais muitos eram rosacruzes.
Embora "de esquerda", eram conservadores, e como tal, para eles, existiria uma relação direta entre a carne e o pecado. Paciência, eram outros tempos, ingênuos, em que se subestimava o poder da mente e se superestimava o poder do corpo.
Só que em função destes valores, a linha de baixo do Mundo Terreno entra na área de transição para o mundo infernal, do lado esquerdo, o lado da Noite Terrena, com a seguinte frase por baixo da linha: "o Verbo, nascido do pecado carnal". 
Do outro lado, continua: “O Caminho para a Morte”.
Aqui, como acima, na transição do Mundo Celestial para o Mundo Terrestre, também temos uma linha horizontal, que divide uma parte alta e uma parte baixa. 
A linha horizontal tem escrito sobre ela o seguinte texto: “Água da Morte”, do lado esquerdo, e do lado direito “1° princípio”. O espaço desta transição também tem um septo vertical a dividi-lo em esquerdo e direito, onde está escrito, também na vertical: “Cristo descendo ao inferno”. Se na extremidade superior desta linha vertical está aquele coração com a cruz de braços iguais que analisamos antes, na extremidade inferior encontramos o círculo do 6° dia da criação, dia da criação dos animais e do Homem, envolto pela expressão abaixo dele: “A Mão Esquerda de Deus”
Na parte baixa desta área de transição, no quarto inferior esquerdo, temos um texto que vem do quarto inferior direito e invade o esquerdo. Diz ele: “Terra da Morte, é lugar de trevas extremas, dos danados do Juízo final. Entrada do Inferno. Primeira Morte".
Do lado direito ossos; do lado esquerdo, um crânio, ambos lembranças da morte do corpo físico, a primeira morte.
Entramos então no Mundo Infernal, como escrito do lado direito, ou "Desprezo de Deus", como escrito à esquerda. 
Se no alto do Mundo Celestial a palavra Jesus se destacava, no fundo do Mundo Infernal a palavra Lúcifer se destaca, exatamente na extremidade oposta, e cercada de escuridão. Novamente reforçando a ideia de Dualidade e Oposição. 
Em volta do mundo infernal está escrito: “O Poço Infernal, O Mundo Infernal, A Outra Morte, o Abismo da Prisão.”
Em volta do desenho ainda existem 6 citações , 3 acima e três abaixo, da esquerda para a direita.
São elas:
1ª. Por toda a parte Deus é livre dentro (vejam bem, dentro de nós) e fora de todas as criaturas. DEUS. Medida de tempo da Natureza. Anjo com seis asas.(expressão que relembra o Selo de Salomão, a estrela de 6 pontas, aonde o triângulo de cima se encontra com o triângulo de baixo).
2ª. A mente externa e interna, sem a luz divina não poderás encontrar.
3ª. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. PAI. Medida do tempo da Lei. Leão com seis asas.
E outras três abaixo:
4ª. E não há Deus senão o Deus Único. ESPÍRITO SANTO. Tempo do comprimento. Águia com seis asas.
5ª. Só o espírito sabe. A Razão encarnada é cega.
6ª. Deus é o primeiro e último. FILHO. Tempo do Evangelium. Boi com seis asas.
Poderemos analisar esta parte interessantíssima em outro texto.
Também escrito em volta, a citação bíblica de Provérbios 15:24 “A senda da vida para o sábio leva-o para o alto”, do lado esquerdo; e do lado direito está escrito : “para que evite o inferno que está embaixo.”
Este é o símbolo, os três mundos, dentro de um mesmo mundo que agora se dá a conhecer como o próprio homem, onde co-habitam estes três mundo a um só tempo. E isto nos é afirmado pelo próprio autor do símbolo, talvez preocupado em garantir que o sentido exato de sua elegante e complexa construção fosse entendido no futuro.
Em um texto, transcrito abaixo, que envolve todo o desenho, ele afirma e revela o sentido de seu trabalho, a luta do homem neste Mundo de Dualidade:
“Imagem figurativa de como, dentro deste mundo, três mundos existem, interpenetrados, a saber: este Terreno mundo do Sol, e também o Celestial e o Mundo Infernal, que fazem sentir seus efeitos. E as trevas não podem conquistar a Luz. Também mostra que o país dos mortos, a entrada para o Inferno ou trevas superficiais, em que há choro e ranger de dentes, assim como o país dos vivos, o paraíso celestial ou terceiro céu, todos são deste mundo.”
E conclui: “E que o ser humano tem em seu coração todas essas coisas: céu e inferno, luz e treva, vida e morte.”
Muito bonito. 
Um último comentário sobre os princípios que aparecem no desenho, o 1° Princípio no Mundo Infernal, o 2° Princípio no Mundo Celestial, e o 3° Princípio no Mundo Terreno.
A explicação me parece simples.
O Mundo e a Criação, diz a Rosacruz, é dual em essência e Trino em Manifestação.
Por isso o Mundo da Manifestação deve ser aquele do 3° Princípio, e o 1° Princípio para esta mesma manifestação começa na carne, associada ao Mundo Infernal, enquanto sua contrapartida, o 2° Princípio, está no Mundo Celestial. 
Juntos, Céus e Inferno manifestam-se no Mundo Terrestre.
Isto encerra a nossa interpretação inicial deste símbolo.
Outros significados podem ser extraídos, mas por enquanto isto basta.

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