Por Mario Sales
ATRIL
Quando há 8 anos atrás, coloquei na capa do blog que o mesmo
seria “um exercício solitário, poético e filosófico, baseado no preceito
rosacruz da mais completa liberdade (possível) dentro da mais perfeita
tolerância (possível)”, muitos estranharam os parênteses com a palavra possível.
Havia na época como ainda hoje existe, para alguns, a fantasia de que a Ordem
era realmente isenta de restrições comportamentais. O tamanho e o enorme número
de páginas do nosso Manual Administrativo, com o qual todo monitor regional,
todo Grande Conselheiro, todo mestre de capítulo ou loja devem estar
familiarizados vai contra essa acepção. A Ordem tem sim limites para o
comportamento de seus membros e oficiais ritualísticos ou administrativos. Isso
não teria um peso tão grande se não viesse acompanhado de suas consequências,
ou seja, toda vez que temos uma regra escrita, por mais clara e detalhada que
ela seja, sempre haverá necessidade de ser interpretada e adaptada a cada situação.
Eu dou um exemplo prático. Fui mestre da Heptada Martinista Guarulhos,
no ano de 2010. Fui mestre do primeiro e segundo grau em 2008 e 2009. Na época já não estava tão jovem e a mesa com o texto da aula,
sobre a mesa já estava demasiado distante dos meus olhos. Pensei em colocar um
atril na mesa para facilitar a minha leitura e a leitura dos irmãos que davam
aulas ali.
Como é de praxe consultei a autoridade responsável.
Seu comentário: não poderia ser colocado nada sobre a mesa
já que o regulamento ritualístico era claro. Sobre a mesa nada a não ser o que
estava protocolado. O atril que facilitaria minha leitura foi portanto vetado.
Em 2008 um frater visitou a Grande Loja Americana, na Califórnia, sob a orientação da maravilhosa soror Julie Scott,
Grande Mestra da Língua Inglesa, espírito prático além de excelente
administradora.
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JULIE SCOTT, Grande Mestra de Língua Inglesa
Entre
as visitas de reconhecimento da nossa antiga Suprema Grande Loja, foi levado
com outros irmãos, a conhecer o templo da Heptada.
Para sua surpresa, sobre a mesa do mestre, estava um simples
e discreto atril, para facilitar a leitura dos manuscritos.
Ora, a Ordem, em todo o mundo quer ser uma só.
Nossas leis internas e regulamentos valem teoricamente para
todas as regiões do planeta.
Fica, pois, a questão: porque nos EUA em uma Heptada da
Grande Loja da Língua Inglesa, podia haver um atril em cima da mesa, como manda
o bom senso, e aqui não podia?
A lei é a lei mas sua interpretação muda de local para
local, de pessoa para pessoa.
Flexibilidade administrativa deve ser um protocolo, de forma
a que os rosacruzes não sejam prisioneiros de regras inadequadamente rígidas e
mal interpretadas.
Esse foi apenas um exemplo. Tenho quarenta e quatro anos de
AMORC e já frequentei vários corpos afiliados e testemunhei eventos os mais
curiosos e pitorescos.
A vida dos oficiais administradores é espinhosa, reconheço,
e em determinadas horas é preciso a espada, como em outros precisamos da rosa.
O problema é saber quando usar um ou outro.
E principalmente, não deixar que a espada corte o caule da
rosa. Seria um golpe contra o nosso próprio jardim.
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