Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A BANALIDADE DO SEGREDO


por Mario Sales, FRC, S.:I.:, M.:M.:




Nós, místicos, achamos que o esoterismo tem um papel a desempenhar no engrandecimento do homem.
Na minha opinião este é um ledo engano.
Tudo que é esotérico em excesso, só atrapalha.
Perdeu-se nas noites dos tempos e deixou de cumprir seu papel de transmitir as maravilhosas verdades veladas por seus símbolos.
Os significados foram perdidos, ou pelo menos esquecidos, e penso, com um sorriso, na ingenuidade daqueles que acham que os símbolos não devem ser expostos aos profanos por receio de serem entendidos, como se os profanos pelo menos se interessassem em entender os símbolos, ou ainda , sua interpretação.
Estamos mergulhados numa sociedade apática e superficial, descrente e desprovidos de élan vital, para lembrar Bergson.
São os apáticos da forma, os que consomem cascas sem densidade.
Sim, haverá sempre aquelas honrosas exceções. Mas o Segredo De Forma perdeu todo o sentido por absoluto desinteresse de todas as partes que poderiam se interessar por ele e, em vez disto, demonstram desprezo, considerando o mar de informações inúteis e atraentes de cada dia, das quais as verdades esotéricas ocupam um parte ínfima e com as quais não tem a mínima chance de competição.
Importa mais o último escândalo do que o significado oculto na Tábua De Esmeralda.
Assumamos: nós, místicos, não temos nada de interessante para a mídia, para o consumo dos “Amantes Das Cascas”.
A noção do sagrado continua a ser um fenômeno pessoal e particular.
Nada têm a ver com razões externas e objetivas.
Não há um protocolo de aspectos, imutáveis, que determina aquilo que deve ser mantido sob sigilo.
Há muito que isto não existe mais. Só que muitos de nós, ainda achamos que temos algo a esconder.
Se tivermos, tal coisa está no nosso interior, e se não quisermos ou fizermos algum esforço particularmente importante jamais será tirado de lá.
Não, a época não é mais de esconder, mas de revelar, pois Apocalipse vem do grego apocalupsis, revelação.
E como revelar? Didaticamente, mastigando o sentido daquilo que é esotérico, ou está esoterizado.
Tenho certeza de que muitos que defendem o segredo são incapazes de colocar em termos modernos aquilo que o esotérico encobre, talvez por que nem eles saibam exatamente o que aquelas passagens obscuras de seus amados e esotéricos textos signifiquem, mas não queiram admitir, por que isto lhes tiraria a única sensação de superioridade que possuem: a de parecerem saber coisas que não sabem, aos olhos dos não iniciados.
Esta farsa precisa acabar; primeiro internamente, dentro das muitas escolas esotéricas sérias do planeta, depois externamente.
Precisamos, nós, membros de todas as tradições místicas, começar a estudar melhor nossos textos, em conjunto se necessário, pois a dificuldade é imensa e precisamos de ajuda, temos que admitir.
Ao final, veremos, estou certo, que não havia tanto a ocultar. E que os discursos de todas as culturas são semelhantes.
Talvez quem saiba, possamos recuperar o texto inicial que deu origem a tantas lendas e variações.
O TEMA INICIAL, a Sabedoria Primeva, a Herança dos Atlantes e Lemurianos, estão ocultas na noite dos tempos. Qual será sua face, sua voz?
Não sabemos.
O vaso sagrado foi partido em milhares de pedaços: sufismo, budismo indiano, tibetano, japonês; xintoísmo, islamismo, cristianismo, judaísmo e cabala;vedanta, sankya, yoga.
Tantos pedaços que sem um esforço coletivo, corremos o risco de esquecermo-nos, todos nós, do significado oculto em todas estas tradições, partido em mil pedaços.
É uma escolha que teremos que fazer . Nós, preservadores da Tradição, em breve teremos que decidir o que faremos com o conhecimento que guardamos há tantas centenas de anos.
Aquele que tem consigo uma carta guardada há muitos anos, às vezes esquece que ela foi escrita para ser entregue a alguém.
Somos tradutores e mensageiros .
Se não entregarmos a carta que nos foi confiada, estaremos trabalhando a favor das Forças da Trevas e ocultando do destinatário exatamente aquilo que deveríamos entregar.
A História e o Tempo nos observam e nos julgarão.

Um comentário:

  1. Mário, coisa boa ter um texto seu, tão claro, sobre um assunto tão guardado, oculto. Você vem e traz de volta o que é preciso: somos tradutores e mensageiros. Não há o que guardar, mas o que revelar, traduzir, trazer à tona. Gostei muito. É preciso espalhar mais sua "carta", seu blog! Um super abraço. Corajoso, voce!!! Lélia.

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