Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A MAIS TERRÍVEL CONSPIRAÇÃO DOS ÚLTIMOS VINTE SÉCULOS

OU COMO DEUS FOI ROUBADO DE NÓS.

Mario Sales, FRC.:S.:I.:,M.:M.:



Não haverá, talvez, crime maior na história da humanidade do que a campanha da Igreja, de 20 séculos de duração, aliás, muito bem sucedida, para convencer a todos nós, humanos que somos, de que não passamos de um erro da criação, um aborto espiritual, algo que em suma, fracassou.
Tantas vezes foi repetido que todos nós representamos o resultado de um equívoco do Ser Divino, que muitos senão todos acreditaram.



Ser Divino este que ao mesmo tempo em que errou criando-nos, era Infalível. Ser Divino este que sendo Onisciente, foi traído em sua confiança por nós. Ser Divino que em sua Onipresença, não estava ao lado de Eva quando esta foi tentada pela Serpente.

Para alguns é um Dogma: o único problema da Criação, o grande erro da Obra de Deus foi o Homem, Criado para reinar, Homem este que por incompetência e inépcia, não estava à altura da nobreza para a qual foi criado.



Não importa que ele, Homem, seja, para muitos teólogos, uma criatura de Deus, e que por isso, qualquer erro em sua constituição ética e moral tenha de ser atribuído ao seu Criador, da mesma forma que os defeitos de uma estátua não são senão defeitos provocados pela inabilidade do Artista; nem importa também que a partir de outro ponto de vista o Homem seja uma Emanação do Criador, o que levaria a situação embaraçosa de admitir que suas imperfeições estejam presentes também em Deus, de onde foi emanado e, como tal, ao qual, se iguala, já que é da mesma natureza que ele.



Não, tais objeções lógicas não vêm ao caso. É preciso convencer os Homens (e a Igreja o fará) de que eles têm livre arbítrio, que estão separados de Deus, que Deus é outra coisa, muito diferente do Homem, e que, portanto, o Homem é muito diferente de Deus.Afinal, a idéia do livre arbítrio é popularizada por um sacerdote, Santo Agostinho.

Santo Agostinho


Desde a discussão entre o monge Pelágio e Santo Agostinho sobre a existência ou não de pecado original por herança em todos nós, um trabalho psicológico maciço e ininterrupto tratou de criar textos e falas, discursos e homilias que foram mantidas vivas e aceitas mesmo após as cismas que a não tão Santa Mãe Igreja sofreu na ruptura com a Igreja de Constantinopla, ao Leste; com a Reforma de Martinho Lutero ao norte, finalizando pela ruptura com a Igreja da Inglaterra à Oeste.


Pelagio

O mais espantoso é que suas filhas rebeldes perseveraram os mesmos conceitos primários e depressivos ao longo de eras, embora pensassem que trilhavam um caminho original.
E o que dizem estes textos?
Primeiro: o homem não é digno de comer o pão em sua mesa.
Segundo: o corpo do homem é fonte de pecado e imundície. Só gera perversão e luta contra a espiritualidade.
Terceiro: tudo que há de Bom, Belo e Santo está fora desta Terra em que habitamos, fora do homem e deste mundo em que vivemos, além do mundo dos vivos.
Não é uma receita de ânimo, de estímulo à vida, de louvor a existência, em suma, mas sim de negação da existência, uma ode à morte. A alegria sempre esteve longe da religião, já que a busca pelo Altíssimo segundo os religiosos, implicaria a renúncia às coisas deste mesmo mundo aonde a busca se desenrola.
Nada, no entanto, do que eu disse até agora é filosófica ou sociologicamente novo.
Outras penas já denunciaram tais estultícias que só a ignorância espiritual e o atraso mental justificam, ou pelo menos contextualizam.
O mais grave, no entanto, foi a insistência quase doentia de que o Homem está separado de Deus, que não são uma e a mesma coisa, como dizia o profeta desta mesma Igreja.

Tudo em nome da valorização do Intermediário, o Sacerdote, o Cardeal, o Papa, não importa, alguém que está entre nós e Deus e que, necessariamente, será imprescindível em nosso encontro com o Altíssimo. Para usar uma frase oportuna, criaram-se dificuldades para se vender facilidades (ou indulgências, se assim o quiserem).
Roubou-se assim do Homem comum a capacidade de Ver e Ouvir Deus com
autonomia, sem os aparatos do Ritual ou do Cerimonial, homem este tão bem personificado no herói quixotesco do Dilúvio, Noé, o mesmo que após garantir a preservação da diversidade biológica da natureza e da humanidade é presa do Vinho e embebeda-se a ponto de ser carregado nu para casa por seus filhos.
Noé, bêbado


Tocado pelo Sagrado e ainda assim, tropeçando em seus próprios atos, Noé, o Velho Louco, que ouvia Vozes e construiu um barco sob as gargalhadas dos tolos, era, ainda assim, um eleito.
E qual o perfil de um eleito? Resposta: não há perfil, não há padrão, já que, em verdade, todos nós somos eleitos de Deus, desde que deixemos que sua voz, seu hálito, nos alcance, e nos aqueça, desfazendo a nossa insegurança e solidão.
Ninguém, ninguém nos amaldiçoou mais ao longo dos últimos 20 séculos do que a Igreja. Ela conseguiu convencer aos crentes e a alguns céticos que o dinheiro e a pureza são incompatíveis com a santidade, que a dignidade material não condiz com a dignidade espiritual e que santo é o miserável, o ignorante, o tosco de espírito.
Todo intelectual vivo, hoje, olha com suspeita para si mesmo, tocado inconscientemente por esta lavagem cerebral de séculos, e embora não perceba não se permite crer que sua cultura possa ajudá-lo no caminho da Iluminação. No fundo crê mesmo que Iluminismo e Iluminação são coisas incompatíveis, antagônicas.
Muitos dirão: que nos importa tais crenças, tais análises? Não somos religiosos, alguns de nós somos inclusive ateus. Que nos importa tais considerações?
O fato é que o poder desta conspiração de vinte séculos não afetou apenas os crentes. Tirando a esperança de muitos, criou o desespero e a revolta em outros.
Independente de se crer ou não na existência de Deus, a Campanha da Igreja gerou um estado de baixa auto estima tão coletivo e profundo que todos, crentes ou não crentes, foram afetados por este trabalho psicológico demoníaco de convencer um por um, que nenhum de nós é Divino, e que desde o nascimento, estamos mergulhados no erro e no pecado.
O mais grave não foi a perseguição aos sábios, aos cientistas. A Igreja, sejamos justos, não está só neste campo. Entre os egípcios, Akenathon o faraó monoteísta também foi objeto de oposição; Espinoza foi excomungado pela comunidade Judaica de Amsterdã; e o próprio Cristo foi morto pelos judeus.


O que a Igreja tem de peculiar foi a sua competência corporativa, sua habilidade em transformar a consciência de tantos homens e mulheres ao longo de 2000 anos em mentes apáticas ou antipáticas a quaisquer idéias que toquem de leve o tema da nossa identidade natural com o Sagrado.

A Igreja expulsou, pois, o Sagrado de dentro de nós e recolocou a cortina do Tabernáculo na frente da Arca.

Mais: apossou-se da Arca e a escondeu de todos de maneira que ninguém pudesse nem mesmo vislumbrá-la por uma fresta.
E convenceu a todos que ela, a Arca, a presença divina, nunca esteve nesta Terra, e nem está mais.
É sempre oportuno lembrar a quem disser que existe exagero em minhas palavras de um episódio histórico bem documentado: o massacre dos Cátaros e o seu massacre impiedoso pelas forças de Inocêncio III.


Papa Inocêncio III
O grande pecado cátaro, sua grande heresia, era dizer que o contato entre o home e Deus devia ser direto, sem intermediários.
Isto obviamente destruiria a reserva de mercado de uma das profissões mais bem sucedidas daquela época, a de sacerdote, os quais não tinham necessidade de família, tinham garantia de alimento em uma era em que comer todos os dias era um luxo para a maioria da população camponesa, possuíam benefícios como roupas e alojamento no local de trabalho além de acesso ao que de mais sublime existia e existiu na nossa sociedade: livros e educação, outro luxo de uma época em que poucos sabiam ao menos ler.
Os Cátaros eram uma ameaça a tudo isto. E por isto, só por isto, foram mortos.
Da mesma maneira que após a invasão do território americano pelo México, com a destruição e o massacre de todo um destacamento pelas tropas mexicanas, na contra ofensiva das tropas americanas era comum bradar “Lembrem-se do Álamo”, nós místicos devemos sempre nos lembrar dos Cátaros como modelo sócio-político do que uma Organização religiosa é capaz para manter um monopólio sobre os corações e mentes de milhares de seres humanos
Misticismo é a busca do contato íntimo com Deus. Religião é poder.
Foi nesse enfoque de poder que esta máquina administrativa poderosa empenhou-se no esforço de 20 séculos para convencer a todos de que Deus não está em nós, mas longe de nós, e que na verdade, o Homem é apenas e tão somente uma absurda imperfeição da obra de uma Divindade dita perfeita.

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