Em primeiro lugar, é interessante perguntar por que as palestras são organizadas pelos O.A. da Ordem.
Existem diversas razões, todas significativas.
A primeira é a promoção da cultura mística. Como responsáveis pela manutenção de uma tradição milenar, os rosacruzes têm grande prazer e satisfação em aprimorar este trabalho com o enriquecimento cultural que encontros desta natureza promovem.
Segundo: estes encontros permitem a confraternização entre mentes afins, como costumávamos dizer em nossos prospectos, alguns anos atrás, sejam eles rosacruzes ou apenas curiosos simpáticos aos nossos pontos de vista.
A terceira razão é decorrente desta, ou seja, a partir deste encontro e, desde que o mesmo seja realmente capaz de atiçar a curiosidade e o interesse deste indivíduo, ainda não membro, poderemos conseguir novas adesões e ampliar o quadro de membros da Ordem e do nosso O.A.
As palestras, vistas desta forma, são uma excelente e elegante estratégia de captar novos rosacruzes para nossas fileiras.
E aí eu gostaria de me deter e aprofundar este tema.
O objetivo primordial de nossa Amada Ordem é fornecer mecanismos ao indivíduo que a procura para que este possa conseguir o Domínio de sua Vida e superar as limitações psicológicas e físicas que, eventualmente o estejam bloqueando para o sucesso pessoal, profissional e espiritual.
E para isto, existe um consenso, a Educação é o elemento chave da equação.
Obviamente, a educação mística segue mais o modelo enciclopédico do tempo do iluminismo, onde todos os assuntos, fossem quais fossem, deveriam ser investigados com o mesmo ardor, ao contrário de nossos tempos atuais onde a especialização parece estar consagrada como modelo de intervenção no conhecimento.
De qualquer forma, sendo o estudo místico um Universo em si, e sendo o rosacruz, como já foi dito, um interrogação que caminha, sua fome de informação quanto às múltiplas facetas do misticismo internacional é, digamos assim, insaciável.
Exatamente por isso, o papel de Organizações como a nossa é o mesmo de uma Universidade com suas diversas Faculdades, ou seja, organizar didaticamente todo este conhecimento e fornecê-lo, a posteriori, sob a forma de monografias de fácil leitura, ao longo de graus progressivos, aos nossos estudantes de sanctum.
Este é um trabalho santo, já que disponibiliza conhecimento e informação e assim, contribui como vimos decididamente na consecução de uma vida plena e gratificante.
Nada impede, e é até desejável, que esta gama de informações monográficas sejam enriquecidas por outras atividades e pesquisas culturais e técnicas, entre as quais as atividades de palestra em corpos afiliados.
Os assuntos destes encontros são os mais variados, mas ao contrário do que pareça, dada a enorme liberdade que encontramos em nossos trabalhos de investigação dentro de nossa Ordem, isto não significa que não deva existir critérios de bom senso e pertinência em relação aos temas discutidos.
Lendo uma monografia oficial da AMORC, de nível avançado, recentemente, deparei-me com a seguinte declaração que muito me encheu de orgulho por pertencer à Rosacruz.
Dizia ela textualmente:
“É apropriado neste ponto que procuremos transformar parte de nosso estudo em experiências e demonstração pessoais. Numa de nossas monografias recentes foi explicado que o misticismo não é contrário a experiência; antes, está tão ligado a experiência quanto a filosofia e a ciência ( profana).
Na verdade, misticismo e ciência são sinônimos. Sem certo tipo especial de experiência, jamais poderíamos ser místicos.”
É a mais pura verdade. Nós, místicos da AMORC, somos cientistas místicos.
E embora nossa área seja extremamente subjetiva, não devemos esquecer os critérios objetivos que definem uma boa prática científica.
São eles: fundamentação bibliográfica, verificabilidade experimental e crítica dos resultados, no intuito de gerar novas hipóteses a serem testadas.
Os temas de palestras não verificáveis não estão impedidos de ser apresentados nos corpos afiliados, mas a atitude de condescendência com este tipo de apresentação, principal características de mentes menos sagazes, pode fazer com que estas mesmas palestras fomentem o obscurantismo, contra o qual todos os rosacruzes devem lutar, aí sim, de forma intolerante.
Sagacidade é uma virtude importante, e de forma alguma privilégio de pessoas com formação educacional rebuscada. A arte do comércio, para citar um exemplo, é cheia de exemplos de homens e mulheres intuitivamente diferenciados na percepção de oportunidades lucrativas, sem que nunca tenham se preparado para isto em bancos de Universidade, da mesma maneira que encontramos pessoas com formação universitária capazes de comentários e atitudes absolutamente ingênuas.
Portanto, já que somos uma escola, e como tal nossa obrigação é educar nossos membros, devemos todos, mestres e colaboradores de O.A., passar os temas de palestras pelo crivo do bom senso científico, pois talvez aí, selecionando temas pertinentes ao trabalho místico e fundamentados na tradição e na experiência, façamos o trabalho mais importante do educador que é melhorar a capacidade do membro de buscar a informação de qualidade de forma criteriosa .
Temas possíveis e consensuais que exemplificam este modelo são assuntos como Astronomia, Física e Biologia, que sempre devem ser enfocados por pessoas ligadas à área, que possam didaticamente mastigar estes assuntos para os nossos membros, mas a partir de uma formação e de uma informação sólida.
Os temas filosóficos clássicos sempre serão bem vindos como enriquecedores da sensibilidade de nossos membros e quando falo em Filosofia, cito a Filosofia Ortodoxa, e não apenas a especulação livre que, em princípio, não é Filosofia, na acepção técnica do termo, já que até o pensar tem regras muito claras e definidas há muitos séculos.
Revisões biográficas de grandes líderes espirituais sempre são inspiradoras.
Não quero fazer comentários quanto ao que não deve ser levado a discussão em O.A. porque seria pretensão e poderia parecer apenas uma censura prévia ao trabalhos de nossos oficiais, o que vai contra a natureza de nossa Ordem.
Apenas insisto que não fazendo isso, não quero dar a impressão de que não existam assuntos inconvenientes e inadequados, como aqueles que de alguma forma promovem crenças supersticiosas, ou que propaguem terapias milagrosas sem qualquer apoio da comunidade científica internacional.
Reza o regulamento para palestras que devem ser evitados temas que promovam ideais contrários àqueles que a Ordem propaga, como quaisquer discursos xenófobos, políticos radicais ou racistas, mas isto é óbvio.
O que não é óbvio é que assuntos sem fundamentação científica, o que eu chamaria de superstição chic, travestido de conhecimento científico, são muito comuns em O.A., e isto, embora não pareça, é contrário à intenção de formar e informar mentes mais sagazes e mais sensíveis.
É muito comum que um indivíduo qualquer que queira valorizar seu tema, afirme que este está cientificamente provado.
O rosacruz não deve aceitar tal fato sem que lhe sejam dadas os devidos detalhes: provado quando? De que modo? Por quem? Quais os detalhes da experiência que demonstrou este fato?
O ceticismo não é um defeito, mas uma qualidade de mentes sagazes.
Lembro a todos por último que o inventor do Ceticismo metodológico como técnica de pensamento não foi ninguém mais senão um frater rosacruz do Século XVI, Renée Descartes, ao qual prestaremos homenagem quando, como cientistas místicos, exercermos o mesmo ceticismo diante de tudo aquilo que seja ou se diga ser científico.
Já que estas palestras são nossa principal estratégia de captação de novos membros, elas devem ser de alta qualidade de forma a passarem uma boa imagem de nossa Ordem para aqueles que não são membros e que as assistem.
Se como mestres de O.A. tivermos o cuidado de programarmos palestras de cunho histórico, científico e literário, estaremos plantando a semente da qualidade e do refinamento de pensamento que dará como frutos místicos mais equilibrados e uma ordem mais sólida e fundamentada.
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