Superstição : Crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas; crendice, misticismo.
Dicionário Houaiss da Língua portuguesa ,pág. 2642 , 2001, 1ª edição
“Guran: -Fantasma , você não deve ir nesta missão, é muito perigoso. E se você insistir , eu lanço um feitiço em você ”
Fantasma “- (Rindo) Ora Guran, deixe de bobagem. Eu sou um bruxo. Eu não acredito em bruxaria.”
Diálogo entre o Fantasma, o Espírito que Anda, e seu fiel amigo Guran, feiticeiro da tribo Bandar, dois personagens de uma famosa história em quadrinhos.
A superstição, ou crença em poderes sobrenaturais de objetos ou coisas, ou números, ou mesmo em sacrifícios religiosos, sempre foi associada às camadas mais pobres da raça humana. Países onde a miséria e a desorganização social aparecem em destaque são, tradicionalmente, o berço de culturas extremamente supersticiosas, com é exemplo do Haiti, das Antilhas Holandesas, ou países da África Central como Nigéria, Zâmbia etc.
Embora não se possa negar a existência de uma socio-antropologia da superstição, relação estreita entre miséria espiritual e material, esta não é nem nunca foi prerrogativa de países pobres.
Encontramos cultos baseados em poderes dos objetos e no medo desses poderes em todos os países da face da Terra, tanto nos países nórdicos (com a revitalização do culto dos druidas) quanto na Europa e EUA (com o advento do culto Wicca)
As crendices não são apenas produto da pobreza, mas sim da ignorância, que induz ao medo infundado de maldições ou efeitos pirotécnicos de rituais os mais obscuros.
A história da superstição é antiga. Há relatos na Bíblia da adoração de estátuas de deuses, como o bezerro de ouro destruído por Moisés, ou o sacrifício de animais (cordeiros) na intenção de agradar o Deus de Israel, no Velho Testamento, e na prova de Abraão que leva seu próprio filho para o sacrifício acreditando estar assim obedecendo a uma ordem divina, detido pouco antes de executar tamanha barbárie por um anjo.(Gênesis,22:12)
Infelizmente, por uma imprecisão semântica, nas definições de dicionário , como vimos na epígrafe deste texto, relaciona-se o termo misticismo com esta prática , deixando claro que, na mente das pessoas racionais, todas as práticas supersticiosas são práticas místicas, ou pior, ao contrário, todas as práticas místicas são supersticiosas.
Ora , misticismo é apenas a expressão da religiosidade no homem, para além da religião.
A necessidade da expressão de uma religiosidade ou da vivência de algo transcendental está em todos os seres vivos.
Mesmo aqueles que recusam-se a crer na existência de um Ser Supremo, todo poderoso, inundados por um intelecto rígido, acabam manifestando esta busca do transcendental na filosofia.
Por isso, ter, de alguma forma, a necessidade do religioso, não implica em superstição, obrigatoriamente.
A Ordem Rosacruz e outras Ordens místicas lidam com esta dicotomia.
Parte importante do seu trabalho é esclarecer a distinção entre superstição e conhecimento, entre o ocultismo e o oculto, entre mistificação e misticismo.
O exemplo mais simples é o do Mago e seu cajado: a diferença entre o mago verdadeiro e o aprendiz de feiticeiro, é que o primeiro sabe que seu poder não vem de seu cajado, mas dele mesmo, ou de outra forma, que seu poder não está na varinha de condão, mas em si mesmo.
Estas distinções simples, claras, ilustram o trabalho árduo que é a luta contra a superstição dentro do meio místico.
O processo alquímico de transformar uma pessoa comum em um místico, e depois o místico em Mago, pode levar mais de uma vida e é uma chave de poder difícil de ser conseguida.
Não é uma coisa simples. A noção de simplicidade em si é um conceito perigoso. “Simplicidade” não quer dizer, na maioria das vezes, evolução, mas sim mediocridade espiritual.
A alma “simples” dá mais valor aos símbolos do que aquilo que eles simbolizam.
Por isso confunde a vela, objeto sem vida e feito de cera, com a luz que ela representa.
A única forma de desfazer este equívoco é pela educação cuidadosa, progressiva, tanto no aspecto místico como mundano. O ser humano só se enriquece com o conhecimento, ainda mais se atrela a este conhecimento a sensibilidade artística, porque, como todos podem compreender, a arte, principalmente a música, é o caminho mais direto para a percepção do Eterno.
Psíquico, Psicológico e Psicanalítico
A superstição geralmente se encontra tão fundo na nossa mente que não conseguimos identificá-la e até relutamos em admitir que somos supersticiosos.
O melhor profissional para lidar com isso é o psicólogo , não uma escola mística, já que, o psíquico e o místico estão misturados com o psicológico mundano, em nossa mente, a ponto de não vermos separação entre um e outro. Na verdade, despir-se de crenças sem o auxílio de um profissional treinado em extrair as causas ocultas por trás dos comportamentos é muito difícil.
Freud ,na psicanálise , falava em decifrar a “gramática do inconsciente.”
Achamos que fazemos certas coisas por que queremos, ou que somos como somos apenas por que somos. Segundo aquele médico austríaco, na verdade, nossa educação familiar, o relacionamento com nossos pais e pessoas de convívio doméstico, os traumas de infância associados, moldam em nós as bases de nosso comportamento social.
Aquilo que achamos que é decisão livre e pessoal, na verdade, muitas vezes, é conseqüência da educação, programações inconscientes de nossa mente que nos fazem reproduzir comportamentos de outras pessoas (pais e mães) como se fossem nossos.
A única forma de quebrar esse círculo vicioso é o conhecimento científico, a auto-análise ou a análise com auxílio profissional e a cultura intelectual. À medida que vamos estudando a psicologia comportamental e entendendo os mecanismos que nos fazem ser do jeito que somos , tornamos-nos capazes de isolar os componentes de nossa personalidade e administrá-los melhor.
Não há nada de errado em parecer com seu pai ou com sua mãe.
O problema é quando reproduzimos comportamentos sem critério de distinção entre aquilo que é fundamentado na nossa reflexão e o que é apenas produto de hábitos de compreensão adquiridos.
Assim, com o auxílio do conhecimento psicológico, começa a desconstrução de nossa personalidade e o estudo de seus componentes: qual parte de nós reflete a influência de nossa mãe, qual reflete a influência de nosso pai, qual reflete a influência da convivência com nossos avós, qual parte vem de nosso ambiente sócio econômico cultural, etc.
A importância está em não reproduzir sofrimentos. Algumas estatísticas mostram que filhos de pais separados tendem a ter mais dificuldade em estabelecer relações matrimoniais estáveis bem como filhos de pais alcoólatras, ou tendem a ser alcoólatras ou a casar com alcoólatras, reproduzindo o ambiente doméstico em que cresceram.
Assim prevenidos pela educação e auto análise, podemos evitar repetir situações como conseqüência de simples programações que, devidamente esclarecidas podem ser deletadas de nossa personalidade.
O Terror do Umbral
Da mesma maneira, condicionamentos de infância nos levam a crer em superstições, e não é fácil distinguir quando fomos condicionados para isto. Repetimos crenças de família pela força emocional que envolve este tipo de influência. Crer naquilo que a minha mãe me ensinou a crer é não apenas normal em nossa cultura como parte de nossa formação de caráter.
Pela educação a posteriori poderemos recusar este ou aquele condicionamento, mas nunca estaremos totalmente purificados de todas as influências que recebemos na infância, e nem é bom que assim seja pois são essas influências que nos fazem ser o que somos, que nos torna aquilo que nos tornaremos com cidadãos estudantes, etc. Precisamos nos livrar, isto sim, da parte ruim desta educação e deste condicionamento, aquela que nos induz a crer em coisas absurdas e no poder de objetos mortos, ou mesmo temer certas circunstâncias apenas porque para isto fomos treinados.
A parte mais importante da transformação do HOMEM COMUM em um MAGO, é a depuração alquímica de sua personalidade mundana e a parte mais importante desta depuração é a auto-análise, a busca de motivos ocultos na memória do subconsciente.
Não é um trabalho fácil. Um psicólogo profissional pode ajudar e muito.
Afinal de contas, não vamos identificar apenas memórias intelectuais, mas, principalmente, memórias emocionais.
Estas estarão misturadas dentro de nós e desfazer este emaranhado exige paciência, humildade , tempo e qualificação.
Sem este esforço, infelizmente, a verdadeira senda mística será praticamente impossível de ser percorrida.
Na cabeça do buscador tantos serão os conflitos, as dúvidas, os medos, que ele não terá energia psicológica suficiente para empreender a jornada.
Jamais passará da primeira iniciação pois não poderá vencer o “Terror do umbral”.
Terror , esta é a chave.
O Medo , este é o grande inimigo da luz.
É o medo que o faz invocar, em cerimônias bizarras, forças ocultas que o ajudem a combater as ameaças para ele assustadoras as quais distingue a sua volta, sem que ele perceba que é exatamente o mesmo medo que provoca essas alucinações assustadoras em sua mente, tornando sua vida um verdadeiro inferno de ansiedade e inquietação.
O psicólogo falará dos medos da infância, não superados: o medo da solidão no berço, o medo da escuridão, o medo da dor inexplicada.
A vida para o indivíduo que não teve um desenvolvimento psicológico completo, é sempre assustadora.
Esta imaturidade psicológica é base para a superstição.
Para o supersticioso, por exemplo, o ritual místico não é um drama iniciático, como uma peça de teatro montada para criar um certo estado na alma daquele que a assiste.
O ritual místico não é um meio para um fim.
É o próprio fim em si.
Repetindo a imagem: a vela é mais importante do que a luz que ela representa.
OS PARADOXOS DA SUPERSTIÇÃO
A superstição em si guarda alguns paradoxos . Primeiro ela vai contra a auto-estima pois o supersticioso acha que os objetos que o cercam são mais importantes do que ele, as coisas, portanto, são mais importantes que o ser humano.
Por isso ele coleciona amuletos, cristais, pequenas estatuetas, achando que o acúmulo desses objetos é muito mais importante para ter poder do que melhorar a si mesmo.
Por outro lado, a superstição encerra um sinal de intenso orgulho e soberba, pois faz com que o supersticioso suponha que, de posse dos objetos certos, ele pode comandar a criação a sua volta, ou seja, o supersticioso quer controlar a divindade e toda a criação, tornar-se mais poderoso que Deus.
É comum ver-se tribos da Nigéria invocando espíritos contra seus desafetos, numa espécie de convocação de guarda costas do astral que por sua ordem irão realizar algum desejo seu. Esta crença está representada na história de Aladim e a lâmpada mágica, uma versão árabe dos cultos africanos.
Em ambas as situações, invoca-se um ser, escravizado por algum poder àquele que o conjura, para que ele faça pelo conjurador aquilo que ele acha que não pode fazer.
E, feito o encantamento, supõe o supersticioso que o ser fantasmagórico, rápida e eficientemente vai realizar o seu desejo.
Esta é outra característica do supersticioso.
Ele crê que espíritos os quais ele é capaz de comandar, inferiores a ele, portanto, sejam capazes de fazer por ele aquilo que ele não conseguiu ou acha que não pode fazer.
Claro que estes paradoxos, que não resistem análise mais simples, nem são considerados pelos supersticiosos.
Suas crenças estão tão arraigadas que dificilmente, sairão para a luz do conhecimento com facilidade.
Superstições são os verdadeiros vampiros: vivem na escuridão de nossos receios, sugam nossa energia, se alimentam de nosso medo e, quando expostas ao sol da verdade, se desfazem como pó.
Místicos e mistificadores
Os supersticiosos são presas fáceis de seres inescrupulosos, que cientes de suas inseguranças manipulam-nas com a intenção de conseguir benefícios financeiros ou de outra ordem.
E para isto o esforço não é muito grande já que basta o domínio da palavra e alguns truques teatrais para sugestionar uma massa imensa de pessoas.
Hitler fazia isto. Outros atualmente também o fazem.
O líder místico verdadeiro também tem habilidade em encantar as pessoas com seu magnetismo pessoal.
Nada o difere do charlatão a não ser suas intenções, em seu coração as quais não podem ser contempladas.
O critério do homem comum, incapaz de uma distinção mais sutil entre um e outro, é o critério financeiro.
Alguns acham que o místico verdadeiro jamais manipulará qualquer bem material e muitos místicos tem um cuidado especial com este aspecto, sabendo do preconceito contra a matéria que a Igreja implantou na mente de todas as pessoas ao longo dos séculos, transformando paradoxalmente a miséria material no único sinal de dignidade de um ser humano.
Por causa disto, místicos que não se apresentam em farrapos e que não vivem em pobreza e penúria, enfrentam muita desconfiança das pessoas comuns.
E aqueles que se aprenentam em miséria e penúria, vivendo em condições físicas e de higiene indignas de um ser humano, atraem a atenção de muitos apenas por causa disso, independente da mensagem que traga em seu discurso.
É, portanto, um trabalho muito difícil separar o místico do mistificador.
O estranho é que sempre que um charlatão como Simão , o mágico da Bíblia, que pensou poder comprar com moedas os segredos místicos dos apóstolos, no Pentecostes, aparecer apregoando que tem um conhecimento poderoso e que o venderá para quem quiser pagar uma alta soma por ele, haverá alguém disposto a comprar.
Era assim naqueles tempos e é assim ainda hoje.
As pessoas são realmente muito estranhas.
A psicoterapia, com a análise das noções de valor e das correlações e preconceitos que temos quanto a esta ou aquela categoria de comportamento, seria útil em nos prevenir sobre erros de julgamento que podemos cometer ao seguir padrões do tipo “o pobre é bom e o rico é mau”, ou do tipo “pessoas ignorantes são mais dignas por serem “simples”, do que aquelas que tem grande conhecimento intelectual”, as quais, por serem cultas, inspiram desconfiança.
O Processo Iniciático como alternativa
O que concluímos? Que todo místico deve fazer psicoterapia antes de ser místico? Seria um contra-senso, ainda mais se considerarmos que a psicoterapia como instrumento terapêutico é extremamente recente.
Nenhum místico antes do advento psicoterápico poderia ter se saído bem, já que não havia este recurso.
Antes das pessoas analisarem a si mesmas em busca do aumento de seu autoconhecimento existia a religião e a educação do caráter, forjadores de espíritos sólidos e estruturas morais equilibradas. Era um outro mundo. Não pode haver comparações. O que podemos dizer é que dentro daquelas limitações de época religião e educação do caráter, seja na família ou na escola, , eram os recursos de formação de uma personalidade temente a Deus e devotada ao serviço da humanidade.
Tudo é muito relativo. Com certeza antigamente os homens não eram melhores do que hoje.
Toda esta educação de religião e fé não impediram práticas sociais abomináveis como a escravidão dos negros, considerada natural até dois séculos atrás, ou o machismo , que reservava a mulher um papel secundário na sociedade.
Da mesma forma o rigor do caráter não impedia a hipocrisia da época em relação a moral e a sexualidade, ou a ingenuidade acerca de noções rígidas do que é bem e do é mal.
Sim, havia mais caráter e religião, aparentemente, mas era um mundo, não só física, mas psicologicamente mais primitivo e ingênuo do que aquele que hoje conhecemos.
Só um conhecimento existia na época que poderia ser usado para elevar o nível de consciência das pessoas, homens ou mulheres, pobres ou nobres, e que ainda existe hoje, claro , de modo aperfeiçoado: o processo iniciático.
As iniciações, com seu apelo ao emocional, com sua provocação de transformações íntimas, através de símbolos e rituais, lembram o processo psicoterápico, na sua característica mais importante: ir mais fundo do que a linguagem e do que o intelecto na natureza do ser.
Se a psicoterapia funciona como uma iniciação laica, profana, a iniciação, por sua vez, funciona como uma psicoterapia sagrada, esotérica.
Se a psicoterapia, com seus métodos de busca interior, pode ser entendida como um tipo de processo iniciático profano, o processo iniciático, por sua vez têm funcionado todos esses séculos como uma psicoterapia esotérica.
O stress emocional é um fixador de conhecimento, é o cimento entre um e outro conceito. Conceitos meramente intelectuais não são sólidos até ter entre eles a liga da emoção, do significado humano daquela informação.
Seja este stress emocional a necessidade de responder a um desafio acadêmico, seja o fato deste conhecimento significar a nossa sobrevivência, o fato é que todo conhecimento revestido de emoção se consolida em nós, passa a fazer parte de nós.
As iniciações usam este conceito. Pelo drama teatral iniciático, o indivíduo é levado, pela via emocional, a perceber valores que o intelecto não poderia lhe transmitir. E pela beleza da iniciação, pela sua riqueza cênica, ele fixa com mais intensidade estes valores ali apreendidos. Tudo que é dito pela arte, pela emoção, cala mais fundo dentro de nós.
Infelizmente, a superstição também é assim. Ela nasce exatamente no local onde estamos mais frágeis e sujeitos a influência psicológica, numa palavra, à sugestionabilidade: a nossa família, a nossa cultura de berço, a cidade onde nascemos. Quando perseveramos uma superstição, damos continuidade a um tipo de comportamento que entrou em nós antes que tivéssemos instrumentos críticos para dizer não aquilo que não nos parece correto, do ponto de vista científico ou do ponto de vista do simples bom senso. Por que quando somos crianças, todos os acontecimentos são iniciáticos, tudo nos marca como experiências emocionais, e aprendemos pelo coração e não pelo cérebro, tal qual deve ser na infância e tal qual deve ser no processo de iniciação.
A marca que fica em nós é difícil de tirar, como a hera que entra pelo muro, e do qual só sai se o quebrarmos e derrubarmos.
Misticismo x Superstição
Assim antes de ser místicos, somos seres humanos, fomos crianças, ouvimos histórias de nossas mães e pais e avós, e mesmo com uma formação educacional sólida, estas informações estão arraigadas em nós e é muito, muito difícil arrancá-las de nosso coração.
Por isso somos presas fáceis desse tipo de comportamento, e não fosse pela educação, seríamos também prisioneiros de charlatões de toda espécie.
Não haveria charlatões se não houvesse supersticiosos sedentos para serem iludidos.
A construção de uma mente equilibrada é difícil e exige tempo, mas com certeza o resultado final é um tesouro impossível de ser comprado ou vendido.
É preciso , para levar a termo este empreendimento, superar não só nossa ignorância, mas também sacrificar algum tipo de conhecimento que tenhamos em nós, não como uma reeducação, mas como uma deseducação, um descondicionamento de programas instalados em nós quando não tínhamos antivírus em nosso disco rígido mental.
Cada mente que consegue superar os limites da superstição obtém uma vitória tão importante em termos evolutivos quanto solitária. Ninguém pode viver por nós ou realizar nada por nós .
A maturidade ensina que tudo que nos acontece, resulta de nossa responsabilidade e de nossas escolhas.
Atalhos sempre nos serão propostos e estamos livres para tentar ir por eles, mas a vantagem desta estrada verdadeira é segui-la, até o fim, aprendendo com cada centímetro percorrido.
Saltar etapas , ou supor que isto seja possível, através de amuletos ou pactos com seres invisíveis, só nos atrasará mais e mais e aumentará o tempo do percurso.
Transformar-se em um Verdadeiro Mago depende diretamente de maturidade emocional e psicológica e de saber que , como diz o personagem dos quadrinhos ,o Fantasma , o Espírito que Anda , que um bruxo verdadeiro não pode acreditar em bruxaria.
Então , como podemos finalmente conceituar a diferença básica entre misticismo verdadeiro,como praticado em várias escolas de mistério e a charlatanice pura e simples, supersticiosa que encontramos todos os dias?
São, de alguma forma, as técnicas místicas, supersticiosas ?
Essa excelente e oportuna questão é fundamental.
A diferença básica entre uma técnica mística e a superstição é a mesma entre a superstição e o conhecimento científico. O que torna científico um conhecimento é o fato de ele atender duas características:
1.Reprodutibilidade : as técnicas místicas devem ser reproduzidas por tantos quantos tentem fazê-lo, desde que sejam dadas as condições necessárias para isso .
2.Verificabilidade : Uma técnica mística deve ser testada e verificada quanto à sua autenticidade.
Nenhuma técnica mística deve deixar de ser verificada quanto a sua propalada eficácia por quem quer que a use. Ela não deve depender de fé, mas de confiança resultante dos resultados alcançados de forma consistente e repetitiva.
Toda técnica mística é reproduzível e verificável, não dependendo de humor ou fé, sendo por isso capaz de demonstrar sua eficiência por si mesma, sempre que for necessário.
É desse modo, que os Rosacruzes são alimentados, através das monografias que recebem com um conhecimento sólido, fundamentado na Tradição Rosacruz, que os ajudará a mudar a qualidade de suas vidas.
As monografias nos trazem dois tipos de informações: aquelas de natureza educacional, que aprimoram nossa sensibilidade e cultura, e aquelas de natureza técnica, que nos dão instrumentos para proceder a uma existência mais rica e digna, do ponto de vista humano e material.
Sem a educação, nossa rigidez mental e nossas crenças não aceitariam as técnicas propostas, considerando-as banais e inverossímeis, mas adequadamente flexibilizado pelo desenvolvimento da sensibilidade o espírito se mostra mais apto a experimentar o novo e recusar o antigo, que em hipótese alguma é melhor apenas por ser antigo.
Esta é a mais importante função da educação rosacruciana.
E se a psicoterapia puder ajudar neste processo educacional, não devemos recusá-la, como não devemos em são consciência recusar qualquer recurso que nos ajude a melhorar nosso autoconhecimento.
Dicionário Houaiss da Língua portuguesa ,pág. 2642 , 2001, 1ª edição
“Guran: -Fantasma , você não deve ir nesta missão, é muito perigoso. E se você insistir , eu lanço um feitiço em você ”
Fantasma “- (Rindo) Ora Guran, deixe de bobagem. Eu sou um bruxo. Eu não acredito em bruxaria.”
Diálogo entre o Fantasma, o Espírito que Anda, e seu fiel amigo Guran, feiticeiro da tribo Bandar, dois personagens de uma famosa história em quadrinhos.
A superstição, ou crença em poderes sobrenaturais de objetos ou coisas, ou números, ou mesmo em sacrifícios religiosos, sempre foi associada às camadas mais pobres da raça humana. Países onde a miséria e a desorganização social aparecem em destaque são, tradicionalmente, o berço de culturas extremamente supersticiosas, com é exemplo do Haiti, das Antilhas Holandesas, ou países da África Central como Nigéria, Zâmbia etc.
Embora não se possa negar a existência de uma socio-antropologia da superstição, relação estreita entre miséria espiritual e material, esta não é nem nunca foi prerrogativa de países pobres.
Encontramos cultos baseados em poderes dos objetos e no medo desses poderes em todos os países da face da Terra, tanto nos países nórdicos (com a revitalização do culto dos druidas) quanto na Europa e EUA (com o advento do culto Wicca)
As crendices não são apenas produto da pobreza, mas sim da ignorância, que induz ao medo infundado de maldições ou efeitos pirotécnicos de rituais os mais obscuros.
A história da superstição é antiga. Há relatos na Bíblia da adoração de estátuas de deuses, como o bezerro de ouro destruído por Moisés, ou o sacrifício de animais (cordeiros) na intenção de agradar o Deus de Israel, no Velho Testamento, e na prova de Abraão que leva seu próprio filho para o sacrifício acreditando estar assim obedecendo a uma ordem divina, detido pouco antes de executar tamanha barbárie por um anjo.(Gênesis,22:12)
Infelizmente, por uma imprecisão semântica, nas definições de dicionário , como vimos na epígrafe deste texto, relaciona-se o termo misticismo com esta prática , deixando claro que, na mente das pessoas racionais, todas as práticas supersticiosas são práticas místicas, ou pior, ao contrário, todas as práticas místicas são supersticiosas.
Ora , misticismo é apenas a expressão da religiosidade no homem, para além da religião.
A necessidade da expressão de uma religiosidade ou da vivência de algo transcendental está em todos os seres vivos.
Mesmo aqueles que recusam-se a crer na existência de um Ser Supremo, todo poderoso, inundados por um intelecto rígido, acabam manifestando esta busca do transcendental na filosofia.
Por isso, ter, de alguma forma, a necessidade do religioso, não implica em superstição, obrigatoriamente.
A Ordem Rosacruz e outras Ordens místicas lidam com esta dicotomia.
Parte importante do seu trabalho é esclarecer a distinção entre superstição e conhecimento, entre o ocultismo e o oculto, entre mistificação e misticismo.
O exemplo mais simples é o do Mago e seu cajado: a diferença entre o mago verdadeiro e o aprendiz de feiticeiro, é que o primeiro sabe que seu poder não vem de seu cajado, mas dele mesmo, ou de outra forma, que seu poder não está na varinha de condão, mas em si mesmo.
Estas distinções simples, claras, ilustram o trabalho árduo que é a luta contra a superstição dentro do meio místico.
O processo alquímico de transformar uma pessoa comum em um místico, e depois o místico em Mago, pode levar mais de uma vida e é uma chave de poder difícil de ser conseguida.
Não é uma coisa simples. A noção de simplicidade em si é um conceito perigoso. “Simplicidade” não quer dizer, na maioria das vezes, evolução, mas sim mediocridade espiritual.
A alma “simples” dá mais valor aos símbolos do que aquilo que eles simbolizam.
Por isso confunde a vela, objeto sem vida e feito de cera, com a luz que ela representa.
A única forma de desfazer este equívoco é pela educação cuidadosa, progressiva, tanto no aspecto místico como mundano. O ser humano só se enriquece com o conhecimento, ainda mais se atrela a este conhecimento a sensibilidade artística, porque, como todos podem compreender, a arte, principalmente a música, é o caminho mais direto para a percepção do Eterno.
Psíquico, Psicológico e Psicanalítico
A superstição geralmente se encontra tão fundo na nossa mente que não conseguimos identificá-la e até relutamos em admitir que somos supersticiosos.
O melhor profissional para lidar com isso é o psicólogo , não uma escola mística, já que, o psíquico e o místico estão misturados com o psicológico mundano, em nossa mente, a ponto de não vermos separação entre um e outro. Na verdade, despir-se de crenças sem o auxílio de um profissional treinado em extrair as causas ocultas por trás dos comportamentos é muito difícil.
Freud ,na psicanálise , falava em decifrar a “gramática do inconsciente.”
Achamos que fazemos certas coisas por que queremos, ou que somos como somos apenas por que somos. Segundo aquele médico austríaco, na verdade, nossa educação familiar, o relacionamento com nossos pais e pessoas de convívio doméstico, os traumas de infância associados, moldam em nós as bases de nosso comportamento social.
Aquilo que achamos que é decisão livre e pessoal, na verdade, muitas vezes, é conseqüência da educação, programações inconscientes de nossa mente que nos fazem reproduzir comportamentos de outras pessoas (pais e mães) como se fossem nossos.
A única forma de quebrar esse círculo vicioso é o conhecimento científico, a auto-análise ou a análise com auxílio profissional e a cultura intelectual. À medida que vamos estudando a psicologia comportamental e entendendo os mecanismos que nos fazem ser do jeito que somos , tornamos-nos capazes de isolar os componentes de nossa personalidade e administrá-los melhor.
Não há nada de errado em parecer com seu pai ou com sua mãe.
O problema é quando reproduzimos comportamentos sem critério de distinção entre aquilo que é fundamentado na nossa reflexão e o que é apenas produto de hábitos de compreensão adquiridos.
Assim, com o auxílio do conhecimento psicológico, começa a desconstrução de nossa personalidade e o estudo de seus componentes: qual parte de nós reflete a influência de nossa mãe, qual reflete a influência de nosso pai, qual reflete a influência da convivência com nossos avós, qual parte vem de nosso ambiente sócio econômico cultural, etc.
A importância está em não reproduzir sofrimentos. Algumas estatísticas mostram que filhos de pais separados tendem a ter mais dificuldade em estabelecer relações matrimoniais estáveis bem como filhos de pais alcoólatras, ou tendem a ser alcoólatras ou a casar com alcoólatras, reproduzindo o ambiente doméstico em que cresceram.
Assim prevenidos pela educação e auto análise, podemos evitar repetir situações como conseqüência de simples programações que, devidamente esclarecidas podem ser deletadas de nossa personalidade.
O Terror do Umbral
Da mesma maneira, condicionamentos de infância nos levam a crer em superstições, e não é fácil distinguir quando fomos condicionados para isto. Repetimos crenças de família pela força emocional que envolve este tipo de influência. Crer naquilo que a minha mãe me ensinou a crer é não apenas normal em nossa cultura como parte de nossa formação de caráter.
Pela educação a posteriori poderemos recusar este ou aquele condicionamento, mas nunca estaremos totalmente purificados de todas as influências que recebemos na infância, e nem é bom que assim seja pois são essas influências que nos fazem ser o que somos, que nos torna aquilo que nos tornaremos com cidadãos estudantes, etc. Precisamos nos livrar, isto sim, da parte ruim desta educação e deste condicionamento, aquela que nos induz a crer em coisas absurdas e no poder de objetos mortos, ou mesmo temer certas circunstâncias apenas porque para isto fomos treinados.
A parte mais importante da transformação do HOMEM COMUM em um MAGO, é a depuração alquímica de sua personalidade mundana e a parte mais importante desta depuração é a auto-análise, a busca de motivos ocultos na memória do subconsciente.
Não é um trabalho fácil. Um psicólogo profissional pode ajudar e muito.
Afinal de contas, não vamos identificar apenas memórias intelectuais, mas, principalmente, memórias emocionais.
Estas estarão misturadas dentro de nós e desfazer este emaranhado exige paciência, humildade , tempo e qualificação.
Sem este esforço, infelizmente, a verdadeira senda mística será praticamente impossível de ser percorrida.
Na cabeça do buscador tantos serão os conflitos, as dúvidas, os medos, que ele não terá energia psicológica suficiente para empreender a jornada.
Jamais passará da primeira iniciação pois não poderá vencer o “Terror do umbral”.
Terror , esta é a chave.
O Medo , este é o grande inimigo da luz.
É o medo que o faz invocar, em cerimônias bizarras, forças ocultas que o ajudem a combater as ameaças para ele assustadoras as quais distingue a sua volta, sem que ele perceba que é exatamente o mesmo medo que provoca essas alucinações assustadoras em sua mente, tornando sua vida um verdadeiro inferno de ansiedade e inquietação.
O psicólogo falará dos medos da infância, não superados: o medo da solidão no berço, o medo da escuridão, o medo da dor inexplicada.
A vida para o indivíduo que não teve um desenvolvimento psicológico completo, é sempre assustadora.
Esta imaturidade psicológica é base para a superstição.
Para o supersticioso, por exemplo, o ritual místico não é um drama iniciático, como uma peça de teatro montada para criar um certo estado na alma daquele que a assiste.
O ritual místico não é um meio para um fim.
É o próprio fim em si.
Repetindo a imagem: a vela é mais importante do que a luz que ela representa.
OS PARADOXOS DA SUPERSTIÇÃO
A superstição em si guarda alguns paradoxos . Primeiro ela vai contra a auto-estima pois o supersticioso acha que os objetos que o cercam são mais importantes do que ele, as coisas, portanto, são mais importantes que o ser humano.
Por isso ele coleciona amuletos, cristais, pequenas estatuetas, achando que o acúmulo desses objetos é muito mais importante para ter poder do que melhorar a si mesmo.
Por outro lado, a superstição encerra um sinal de intenso orgulho e soberba, pois faz com que o supersticioso suponha que, de posse dos objetos certos, ele pode comandar a criação a sua volta, ou seja, o supersticioso quer controlar a divindade e toda a criação, tornar-se mais poderoso que Deus.
É comum ver-se tribos da Nigéria invocando espíritos contra seus desafetos, numa espécie de convocação de guarda costas do astral que por sua ordem irão realizar algum desejo seu. Esta crença está representada na história de Aladim e a lâmpada mágica, uma versão árabe dos cultos africanos.
Em ambas as situações, invoca-se um ser, escravizado por algum poder àquele que o conjura, para que ele faça pelo conjurador aquilo que ele acha que não pode fazer.
E, feito o encantamento, supõe o supersticioso que o ser fantasmagórico, rápida e eficientemente vai realizar o seu desejo.
Esta é outra característica do supersticioso.
Ele crê que espíritos os quais ele é capaz de comandar, inferiores a ele, portanto, sejam capazes de fazer por ele aquilo que ele não conseguiu ou acha que não pode fazer.
Claro que estes paradoxos, que não resistem análise mais simples, nem são considerados pelos supersticiosos.
Suas crenças estão tão arraigadas que dificilmente, sairão para a luz do conhecimento com facilidade.
Superstições são os verdadeiros vampiros: vivem na escuridão de nossos receios, sugam nossa energia, se alimentam de nosso medo e, quando expostas ao sol da verdade, se desfazem como pó.
Místicos e mistificadores
Os supersticiosos são presas fáceis de seres inescrupulosos, que cientes de suas inseguranças manipulam-nas com a intenção de conseguir benefícios financeiros ou de outra ordem.
E para isto o esforço não é muito grande já que basta o domínio da palavra e alguns truques teatrais para sugestionar uma massa imensa de pessoas.
Hitler fazia isto. Outros atualmente também o fazem.
O líder místico verdadeiro também tem habilidade em encantar as pessoas com seu magnetismo pessoal.
Nada o difere do charlatão a não ser suas intenções, em seu coração as quais não podem ser contempladas.
O critério do homem comum, incapaz de uma distinção mais sutil entre um e outro, é o critério financeiro.
Alguns acham que o místico verdadeiro jamais manipulará qualquer bem material e muitos místicos tem um cuidado especial com este aspecto, sabendo do preconceito contra a matéria que a Igreja implantou na mente de todas as pessoas ao longo dos séculos, transformando paradoxalmente a miséria material no único sinal de dignidade de um ser humano.
Por causa disto, místicos que não se apresentam em farrapos e que não vivem em pobreza e penúria, enfrentam muita desconfiança das pessoas comuns.
E aqueles que se aprenentam em miséria e penúria, vivendo em condições físicas e de higiene indignas de um ser humano, atraem a atenção de muitos apenas por causa disso, independente da mensagem que traga em seu discurso.
É, portanto, um trabalho muito difícil separar o místico do mistificador.
O estranho é que sempre que um charlatão como Simão , o mágico da Bíblia, que pensou poder comprar com moedas os segredos místicos dos apóstolos, no Pentecostes, aparecer apregoando que tem um conhecimento poderoso e que o venderá para quem quiser pagar uma alta soma por ele, haverá alguém disposto a comprar.
Era assim naqueles tempos e é assim ainda hoje.
As pessoas são realmente muito estranhas.
A psicoterapia, com a análise das noções de valor e das correlações e preconceitos que temos quanto a esta ou aquela categoria de comportamento, seria útil em nos prevenir sobre erros de julgamento que podemos cometer ao seguir padrões do tipo “o pobre é bom e o rico é mau”, ou do tipo “pessoas ignorantes são mais dignas por serem “simples”, do que aquelas que tem grande conhecimento intelectual”, as quais, por serem cultas, inspiram desconfiança.
O Processo Iniciático como alternativa
O que concluímos? Que todo místico deve fazer psicoterapia antes de ser místico? Seria um contra-senso, ainda mais se considerarmos que a psicoterapia como instrumento terapêutico é extremamente recente.
Nenhum místico antes do advento psicoterápico poderia ter se saído bem, já que não havia este recurso.
Antes das pessoas analisarem a si mesmas em busca do aumento de seu autoconhecimento existia a religião e a educação do caráter, forjadores de espíritos sólidos e estruturas morais equilibradas. Era um outro mundo. Não pode haver comparações. O que podemos dizer é que dentro daquelas limitações de época religião e educação do caráter, seja na família ou na escola, , eram os recursos de formação de uma personalidade temente a Deus e devotada ao serviço da humanidade.
Tudo é muito relativo. Com certeza antigamente os homens não eram melhores do que hoje.
Toda esta educação de religião e fé não impediram práticas sociais abomináveis como a escravidão dos negros, considerada natural até dois séculos atrás, ou o machismo , que reservava a mulher um papel secundário na sociedade.
Da mesma forma o rigor do caráter não impedia a hipocrisia da época em relação a moral e a sexualidade, ou a ingenuidade acerca de noções rígidas do que é bem e do é mal.
Sim, havia mais caráter e religião, aparentemente, mas era um mundo, não só física, mas psicologicamente mais primitivo e ingênuo do que aquele que hoje conhecemos.
Só um conhecimento existia na época que poderia ser usado para elevar o nível de consciência das pessoas, homens ou mulheres, pobres ou nobres, e que ainda existe hoje, claro , de modo aperfeiçoado: o processo iniciático.
As iniciações, com seu apelo ao emocional, com sua provocação de transformações íntimas, através de símbolos e rituais, lembram o processo psicoterápico, na sua característica mais importante: ir mais fundo do que a linguagem e do que o intelecto na natureza do ser.
Se a psicoterapia funciona como uma iniciação laica, profana, a iniciação, por sua vez, funciona como uma psicoterapia sagrada, esotérica.
Se a psicoterapia, com seus métodos de busca interior, pode ser entendida como um tipo de processo iniciático profano, o processo iniciático, por sua vez têm funcionado todos esses séculos como uma psicoterapia esotérica.
O stress emocional é um fixador de conhecimento, é o cimento entre um e outro conceito. Conceitos meramente intelectuais não são sólidos até ter entre eles a liga da emoção, do significado humano daquela informação.
Seja este stress emocional a necessidade de responder a um desafio acadêmico, seja o fato deste conhecimento significar a nossa sobrevivência, o fato é que todo conhecimento revestido de emoção se consolida em nós, passa a fazer parte de nós.
As iniciações usam este conceito. Pelo drama teatral iniciático, o indivíduo é levado, pela via emocional, a perceber valores que o intelecto não poderia lhe transmitir. E pela beleza da iniciação, pela sua riqueza cênica, ele fixa com mais intensidade estes valores ali apreendidos. Tudo que é dito pela arte, pela emoção, cala mais fundo dentro de nós.
Infelizmente, a superstição também é assim. Ela nasce exatamente no local onde estamos mais frágeis e sujeitos a influência psicológica, numa palavra, à sugestionabilidade: a nossa família, a nossa cultura de berço, a cidade onde nascemos. Quando perseveramos uma superstição, damos continuidade a um tipo de comportamento que entrou em nós antes que tivéssemos instrumentos críticos para dizer não aquilo que não nos parece correto, do ponto de vista científico ou do ponto de vista do simples bom senso. Por que quando somos crianças, todos os acontecimentos são iniciáticos, tudo nos marca como experiências emocionais, e aprendemos pelo coração e não pelo cérebro, tal qual deve ser na infância e tal qual deve ser no processo de iniciação.
A marca que fica em nós é difícil de tirar, como a hera que entra pelo muro, e do qual só sai se o quebrarmos e derrubarmos.
Misticismo x Superstição
Assim antes de ser místicos, somos seres humanos, fomos crianças, ouvimos histórias de nossas mães e pais e avós, e mesmo com uma formação educacional sólida, estas informações estão arraigadas em nós e é muito, muito difícil arrancá-las de nosso coração.
Por isso somos presas fáceis desse tipo de comportamento, e não fosse pela educação, seríamos também prisioneiros de charlatões de toda espécie.
Não haveria charlatões se não houvesse supersticiosos sedentos para serem iludidos.
A construção de uma mente equilibrada é difícil e exige tempo, mas com certeza o resultado final é um tesouro impossível de ser comprado ou vendido.
É preciso , para levar a termo este empreendimento, superar não só nossa ignorância, mas também sacrificar algum tipo de conhecimento que tenhamos em nós, não como uma reeducação, mas como uma deseducação, um descondicionamento de programas instalados em nós quando não tínhamos antivírus em nosso disco rígido mental.
Cada mente que consegue superar os limites da superstição obtém uma vitória tão importante em termos evolutivos quanto solitária. Ninguém pode viver por nós ou realizar nada por nós .
A maturidade ensina que tudo que nos acontece, resulta de nossa responsabilidade e de nossas escolhas.
Atalhos sempre nos serão propostos e estamos livres para tentar ir por eles, mas a vantagem desta estrada verdadeira é segui-la, até o fim, aprendendo com cada centímetro percorrido.
Saltar etapas , ou supor que isto seja possível, através de amuletos ou pactos com seres invisíveis, só nos atrasará mais e mais e aumentará o tempo do percurso.
Transformar-se em um Verdadeiro Mago depende diretamente de maturidade emocional e psicológica e de saber que , como diz o personagem dos quadrinhos ,o Fantasma , o Espírito que Anda , que um bruxo verdadeiro não pode acreditar em bruxaria.
Então , como podemos finalmente conceituar a diferença básica entre misticismo verdadeiro,como praticado em várias escolas de mistério e a charlatanice pura e simples, supersticiosa que encontramos todos os dias?
São, de alguma forma, as técnicas místicas, supersticiosas ?
Essa excelente e oportuna questão é fundamental.
A diferença básica entre uma técnica mística e a superstição é a mesma entre a superstição e o conhecimento científico. O que torna científico um conhecimento é o fato de ele atender duas características:
1.Reprodutibilidade : as técnicas místicas devem ser reproduzidas por tantos quantos tentem fazê-lo, desde que sejam dadas as condições necessárias para isso .
2.Verificabilidade : Uma técnica mística deve ser testada e verificada quanto à sua autenticidade.
Nenhuma técnica mística deve deixar de ser verificada quanto a sua propalada eficácia por quem quer que a use. Ela não deve depender de fé, mas de confiança resultante dos resultados alcançados de forma consistente e repetitiva.
Toda técnica mística é reproduzível e verificável, não dependendo de humor ou fé, sendo por isso capaz de demonstrar sua eficiência por si mesma, sempre que for necessário.
É desse modo, que os Rosacruzes são alimentados, através das monografias que recebem com um conhecimento sólido, fundamentado na Tradição Rosacruz, que os ajudará a mudar a qualidade de suas vidas.
As monografias nos trazem dois tipos de informações: aquelas de natureza educacional, que aprimoram nossa sensibilidade e cultura, e aquelas de natureza técnica, que nos dão instrumentos para proceder a uma existência mais rica e digna, do ponto de vista humano e material.
Sem a educação, nossa rigidez mental e nossas crenças não aceitariam as técnicas propostas, considerando-as banais e inverossímeis, mas adequadamente flexibilizado pelo desenvolvimento da sensibilidade o espírito se mostra mais apto a experimentar o novo e recusar o antigo, que em hipótese alguma é melhor apenas por ser antigo.
Esta é a mais importante função da educação rosacruciana.
E se a psicoterapia puder ajudar neste processo educacional, não devemos recusá-la, como não devemos em são consciência recusar qualquer recurso que nos ajude a melhorar nosso autoconhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário