"por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Foi Mestre Reginaldo Leite, meu estimadíssimo frater e amigo de Pernambuco, companheiro de longas conversas no Skype, quem me atiçou a curiosidade para a possibilidade de conexão entre a visão de Martinez de Pasqually e a cosmogênese na visão do Cabala, principalmente a Cabala Luriana.
Comentava ele a propósito de um curso que fará sobre "A Mística das Letras Hebraicas", que gostaria de encontrar uma ligação entre ambas as tradições e sugeriu-me um primeiro ponto: na transição da região da Imensidade Divina para a Imensidade Supraceleste, do Quadro Universal que está no Tratado da Reintegração, Martinez chama os espíritos que guardam o ponto de intersecção entre estes dois domínios de Espíritos Denários e lhes atribui o número 10. Diz ele que os ESPÍRITOS SUPERIORES DENÁRIOS, não foram chamados a participar da execução do plano divino. Estão imóveis, como que guardando a transição entre um e outro plano. Em um outro ensaio chamado, presunçosamente “Explicando o Quadro Universal”, eu dizia na época que esta imobilidade não inútil dos superiores denários significava que eles estavam fazendo o papel de transformadores da energia de criação de Deus, da mesma forma que transformadores elétricos impedem que a corrente de alta voltagem entre em nossa casa sem ter sido modulada para 110 volts. Imóveis, dizia eu, mas trabalhando. Frater Reginaldo deu um passo além. Ancorado em uma intuição e conhecimento únicos, dizia ele que eram 10 sephirot na Árvore da Vida, ou seja , a Árvore da Vida é denária, como os espíritos da junção supracitados. Haveria paralelismo? Não é preciso dizer que o que nos diverte, a mim e a meu querido frater, nestes contatos especulativos, como diria o Conselheiro Acácio, é especular.E eu penso com imagens. Imediatamente comecei a procurar imagens que mostrassem esta ligação entre uma e outra tradição.
Enquanto brincava com a ajuda do Google de um lado e do Paintbrush do outro, com um sem número de imagens, comecei a ter um insight sobre a natureza da própria “Árvore da Vida”.
No espírito da mesma estratégia intelectual que me fez meses atrás dar tridimensionalidade ao Eixo Fogo Central Incriado, percebendo a partir daí que era Nous, o sustento da existência que a todos penetra, comecei a olhar para a Árvore da Vida e deslocá-la de posição.
Frater Reginaldo sempre lembra que em cada sephira da árvore temos um torvelinho de energia. Isto me fez extrapolar que a própria árvore poderia ser um torvelinho de energia também. Talvez um tornado energético de tal magnitude que a época em que foi descrito, chamar-se-ia, adequadamente de árvore.
Pensando nisso comecei a juntar imagens.
Primeiro: a “Árvore”
Escolhi este modelo de árvore e não outro por causa da evidencia das três colunas constituintes. Importava muito para o desenvolvimento do meu raciocínio visual que as três colunas componentes estivessem destacadas no arranjo.
Segundo: colocar a árvore no lugar dos Denários de Pasqually
Nessa imagem, a aparência de tubos pelos quais passa “alguma coisa” provavelmente nos dois sentidos , descendente e ascendente, é compatível com a idéia de que “Deus se vê no espelho de sua Criação”, ou melhor , de que há uma retroalimentação constante da Criação para o Criador , na forma de dados da experiência de todos os seres criados. Não só desce energia criadora mantendo e sustentando Maya, a grande Ilusão, palco das experiências das personalidades alma deste mundo, mas da mesma forma estas experiências e suas conseqüências são imediatamente reportadas a Fonte de Todas as coisas, alimentando-a. São três colunas de Luz que sobem e que descem da Imensidade Divina, mais ou menos como na representação abaixo:
Terceiro passo: pensar a “Árvore” tridimensionalmente. Deformei-a e levantei-a, da forma que se segue. A esta altura tinha me fascinado pela “Árvore” e esquecido do Quadro Universal de Pasqually. Ficou primeiro assim:
Neste momento, eu estava levantando a “Árvore” para ver suas colunas de uma perspectiva inferior, imaginando que por baixo seria possível ver os vórtices. Ficou dessa forma a visão inferior:
Pensando nestas espirais, me veio a mente o quarto passo: pensar a “A Árvore como uma espiral em si e elaborei o seguinte modelo:
Não é preciso muita imaginação para entender que a imagem acima lembra muito uma árvore, sem sê-lo. Padrões energéticos em uma época primitiva não encontrariam nem um vocabulário para descrevê-los, como demonstramos em “Explicando o Quadro Universal”, na referência ao Eixo Fogo Central Incriado, o qual recebeu este nome trocando-se Energia por Fogo, única imagem capaz na época de representar a idéia.
Agora, se esse modelo acima, um torvelinho de energia, era uma manifestação do processo criador na Terra, e se ele se reproduzisse em vários níveis, teríamos algo parecido com a imagem que se segue:
Cada um destes vórtices em posições compatíveis com as sephirot, rodopiando e emanando energia que recebem de níveis mais altos e passando para os níveis mais baixos, ao mesmo tempo recebendo esta energia dos níveis mais baixos e os repassado para os níveis mais altos , de Malkuth até Kether. Animado com minhas brincadeiras visuais, deformei o vórtice mais ainda esticando-o e para minha surpresa surgiu nada mais nada menos do que uma “ARVORE”. Prestem atenção:
E agora a explicação da razão porque usei aquele modelo e não outro do esquema da Árvore da Vida. Três “Colunas de Fogo”, três colunas de energia como vistas acima:
E na versão Vórtice de Energia ficariam assim:
Diga-me você que lê este trabalho: é ou não é uma “Árvore”?
Só falta agora colocá-lo no Quadro Universal.
Qual o sentido de toda minha especulação com imagens? Postular que Misticismo e Tradição são apenas a ciência de outra época, uma época em que contemplavam-se fenômenos tão fantásticos e fascinantes como aqueles que o Hubble e seus companheiros telescópios da atmosfera nos apresentam todos os dias nos jornais da manhã. Em minha humilde opinião, tudo que a Tradição nos traz são relatos toscos e deformados de fenômenos indescritíveis naquela época, ou mesmo na nossa, visões de Iniciados que, ao transmiti-las, lançaram mão das comparações possíveis no seu tempo. Não compreender isto, a meu ver, é procurar sentido no que não tem, tentar entender o objeto real por sua sombra, como os prisioneiros da Caverna de Platão, no diálogo A República. Descrições toscas não significam que sejam falsas. São apenas toscas por que não poderiam ser de outra forma e ao místico é demandado um esforço intuitivo hercúleo para ir além das sombras que a Tradição às vezes tem preservado por milênios, na esperança de algum dia a mensagem ser entregue a quem de direito.
Confesso que sou pragmático e que às vezes me faço a pergunta assassina do prazer: para que servirá este conhecimento, que importância ele pode ter para a vida cotidiana? Ainda não sei. Mesmo assim me divirto em tentar surpreender formas esquecidas, dissimuladas em representações ruins, porém possíveis numa época de poucas luzes.
Se alguém quiser me criticar pelo meu esforço chamando-o de descabido e delirante, defendo-me com as palavras da Tábua de Esmeraldas: "O que está em cima, está em Baixo, assim como o que está em Baixo, está em Cima", lembrando como Espinoza que não existem várias realidades, mas apenas uma em sucessivos níveis de refinamento ou densidade. O que não podemos e não devemos fazer é parar de pensar.
Este ainda é o nosso último direito e nossa inquestionável liberdade.