Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O CAMPO MENTAL E A IMAGEM REFLEXA



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:




Lidar com as perdas cotidianas é um esforço psicológico muito duro e difícil. Precisamos compensar as nossas dificuldades emocionais e a nossa tristeza pela doença de um filho ou de uma mãe, pelas dificuldades financeiras, dificuldades profissionais e emocionais.
Não é fácil. Todos nós temos problemas.
O equilíbrio emocional, a capacidade de lidar bem com os dissabores, em psiquiatria, chama-se resiliência.
Ao falar-se desta capacidade, algumas perguntas surgem à mente: esta é uma qualidade inata? Pode ser aprendida? Se a resposta for sim, qual seria então a forma de aprender a ter resiliência? Aspectos como : Administração das emoções, Controle dos impulsos, Otimismo, Análise do ambiente, Empatia, Autoeficácia (convicção pessoal), Alcance de pessoas (ou seja, a capacidade de conectar-se a outros na busca de uma rede de fraternidade e sustentação mútua, em palavras mais simples, ter amigos) são características de quem tem resiliência.
Só que o conceito de resiliência fala de resistência ao externo e nada diz do interno, daquilo que permite a angústia. Esta noção parte do princípio de que a angústia é inevitável, que a dor é inerente a vida (viver dói) e que devemos estar prontos para muitas tempestades ao longo de nossa jornada. 

Quanto a isso, acredito, concordamos.
Os rosacruzes fazem, no entanto, um adendo.
Para os rosacruzes, a qualidade da Imagem Interna do indivíduo acerca do mundo cria o mundo a sua volta, a Imagem Externa.
Eu chamo a isso Imagem Reflexa.
É uma afirmação poderosa.
Significa que o conjunto de nossas crenças gera a realidade e os acontecimentos em torno de nós, que os fatos e coisas que chamamos reais são produto de densificação externa de imagens internas do nosso mental. 


E quando falo “Mental”, refiro-me ao Consciente e ao Inconsciente, ou por outra, aquele conjunto de convicções pessoais que temos, parte das quais são claras para nós, e parte das quais nos é desconhecida e dorme na profundidade de nosso ser.
Por isso em Delfos se dizia “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo”.
A idéia da Imagem Reflexa já estava implícita nesta aparentemente esotérica afirmação.
Muitos julgaram-na psicológica. Também o é.
Os místicos, no entanto, levam-na ao pé da letra.
Somos, todos nós, criadores de mundos e de realidades. 


Nossos medos se transformam em realidades, nossos receios se materializam, nossos desejos mais intensos e profundos, se sinceros, se realizam. Para alguns de forma maravilhosa e inesperada. Fala-se até em bênçãos de Deus.
Para os Rosacruzes, trata-se apenas da aplicação do princípio da Imagem Reflexa.
Tudo que está fora de nós é reflexo do que está dentro de nós.
Na Tábua de Esmeralda dizia-se que o que está em cima está embaixo, e o que está embaixo está em cima (esta segunda parte incompreendida e às vezes, menosprezada, já que a maioria das pessoas não acredita que suas ações e pensamentos tem algum reflexo na Mente Universal. Só que têm sim.)
Tudo que desce, volta a subir ao Cósmico e depois desce novamente modificado por uma elaboração interna da Mente Cósmica, em um fluxo ininterrupto, mediado pelos espíritos denários na boca da Imensidade Celeste, na acepção de Martinez de Pasqually no seu Quadro Universal.
O princípio da Imagem Reflexa acrescenta: “não só o que está em cima está embaixo e vice versa, mas também o que está dentro está fora e o que está fora está dentro”, mostrando a troca constante entre Concepção e Fato, e não só Ato, que é algo psicológico, não místico. O Fato é mais amplo que o Ato, já que o Ato diz respeito ao indivíduo, compreende-se a participação solitária do indivíduo no acontecimento, mas o Fato reflete aspectos às vezes mais complexos, com várias interligações e outras pessoas envolvidas. Por isso não compreendemos, senso comum, pelo menos não os não iniciados, como podemos interferir em um fato Histórico ou Social, que envolve várias pessoas e não só a nós mesmos, como conseqüência de um pensamento nosso, no fundo de nossa mente, às vezes oculto no inconsciente e escondido de nós.
O Auto Conhecimento, para o místico, não é apenas uma forma de melhorar-se como ser humano, de tornar-se mais maduro e resiliente, mas também uma maneira de tornar-se um sócio criador da divindade, uma extensão 
mais perfeita da divindade , nesta chamada "Realidade" que nos cerca. 
Precisamos, para nos conhecermos, entrar em nosso cantos mais escuros, visitar nossos quartos mais fechados, abrir as janelas de nossa mansão mental, de forma a que a luz que entrar revele-nos valores, lembranças, traumas que aparentemente não temos, que esquecemos no nosso passado.
Por isso tenho defendido a psicoterapia regular e protocolar para todos aqueles que desejem ser místicos, de preferência feita por um psicólogo místico, não sectário, como método auxiliar à busca de autoconhecimento.
Em um ensaio chamado “Superstição”, publicado no blog em três de março de 2010, escrevi: “Se a psicoterapia funciona como uma iniciação laica, profana, a iniciação, por sua vez, funciona como uma psicoterapia sagrada, esotérica.”
Portanto, este esforço pela conscientização dos valores mais profundos do nosso inconsciente também é feito pelo processo iniciático, com apelo a recursos teatrais, que mexem com o emocional, a principal instância aonde se dá a autodescoberta.
A razão não consegue ir até lá. Ela não tem a força necessária.
A neurofisiologia afirma que o sistema límbico, aonde se processam as emoções, está envolvido também na bioquímica da memória. 


Lembranças são melhor fixadas, sabe-se, se associadas a situações de intensa emoção.
Por isso iniciações esotéricas, com seus rituais, seus odores, suas penumbras, suas falas teatrais, impressionam a mente e o espírito do iniciando, fixando os ensinamentos desejados não em seu cérebro, mas em seu coração, melhor dizendo, na profundidade de sua mente. É ali que precisamos mexer, na região mais profunda do iniciado, aonde sua energia criadora, sua Kundalini, dorme.
Ajustes tão profundos são delicados, porém absolutamente necessários. Considerando a intensidade da energia a ser liberada, entende-se porque não é um dom manifesto de forma vulgar.
Ao que parece, existe a necessidade de parear o grau de maturidade psicológica e da consciência do indivíduo com a sua capacidade de manifestar plenamente seu poder criador na realidade.
Faz sentido.
Daí um indivíduo qualquer não poder acessar este banco de energia de forma plena, mas parcialmente.
E o acesso parcial chama-se Imaginação Criativa.
É possível através do pensamento dirigido e ilustrado por uma imagem definida realizar transformações no real. De forma voluntária.
O que nem sempre consideramos é que também é possível, e via de regra acontece, que ocorra um acesso confuso, inconsciente e parcial a este Campo Mental de Energia, a esta fonte interna e criadora, levando a acontecimentos fortuitos e inesperados em nossa existência, de modo desordenado, já que não temos controle sobre nossas emoções, medos e convicções. São nossas sombras, que nos acompanham dia após dia, que causarão a materialização indesejada de problemas em nossa existência, sombras das quais não nos livraremos apenas nos deslocando geograficamente, como às vezes , ingenuamente, alguns acreditam, ao se mudarem de cidades por terem atravessados problemas muito graves, e sendo expostos novamente, para sua surpresa, aos mesmos problemas dos quais queriam se afastar na cidade de destino, por mais distante que seja. 



Se somos infelizes no Sul do País, seremos infelizes no Norte e Nordeste.
Se somos vítimas de problemas de relacionamento humano ou sociais no Sudeste, os mesmos problemas ocorrerão no Centro Oeste. Mudanças geográficas mudam os cenários, não os personagens.
E o principal personagem deste drama existencial e criativo somos nós mesmos.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Universo”, diz o aforismo. O Universo, toda a Criação, que é nada mais do que um reflexo externo da nossa imagem interna.
É esta imagem interna, amplificada e densificada através de nossos olhos no mundo aparentemente exterior a nós, que precisamos mudar.
E isto é difícil, exige, ao mesmo tempo, meditação no sentido ocidental (reflexão intelectual), e meditação no sentido oriental da palavra (silêncio interior e introspecção sem intelecto).
Leva tempo. É preciso paciência. 

O tempo, no entanto, não importa: só a vida importa, diz a fala do alienígena no filme de Luc Besson, O Quinto Elemento.
Porém, eu diria, citando Alexis Carrel,(um pensador hoje esquecido, mas que já teve sua importância no início do século XX), mais vale a qualidade da vida do que a própria vida.
E a qualidade da vida só melhora quando melhora a qualidade de nossos pensamentos, de nossas emoções mais íntimas, e da relação entre ambos, emoções e pensamentos.
Não podemos deixar, em nenhum momento, que a depressão, a falta de confiança no Altíssimo, a tristeza com os problemas cotidianos seja mais intensa do que a nossa qualidade mental interior, a qual, se bem educada e compreendida, libertará uma força muito mais intensa do que milhões de bombas nucleares.
E essa frase não é metafórica. Por isso em parte é bom que não tenhamos esta habilidade manifesta de forma indiferenciada, mas atrelada sempre à nossa evolução psicológica e espiritual, existindo entre ambos (evolução espiritual e poder mental) uma relação de proporcionalidade direta.
Estas são revelações altamente esotéricas, mas nada aqui está sendo profanado, porque, pasmem, os não iniciados são cegos ao que está diante de seus olhos, surdos ao que berra em seus ouvidos, insensíveis ao beliscões que recebem todos os dias de Deus.
A neurologia ensina que não é o olho que vê, nem o ouvido que escuta, nem a pele que sente, mas o cérebro.
É ele que processa as imagens, os sons e as sensações. Sem um cérebro competente somos cegos, surdos e insensíveis.
Do mesmo modo, sem uma mente treinada, sem a iniciação, não podemos sequer imaginar a existência dos dons aqui descritos quanto mais usá-los.
O que não nos libera de sofrer as conseqüências dessas energias que desorganizadamente, materializam diariamente a nossa volta nossos desejos e receios.
Pena. O mundo seria melhor se todos estivessem cientes dessas coisas, e ao mesmo tempo se aperfeiçoassem para poder usar melhor estes poderes.
Só que não é assim. Paciência. Tudo a seu tempo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MEU MESTRE NA MORADA


por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:, M.:M.:


Outro dia aqui no blog publiquei um ensaio que comentava logo no início “que talvez não exista ordem mais erudita que a Rosacruz. Por natureza é formada por homens e mulheres bastante diferenciados, que exibem, cada um ao seu modo, habilidades intelectuais excepcionais ou uma curiosidade insaciável acerca das coisas do esoterismo, ou ambas as coisas.”
Um desses homens, para meu privilégio e orgulho pessoal, além de meu irmão, é meu amigo.
São incontáveis noites desde o início de 2010 conversando acerca dos mais variados assuntos, trocando informações sobre outros, mas na maioria do tempo, estudando, ele como mestre e eu como discípulo.
Seu enorme conhecimento sobre as letras hebraicas, seu grande interesse em Cabala e o sem número de livros que ele consulta em três idiomas para reunir essas informações somados a sua gigantesca generosidade tem sido a base de um arquivo especial em meu disco rígido com seu nome que considero meu tesouro particular.
Agora, por quatro dias, de 20 a 23 de outubro, ele estará a pedido do Grande Mestre, na Morada do Silêncio, na estrada da Graciosa, repartindo com mais pessoas seus conhecimentos e sua simpatia singular. Serão 4 dias de pouco sono e já antevejo que as noites da Morada não serão tão silenciosas considerando a vontade de dividir que o caracteriza e a vontade de saber dos rosacruzes.
Quem não assistir o curso de Frater Reginaldo Leite sobre “O Misticismo das Letras Hebraicas” terá perdido uma insubstituível oportunidade na área da Grande Loja de Língua Portuguesa de compartilhar da sabedoria de um dos mais agudos intelectuais de nossa jurisdição e o prejuízo será imenso.
Seguem as inscrições, mas provavelmente ainda restam poucas.
Espero que consigam participar.
Vai valer a pena.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ANÁLISE DO SÍMBOLO DA CAPA DO TRAITE DE LA REINTEGRATION DES ETRES DANS LEURS PREMIERES PROPRIETES, VERTUS ET PUISSANCE SPIRITUELLES ET DIVINES : ALGUNS COMENTÁRIOS ADICIONAIS.


Por  Mario Sales, F.R.C.:,S.:I.:, M.:M.:



Trabalhei na última hora sobre o símbolo da Capa do Tratado da Reintegração, tentando encontrar fundamentação para a interpretação que publicamos aqui alguns dias atrás.
Para minha satisfação, a fundamentação está dentro do próprio tratado.
Para a explicação das órbitas, quem quiser poderá conferir à página 286 da 1ª edição brasileira de abril de 2007, o parágrafo 217. Ali o próprio Martinéz, pela boca de Moisés, descreve as órbitas dos sete planetas.
Já para a expressão H A N I M E, que está no centro do círculo, havia um certo desconforto pela presença do H., junto com a palavra Alma, em grego.
Fico feliz em desfazer este desconforto.
O H , no tratado, é uma letra da maior importância já que é a letra inicial de um personagem fundamental para Pasqually, segundo a descrição de Robert Amadou, em seu erudito ensaio no início do livro, à página 29 , mesma edição.
H é a inicial de Hely, nome pelo qual Martinez de Pasqually designa o Cristo.
Estes são os esclarecimentos adicionais que gostaria de registrar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

A FALSA LUZ


por Mario Sales FRC.:, S.:I.:,M.:M.:




Acho que talvez não exista ordem mais erudita que a Rosacruz. Por natureza é formada por homens e mulheres bastante diferenciados, que exibem, cada um ao seu modo, habilidades intelectuais excepcionais ou uma curiosidade insaciável acerca das coisas do esoterismo, ou ambas as coisas, em número suficiente para fazer uma massa crítica considerável.
Nem sempre são originários da Academia. Muitos são pessoas sem uma formação ortodoxa, o que em nada diminui sua perspicácia e acurácia na interpretação de textos e conceitos que a Ordem generosamente derrama sobre eles em seu trabalho ininterrupto de preservar a herança atlantiana.
Às vezes, entretanto a questão da erudição me preocupa.
Todos que me conhecem sabem que eu seria a última pessoa a carregar meus canhões contra a erudição ou contra a atividade intelectual. Só que exegese de textos, a hermenêutica sacra ou laica da herança esotérica, a meu ver, nunca deve ser mais importante que a mensagem que estes textos e estes símbolos trazem para nós, desde tempos remotos e distantes.
A luz que corre pela corrente e ilumina várias lâmpadas em série, é a mesma. Ao passar pelo filamento da lâmpada emite luz branca e calor iguais, em lâmpadas de mesma voltagem; mas se são lâmpadas de cores diferentes o que veremos não é a luz interna de cada lâmpada, mas aquela que atravessa o bulbo colorido, modificada para verde, amarelo ou vermelho.
A essência do conhecimento esotérico, da mesma maneira, é a mesma. Ele se assenta nas mesmas bases que alimentaram os Caldeus e Babilônios, Hebreus e Persas, Hindus e Chineses. Manifestou-se de diferentes formas em diferentes culturas, mas que são a expressão local de um conhecimento e de uma cultura que um dia foi planetária, e que se esfacelou em meio a um cataclismo natural ou não, o que não cabe aqui discutir.
Os esoteristas, como eu e outros, que militam como Artesãos desta nobre Ordem, se compreenderam bem sua missão, buscam extrair o sentido íntimo de cada uma das tradições que estuda, seguindo a máxima árabe que diz: “Enquanto vires apenas as diferenças, teu conhecimento não valerá uma rúpia. Só começarás realmente a aprender quando perceberes as semelhanças.”
Esoteristas são, por natureza, altruístas. Não se encharcam como esponjas de informações com a intenção de manterem este líquido represado dentro de si, mas sim com a única finalidade de transportá-lo e despejá-lo no "Jarro Comum de onde Todos Bebem e Beberão", numa colaboração ininterrupta para garantir que a sede espiritual e intelectual de todos os nossos fratres e sorores seja sempre saciada.
Não há outro objetivo possível.
Só a vaidade poderia supor que, alguns de nós, sabem mais ou melhor do que outros, as coisas que sabemos. Somos todos partes de um mesmo corpo, em busca da mesma essência, do mesmo cálice sagrado.
Não somos nada senão instrumentos do Altíssimo e o que descobrirmos ou percebermos, será, sem hesitação, imediatamente partilhado, como é nossa obrigação fazer, como servos desta Santa Sociedade.
Em Mateus 5:15 está dito: “Não se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.”
Tudo, portanto, que estudarmos e lermos visa duas coisas:
1° atingir o sentido íntimo do símbolo ou do texto estudado e ver nele os sinais da Tradição Primordial, reconhecendo se possível a mesma Luz que está presente em todos os Textos verdadeiramente sagrados e em todos os símbolos verdadeiramente importantes;
2° acumular para desfrute de todos os irmãos de Ordem, as informações necessárias para que o caminhar iniciático destes buscadores seja facilitado, dando-lhes, dentro de nossas possibilidades, todas as ferramentas que pudermos para que desvendem o Mistério da Vida e retirem o Véu de Ísis.
É preciso entender, assim, o intelecto.
Um instrumento, belo e elegante, como um piano de som afinado e doce, mas morto, se um pianista, com técnica, mas também com sensibilidade artística, não o tocar.
Por isso se diz que o intelecto é a Falsa Luz.
Ele faz com que acumulemos informações sobre lâmpadas de todas as cores,verdes, azuis ou vermelhas, na suposição de que são produtos diferentes, de energias diversas, apenas porque a cor das lâmpadas é diferente.
Não são em essência diferentes, entretanto.
Isto todo esoterista sincero e principalmente todo Rosacruz sincero sabe.
Nunca, entretanto, é demais lembrar.
Principalmente àqueles que vivem pelos três mais elevados princípios: Trabalho, Lealdade, Humildade.
É isso.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ANÁLISE DE UM SÍMBOLO SECRETO ROSACRUZ DOS SÉCULOS XVI E XVII EM 3 PARTES: 3a PARTE



Por Mario Sales, FRC.: , S.:I.: , M.:M.:

Reiniciemos nossos trabalhos de interpretação com as citações laterais do Símbolo em análise. Como vimos na 2ª parte são 4 citações correspondentes aos quatro evangelistas e mais duas intermediárias, duas pequenas frases, as quais aludem a impossibilidade da razão de penetrar a essência da realidade.
Apenas para lembrar as citações são:
1ª. Por toda a parte Deus é livre dentro e fora de todas as criaturas.
DEUS. Medida de tempo da Natureza.Anjo com seis asas.
2ª. “A mente externa e interna, sem a luz divina não poderás encontrar”.
3ª. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.
PAI.
Medida do tempo da Lei. Leão com seis asas.
4ª. E não há Deus senão o Deus Único. ESPÍRITO SANTO. Tempo do comprimento. Águia com seis asas.
5ª. Só o espírito sabe. A Razão encarnada é cega.
6ª. Deus é o primeiro e último. FILHO. Tempo do Evangelium. Boi com seis asas.



Falamos antes da Liberdade de Deus, e em seguida da representação dos evangelistas na figura de animais (Anjo, Leão, Águia e Boi como Mateus, Marcos, João Lucas).
Em seguida examinamos o grave problema da tradução de expressões místicas e da importância de ser um místico o tradutor e não um lingüista, já que, quando é um místico que faz a tradução, não se comete o engano de fazer a tradução baseando-se em pressupostos de outro universo do conhecimento, a filosofia.
Ainda sobre a segunda citação analisada, poderíamos falar também de uma análise espacial do símbolo e da relação dos trechos com a sua posição em relação ao desenho.
Lembremos a posição da 2ª e da 5ª citações no desenho, abaixo.



Observem que a primeira parte da frase:
“A essência das coisas, (e não o Espírito ou a Mente) no interior e no exterior, sem a luz divina não poderás encontrar”, está próxima da palavra Jesus, correlacionando o nome do Mestre à idéia de inspiração da Luz Divina.
A segunda parte: “Só o espírito sabe. A razão encarnada é cega”, está próxima da palavra Lúcifer, correlacionando a Razão com a Falsa Luz, o Intelecto, aquele que tudo justifica, até o Mal, e que não é capaz, por suas naturais limitações, de dar senão uma visão parcial da Verdade.
Continuemos.




A 3ª. : Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.
PAI. Medida do tempo da Lei. Leão com seis asas.
Quanto ao fato de Deus ser princípio e fim do Universo não há maiores comentários a fazer.
E na citação Medida do Tempo da Lei aplica-se aqui o mesmo modelo interpretativo da frase Medida do Tempo da Natureza, ou seja, se Deus é eterno, a Natureza também o é, e a Lei Cósmica, da mesma maneira é Eterna, sendo, portanto tão duradoura quanto o Criador.
A palavra PAI, metáfora mais usada pelo Cristo em seu ministério terreno, correlaciona-se muito bem com a idéia da Lei, já que as famílias da época eram patriarcais e era ao Pai que se davam as responsabilidades de aplicar a disciplina aos seus filhos e a toda a casa.
Não sei ainda e deixo aos que me lêem verificar se existia alguma intenção oculta na correlação entre o Evangelista-Leão, Marcos, e assuntos correlacionados a aplicação da Justiça Divina. Se o seu evangelho tinha uma ênfase especial neste aspecto ou não. Isto não analisarei.




4ª. E não há Deus senão o Deus Único. ESPÍRITO SANTO. Tempo do comprimento. Águia com seis asas.
A citação “não há Deus senão o Deus Único”, presente também no Corão Islâmico, (“Só existe um Deus e seu nome é Alá, e Maomé é seu profeta”), configura uma declaração sobre a Unidade da Criação, e seu funcionamento sincrônico e articulado, em qualquer área do espaço tempo. Aqui o simbolista fala do Tempo do comprimento, uma expressão curiosa que entendi como a noção espaço temporal dos nossos dias e que, na época, só poderia ser expressa assim mesmo, já que comprimento reflete Espaço, enquanto a palavra Tempo fala da outra dimensão.
Tempo do Comprimento e Espaço Temporalidade são a mesma e a única coisa, Onipresença Espaço Temporal, Presença de DEUS em todas as coisas, em todos os instantes, passado e futuro, Espírito de Tudo, ou , como é dito no símbolo, o Espírito Santo.
Sobre a Águia: João , o Evangelista Místico, o homem que escreve "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus", o Verbo aí, entendido como Jesus, o Cristo, manifestação de Deus na Terra, vem associado de maneira correta ao nome do Cristo Místico, o Cristo Iluminado, Graça Divina que se fez carne.
E já que o quinto texto já foi analisado, vamos ao 6° texto:




6ª. Deus é o primeiro e o último. FILHO. Tempo do Evangelium. Boi com seis asas.
Aqui novamente reafirma-se a antiguidade e a presença eterna de Deus, e imediatamente indica-se o FILHO, de forma a mostrá-lo como identificado ao PAI. Imediatamente fala-se no tempo do Evangelium, mostrando que a presença do FILHO manifesta-se através dos textos bíblicos no Novo Testamento, os sinais e termos para a Nova e Eterna Aliança, celebrada pelo Cristo Jesus com toda a Humanidade.
O Boi de 6 asas remete a Lucas, que se esforçou para ressaltar o aspecto sacerdotal do Cristo, e como o Boi é o animal sacrificial, seu codinome tornou-se este.
Estes comentários quero crer, concluem as análises deste belíssimo símbolo, e, se Reginaldo não me deixar desanimar, o princípio de muitas outras interpretações.
Assim Seja.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ANÁLISE DE UM SÍMBOLO SECRETO ROSACRUZ DOS SÉCULOS XVI E XVII EM 3 PARTES: 2a PARTE

COM A DESCRIÇÃO DAS DIFICULDADES ENCONTRADAS NA TRANSLITERAÇÃO DE CERTOS TRECHOS.


por Mario Sales MM.: e Reginaldo Leite, ambos FRC.:, SI.: 


 O símbolo em francês, fornecido pelo Fr. Reginaldo Leite




1ª. Por toda a parte Deus é livre dentro e fora de todas as criaturas.

DEUS.

Medida de tempo da Natureza.

Anjo com seis asas.

Porque falar da liberdade de Deus? Como discutir tal atributo, tal adjetivo?
Só dentro de um contexto simbólico.
O Absurdo da possibilidade de um Deus Aprisionado horroriza o mais comum dos crentes.
No entanto o simbolista o declara: “Deus é livre” , e além disso especifica “...dentro e fora de todas as criaturas.”
Porque tal especificação?
Porque embora pareça absurdo à todos aqueles que veneram o Altíssimo que ele não seja livre enquanto Deus, a concepção mais primária de Deus é de um ser aprisionado em uma forma definida, em um espaço delimitado.
O simbolista, no canto superior esquerdo deste magnífico símbolo, com poucas palavras, declara:
Deus não está em parte alguma, mas sim em toda a parte; ou por outra, não existe um Deus pessoal.
Todos os verdadeiros Místicos são panteístas, vêem Deus em todas as coisas, sentem Deus dentro de si. “Livre dentro e fora de todas as criaturas.” Mais claro impossível.
Livre. Livre de um corpo, de uma forma, de um tempo.
Esta frase dialoga com outra do quadro. Aquela em que é dito: “Em Deus nada há que lhe seja próximo ou distante. Ele é tudo em tudo e por tudo em todos os lugares.” Portanto livre, sem espaço ou tempo que o aprisione. "O céu dos céus não pode englobar o Deus único, nem encarcerá-lo".
Livre, portanto.
Sem forma, sem rosto, sem idade. Apenas Deus.
E esta é a próxima palavra: DEUS. Afirmativa, como a expressão “Eu Sou”, sem adjetivos, sem qualificações, apenas o Sujeito e o Verbo, a ação. Deus é ação.
Em seguida, uma afirmação poderosa: Deus é  a medida do tempo da Natureza. Ora, em uma época em que ouvimos falar sobre o perigo do homem destruir a natureza, este é um alerta que nos traz a realidade.
Se Deus é a medida do tempo da Natureza, e se Deus não tem Tempo, a natureza, aonde ele está e da qual é a medida, também não tem tempo. 
O Homem, este sim, é um fenômeno passageiro. 
A Natureza não. 
Nós, mesmo que queiramos, não destruiremos nunca aquilo que é Eterno. Podemos no máximo destruir as peculiares condições que permitem a nossa existência física, destruir a nós mesmos, mas nunca a Natureza.
Ela estava aí antes de nós, e estará, com certeza, depois de nós.
Pois Deus e a Natureza, sua manifestação mais sublime,
(independente da vaidade humana que se julga o mais sublime produto da Criação), são apenas Uma e a Mesma Coisa.
Finalmente a linha mais esotérica do conjunto: "Anjo de seis asas". 
É preciso contextualizar com as outras quatro entradas presentes nas seis citações periféricas, três acima e três abaixo, para compreender o sentido.
Anjo está na 1ª citação. Depois temos Leão de seis asas, na 3ª citação; Águia de seis asas, na 4ª ; e finalmente Boi de seis asas, na 6ª e última citação.
Anjo,Leão, Águia e Boi.





Lembremos Ezequiel, capítulo 1, versículo 10:
“E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro.” Desta visão foi extraída a simbologia para os quatro evangelistas: o Anjo (para São Mateus); o Leão (para representar São Marcos); a Águia (simbolizando São João); e, finalmente, o Boi (símbolo de São Lucas). 




Pieter Claesz Soutman (1580-1657), Os Quatro Evangelistas (1620)




Bom, já sabemos quem são os personagens aqui representados. Mateus, Marcos, Lucas e João. Algo não se encaixa, no entanto: as seis asas. 
Pois no mesmo Ezequiel 1, vers. 4 a 6, encontramos:  
“Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de âmbar, que saía do meio do fogo. E do meio dela saía à semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem. E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.”
Vejam, quatro asas e não seis. São os querubins que tem seis asas, não os evangelistas.
Porque então o número seis?



Simples. O seis é o número do hexágono, que está desenhado na posição que os dias da criação ocupam em volta do Mundo Terreno, mas também é o número da estrela de Salomão e de Davi, aonde um triangulo de vértice para baixo se encontra com outro de vértice para cima, harmonizando neste encontro, o que está em cima e o que está embaixo.
O enigma se esclarece. Só pelo evangelho e por sua mensagem, trazida a nós pelos quatro evangelistas, poderemos superar a dualidade e a morte espiritual, decorrentes desta dualidade. A mensagem do Cristo, difundida pelos evangelhos, nos liberta da 2ª Morte, a Morte Espiritual e nos garante a verdadeira vida, aquela que é verdadeiramente eterna.
Por isso I para o Anjo (Mateus), II para o Leão (Marcos), III para a Águia (João) e IV para o Boi (Lucas). Os números em algarismos romanos estão abaixo de cada texto. Quatro evangelhos, seis asas.




2ª. “A mente externa e interna, sem a luz divina não poderás encontrar”.

Esta frase está isolada, a meio caminho entre a 1ª e a 3ª.  Fala de um conhecimento qualquer e nos lembra Delfos, ao contrário. Vejam que no texto em francês a palavra traduzida na publicação da AMORC como “mente” na verdade é "L’Espirit", o Espírito, que pode ou não ser traduzido por mente no sentido filosófico, mas não no sentido místico. Espírito interno e externo em sentido místico, na minha opinião, seria uma melhor tradução, quando a compreendemos como essência, natureza profunda, interna ou externa.
O espírito interno, ou espírito do homem, e o espírito externo, ou espírito das coisas, refere-se, na minha humilde opinião a essência do homem ou das coisas e não a mente. As coisas da criação não possuem uma “mente”. A “mente” é um atributo da psicologia humana, um órgão invisível segundo Kant, ou o resultado de complexos processos neuro químicos e hormonais.
Não, as coisas externas a nós não tem mente, mas com certeza tem espírito, que para os rosacruzes significa a energia interna que as perpassa, que é a sua essência, o espírito das coisas.
Fui buscar fundamentação para minhas impressões.
Na versão em inglês a palavra é Mind, Mente, e aí entendi o trabalho da tradução brasileira que deve ter se baseado na versão em inglês e não na do alemão.
O desenho em alemão que tenho como referência no livro “A Maçonaria, símbolos, segredos e significados, traz o texto em alemão, mas, infelizmente, a parte que me interessava está cortada do desenho. Fui em busca do desenho completo em alemão e o encontrei no endereço http://pt.scribd.com/doc/35915923/Geheime-Figuren-Der-Rosenkreutzer , lá embaixo na página 48.
Lá o texto em alemão que, acho, seja o original, é “den auffern innerer berstand”, mas para a palavra berstand não encontrei tradução. O interessante é que quando tentamos no tradutor automático a expressão “A mente exterior e interior sem a luz divina não poderás encontrar. Só o espírito sabe. A razão encarnada é cega.” o que conseguimos é “Der äußere Verstand und ohne das göttliche Licht in dir nicht finden kann. Nur der Geist kennt. Der Grund des Fleisches ist blind.” onde Geist é, em alemão, a mesma palavra para Mente, Espírito ou Fantasma, algo etéreo, vago, sutil.
Mas só no texto abaixo do desenho aparece a palavra Geist de modo claro e definido. Aqui neste texto que analiso, no alemão o termo é outro, que não consegui decifrar ou traduzir até agora.
Esperarei pela inspiração.

2° dia de tentativa de entendimento do trecho em questão:

Hoje dia 12, dia seguinte ao meu aniversário, continuo a tentativa de entender a palavra Berstand no texto em alemão da Imagem que estamos trabalhando,
Hoje pela manhã percebo uma coisa: na época, o alemão era mais primitivo e além disso escrito de uma forma, para os nossos dias mais tosca. Percebi tal coisa pela diferença entre um conectivo “ohne” e o que está escrito na imagem “ohn”, onde se percebe a falta de uma letra “e”, ao final. E se a palavra Berstand não fosse assim escrita hoje? No tradutor automático Bernstand aparece como sobrenadante, e eu havia desconsiderado esta tradução por achá-la fora de contexto, mas quando inverti as posições e configurei a tradução para do português para o alemão, a palavra em português “sobrenadante” é traduzida em alemão por “Übernstand” com um “Ü” na frente.
Agora as coisas ficaram mais claras.
A palavra é “Sobrenadante” sim, o que sobrenada, o que está a mais, o que está além. Não se trata de mente, nem de espírito (Geist), mas do excedente, ou de uma forma mais mística, transcendente.
A frase então, mais adequada, seria, em português, “O transcendental interior e exterior, não conseguirás encontrar sem a luz divina. Só o espírito sabe. A razão encarnada é cega.” Descrevendo a incapacidade de percepção da verdade mais profunda através do intelecto.
Perfeito.
Não há pois nenhum erro em sugerir-se a tradução “A essência das coisas”, sua compreensão mais profunda, como a versão mais adequada para o transcendental.
E acho que, ao final e ao cabo, ficarei com esta forma.
“A essência das coisas, ( e não o Espírito ou a Mente) no interior e no exterior, sem a luz divina não poderás encontrar.”

Ainda restam os quatro trechos abaixo,

3ª. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim.
PAI.
Medida do tempo da Lei. Leão com seis asas.


4ª. E não há Deus senão o Deus Único. ESPÍRITO SANTO. Tempo do comprimento. Águia com seis asas.

5ª. Só o espírito sabe. A Razão encarnada é cega.

6ª. Deus é o primeiro e último. FILHO. Tempo do Evangelium. Boi com seis asas.

mas vencida esta etapa acredito que o esforço, agora, será mais rápido e mais fácil.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

ANÁLISE DE UM SÍMBOLO SECRETO ROSACRUZ DOS SÉCULOS XVI E XVII EM 3 PARTES: 1a PARTE


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Com a colaboração inestimável do amigo e frater Reginaldo Leite, também FRC.: e S.:I.:

O conceito de segredo e de mistério são absolutamente diferentes, embora não pareça claro a uma primeira leitura.
A palavra segredo, diz o Dicionário Houaiss, na sua primeira edição de 2009, na página 1721, é “aquilo que a ninguém deve ser revelado; o que é secreto, sigiloso”; quanto a Mistério, no mesmo texto, já à página 1299, é "...algo que é secreto, escondido, não repartido com outros".
Parecem a primeira vista sinônimos, mas vejam a sutileza da diferença.
Enquanto no segredo existe uma intenção de esconder, por que para que haja segredo é preciso que alguém o torne secreto, que alguém o esconda de outros, no mistério o segredo é inerente ao fato misterioso, não dependendo da ação ocultadora de um agente externo.
Símbolos secretos são secretos pelas duas razões.
Por um lado, alguém os nominou de secretos, e embora tenha colocado neles toda uma gama de informações acerca de seu sentido, ocultou deliberadamente quaisquer explicações que os tornassem mais didáticos, em princípio. Em uma segunda camada, seu segredo enquanto símbolo constitui-se na própria natureza das questões que simboliza. São assuntos de uma tal profundidade, que de per si escondem do não iniciado seu sentido real, exigindo elaboração e meditação para que seja revelado.
Assim são os Símbolos, chamados Secretos, dos Rosacruzes do Século XVI e XVII, publicados numa edição primorosa, pela Editora Renes no Brasil, em 1978, e cujo copyright é da AMORC Americana em San José, de 1967.
São chamados Secretos, como que a propor que sejam intencionalmente obscurecidos de sentido pelos seus autores, mas uma análise mais profunda mostra que, na verdade, são muito mais misteriosos que secretos pois possuem uma natureza em si mesma, profunda e esotérica, mas que de várias maneiras busca se revelar, quer se tornar clara, e torna-se com isso um outro tipo de linguagem, que uma vez compreendida, torna-se transparente aos “olhos daqueles que, não só podem, mas também querem ver”.
Interpretar símbolos é como traduzir uma língua, um exercício de erudição, mas também de sensibilidade, reconhecendo os termos equivalentes na significação, como também na conotação.
Velhos amigos, unidos pela tecnologia, eu e Reginaldo temos dedicado às últimas três noites a interpretar símbolos por pura diversão.
Começamos com o símbolo dos Ellus Cohen, que já descrevi aqui neste mesmo espaço.
Continuamos com a Rosa Cruz Hermética, originariamente da Golden Dawn, mas encampada pela AMORC com uma pequena modificação que descobrimos ao analisá-la juntos, mas que deixarei para descrever em outro ensaio.
E ontem, continuamos com o símbolo abaixo, publicado erroneamente como do século XVIII, em uma publicação chamada "A Maçonaria, símbolos, segredos e significados", de W. Kirk MacNulty, da editora Martins Fontes, de 2007, mas que encontramos também na publicação rosacruz supracitada, referidos como do século XVI e XVII.
Os maçons nunca foram famosos, (salvo honrosas exceções, como Nicola Aslan), como grandes e precisos historiadores.
O símbolo em questão é belíssimo como podem ver em parte, abaixo, na sua versão em alemão.
Altamente esotérico (tendo a princípio me dado a idéia de que tinha feito uma má escolha para me divertir naquela noite) mostrou-se extremamente claro e didático à medida que cada trecho, cada centímetro foi esquadrinhado, no nosso exercício interestadual, no eixo esotérico-informático Suzano, (São Paulo) - Recife, ou melhor, Suzano-Jaboatão dos Guararapes, via Skipe.



De que adianta, no entanto, um símbolo de significado oculto? De que serviriam as reflexões de dois antigos rosacruzes se suas conclusões não pudessem ser compartilhadas com seus frateres e sorores, didaticamente? Didático é o exotérico, em oposição ao esotérico, o que é reservado “aos que conhecem”. Não é justo, pois, que em uma fraternidade, este conhecimento não seja repartido
Por isso acho importante dividir nossas elucubrações noturnas de ontem.
A prática rosacruciana mais tradicional é o compartilhar tudo o que for possível, com aqueles que foram iniciados na Terra ou com aqueles que foram iniciados pelo Altíssimo, como dizia minha saudosa amiga Diva Ogeda, uma batalhadora da Rosa Cruz brasileira.
Compartilhemos então.


Primeiro vejamos o símbolo de novo, agora em inglês.
O símbolo é composto de um grande círculo, em cujo interior encontramos três outros círculos, uns sobre os outros, que se interpenetram e representam três mundos: mundo celestial, terreno e infernal.
O grande círculo externo que os envolve, representando tudo o que existe aqui e além, é marcado por quatro pontos cardeais: acima e abaixo, meio dia e meia noite; à esquerda e à direita, manhã e tarde.



Em volta do grande círculo, encontramos a expressão: "O céu dos céus não pode englobar o Deus único, nem encarcerá-lo", mostrando a grandiosidade do Altíssimo, a ausência de possibilidade de concebê-lo no espaço. Isto lembra Luria, o cabalista, e o Tzim Tzum no Tehiru, o buraco aberto dentro dele para a criação existir.
Por dentro do grande círculo, abaixo da linha, encontramos duas frases. A começar do ponto onde está a palavra meio-dia, diz : “A presença eterna ou essência ou eternidade vem da eternidade para a eterna eternidade”.
Aqui estamos diante da revelação da ausência de temporalidade no Altíssimo, reforçada pela repetição do termo “eterno”, mostrando a incapacidade de concebê-lo no tempo.
Em diagonal abaixo e à esquerda, outra frase que começa no ponto em que por fora está escrito meia-noite: “Em Deus nada há que lhe seja próximo ou distante. Ele é tudo em tudo e por tudo em todos os lugares.”
Esta, obviamente, uma afirmação da Onipresença, outro atributo da Divindade. Quanto a este aspecto, remeto o leitor ao texto aqui do blog “Uma estranha noção de Deus”, de 27 de outubro de 2010.
Agora vamos por partes; começando pelo mundo de cima, ou mundo celestial, que tem escrito do lado esquerdo de seu círculo a expressão "Amor de Deus", e do lado direito Mundo Celestial.
Por dentro e em cima neste círculo, encontramos a expressão “O Céu sendo o Reino de onde Lúcifer foi expulso e para o qual entrará o ser humano e no qual Cristo é o Eterno Rei.”
Gosto do trecho referindo-se ao mundo celestial que diz “O Céu... para o qual entrará o ser humano...” uma afirmação de destino, como se estivéssemos condenados a luz e a iluminação forçosa ao final de nossa caminhada.
No meio desses dizeres, a palavra Jesus, em destaque, dentro de uma labareda envolta com uma cápsula de irradiação da Luz.
Abaixo vemos o círculo menor do 3° dia da criação, em torno do qual está escrito “A Mão direita de Deus”.
Interessante notar que o fato de o 3° dia da criação estar no céu aparentemente é fortuito e surpreendentemente não parece ter qualquer significado, sendo apenas uma situação espacial aleatória, já que o terceiro dia é o dia da criação da terra e vegetação, que em princípio, não tem nenhuma relação simbólica com o Céu em si. 
Os dias da criação apenas envolvem o mundo terrestre para evidenciá-lo como o mundo criado.
Desta linha para baixo começa o que vamos chamar um trecho de transição, aonde o Mundo celestial se interpenetra com o Mundo Terreno.
Por baixo e rente a esta linha de transição, encontramos a expressão: “O Paraíso e Selo de Abraão, terra dos vivos e lugar dos Justos.”
A expressão “selo de Abraão” , aparece aqui no sentido metafórico de sinal da aliança entre Deus e os Homens, no caso os Homens Eleitos, aqueles que foram autorizados pelo altíssimo, a entrar no paraíso ou no estado paradisíaco. Ou seja, selo aqui significa muito mais do que a circuncisão, citada por Paulo em Romanos 4:11, e que se referia a um sinal físico; significa, isto sim, o estado de Comunhão que o Iluminado alcança.
Ora, o Iluminado é um Justo. Por isso se diz que o Paraíso, transição entre o Mundo Terreno e o Mundo Celeste, é a Terra dos Justos.
Esta área de transição é dividida duas vezes, a primeira de forma horizontal, lhe conferindo uma área acima e outra abaixo, e depois uma divisão vertical, um septo que separa seu lado direito do lado esquerdo, em cruz.
Nesta linha vertical do lado esquerdo está escrito "ascensão do Cristo e do lado direito do septo vertical, Escada de Jacó.
No quarto superior esquerdo, temos a imagem de uma coroa circundada por uma guirlanda de flores, provavelmente simbolizando a nobreza e a realeza desta área e daqueles que nela se encontram; já no quarto superior direito encontramos a imagem de uma coroa de louros, aquela com que se agraciavam os imperadores, reforçando a idéia da nobreza do vínculo com o divino.
Sobre a linha horizontal que divide o acima e o abaixo desta região, do lado esquerdo encontramos a expressão “água celestial” e do lado direito, a expressão “2° princípio”.
Na parte de baixo da linha horizontal, do lado esquerdo está escrito: “Renascimento pela água do espírito”, revelando o significado da expressão “Água Celestial” como a bênção encontrada pelo iluminado ou buscador no conhecimento sagrado que vem do interior. Esta seria, nas palavras do Mestre Jesus, aquela água que uma vez bebida fará desaparecer a sede de quem a bebe.(João 4:14).
Do outro lado, o lado direito, temos a expressão “Crucificação do Corpo” que entenderemos por sublimação da matéria na consecução da espiritualidade e não a auto imolação ou a imposição ao corpo de qualquer sofrimento, visto que o corpo é criação divina como tudo que existe e está imbuído como as todas as coisas do Sagrado que tudo penetra ("Ele é tudo em tudo e por tudo em todos os lugares", inclusive no Corpo, que também é um lugar).
Na linha inferior dos limites desta região, uma curva que se projeta para baixo, no quarto inferior à esquerda, encontramos sobre a linha a palavra DEUS, sozinha, enquanto do outro lado, no quarto direito inferior, temos a expressão “Caminho para a vida pelas muitas dores”, ao lado de uma pequena cruz, o que provavelmente faz referência às vicissitudes da existência que se, em si, não nos trazem mais conhecimento, garantem-nos o desenvolvimento da paciência, da tolerância, e o exercício da serenidade diante da adversidade.
Deus é nossa rocha e a pedra que nos sustenta. A fé que depositamos nesta rocha nos fortalece diante destas mesmas adversidades que demandam nossa fé, que testam a veracidade nossas convicções.
É interessante que estas expressões estejam na linha inferior desta região, assim como na parte mais alta do mundo inferior, o mundo terrestre.
Isto indica que a primeira condição para ascender de um a outro mundo é a fé em Deus que sustentará esta transição, talvez fé na conotação que aprendi em um conventículo martinista, no sentido de conexão com o Altíssimo, e não de simples crença ou não crença na sua existência. Esta conexão com DEUS garante a possibilidade de transcender o Mundo Terrestre e chegar ao Mundo dos Justos.


Como vemos no detalhe acima, o Mundo Terrestre é composto e não uno e singular. Existe uma razão para isso que será revelada ao final do símbolo, por um texto extremamente elucidador que circunda todo o conjunto.
Assim, o chamado Mundo Terreno tem a parte de cima mergulhada no Mundo Celestial e a sua parte inferior mergulhada no Mundo Infernal.
Seu espaço próprio se resume a uma região afunilada, estreita no centro e larga nas extremidades laterais, como se vê.
À Esquerda dele lemos “A Graça de Deus” considerada à época dogma de fé e absolutamente necessária para a salvação da alma. E do lado direito temos escrito: “Divisão entre os Bons e os maus” assim mesmo, com "Bons" com letra maiúscula e "maus" com letra minúscula.
Também esta região se divide em quatro partes, divididas em regiões acima e abaixo por uma linha horizontal e sem linha vertical a dividi-la em lado esquerdo e direito, já que as linhas curvas componentes se tangenciam ao centro e formam elas mesmas este septo divisório. Nesta junção das curvas, como a decorá-las, encontramos um símbolo curioso: um coração, com uma cruz de braços de igual comprimento ao centro, e cercada por quatro nomes a nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste, respectivamente Pessoa, Corpo, Verbo e Deus. As palavras Deus e Pessoa estão no alto, e se esse símbolo segue o axioma aristotélico de que o melhor é superior e o pior ou menos importante é inferior, Deus tem a mesma importância de Pessoa, como a identificá-las.
É verdade que a personalidade de um ser humano é a presença de Deus naquela pessoa, sendo a sua expressão diferenciada apenas pelo cérebro e pelo corpo que ocupa, que lhe garante um meio original de expressão; consideremos, no entanto, que Verbo, ou ação, está no mesmo nível de Corpo, o que também confirma o Corpo como Veículo essencial à Ação na Terra. Cruz de braços de mesmo comprimento, de mesma importância, como a lembrar que são quatro elementos que não podem ser considerados separadamente quando contemplamos a manifestação da Vida no Mundo Terreno, onde o Corpo que veicula o Espírito é tão fundamental quanto o espírito inspirado, soprado por Deus, dentro dele.
Também significativo é o fato de que o invólucro deste conjunto seja um coração, a sede do Sentimento, caminho para a fusão do alto com o baixo, da matéria com o espírito, a chamada Via Cardíaca de Saint Martin.
O segredo da harmonia (Tipheret) reside na harmonia do sentimento em nós.
Como disse acima, este mundo é dividido também em quatro partes.
No quarto superior esquerdo, encontramos a expressão “Reino do Dia Profundo”, com três nuvens dominando o espaço, mas sem o Sol, que está curiosamente do outro lado, no quarto superior direito, junto com uma imagem que não conseguimos identificar inicialmente. Esta imagem tem uma forma retangular e linhas duplas nas bordas, como uma bandeja, ou um tapete que levita no meio do espaço. Ao olhar, no entanto, o mesmo símbolo no painel alemão colorido, na página 23 do livro sobre simbolismo maçônico supra citado, com lentes de aumento e um óculos adequado a minha idade, divisei não um tapete mas uma ampulheta.

Sim, uma ampulheta, embora mal definida, símbolo do tempo e da passagem do tempo, como a marcar a temporalidade do Mundo Terreno, ao contrário da atemporalidade de Deus e do Mundo Celestial. Faz sentido.
Acima e à direita da ampulheta, brilhando sobre ela, um sol, glorioso, Luz que ilumina o Tempo dos Homens.
Também na versão em alemão, colorida, percebemos que um e outro lados superiores são o mesmo espaço, embora aparentemente separados. Pois toda a região superior é de cor branca, clara, enquanto toda a região inferior do mundo terreno é amarronzada e escura, compondo a Noite Terrena, como descrita no quarto inferior esquerdo. Do lado direito a noite continua, com a representação da lua cercada de estrelas.
No quarto inferior esquerdo, da região da Noite Terrena, um símbolo estranho invade este espaço. É a “Árvore da Serpente”, que faz parte de outro conjunto que passo a descrever.
Os simbolistas da época não eram muito preocupados com precisão, mas com a representação.
Assim, nos quatro cantos do mundo terreno, certas imagens são associadas a estas extremidades.
Na extremidade superior esquerda encontramos o círculo do 4° dia da criação, aquele da criação dos Luzeiros no firmamento; só que associado a este local temos “A Árvore da Vida”, e a representá-la uma bela árvore esverdeada. No outro extremo, à direita, temos o círculo do 2° dia da criação, aquele da separação dos céus e das águas, mas que aqui é chamado de Porta ou Entrada para a Vida e tem como símbolo um querubim com a espada flamejante em punho, de pé.
Já nos extremos inferiores, encontramos à esquerda, o círculo do 5° dia da criação, aquele da criação dos pássaros e das criaturas do mar, mas aqui ele é relacionado a “Árvore da Serpente”, a "Árvore do Bem e do Mal”, chamado de “Ponto onde está a Árvore da Serpente”. Finalmente, do lado direito do mundo terreno, no quarto inferior, encontramos o círculo do 1° dia da criação, aquele da separação da luz e trevas, mas que aqui é denominado “Entrada para a Morte”.
Tudo indica que ao ascender, o espírito escapa da Dualidade, representada pela Árvore da Serpente ou Árvore do Bem e Do Mal, e alcança as portas do paraíso guardadas pelo anjo que, se antes o expulsou de lá, desta feita estará pronto a recebê-lo, ungindo-o com a mesma espada flamejante de poder que antes tinha sido usado contra Adão e Eva.
A Árvore da Vida é a Árvore da Unidade enquanto a Porta da Morte é a Dualidade. 
E mais uma vez aí, o suporte interpretativo vem do texto bíblico do novo testamento, onde lemos, em Marcos 8 : 35: “Porque qualquer um que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer um que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará”. A Ascensão, concluindo, implica purificação e desapego ao mundo.
Na linha horizontal que separa a parte do dia da parte da noite, embaixo da linha, está a palavra “Senhor” e acima dela a expressão “água terrena”, também provavelmente referindo-se aos ensinamentos do Cristo, Jesus, figura como vimos comum nos simbolismo dos séculos XVI e XVII. A “Água Terrena”, como chamada no Mundo Terrestre, seriam os Evangelhos do Novo Testamento, também conhecidos como “A Boa Nova”, que permitiriam a passagem da Noite Terrena, abaixo, ao Reino do Dia Profundo, acima, claro e solar, ou por outra, ao esclarecimento da alma.
Do outro lado a expressão abaixo da linha é “Céu vindo da água terrena”, e já que o Senhor ( Nosso Senhor Jesus Cristo) está no lado esquerdo da mesma linha, esta expressão confirma indiretamente que o Cristo, aquele que esteve conosco neste mundo, é o Céu da Água Terrena.
Cada “Água” ao que parece, é a sabedoria própria de cada mundo, na interpretação do simbolista.
Através destas “águas” somos batizados (leia-se iniciados) em novos valores, e as águas são diferentes porque diferentes são os ensinamentos de cada mundo para a alma em evolução.
Na interpretação de símbolos deste período é preciso pensar biblicamente, sempre, e particularmente, do ponto de vista cristão protestante.
Muitas das referências destes maravilhosos símbolos aludem aos valores dos seguidores de Martinho Lutero que na época representavam a esquerda da Igreja, entre os quais muitos eram rosacruzes.
Embora "de esquerda", eram conservadores, e como tal, para eles, existiria uma relação direta entre a carne e o pecado. Paciência, eram outros tempos, ingênuos, em que se subestimava o poder da mente e se superestimava o poder do corpo.
Só que em função destes valores, a linha de baixo do Mundo Terreno entra na área de transição para o mundo infernal, do lado esquerdo, o lado da Noite Terrena, com a seguinte frase por baixo da linha: "o Verbo, nascido do pecado carnal". 
Do outro lado, continua: “O Caminho para a Morte”.
Aqui, como acima, na transição do Mundo Celestial para o Mundo Terrestre, também temos uma linha horizontal, que divide uma parte alta e uma parte baixa. 
A linha horizontal tem escrito sobre ela o seguinte texto: “Água da Morte”, do lado esquerdo, e do lado direito “1° princípio”. O espaço desta transição também tem um septo vertical a dividi-lo em esquerdo e direito, onde está escrito, também na vertical: “Cristo descendo ao inferno”. Se na extremidade superior desta linha vertical está aquele coração com a cruz de braços iguais que analisamos antes, na extremidade inferior encontramos o círculo do 6° dia da criação, dia da criação dos animais e do Homem, envolto pela expressão abaixo dele: “A Mão Esquerda de Deus”
Na parte baixa desta área de transição, no quarto inferior esquerdo, temos um texto que vem do quarto inferior direito e invade o esquerdo. Diz ele: “Terra da Morte, é lugar de trevas extremas, dos danados do Juízo final. Entrada do Inferno. Primeira Morte".
Do lado direito ossos; do lado esquerdo, um crânio, ambos lembranças da morte do corpo físico, a primeira morte.
Entramos então no Mundo Infernal, como escrito do lado direito, ou "Desprezo de Deus", como escrito à esquerda. 
Se no alto do Mundo Celestial a palavra Jesus se destacava, no fundo do Mundo Infernal a palavra Lúcifer se destaca, exatamente na extremidade oposta, e cercada de escuridão. Novamente reforçando a ideia de Dualidade e Oposição. 
Em volta do mundo infernal está escrito: “O Poço Infernal, O Mundo Infernal, A Outra Morte, o Abismo da Prisão.”
Em volta do desenho ainda existem 6 citações , 3 acima e três abaixo, da esquerda para a direita.
São elas:
1ª. Por toda a parte Deus é livre dentro (vejam bem, dentro de nós) e fora de todas as criaturas. DEUS. Medida de tempo da Natureza. Anjo com seis asas.(expressão que relembra o Selo de Salomão, a estrela de 6 pontas, aonde o triângulo de cima se encontra com o triângulo de baixo).
2ª. A mente externa e interna, sem a luz divina não poderás encontrar.
3ª. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. PAI. Medida do tempo da Lei. Leão com seis asas.
E outras três abaixo:
4ª. E não há Deus senão o Deus Único. ESPÍRITO SANTO. Tempo do comprimento. Águia com seis asas.
5ª. Só o espírito sabe. A Razão encarnada é cega.
6ª. Deus é o primeiro e último. FILHO. Tempo do Evangelium. Boi com seis asas.
Poderemos analisar esta parte interessantíssima em outro texto.
Também escrito em volta, a citação bíblica de Provérbios 15:24 “A senda da vida para o sábio leva-o para o alto”, do lado esquerdo; e do lado direito está escrito : “para que evite o inferno que está embaixo.”
Este é o símbolo, os três mundos, dentro de um mesmo mundo que agora se dá a conhecer como o próprio homem, onde co-habitam estes três mundo a um só tempo. E isto nos é afirmado pelo próprio autor do símbolo, talvez preocupado em garantir que o sentido exato de sua elegante e complexa construção fosse entendido no futuro.
Em um texto, transcrito abaixo, que envolve todo o desenho, ele afirma e revela o sentido de seu trabalho, a luta do homem neste Mundo de Dualidade:
“Imagem figurativa de como, dentro deste mundo, três mundos existem, interpenetrados, a saber: este Terreno mundo do Sol, e também o Celestial e o Mundo Infernal, que fazem sentir seus efeitos. E as trevas não podem conquistar a Luz. Também mostra que o país dos mortos, a entrada para o Inferno ou trevas superficiais, em que há choro e ranger de dentes, assim como o país dos vivos, o paraíso celestial ou terceiro céu, todos são deste mundo.”
E conclui: “E que o ser humano tem em seu coração todas essas coisas: céu e inferno, luz e treva, vida e morte.”
Muito bonito. 
Um último comentário sobre os princípios que aparecem no desenho, o 1° Princípio no Mundo Infernal, o 2° Princípio no Mundo Celestial, e o 3° Princípio no Mundo Terreno.
A explicação me parece simples.
O Mundo e a Criação, diz a Rosacruz, é dual em essência e Trino em Manifestação.
Por isso o Mundo da Manifestação deve ser aquele do 3° Princípio, e o 1° Princípio para esta mesma manifestação começa na carne, associada ao Mundo Infernal, enquanto sua contrapartida, o 2° Princípio, está no Mundo Celestial. 
Juntos, Céus e Inferno manifestam-se no Mundo Terrestre.
Isto encerra a nossa interpretação inicial deste símbolo.
Outros significados podem ser extraídos, mas por enquanto isto basta.