Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 4 de março de 2014

DE VOLTA: TODOS SOMOS PEREGRINOS

por Mario Sales, FRC,SI,CRC


Portugal é um país encantador, lúdico, transpirando tradição e história, principalmente a medieval.
Quando pensamos em contos de cavalaria, são os ingleses que nos vêm a mente, com a Lenda do Rei Artur, a qual foi narrada originalmente por um trovador francês.
A península ibérica tem também, no entanto, seu histórico de lutas e conflitos, seus heróis e cavaleiros, seus reis e rainhas, com dramas Shakespearianos, como a história (real em dois sentidos) de Inês de Castro e Pedro, príncipe e depois rei de Portugal, cujos túmulos visitei no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

Como tudo o mais, até seus esquifes contam e narram suas histórias, em pequenas e preciosas esculturas em alto relevo.


Comprei em Lisboa, exatamente por isso, um livro de Lendas de Portugal, Ancora Editora, escrito por Gentil Marques. Urge desfazer tanta ignorância sobre meus antepassados; sim, meus, seus, ou, como eles adoram falar, vossos antepassados, já que não há aqui ninguém que não tenha em suas veias um pouco ou muito do sangue de aventura português.


Óbidos, Alcobaça (dos rios Alcoa e Baça, que dão origem ao nome), Nazareth, na praia, Fátima, Sintra com o Castelo da Pena, que está na capa do blog esta semana e no qual é inevitável a sensação de mergulho em um passado estranhamente familiar. Mais ainda quando se ouve dizer de um esoterista português, na verdade nascido no Rio de Janeiro e filho de pais portugueses, António Augusto Carvalho Monteiro, interessado em Cabala, e ligado aos Maçons e aos Rosacruzes, que vivia em Sintra e que mandou construir um rico palácio, o "Palácio das Regaleiras" ou "Quinta da Regaleira" cheio de referências ocultistas. Isto é o mais fascinante, o reencontro de um semelhante em tão distantes paragens.



Neste mesmo local, encontra-se um estranho sítio conhecido como "poço iniciático", usado, segundo consta, em rituais de iniciação à maçonaria.
"A simbologia do local está relacionada com a crença que a terra é o útero materno de onde provém a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento. A existência de 23 nichos localizados por debaixo dos degraus do poço iniciático representava um dos muitos mistérios da referida construção. No dia 29 de Dezembro de 2010, o professor Gabriel Fernández Calvo da Escola Técnica Superior de Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos da Universidad de Castilla - La Mancha em Ciudad Real, quando visitava o poço acompanhado de outros professores da UCLM, observou que os 23 nichos não estão colocados por acaso, pois encontram-se agrupados em três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos separados entre si à medida que se desce ao fundo do poço. Esta organização não é aleatória e provavelmente se refere ao ano 1715 em que Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro) em leilão público."[1]



Em sua arquitetura de nove níveis, relembra os nove círculos do inferno de Dante. No endereço https://www.youtube.com/watch?v=mhdItKFdC-E é possível fazer uma visita virtual ao interior desta interessante construção.
Estivemos ainda no Cabo da Roca, o local mais ocidental de Portugal Continental, bem como da Europa Continental, local, segundo Camões, onde " a terra se acaba e o mar começa".



Com um farol belíssimo, o Cabo tem um charme indiscutível.



Mas o cenário mais impressionante não foi uma paisagem ou algo da natureza, mais um templo e um ritual, como é adequado a um místico e esoterista.
Curiosamente, não por minha vontade, mas por insistência de minha esposa, fomos do Porto a Santiago de Compostela, (São Tiago do Campo de Estrelas) aonde passamos um dia inteiro, e além de tudo, assistimos a Missa do Peregrino.
Esta por sinal, foi caracterizada pelo incensamento característico, que hoje ocorre aleatoriamente, em ocasiões especiais. Fomos agraciados com a sorte de estar em visita ao templo, naquele ritual, um grupo de adolescentes da Escola de Padre de Alicante, e , em sua homenagem, o incensamento peculiar do templo se deu.
E eu que não sou católico, ajoelhei e rezei , dada a beleza do altar e a emoção do momento.
Já que não há como descrever, eu fiz um vídeo, que coloco aqui para que vocês vejam um pequeno trecho daquilo que presenciei e julguem por vocês mesmo se é ou não uma experiência marcante.
Ao final desta missa, eu tinha firmado a convicção de que, mesmo jamais tendo feito o Caminho de Santiago, pelo fato de estar vivo eu tinha direito de estar naquela missa e me sentir abençoado pelo sermão do sacerdote, que lembrava, em função da presença dos estudantes, a importância da educação no crescimento de todos nós, e a fala do Cristo de que devemos almejar sempre a perfeição ou pelo menos o estado de constante aperfeiçoamento, já que "devemos ser perfeitos como é perfeito nosso Pai que está nos céus" (Mateus, 5:48).
Se não fiz o caminho de Santiago, fiz o caminho da Vida, em busca de constante aperfeiçoamento. Como tal, sou também um peregrino, como de resto todos nós que estamos aqui neste mundo.
Esta viagem me relembrou esta obviedade que é importante jamais esquecer, já que o que importa é exatamente este buscar, este peregrinar e não necessariamente o fim da jornada, se é que existe tal coisa.
Volto para casa sob as bênçãos de São Tiago, irmão do Cristo, e da Santidade de dois lugares santos, Compostela e Fátima, que espero, me ajudem a manter em mente apenas o que é digno e justo.



[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_da_Regaleira#Po.C3.A7o_Inici.C3.A1tico

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