Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

QUEREMOS SABER

  

Por Mario Sales, FRC


ilustração referente ao texto de Carl Sagan 
chamado "Um Dragão na minha Garagem"

 

Certas coisas sabemos; outras, não.

Saber é conhecer com clareza e distinção aquilo que é conhecido. Não há necessidades de algum tipo de crença especial em algo que sabemos, porque saber é a ausência de dúvida acerca do que se sabe.

Assim, sabemos que um triangulo tem três lados, ou que um quadrado tem quatro.

Isto não depende de fé, mas de compreensão intelectual.

O mundo esotérico, por natureza, conduz-se em um jogo de velar e desvelar. De esconder alguma coisa que em princípio alguém, outra pessoa, quer descobrir.

O mundo esotérico, infelizmente, equivoca-se acerca de sua própria importância, fazem alguns séculos.

Um trauma que remonta ao período da inquisição, da perseguição a cientistas, belas mulheres e livres pensadores. Tudo isso passou, mas o trauma permaneceu. O esoterismo ainda se comporta como se muitos tivessem o único objetivo na vida de descobrir o que os ocultistas dizem ocultar.

E digo “dizem” por que em realidade, como já discuti em outro ensaio, “Crenças e Fatos”, não existem evidências abundantes das afirmações feitas nos livros esotéricos.

O esoterismo, no jogo dos saberes, não mostra suas cartas alegando que não pode fazê-lo, quando ao fim e ao cabo, ninguém, ou muito poucos, estão interessados em vê-las. Lembro a frase de Gerard Encausse, Pappus:

“Jogue nas mãos de um profano um texto esotérico. Ele, displicentemente, não o lerá. Se o ler, não o compreenderá. E se compreender, não acreditará.”

O ensino esotérico como preconizado por Spencer Lewis, baseado em experimentos de confirmação, no domínio de certas técnicas didaticamente ofertadas aos que as estudam, em monografias simples e diretas, foi aos poucos relegado a um plano secundário, e a ênfase em crenças e reflexões éticas aumentou.

As técnicas estão lá, os “experimentos”, ou visualizações mentais, ainda estão lá; mas salvo engano, corrijam-me se eu estiver equivocado, são tratadas hoje em dia como práticas não positivistas, mas exercícios de fortalecimento da fé.

Nessa hora, ficamos muito parecidos com uma religião, o que não somos, nem nunca fomos.

Dito isto, reitero meu pedido de alguns anos.

Em relação ao conhecimento esotérico, precisamos revisar nossos métodos didáticos e retomar a busca positivista de evidências de nossas afirmações.

Precisamos, antes de tudo, fazer um levantamento de nossos telepatas, de nossos telecinéticos, de nossos terapeutas. Precisamos recensear entre nós quais tem maior habilidade em projeções astrais, quais têm sonhos proféticos. Esses indivíduos devem ser convocados a discutir suas habilidades com seus colegas afins (fratres e sorores) que tenham habilidades semelhantes, de forma a construir um conhecimento comum e organizar meios de distribuir as informações práticas referentes a esses dons.

Temos condições, hoje, de fazer seminários virtuais acerca desses assuntos.

Temos também possibilidade de realmente saber quem, entre nós, domina e conhece tais habilidades e pode ensinar como fazê-lo.

Lemos frequentemente sobre feitos que nunca testemunhamos. Vivemos uma época de narrativas, como aqueles descritos na Doutrina Secreta, os quais Blavatsky chama de “fatos”, dos quais, entretanto, não dá nenhuma demonstração ou suporte empírico.

Lembro-me, que li em uma monografia, que durante uma simples convenção rosacruz, Spencer Lewis levitou no palco enquanto afirmava não estar em nenhum tipo de transe, demonstrando, para todos os presentes, suas afirmações.

Eu sigo seus passos.

Anseio que a Ordem recupere seu caráter positivista que a distingue no mundo esotérico.

Pelo menos para que nós, iniciados, possamos lidar com um saber constituído de solidas bases, e não de convicções que dependam de crença ou da fé.

Queremos saber, não crer, para citar Carl Sagan.

Não acho que seja pedir muito.

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