Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 28 de dezembro de 2014

O X , NO GREGO, COMO SÍMBOLO DA PALAVRA CRISTO

Artigo Martinista




O Monograma Qui ou Chi  Rho ( Ch e R), início em grego do nome do Cristo.
Podemos ver nesta forma acima ainda as letras estilizadas alfa e ômega, início e fim de todas as coisas


"A álgebra nasceu no Oriente Médio durante a era de ouro da civilização islâmica medieval (entre 750 e 1258 d.C.) e sua forma original pode ser vista no trabalho de Muhammad Al-Khwarizmi e seu livro do século IX, Kitab al-jabr wal-muqabala 
(al-jabr, mais tarde, se transformou em “álgebra” no ocidente). Nessa época, as leis e cultura muçulmanas se expandiram até a Península Ibérica, onde os mouros incentivavam o estudo de ciências e matemática.
Ok, mas o que isso tem a ver com a letra “x” na matemática? Em uma palestra recente no TED, o diretor da The Radius Foundation, Terry Moore, postulou que o uso do “x” dessa forma começou com a incapacidade das escolas espanholas em traduzir certos sons arábicos, incluindo a letra “sheen” (ou “xiz”). De acordo com Moore, a palavra para “coisa desconhecida” em arábico é al-shalan e ela aparecia muitas vezes nos primeiros trabalhos em matemática. (Por exemplo, você poderia ver “três coisas desconhecidas é igual a 15”, com a “coisa desconhecida” sendo, então, 5.)
Como o espanhol não tinha um som correspondente ao “sh”, eles foram com o som de “ck”, que em grego clássico é escrito com o símbolo chi, “X”. Moore teoriza, como muitos antes dele, que quando isso foi traduzido ao latim, bem depois, o chi (“X”) foi substituído pelo “x” latino, mais comum. Isso é parecido com como “Xmas” no inglês, que significa “Christmas”, e veio da prática comum de escolas religiosas em 
usar a letra chi (“X”) grega como abreviação para “Christ”."1

PS: Em Grego, X é a primeira letra do nome do Cristo (XPICTOC) e o P lembra o cajado do "Bom Pastor)

(1)Retirado de http://gizmodo.uol.com.br/x-incognita-matematica/

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O GOLEM, COMO VEIO AO MUNDO

Trata-se de um filme de 1920, alemão. Legendas em português estão disponíveis, bastando serem ativadas. Dica do Frater José Marcelo Sobral, de Recife.

Do YouTube:
Publicado em 20 de nov de 2013
Com origem em 1847 numa coletânea de contos judaicos, o Golem significa "tolo", uma criação feita a partir do barro e com a alma animada através processos mágicos. Também faz referência a "uma substância incompleta" que apresenta uma certa santidade, porém incapaz de falar.
Esse filme foi feito em 1920, é a adaptação cinematográfica da narrativa clássica da história ambientada em Praga do século XVI. O rabino Judá Loew ben Betzalel, tenta usar o processo de permuta de palavras, como fez Raba, mas levaria alguns anos, então resolveu-se compactuar de forma "salomônica" com um espírito da Goetia, que certamente em seguida, vem cobrar seus serviços. Assim o Golem de guardião do gueto contra os anti-semitas de torna-se um destruidor.
O Golem, é considerado uma das obras-primas do expressionismo alemão, sendo referência para a criação de homunculus, Frankeinstein e desenhos da minha época como "A Coisa".
Para quem aprecia leitura, o livro é de rápida leitura e possui várias versões.

FELIZ NATAL MAÇÔNICO


LIGAÇÕES PERIGOSAS

por Mario Sales, FRC,SI,CRC 18°




Um dos trechos que estudamos da Doutrina Secreta (DS) de uma quarta feira destas, começou na página 333, no segundo volume da edição de 1973 da Sociedade Teosófica (ST) em seis volumes, da Editora Pensamento.
Neste trecho, (que até Michel Gomes no seu já citado "Resumo da DS" evitou, por considerar demasiadamente datado além de não necessário à compreensão da essência dos pensamentos de Helena Petrovna Blavatsky [HPB] ), continua o esforço da autora e fundadora da ST em ver ligações entre a Ortodoxia Científica e a Teosofia, de modo ora intempestivo, ora ingênuo.
Intempestivo, por querer que a ciência, a ferro e fogo, aceite suas afirmações sobre mundos invisíveis, baseada apenas nas suas afirmações ou na, em sua opinião, beleza de suas idéias, sem quaisquer demonstrações ou provas experimentais.
Ingênuo, por não entender que a ciência é um caminho pavimentado por fatos, não por afirmações, sejam fatos teóricos (matemáticos), sejam experimentais.
Uma pessoa comum não compreenderia isso, aceita-se; mas, uma assim denominada, Alta Iniciada, não tem justificativa para tal atitude mental.
Espera-se de "Altos Iniciados", ao menos, sensatez. 
Não é isso que se percebe nas queixas de HPB contra o meio científico.
O mais paradoxal, como já comentei aqui, é que mesmo tendo este enfoque negativo do ceticismo metodológico dos homens de ciência da época, HPB procure nestes capítulos finais e infernais do II° volume da DS referendar a Teosofia pela racionalidade científica e por descobertas da época da química e da física daqueles anos pré positivistas.
Neste trecho que trabalhamos, eu e Flavio, ela exalta o trabalho de Crookes (Sir Willian Crookes, físico-químico inglês do século XIX, inventor das ampolas de Crookes, do Radiômetro e descobridor do elemento Tálio).
No início do parágrafo que enfrentamos, lemos o seguinte trecho:
"Proferiu êle, (Crookes) uma segunda conferência sobre a gênese dos corpos simples ( na Royal Institution of London em 18 de fevereiro de 1887) e ainda uma terceira, ambas tão notáveis como a primeira. Aqui temos quase uma confirmação dos ensinamentos da filosofia esotérica..."
A questão é: para que um esoterista precisa de confirmação científica de suas teses?
Que insegurança é essa que faz alguém , detentor de informação privilegiada, digamos assim, necessitar parcial ou totalmente de confirmação de seus dados?
Acompanhem um exemplo: eu e um indivíduo cego estamos sentados ao ar livre. A chuva acabou há pouco e no céu surge um arco íris. Digamos que eu, animadamente, descreva para meu companheiro, cego de nascença , as maravilhosas nuances de cor deste encantador fenômeno. Pergunta: de alguma forma, isto fará com que ele tenha a mesma experiência visual que eu? Não. No máximo ele abstrairá que algo interessante ocorre no céu, mas em princípio não posso falar do azul, do púrpura ou do amarelo para quem não pode ver as cores.
Isto não deve nem deveria me aborrecer e eu não consideraria algo pessoal que tal pessoa com tal limitação me dissesse que não consegue acompanhar minha descrição.
Seria insensato da minha parte agir assim.
Infelizmente, é assim que HPB, em certos trechos, age; ou, como eu e Flavio suspeitamos, Leadbeater e Annie Besant agiram e incluíram no texto suas posições como se de HPB fossem.
Como comentei aqui, esta edição não é aceita em Adyar, na Índia, sede internacional da ST, segundo me informaram alguns leitores do blog.
Considerando que o que é esotérico hoje deve ter sido ciência em outra época e, como tal, foi concebido a partir de esforço intelectual e experimental por décadas e décadas, querer que a ciência desta época e desta cultura faça um salto de bota de sete léguas, passando por cima de etapas essenciais à consolidação de um conhecimento é uma demonstração de uma surpreendente ignorância sobre a natureza humana, a ciência, e suas limitações, que desembocam no método científico que, se é lento, pelo menos garante conclusões e descobertas fundamentadas e confiáveis.
De qualquer maneira, esoterismo e ciência ortodoxa têm caminhos diferentes e não podem lançar pontes um para o outro todo o tempo.
São como duas senóides deitadas que ora se aproximam e ora se afastam, sem nunca se tocar.
Pontes entre as duas só são possíveis nas regiões próximas, não nas distantes.



Aparentes similaridades entre estes dois caminhos, que não são paralelos como visto, não devem fazer crer aos incautos que estas duas oscilações são a mesma e única.
Não são. E é bom que seja assim para permitir mais beleza pois quem conhece acústica sabe que o mesmo som, ininterrupto, pode se tornar desagradável e até menos perceptível pelo fenômeno de fadiga dos chamados receptores fásicos, como os ouvidos; mas, dois, ou mesmo três sons diferentes, desde que harmônicos, podem gerar uma ressonância muito agradável, como se vê nos acordes musicais.
Esta diferença entre linhas de investigação é, portanto, não só natural, mas saudável e enriquecedora, e querer à força ver ligações entre ambas é, a meu ver, um esforço desnecessário e pouco produtivo. São ligações perigosas e inúteis. Mantidas as característica de cada linha de trabalho, de cada saber humano, a riqueza estará justamente nesta heterogeneidade e nas possíveis ressonâncias que poderá gerar, produto não da igualdade , mas exatamente da diferença entre ambas, como os acordes do piano.
Hoje, quando alguns "iluminados" montam cursos que beiram o charlatanismo, mas mesmo assim bastante frequentados e caros, aonde mostram uma suposta semelhança entre a física quântica e o misticismo, repetem-se no início do século XXI esforços semelhantes ao de HPB, descritos neste trecho da DS, no século XIX, os quais só demonstram uma falta de compreensão de como funciona a ciência e o próprio esoterismo em si.
Como a ciência não tem dogmas e seu tecido constitutivo é instável e vivo, não pode servir de trampolim sólido para os vôos de mentalidades dogmáticas.
Só esoteristas que pensem como cientistas podem ajudar o esoterismo a sair desta apatia em que se encontra fazem dois séculos, repetindo seus axiomas, sem se esforçar para demonstrá-los, ou dar-lhes uma aplicação prática e compartilhável, exatamente o que a ciência faz com suas descobertas, que redundam em melhores condições de vida objetivas e subjetivas.
Mesmos os críticos do mundo moderno deitam, e gostam disto, em colchões e travesseiros de espuma sintética, produto da ciência contemporânea, e vão de palestras em palestras as mais metafísicas em automóveis confortáveis e informatizados, ou em bicicletas feitas de avanços metalúrgicos recentes, mais resistentes e mais leves.
Discutem em seus aparelhos celulares de última geração o quanto a ciência é podre e refratária ao esoterismo e citam exemplos colhidos nos telejornais da noite, assistidos em televisores de alta definição produzidos por laboratórios em todo o mundo, para todas as pessoas.
Não sou, embora possa parecer, um ingênuo adorador do deus científico, porque na verdade, ninguém ligado à ciência o é. Todo cientista é, por definição, um iconoclasta, capaz de jogar sem piedade tudo que acreditou nos últimos vinte anos no lixo desde que alguém prove, de forma irrefutável, pelo menos no momento, que estas crenças estavam erradas.
Mais: ciência não é religião, mas um esforço de busca da compreensão, não mais do que faz as coisas serem como são, mas sim do como estas coisas são como são. Se pudermos saber o porque destes fenômenos isto será um bônus a mais, mas fazem décadas a ciência, bem como a filosofia, colocaram de lado a busca pelos chamados fundamentos últimos, admitindo que esta é uma busca pouco produtiva ou pragmática.
A ciência tem fidelidade, não aos fatos, ou aos seus enunciados, mas aos critérios que norteiam a interpretação destes fatos, o chamado método científico, o qual seria muito útil no trabalho esotérico.
E por isso o tecido da ciência é instável e muda de acordo com a mudança do conhecimento.
O esoterismo bem que poderia aprender com isso e dedicar-se a verificar a si próprio, testando as suas afirmações na vida prática e não querendo ensinar cegos a verem o arco íris.
A única escola esotérica que propôs este tipo de atitude, a vinculação entre o conhecimento esotérico e vida cotidiana, foi a AMORC.
É isso que a distingue como uma escola esotérica pronta para o século XXI, se não abandonar os princípios que a fizeram um farol na história da sociedade humana, no século XX.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



FELIZ NATAL AOS FLAVIOS, WILSONS, CARLOS, FERNANDOS, EDSONS, ANTONIOS, ROBSONS, SOLANGES, JULIAS, NATHALIAS, MARIAS, JERSONS, MARCOS, APARECIDAS, E TODOS MAIS.

sábado, 20 de dezembro de 2014

PORQUE E PARA QUE SER UM INICIADO?

por Mario Sales, FRC,SI,CRC 18°




"As pessoas não sabem por que caminham, mas vós sabereis" 
(convite de Martinez de Pasqually à Fournier para entrar na Ordem Maçônica dos Sacerdotes Eleitos ou Ellus Cohem)




Para que serve ser um iniciado?
Que lucros materiais ou sociais traz esta condição?
A rigor, nenhum. A vaidade que ostentamos ao dizer pertencer a este ou aquele grau desta ou daquela Ordem esotérica reflete, sim, alguma ingenuidade socio-economica e psicológica.
Pertencer à uma Ordem é um chamado, uma resposta à uma convocação íntima que não tem, nem nunca terá,  nada a ver com uma relação de causa e efeito racional definida.
Ser um esoterista é como ter um talento artístico, algo que vem do alto, não de influências, amizades, interesses.
Dizer que o esoterismo é um saber, e que este saber tem um efeito marcante sobre todos que a ele se dedicarem é um truísmo. Da mesma maneira é óbvio que apenas alguns entre muitos sentirão esta atração e este efeito marcante a que me refiro.
Daí Papus dizer que não havia nenhum cuidado necessário ao se expor a um não iniciado textos esotéricos, porque se não fosse um iniciado, não os leria; se os lesse, não os compreenderia, e os descartaria como desinteressantes; mas se os lesse e parcialmente os compreendesse, considerar-los-ia delirantes e absurdos.
Não são os olhos que lêem, mas o cérebro. E o cérebro secreta as substâncias neurotransmissoras e faz as conexões sinápticas que a alma ordena.
É o espírito imortal, invisível, que comanda, em última instância, a estrutura visível neuroquímica e glandular do corpo.
Como estamos na fase de compreender o visível, esta afirmação é inaceitável ao cientista, porém perfeitamente compreensível ao iniciado.
Não somos iniciados porque passamos por uma iniciação em uma escola esotérica tradicional.
Somos esoteristas, místicos ou ocultistas porque não poderia ser de outra forma.
É a nossa natureza espiritual que nos comanda. Nós somos o produto de nossa evolução, de nosso esforço evolutivo em dezenas de encarnações, aqui, ali e acolá.
Hoje, não podemos mais ir contra nossa própria natureza, como uma fumaça de incenso que ascende mais e mais pelo espaço não pode cair.
Não nos tornamos buscadores, nascemos buscadores e continuamos nossa busca, do ponto aonde paramos, mal consigamos andar com nossas próprias pernas no corpo em que estivermos, em cada oportunidade.
Não buscaremos o saber, nem seremos seduzidos pela atração do mistério. O mistério habitará em nós antes que sejamos recebidos em qualquer Ordem em que entremos.
Não será um convite, como o de Pasqually à Fournier, que nos motivará. Tornar-nos-íamos esoteristas mesmo que não fossemos convidados.
Porque isto está em nosso espírito, e depois em nosso sangue e cérebro.
O resto será mera consequência desta predisposição.

sábado, 6 de dezembro de 2014

GRUPO VIRTUAL DE ESTUDOS MARTINISTAS VIa PARTE

TEMA GERAL ATUAL: CABALA
TÓPICOS PARTICULARES DE HOJE: A ALMA NA CABALA E AS DIFERENTES ADAPTAÇÕES DO CONHECIMENTO ÚNICO E OS CONTEXTOS SOCIOCULTURAIS DE CADA TRADIÇÃO ESOTÉRICA E MÍSTICA

Mario Sales, Wilson Hackmey, Flavio Sobral Bazzeggio



Minha convivência com Mestre Reginaldo Leite foi curta, mas extremamente produtiva.
Ele me alimentava de informações à uma velocidade enorme e sem nenhum refresco didático, me mandando papers, imagens, e mesmo livros inteiros ( a primeira vez que vi o Zohar por inteiro, com suas mais de 1000 páginas, foi em espanhol e enviado por ele).
Uma imagem que ele me enviou era a de uma sequência de Árvores da vida, pequenas, que formavam , uma ao lado da outra, em níveis diferentes, algo como uma escada da qual elas eram os degraus.
Havia neste esquema a compreensão de que os 4 níveis de cada árvore com suas dez sefiroth, se reproduzia em cada nível que a alma atravessava ao longo da existência, já que estes degraus, nefesh (instinto), ruach (emoções) e neshamá (pensamento, razão) são modos que são exaltados em fases diferentes de uma única existência, à medida que o indivíduo envelhece e amadurece.
O instinto nos guiará no início, depois as emoções, como na adolescência, terão primazia sobre o raciocínio que prevalecerá sobre a emoção na maturidade. Os três, no entanto, sempre conviverão em nós em qualquer de nossas fases de vida, com grau de influência diferente, mas estarão lá, como em uma carruagem.




Comentei este aspecto com meus colegas e citei o fato de que para os judeus, só judeus podem ultrapassar o nível de ruach, porque só quem estuda o Talmude pode compreender o nível do Pensamento, que aqui é mais do que mera atividade intelectual, mas desenvolvimento de sensatez, o que é o primeiro passo para a sabedoria espiritual.
Daí, vimos que o contexto cultural judaico é ingenuamente bairrista como todos são. Supõe que seus conceitos são únicos e incompreensíveis para quem não esteja dentro dele. O que obviamente é uma falácia, assim como falácia também é supor que só franceses podem ser bons esoteristas ou que a verdadeira filosofia só pode ser escrita em alemão.
Vivenciar como judeu um conhecimento e um conceito espiritual judeu é impossível para um não judeu, pois se trata de uma experiência não só intelectual como emocional.
É a emoção que determina a noção de identidade cultural nacional e o senso de pertencimento à uma tradição qualquer que seja. Nesse sentido, a afirmação de especificidade é correta.
Acima, porém, do aspecto emocional-intelectual existe o aspecto espiritual-intelectual, que permite que qualquer estudioso espiritualista possa ter acesso ao conhecimento de uma tradição e extrair dele inspiração para sua busca do Santo Cálice (Hole Graal) particular.
Não existe uma proibição intelectual de compreensão para conceitos da espiritualidade hindu, egípcia ou budista para quem não seja hinduísta, egípcio ou seguidor do Dalai Lama.
Tudo que é espiritualmente belo interessa a todos aqueles que buscam a beleza espiritual. Não importa de onde brote, será como água que mata a sede de Deus de um buscador sincero.
E isto porque nossa raiz é a mesma, enquanto seres humanos terrestres.
A mesma seiva alimenta todas os ramos da árvore das culturas, e com certeza esta árvore tem, no passado longínquo, um único tronco e uma única raiz, mas hoje talvez seja impossível identificar a forma deste tronco considerando a enorme e diferenciada variedade de galhos, alguns apontando para o Leste, outros para o Oeste, embora partes da mesma copa, do mesmo vegetal antropológico.
Por isso sempre defendo a impossibilidade de comparar ramos diferentes desta árvore embora eu reconheça que são provenientes do mesmo tronco.
Muitos arrancam um galho e supõem ter em mãos a árvore. O fato é que tem apenas um galho seco e sem seiva, separado de seu tronco e que logo secará e se servir para alguma coisa será para lenha de fogueira.
Mesmo que o galho que escolhamos para estudar, que pode ser o nosso, contenha elementos comuns a toda a árvore e, portanto, a todos os galhos que a compõem, suas características de forma e posicionamento no espaço são tão peculiares que não é possível supor que comparações entre estes galhos nos levem a visão clara do tronco que lhes deu origem.
Se fizermos o caminho inverso, talvez encontremos um local onde se deu a grande e primeira bifurcação entre os galhos da direita e da esquerda e do norte e do sul da árvore humana, mas mesmo isto acho extremamente difícil. Talvez seja mais interessante e produtivo nos concentrarmos nos aspectos do nosso galho e daqueles galhos próximos ou pouco distantes de nós.
Já teremos material antropológico de grande quantidade e qualidade para fazermos estudos de características comuns a eles. A visão da raiz da árvore, esta é bem mais esotérica historicamente. Falta-nos os instrumentos adequados ainda.
Não importa.
Judeus não são os únicos espiritualistas do mundo, e a Cabala Judaica não pode ser compreendida apenas por Judeus, já que muitos Judeus nem se interessam por Cabala, como muitos homens ocidentais não se interessam pelo cristianismo ou qualquer outra religião.
O nível espiritual é algo dado pelo Alto e as almas são diferenciadas pela sua evolução íntima, independente de nascerem neste ou naquele corpo, neste ou naquele sexo, nesta ou naquela tradição.
Acima e além dos países e das culturas, existe o Espírito Imortal, ou como chamam os Rosacruzes, a Personalidade Alma, que é eterna.
É esta personalidade que viaja de experiência em experiência, como uma personalidade Judia, Japonesa, Nórdica ou Negra, na Europa, África ou nas Américas.
Estas peculiaridades de cada encarnação não são mais importantes do que a bagagem e a Idade espiritual desta Personalidade Alma que, se antiga o suficiente, irá dar novas cores e um padrão mais elevado à tradição em que estiver mergulhado naquele período específico.
É assim com Luria (Isaac Luria- o Ari, Jerusalém 1534; Safed 1572) e a Cabala. Sua reformulação e seus conceitos são de uma beleza e de um encantamento tão grandes que elevaram o nível de complexidade desta interessante tradição esotérica que é o Cabala Judaico.
Conceitos como Tzim Tzum, Shevira Há-kelin, Tikun Olam, organizaram a compreensão de muitos e avançaram as primitivas noções do Misticismo Merkavah, a proto cabala  do século II DC, embora as "Meditações dos Sete Palácios" sejam ainda técnicas úteis a todo cabalista que busca a elevação espiritual.
Existem como vimos antes outros conceitos cabalísticos Lurianos pouco discutidos pelos Martinistas, como o conceito de Partizuf, os cinco níveis da Alma, a restrição da luz , a máscara ou o véu, etc, que são descritos com palavras idênticas para outros conceitos conhecidos, o que costuma confundir bastante os que se dedicam a entendê-los, ainda mais porque usam imagens consagradas como a Árvore da Vida na sua esquematização.
Ainda não me sinto pronto, entretanto, para didatizar estes conceitos para meus irmãos e irmãs, se bem que tenho trabalhado no problema.
Tudo que Mestre Reginaldo me ensinou destes menos conhecidos conceitos sobre a alma, como por exemplo os níveis da alma que estão acima de Neshamá, (Chaya e Yechida), são explicados pelos textos de Michael Laitman que estou, no momento, estudando.
O que fica deste sábado é a idéia clara de que, independente da nossa tradição espiritual nesta encarnação, nós, filhos do espírito seremos sempre místicos, ou seja, pessoas envolvidas com o mistério do mais profundo de nós mesmos, trabalhando a questão de como liberar em nós o Divino que está temporariamente adormecido, mesmo que o nome desta Força Divina, oculto pela torpor de nossa consciência encarnada, se modifique milhares de vezes, e seja variado em aspecto, forma e direção como os galhos de uma mesma árvore.

domingo, 23 de novembro de 2014

ORDEM ROSACRUZ: O SIGNO SECRETO

DAMARU

por Mario Sales, FRC,SI,M.:M.:





Não há existência sem o ritmo, dos dias e noites, do pulsar do coração, da respiração que nos dá o alento vital.
Existem os ritmos da digestão e dos intestinos, do sono e da vigília, ininterruptamente se sucedendo através dos meses, dos anos.
Estações também se sucedem, monotonamente, mesmo que suas aparências contemporâneas fiquem menos nítidas a cada manifestação.
Este pulsar da vida lembra as batidas de Shiva em Damaru, seu tambor, com o qual marca a pulsação da existência na criação, enquanto dança. A dança de Shiva representa a instabilidade das coisas do Universo e só seu ritmo constante dá um senso de equilíbrio dinâmico dos fenômenos.
O Shiva que dança, conhecido por Shiva Nataraja, (que toca o seu tambor com uma das quatro mãos enquanto em outra segura o Trishula, seu tridente cujas pontas lembram os três modos da manifestação, rajas, o rápido; tamas, o lento e sattva, o equilibrado), é o símbolo na Trimurti ou trindade indiana do aspecto renovador da natureza, que a todo momento se mantém em movimento, seja na vibração invisível das moléculas, o movimento browniano, seja nos maremotos, terremotos e furacões.

Embora, como lembra Marcelo Gleiser em seu último texto, a instabilidade das coisas nos aflija e a estabilidade nos acalme, ambas serão sempre parte de nossa existência, dançando uma com a outra, como um casal enamorado.
Não esquecer que na imagem clássica de Shiva dançarino ele pisa as costas de um anão, "símbolo da ignorância interior que nos impede de perceber o nosso verdadeiro eu".
Assim são as coisas.
E lembrando Darwin, adaptemo-nos ou pereçamos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MUDANÇAS, MUDANÇAS, MUDANÇAS




sábado, 15 de novembro de 2014

GRUPO VIRTUAL DE ESTUDOS MARTINISTAS Va PARTE

TEMA GERAL ATUAL: CABALA
TÓPICO PARTICULAR: A ÁRVORE DA VIDA

TENSÕES

Mario Sales, Flavio Bazzeggio, Wilson Hackmey e outro






Começamos este sábado lendo um trecho muito inspirador do nosso texto base, o qual diz que "...segundo Isaac Luria, a Luz Divina se fez brilhar na cabeça de Adão Kadmon, e (dali) se irradia através de seus olhos, boca, orelhas e narinas. Aquela que jorra de seus olhos, atravessa as sephirot para ser recolhida nos vasos."
Ora, é uma metáfora interessantíssima. A maneira como nos relacionamos com o mundo é através de nossos sentidos. É interessante que este trecho desenhe um jorrar de luz através dos nossos órgãos perceptivos, olhos (visão) boca (paladar, gosto), orelhas (audição) e narinas (olfato). Mais simbólico ainda é a afirmação de que "Aquela (luz) que jorra de seus olhos, atravessa as sephirot para ser recolhida nos vasos." Ou seja, é através do Olhar que se cria a realidade.
Vemos o que compreendemos, compreendemos o que podemos mental ou fisicamente enxergar.
Foi assim, através de um olhar diferente de Flavio, que entendemos novos aspectos da interpretação da Árvore.

No estudo desta semana do Grupo Virtual de Estudos Martinistas, no momento trabalhando o universo conceitual da Cabala Judaica, eu, aqui em Suzano , Hackmey, em Guarulhos, Flavio, em São Paulo e nos minutos finais, Fernando do Rio Grande do Sul, conseguimos um fato raro, ou seja, fazer duas abordagens interessantes e inovadoras em sábados sucessivos de um assunto tão profundo quanto os conceitos cabalísticos.
É natural que períodos menos criativos sucedam períodos de grande criatividade. E já que sábado passado foi um encontro muito enriquecedor, seria perfeitamente compreensível que hoje o encontro fosse apenas protocolar. Não foi assim, felizmente.
Flavio trouxe uma contribuição, em uma palavra, belíssima, à nossa reflexão.
E que contribuição foi essa?
Segundo ele, da leitura do texto em que nos baseamos, concluiu que os vasos aonde a Luz da Criação de Deus, o Kav, foi recolhido no processo de formação da Criação, e que depois se romperiam, no fenômeno conhecido como Shevira Há Kelin, não pré existiam à descida da Luz como ingenuamente supomos.
O que ele observou, corretamente a meu ver, é que as tensões geradas pelo atravessar gradual dos planos de densidade cada vez maiores (Atzilut, Beriah ou Briah, Yetzirah e Assiah) entre o raio que penetra o meio e algumas áreas em particular do meio atravessado, por assim dizer, materializaram este estado de tensão neste ponto, digamos assim, superaquecendo a região até a explosão.
De modo que o próprio movimento de descida da Luz de Deus foi desenhando a localização das sephiroth da Árvore da Vida, ponto a ponto, sefira após sefira, na medida que atravessava densidades cada vez altas.
Isto me levou a visualizar, em seguida, uma deformação na imagem ortodoxa da árvore, que como normalmente é exposta, compõe-se de triângulos regulares aonde o raio de Ain Sof zigzagueia até Malkuth para de lá retornar.



O certo, a partir da colocação de Flávio, é pensar uma Árvore Assimétrica, já que o stress é progressivamente maior nível após nível, sefira após sefira, a ponto de gerar pontos de tensão energética e explosões, no limite; pontos de tensão estes que foram cognominados "vasos", mas que na verdade surgiram a partir do choque da energia que desce ou emana do Ain Sof com a densidade dos meios que atravessa, progressivamente, como uma faca que desce cortando um pedaço de pão.



Cada sefira seria, pois, habitante ou resultante de um plano de densidade diferente e não dividiria este plano com a sefira anterior.
A Assimetria da Árvore talvez fosse melhor representada por triângulos irregulares, assimétricos como representado na imagem anterior, o que pode ser até tridimensionalizado como uma espiral.
O raio do Ain Sof, Kav, já não atravessa quatro planos apenas de densidade, mas 10 , e cada sefira é, não um vaso estático, mas um ponto de tensão entre a energia e a densidade específica de um destes dez planos.
Isto resultaria em múltiplas explosões que aparentemente seriam "vasos", continentes, que explodiriam pela intensidade do conteúdo, mas que, na verdade, são explosões que resultam, não da incapacidade de contenção dos vasos, mas da incompatibilidade da energia pura com a densidade própria de um plano ou outro.



Mas que importância tem estas reflexões (para usar mais um termo que fala da luz) sobre a vida do Cabalista?
Primeiro: a percepção de que as sefiroth estão, sim, hierarquicamente dispostas, e algumas das virtudes da Árvore serão, sequencialmente, de frequência mais elevadas do que outras ou, dito de outra forma, a manifestação de virtudes posteriores dependerão de virtudes anteriores.
Como exemplo, a Luz de Deus, a Coroa , Kether, seria condição si ne qua non para a sabedoria.
Não seria possível, visto deste ângulo, a sabedoria, sem alguma noção, mesmo que inconsciente, da existência de uma entidade superior de onde e para onde todas as coisas provém e retornam. A espiritualidade viria sempre antes da sabedoria, que por sua vez , sempre antecederia o mero entendimento intelectual, o que nos previne quanto a falsa suposição de que acumular informações e ser capaz de fazer correlações entre dados seja suficiente para entender verdadeira e profundamente a existência. O entendimento intelectual só é real e útil se provém da sabedoria, senão é apenas "klipa", casca vazia.
Da mesma forma, só uma pessoa que tem o poder da reflexão sabe que ser misericordioso é uma atitude mais sensata do que ser cruel. É apanágio de homens inteligentes e sábios a misericórdia, a capacidade de apiedar-se do sofrimento do alheio, não por bondade, mas pela compreensão da natureza humana, de que estamos todos juntos nesta existência e ajudar os menos afortunados é uma ato de inteligência por agregar mais uma pessoa ao conjunto dos que lutam pelo Bem, por elevar o nível e melhorar a sociedade como um todo através de um ato bondoso, nem que seja com uma única pessoa, que será transformada por este gesto de bondade e, por gratidão, sentir-se-á obrigada a repassar a outros o bem que recebeu, como o personagem Jean Valjean dos livro "Os Miseráveis" de Victor Hugo.
Um ato de misericórdia, Hesed, é pois, um ato que deriva da inteligência (Binah). A inteligência gera a Misericórdia que gerará, por sua vez, a verdadeira Justiça, Geburah, aquela que perdoa, compreende e reeduca, não apenas pune.
A rigor, nenhum de nós erra por maldade, mas sim por ignorância. Mais lucraria a sociedade se em vez de punir os erros conseguisse recolocar no caminho do Bem os infratores, pois precisamos de todos nesta luta.
Isto é sempre possível? Não, nem sempre, mas o ideal seria que nosso amor à Humanidade, ao Adam Kadmon, gerasse em nós um espírito de Misericórdia suficiente para que buscássemos realmente Entender as razões por trás do erro, e não simplesmente retaliar, punir, maltratar aquele que, por ignorância, maltratou e feriu a sociedade como um todo.
Só uma justiça devidamente alinhada com a Misericórdia pode gerar e ver a verdadeira Beleza (Tipheret) do Mundo, aqui não apenas expressão do que é esteticamente agradável, mas acima de tudo , do que é Harmônico em si.
Na vida em Malkuth, somente um indivíduo equilibrado e harmonico, harmonia esta proveniente de uma visão espiritual, sábia, culta e misericordiosa do mundo a sua volta, pode ser bem sucedido em todos os sentidos, seja físico ou psicológico, sucesso e Vitória esta (Netsah) sobre as aparentes contradições da vida em Malkuth que restaura o equilíbrio do Mundo.
Este Iluminado é, na Terra, a verdadeira presença do Ain Sof , e apenas por estar no Mundo torna este mesmo mundo mais Belo (tipheret).
São estas as condições para a manifestação pois, da Glória (Hod) de Deus na vida de um ser humano, Glória esta que sustenta a existência e que é a Fundamentação ou Fundação (Yesod) da vida no Reino (Malkuth), ou de outra forma, do Reino da Vida.
Não fossem pessoas assim ( e graças a Deus são muitas) a vida no mundo seria inviável, pois tais seres são forças de construção permanentes que garantem o crescimento saudável do tecido social e, ao longo das eras, a evolução da Humanidade (o Adão Kadmon) como um todo.
Segundo: é importante aqui especular também que este raio que se afunila plano após plano é um criador permanente de Almas, já que podemos concluir que as explosões dos "vasos" não aconteceram e pararam, mas continuam acontecendo toda vez que o Kav desce do Ain Sof e mergulha, através do Ain Sof Aur em Kether e depois na "Árvore", agora entre aspas já que ficou clara sua natureza de representação conceitual e não realidade factual.
Terceiro, como o raio desce em forma pura, não modulada, e vai se modificando a cada sefira até Malkuth, a Alma, ao ascender no retorno ao Ain Sof, encontrará uma liberdade maior a cada nível, exatamente porque, moldada pela experiência em Malkuth, este facho de Luz que retorna ao Ain Sof , aperfeiçoado pela experiência, sobe menos caótico e mais regular. É talvez por isso que o retorno à fonte deve ser mais rápido que a viagem de descida aos planos mais densos.
Cada sefira representa um ponto de refração e modulação de um raio que se refrata sucessivamente, nível após nível, e se complexifica, ele que antes era apenas um.



O fundamental a extrair deste arrazoado é que a Luz não chega aonde chega e como chega de modo incólume e suas alterações, suas modulações, são essenciais para que assuma a forma que possui em Malkuth, e para que Malkuth seja do jeito que é, um local dual e contrastado nesta dualidade, mas também uma região aonde o progresso do espírito imortal é possível.
Lembremos que Netsah significa Vitória na acepção de Maestria, superação das limitações e da ignorância e domínio sobre um conhecimento ou técnica, e portanto a Glória (Hod ) em Malkuth só é possível após o alcançar da Maestria, e esta só é possível pela conjugação das virtudes ou condições anteriores.
São algumas das interessantes conjecturas teóricas do maravilhosamente produtivo estudo deste sábado.

domingo, 9 de novembro de 2014

"AARON GOODWYN - ATONEMENT"


Salmo 96
1 Cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra.
2 Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; anunciai a sua salvação de dia em dia.
3 Anunciai entre as nações a sua glória; entre todos os povos as suas maravilhas.
4 Porque grande é o Senhor, e digno de louvor, mais temível do que todos os deuses.




sábado, 8 de novembro de 2014

GRUPO VIRTUAL DE ESTUDOS MARTINISTAS: CABALA E AS PROJEÇÕES NA ÁRVORE DA VIDA.

por Mario Sales, FRC,SI,CRC gr.18°




Sabadão, 9 e meia da manhã.
Hora é dia de estudar Martinismo, especificamente Cabala.
Não atualizei para todos que já participaram destes encontros virtuais, mas interrompemos a leitura do Ministério do Homem Espírito, me perdoem o que vou dizer, por completa impossibilidade de aceitar a melancolia de Saint Martin.
Saint Martin é um grande espiritualista, mas é um homem muito triste, que quase o tempo todo lembra o quanto estamos mergulhados em um mundo imperfeito e o quanto somos imperfeitos. Essa é a visão de um religioso, não de um iniciado. Já discuti este tópico, mas, vá lá, vejamos uma outra vez.
Ver o mundo apenas como ele se apresenta à nossa percepção, o fe-númeno, que dá origem ao termo fe-nômeno, não deve ser suficiente ao místico para tecer considerações e juízos de valor sobre esse mundo, lembrava Kant. No caso de iniciados, precisamos, ao menos, se somos homens de fé e tementes a Deus, crer que a sua criação não é tão imperfeita quanto aparenta aos nossos despreparados olhos.
Ver o mundo através dos olhos de Saint Martin é lamentá-lo, é querer que ele melhore mas partindo do princípio de que é muito, muito ruim. Qualquer melhora portanto será difícil, lenta e penosa.
Ora, partindo do princípio de que, para o místico, religioso ou não religioso, a concepção de mundo que nos vai na mente é o próprio mundo que contemplamos, pensar o mundo como simplesmente um mar de lágrimas e tormentos é crer naquilo que nossos sentidos percebem, é não ser capaz de ultrapassar os véus de Maya, os sete véus de Ísis, é não compreender a noção de Ilusão Perceptiva, tão clara hoje para místicos quanto para psicólogos.
O iluminado, ou pelo menos o iniciado, não é nem pode ser triste.
Ele vê o mundo através de lentes transparentes, nem marrons, nem vermelhas e nem azuis.
O mundo sem disfarces é belo e funcional e seu equilíbrio é, embora dinâmico, permanente.
O Mal, ou o aspecto Sinistro da realidade, não é expressão única do real, mas parte dela em combinação com o Bem, ou o aspecto Dextro, e um sem o outro não são capazes de gerar existência.
Osho, em uma entrevista, chocou seu interlocutor, um cristão ocidental, quando afirmou, de modo correto esotericamente, que os Demônios (antropomórficos) não existiam já que um Deus (antropomórfico) não existia também. Na cabeça do entrevistador, o que ele afirmava é que era ateu, ou algo equivalente.
Na verdade ele dizia que entender o Universo através de um de seus polos 
é o mesmo que não entender nada, mas ater-se a aspectos fenomênicos, parciais.
Na verdade, não há deus ou demônio em si, mas apenas energias de polos opostos, que se somam e complementam para gerar a criação em si.
Louvar ou divinizar um ou outro polo é limitar o Deus Verdadeiro, o Universo, a Criação, à apenas uma de suas faces, o que é equivocado, novamente, por ser parcial. O verdadeiro iniciado não pode ver o mundo dessa forma.
E foi por isso que ao ler que "o primeiro grau da cura que o homem tem de fazer em si mesmo consiste então em separar dele todos esses humores corrompidos e secundários que se acumularam nele depois da queda"[1] que resolvemos interromper esse tipo de leitura, por mais que reconheçamos a nobreza de seus propósitos, a dignidade de seu esforço.
Passamos ao estudo da Cabala segundo os ensinamentos da Tradicional Ordem Martinista.
Já lemos sobre a história da Tradição do Cabala, sua evolução desde o Misticismo Merkavah, ou da Carruagem, baseado na visão de Ezequiel, capítulo 1, até a poderosa reformulação feita por Isaac Luria, com as noções de Shevira Hakelin, a quebra dos vasos, Tikum Olam, a reparação do mundo estilhaçado, e a interessantíssima idéia da retração do Altíssimo que possibilitou um espaço para a Criação, o Tzim Tzum.
Lemos sobre letras hebraicas, aonde inclusive presenteei os irmãos com cópias do curso sobre o assunto que já levei à alguns corpos afiliados e à Morada do Silêncio, com preciosas e enriquecedoras contribuições do inesquecível Reginaldo Leite, meu amigo e mestre de devoção neste e em outros assuntos.
Participou da última reunião o Ir.: Fernando do Rio Grande do Sul, com intervenções de muita sensibilidade e erudição. Ficamos ele, eu e Flavio semana passada, ainda trabalhando conceitos de "O Ministério... ". Já havíamos parado de ler "O Ministério...", mas como Fernando é um aficcionado pelo trabalho de Saint Martin, assumiu o papel de seu defensor em função da avaliação que fizemos. E o sábado, mesmo com o estudo de Cabala já no meio, foi de modo excepcional, novamente Martinista.
Hoje, no entanto, estudamos eu , Flavio e Wilson Hackmey que voltou da Bahia, e foi a vez de Fernando não participar. Frater Francisco Canalli também não compareceu mais depois de uma participação, provavelmente pela mudança do horário ou obrigações com a Heptada (átrium) de Mogi das Cruzes.
O estudo de hoje valeu pela análise da Árvore da Vida e as sephirot, e por uma abordagem espacial diferente da mesma.
Embora às vezes, não pareça, sempre existe uma forma nova de ver um conceito antigo.
Por exemplo, a Árvore, como é ensinada, é um esquema vertical. Esta forma linear de alto abaixo limita a possibilidade de compreendermos alguns aspectos interessantes da representação deste esquema esotérico tão caro aos cabalistas.
Especulamos na reunião, eu Flavio e Wilson o seguinte: e se modificássemos a posição da Árvore do vertical para o Horizontal?
Senão vejamos:





Ao invés disso, horizontalizemos:



Muito bem, mas e daí? Ao colocarmos a árvore na horizontal, deitada, vemos Kether ficar no mesmo plano que Malkuth, e entendemos melhor a noção de que a energia que antes descia no aspecto vertical, emana, propaga-se, na apresentação horizontal, de Kether para Malkut, e é mais fácil ver que a energia tem um movimento bidirecional, indo e voltando através das sefiras. Malkut, entendido como um espelho, reflete a luz que vem de Kether de volta para a fonte de onde emanou, de forma que Malkut é o espelho onde Kether se contempla, e a criação, vista desta forma, é um grande exercício narcísico.




Um dos conceitos discutidos se coaduna com esta concepção reflexiva da criação.





É sabido que os cabalistas consideram que a Árvore da Vida é uma expressão da face de Deus "e o meio pelo qual o invisível adquire certa visibilidade".











Assim, dividem-na em duas partes: Arik Anpin, que em grego é Macroprosopo (O Grande Rosto ou Grande Face) e Zeir Anpin, que em grego é Microprosopo (Pequeno Rosto ou Pequena Face).
A Grande Face compreende as três sephirot superiores, Kether, Hochmah e Binah; e a Pequena Face as seis inferiores, Hesed, Gevurah, Tiphereth, Netsah, Hod e Yesod. Estas se condensam e manifestam em Malkuth, a décima e ultima sefira.
O nome Grande e Pequena Face não é feliz ao descrever o conceito. Poderíamos de modo mais fiel falar em Face Superior e Inferior, ambas do mesmo tamanho; só que naqueles tempos, os adjetivos "grande" e "pequeno" referiam-se mais a uma hierarquia de importância do que propriamente a uma descrição de tamanho; algo mais qualitativo do que quantitativo.


A árvore em pé: descida.




propagação


Em nosso momento, não usaríamos a mesma metáfora, fiéis que somos a nossa objetividade contemporânea.
O importante é que ver a Árvore em pé supõe a imagem sendo refletida de baixo para cima e emanada de cima para baixo. E se existe uma Árvore em pé é porque, aristotelicamente, o que está no alto, espacialmente, é superior qualitativamente, da mesma forma que, no espaço, o que está embaixo deve ser inferior em qualidade. Esotericamente, no entanto, não é assim.
O que diz a Tábua de Esmeralda, na sua segunda linha?
"(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.”
Vejam a frase, leiam com atenção. O que está embaixo é como o que está em cima. Malkuth está embaixo. A frase não se refere a nenhuma diferença de qualidade, só de posição. O Homem está embaixo. O que a frase diz é que o Homem, o Mundo, é como Deus que está em cima, idêntico em importância e poder.
Não é isso que a maioria das religiões ensinam. Para as religiões, isto seria uma blasfêmia.
Elas falam em um Criador e uma Criatura, um ser que pode tudo e sua criatura, que não pode quase nada.
Um antagonismo que lembra a noção hierárquica das nobrezas humanas, transferida para a compreensão do mundo espiritual.
Ora, se Deus é o Criador, se ele é Todo Poderoso e nos criou, estamos separados dele como a escultura e o quadro estão separados do artista. Se não existe esta divisão, Criador/criatura, então temos o mesmo poder, mas também a mesma responsabilidade. Somos jardineiros da criação e cuidamos de suas rosas tanto quanto o senhor do jardim. O conceito de Criador é pobre porque oculta uma série de pressupostos, não necessariamente verdadeiros.
Por exemplo: Deus como Criador, temporalmente, vem antes do homem. No tempo linear, existe um antes e um depois. O antes é antigo ou muito antigo e o depois é o mais recente.
Ora, um Deus eterno contrapõe-se a noção de um Deus apenas antigo, pois por mais antigo que este Deus possa ser, por ser datado teve um inicio, e portanto não é mais eterno.
Ou Ele é eterno, e por isso não pode ser antigo, ou Ele não é eterno e teve sim, um princípio, o que vale dizer, terá um fim.
Ora, supor um ser Onipotente limitado, seja em uma ou em outra extremidade do que chamamos (para usar um termo de Henri Bergson) Duração,(o tempo linear), é contraditório do ponto de vista lógico, mas é algo repetido muitas e muitas vezes, por muitas mentes menos elaboradas.
Eterno significa sem começo e sem fim, portanto algo que não tem um princípio, mas que permanece sempre o mesmo como existência, embora se transforme continuamente quanto a sua consciência, expandindo-a pela experimentação, em planos mais densos, de suas concepções acerca do real.
Colocar a Árvore deitada também faz com que lembremos de uma sala de projeção, a belíssima metáfora de Richard Bach em "Ilusões", que não me canso de repetir.




Kether lança sua luz criadora para Malkut assim como um projetor de cinema lança a sua luz criadora de imagens sobre a tela branca de projeção, criando assim a ilusão de um drama, de uma aventura ou tragédia, de diferentes ambientes, de diferentes situações que provocam reações emocionais em quem contempla, tanto quanto em quem produziu ou projeta o filme.



Olhar para o que se desenrola na tela desencadeia em nós respostas psicológicas que nos transformam, de modo que as pessoas que entram em um filme de cinema nunca saem iguais, mas sim modificadas pelas experiências emocionais decorrentes deste exercício estético moderno. Isto vale também para o Teatro, já que o cinema também é teatro, em última instância.
Representação, fazer de conta, ilusão que conta e narra uma história, que defende um ponto de vista, de modo elegante e artístico, com forte impacto psicológico.
Certos filmes lembram, pela suntuosidade e beleza e pela impressão que nos causam, iniciações esotéricas templárias.
Da mesma forma a vida mundana também pode ser entendida como um grande teatro aonde participamos emocionalmente de acontecimentos que nos modificam momento após momento, evento após evento, cena após cena.




d´aprés Reginaldo Leite



Reginaldo Leite, modificado.


O Cabala Luriano fala de Kav, o raio da criação que vem do Ain Sof para o centro do vazio criado pela retração de Deus e forma tudo que existe.
O Vedanta, ecoado pela Escola Teosófica, fala de Fohat, o raio de criação, que mergulha pelo espaço em direção a Koilon, matéria amorfa para juntos gerarem o chamado mundo manifesto.
Kether da mesma forma emana, se a colocarmos horizontalmente , para Malkut, seu raio de criação, o qual serpenteia pelas sephirot ao longo chamada Árvore, plano após plano de densidade, para manifestar-se no mundo visível.
Finalmente, do mesmo modo, o raio de luz que sai do projetor de cinema, na sala escura, e passa sobre nossas cabeças, nós, os expectadores, choca-se com a tela branca de projeção para produzir a ilusão, o Maya, do filme, transportando-nos magicamente, se é que assim podemos falar, para terras distantes, situações diferentes, das quais psicologicamente, concordamos em participar, permitindo que durante aquele espaço de tempo, as cenas que se desenrolam sejam para nós como se fossem reais.
Mesmo que tudo seja um truque da luz em nossas retinas.





"(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo (ou o que está de um lado do espelho, está do outro), para realizar os milagres de uma única coisa.”
Nós não somos criaturas, afinal concluímos, apenas pela modificação da posição da Árvore. Nós somos o próprio criador, seu reflexo, iguais e ao mesmo tempo diferentes D´Ele. Daí a frase "feitos à sua semelhança", como reflexos perfeitos do Ser. Somos tão responsáveis pela criação quanto Deus já que nós somos Ele, manifesto. Espinoza estava certo.




Tudo é Luz, que se projeta em meio às trevas do Ser, como já discutido no post "As Trevas" de 24 de agosto de 2013.
Depois deste exercício de abstração, encerramos a reunião e, quase em seguida, consegui contato com Fernando em Porto Alegre, aliás, Erechim, aonde descansava. Falei de nossas elucubrações matinais e mais para tentar dividir com ele esses pensamentos, fiz este resumo.



[1] "O Ministério do Homem Espírito",LCSM, pág 78, Diffusion Rosacruciene, 2a Ed. em Língua Portuguesa