Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

CRISTO, UM HOMEM DE CIÊNCIA


por Mario Sales, FRC,SI,CRC

E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes:
Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.

Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.
E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!
João 20:27-28


"Enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência"

Osvaldo Lenine Macedo Pimentel (Lenine), in "Paciência"




A maioria dos místicos ocidentais cultua o Cristo em suas religiões ou em suas Ordens esotéricas.
Ele é reconhecido como uma personagem histórica ímpar e não por outra razão, os calendários são marcados como antes ou depois de Cristo.
Para os religiosos, o Cristo é a manifestação de Deus na Terra. E sobre este tema, entre muitos, existe consenso.
Muitas eram as facetas do Cristo, enquanto na Terra que eram e são cultuadas. Uma no entanto das mais desconsideradas é seu lado pragmático.
Jesus nunca foi um homem de discursos, embora como orador, fosse brilhante. Quando discursava, era sintético, claro, direto. Quando falava, se bem que suas falas redigidas nos quatro evangelhos foram pinçadas e selecionadas entre muitas, era lacônico, objetivo, sagaz.
Mas seu ministério não foi, como muitos tendem a exaltar, um ministério de palavras. Foi um exercício de ação, de fatos.
Sua reputação aumentava a cada um dos dias que estava na Terra em função de suas realizações, de seus feitos. Era nestes feitos e nestas realizações que ficava demonstrada sua maestria e poder. E eram, este feitos que fortaleciam seus discursos, não ao contrário.
Isso é semelhante ao que faz a Ciência. Ela trabalha com fatos sobre fatos, experimentos que, além de confirmarem teorias, demonstram de forma indubitável, idéias e hipóteses, transformando-as em conhecimento de certeza. A construção do edifício científico é uma sucessão de demonstrações de mecanismos através de observações e experimentos feitos no mundo fenomênico, já que é o mundo fenomênico que interessa ao homem comum.
Esta noção de fenômeno, inclusive , mudou muito ao longo da história do trabalho científico. Hoje em ciência, lida-se com campos de tamanha sutileza e de tão pequenas dimensões que são absolutamente invisíveis ao olhar desarmado. Mesmo assim, não se trata de um trabalho espiritualista ou místico.
É apenas ciência, cada vez mais profunda, cada vez mais elaborada na percepção da realidade. Estes mundos delicados e invisíveis não são, pois, númeno (νοούμενο), essência. São fenômenos (φαινόμενο) já que a essência é empurrada para níveis cada vez mais difíceis de supor.
A pergunta de um milhão de dólares é esta: onde termina o mundo material e começa o mundo espiritual? Serão mesmo fronteiriços? Haverá, como no dizer de Espinoza, não espírito e matéria, mas níveis cada vez mais sutis de matéria apenas, sutis a tal ponto que possam ter sido chamados, algum dia, de níveis espirituais? E os corpos sutis dos indianos e da Teosofia Blavatskiniana? Como devemos chamá-los? Corpos espirituais progressivamente mais densos de fora para dentro ou corpos materiais, progressivamente mais sutis, de dentro para fora?
A conclusão é óbvia. A própria noção de separação clara entre matéria e espírito não existe mais. Morreu de obsolescência.
Hoje a Ciência trabalha com níveis impensáveis de sutileza e lida muito bem com isso. A Ciência, hoje, é quase mística.
O misticismo em si mesmo e o espiritualismo, entretanto, patinam.
Quando se fala em interação ciência e espiritualidade o que se vê são discursos, falas, nenhuma ação, nenhum fato; aliás, uma atitude, pelo que vimos, anti cristã.
O Cristo era um homem de fatos.
Água em vinho, no casamento; peixe e pão para a fome física.Terapeuta de doenças: Lepra, cegueira, paraplegia, doenças psiquiátricas, morte física.
Seus discursos não eram seu carro de frente. Eles vinham depois dos atos, das atitudes, das suas magníficas  intervenções no real, no trabalho junto aos poucos cultos, aqueles em que a mente não era capaz de abstrações intelectuais, gente que da mesma forma vivia de fatos concretos, fatos da vida, como as três misérias do Buda, a miséria, a doença e a morte.
Exatamente o que faz a Ciência. A Ciência lida com fatos. E só mentes desprovidas de bom senso podem imaginar que existe algo necessariamente bom na ausência de fatos e na proliferação dos discursos e necessariamente ruim na riqueza de fatos e na laconicidade do discurso, como em qualquer atividade científica.
Ciência é o estudo da Vida real e palpável, em todos os planos, densos ou sutis, em todos os níveis de sua manifestação.
Não lida com idéias vagas e imprecisas. A Ciência é e precisa ser, para ser Ciência, clara, direta, e se autorretifica, avaliando-se permanentemente, se autocorrigindo ao longo de sua história. A ciência, enfim, analisa-se e critica-se a si mesma.
Mas quem critica o esoterismo, quem pensa criticamente o misticismo? Quem é capaz de dentro do movimento místico olhar para ele e dizer: o rei está nu?
Quantas demências e desatinos já não vestiram a roupa do Místico e do Esotérico? Quantas falcatruas e projetos pessoais de poder já não colocaram o manto da dignidade esotérica para se disfarçar?
Não, a Ciência não é uma terra de santos, com certeza não é. Só que o terreno esotérico também não é. E a grande diferença entre ambos é que a Ciência sabe de seus defeitos e falhas, sabe que o conhecimento que produz tem um prazo de validade, além de que pode e é usado para finalidades não tão nobres; sabe, enfim, que a razão em certos contextos, não merece confiança.
E os esoteristas e místicos?
Aonde estão os verdadeiros místicos cristãos no sentido que estamos trabalhando? Que vão a casamentos e festas e bebem vinho em vez de água? Que convivem com doentes e necessitados e lhes ajudam? Cujos milagres não visam apenas e tão somente o chamado espírito, mas visam também o respeito ao corpo com o tratamento de doenças físicas e da fome, com pães e peixes em abundância para todos?
O discurso católico romano, que durante séculos ensinou, através de um clero gordo de tanto comer e cheio de jóias, "a podridão do corpo" em comparação com "a beleza da alma e de todas as coisas invisíveis", ainda ecoa na mente de todos e só o tempo e a cultura poderá desfazer. O obscurantismo e o ódio ao que é científico, se alimenta deste tipo de mentalidade cretina e obsoleta, mesmo entre alguns místicos que não querem ou não conseguem ver o quanto de santo e divino existe no conhecimento científico.
Precisamos de mais Cristos, mas não crucificados e sangrando como a imagem consagrada pelos mórbidos religiosos que enfatizaram as Trevas e não a Luz.
A mensagem do Cristo, que me perdoem os masoquistas, nunca foi uma mensagem de dor e sofrimento. A mensagem do Mestre foi a de alívio da dor, com seu ministério terapêutico; de combate à fome, o mais indigno de todos os sofrimentos; e , principalmente, de combate à ignorância e do preconceito, aceitando em seu círculo interno de relacionamento, pescadores semianalfabetos, prostitutas e coletores de impostos.
Precisamos de mais Cristos capazes de compreender a necessidade da ciência de tocar, sentir e cheirar. Que convoquem "Tomés" a colocar os dedos nas chagas, e compreendam esta limitação de percepção, mesmo após tendo dado uma demonstração tão impressionante quanto ter-se materializado em uma sala de portas trancadas, como relatado.
Nós, rosacruzes, que nos intitulamos místicos cristãos, não fazemos a mínima idéia da seriedade desta designação. Implica uma mudança de postura em relação à experiência, sem recusá-la, pelo contrário, abraçando a experiência e os fenômenos a ela ligados, envolvendo-se com ela e não recusando-a.
Já não estamos afastados do social fazem décadas. Estamos mergulhados nas festas, casamentos ou não, e nos empanturramos com pães e peixes, sem deixar de seguir o Mestre.
Seus milagres deixam claro que não é o jejum ou a tristeza que nos levarão a ele, mas a alegria, a fartura e, o mais importante, o conhecimento.
Isso a "Santa Madre" igreja entendeu , mas escondeu. Seus sacerdotes comiam, e muito, enquanto ao redor dos mosteiros muitos passavam fome. Seus clérigos estudavam a cultura grega e romana, quando ao redor dos mosteiros ninguém sabia ler. Eles tinham acesso a informação quando a informação era apenas mais uma luxúria.
Antes de mais nada queria dizer que peço sinceramente a Deus que abençoe Francisco, o novo papa, na sua aparentemente sincera missão de trazer de volta o pudor e a dignidade a Igreja de Roma.
Só que a história da Igreja , infelizmente, não começa com Francisco, mas apenas continua com ele.
Existe um passado de erros e tragédias, de perseguição ao pensamento científico, aos filósofos, e aos que discordassem de seus cânones, que aos poucos vem sendo resgatado. O dano psicológico aos corações e mentes, infelizmente levará mais tempo para ser superado.
A maior distorção da mensagem do Cristo foi afirmar, durante séculos, que a ignorância e o horror ao conhecimento fossem desejáveis para aquêles que buscavam a luz espiritual. E a razão e o raciocínio lógico foram transformados em elementos do Diabo, enquanto muitos dos, assim chamados, "homens de Deus", dedicavam-se exatamente ao estudo destes "demoníacos" instrumentos para fundamentar a maior escalada de poder de uma religião ao longo da história humana.
Por isso, ciência e religião devem estar separadas, sim, pois são fundamentadas em pressupostos antagônicos, mas o misticismo e o conhecimento científico devem se reencontrar, se unirem, como já estiveram unidos antes, na pessoa do maior terapeuta que o mundo conheceu.
Uma única atitude não científica se destaca no ministério cristão: ele não compartilhou seu conhecimento específico, apenas o geral.
Uma das característica da Ciência é o compartilhamento. Tudo que é descoberto ou pesquisado é compartilhado e os méritos podem e devem ser divididos entre centenas de milhares de homens e mulheres que ao longo da história construíram parte a parte, peça por peça, o alicerce de uma dada descoberta. Como Newton, cientista e rosacruz, disse um dia "se enxerguei mais longe, foi que estava sobre os ombros de gigantes".
Que se saiba com segurança, as técnicas de cura do Cristo jamais foram compartilhadas e, por mediocridade mental de uns e interesse de outros, foram atribuídas a dons excelsos e únicos, intransmissíveis de pessoa a pessoa, enfim, coisas de Deus.
Na verdade tratava-se de um conhecimento além de uma sabedoria. Pois ambos formam o primeiro triângulo.(keter-hockimah-binah/coroa-sabedoria-conhecimento/Cristo - luz espiritual - técnica terapêutica). O Cristo tinha sim um conhecimento diferenciado, esotérico e esoterizado por ele.
Deveria ter suas razões, não tenho competência para discuti-las. Mas sempre me entristeci com isso. Como místico e como médico.
Já vi, com desalento, muito sofrimento e tristeza que poderiam ter sido amenizados ou mesmo extintos com as poderosas técnicas do Cristo.
E neste mundo dual, todos os esforços da ciência esbarram nas limitações do alcance do conhecimento humano, que é pequeno. O aprendizado de técnicas como as de Jesus na terapêutica seria um enorme auxílio na diminuição do sofrimento no mundo.
De qualquer maneira isto não vem ao caso.
O tema é a união de conhecimento científico e sabedoria espiritual. E existem já algumas iniciativas interessantes na área. Uma das mais promissoras vem, não de rosacruzes, mas de um médico kardecista, religião e escola a qual não pertenço.
Falo do trabalho do Dr Sergio Felipe Oliveira, cujo esforço em unir estes dois campos pode ser acompanhado em vídeos que de tempos em tempos caem na rede. Um deles pode ser assistido em http://www.youtube.com/watch?v=Wmi8clURHpw.
Queira Deus outras iniciativas iguais surjam e prosperem. Queira o Cósmico que ao menos uma seja capitaneada por rosacruzes.

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