por Mario Sales, FRC,M.:M.: e S.:I.:
O Sepher Zohar diz a certa altura:
“Já que a forma do Homem compreende tudo que está nos céus em cima e na terra embaixo, Deus a escolheu como sua própria forma.”
Podemos, portanto, Vê-Lo, vendo-nos, observando-nos. Nossas certezas, são Suas certezas. Nossas dúvidas , Suas dúvidas.
São afirmações antropocêntricas, confirmadas por este trecho, na mesma página, logo abaixo:
“O Homem é o ponto central ao redor do qual gira toda a Criação.”
Ou por outra, tudo começa e termina em cada um de nós. É isto que o texto do Zohar e da Cabala, por decorrência , diz.
Que conclusões podemos tirar destas afirmações? A primeira , na minha opinião, é que existem tantos universos e tantas criações quantos são os seres humanos na face da Terra.
Esta afirmação que aparentemente beira a insanidade pela enorme subjetividade que possui, não é descabida para os místicos. Olhos no mundo, os místicos sabem, cada homem interage com este mundo de um modo diferente, reage de um modo diferente, e cria a sua volta uma rede de relações característica de sua peculiar maneira de pensar o mundo.
Mais: ele cria um mundo para si, com seu pensamentos, com sua imaginação, antes de com seus atos.
Nem a própria Cabala escapa deste fenômeno. Embora aparentemente seja a mesma tradição para todos que a estudam, de forma alguma ela ecoa dentro de espíritos diferentes da mesma maneira.
Existem aqueles que olharão para a Tradição que ela encerra com ânsias de poder; outros, com projetos espirituais; existirão ainda aqueles que entrarão em seus domínios em busca da manifestação teúrgica, certos de que através dos anjos poderão superar suas próprias limitações espirituais.
E assim a Cabala será diferente para cada um. Nenhum poderá no entanto percebê-la antes de se livrar de suas expectativas pessoais a respeito desta sagrada tradição já que xícaras cheias não podem receber mais chá.
Cabala quer dizer “aquilo que se recebeu” no sentido de Tradição.
Só recebe quem permite que o conhecimento lhe seja entregue, que tem as mãos nuas quando se dirige a dádiva.
Aquele que já tem alguma coisa nas mãos, não pode segurar mais nada.
É preciso se livrar de tudo que possa atrapalhar antes de receber alguma coisa, seja a Cabala ou outra coisa qualquer.
Toda dádiva é divina, como lembra João Batista: “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.”
Mesmo as dádivas sabidamente divinas devem ser aceitas para serem recebidas. A aceitação, a disponibilidade psicológica diante da dádiva, é talvez a mais importante das condições para que a bênção se consume.
A bênção de Binah depende de Hochmah. Só uma e outra combinadas levam a Da’at, o conhecimento para além da vida material, inacessível aos que ainda estão na carne, segundo dizem.
Cada um, portanto, compreenderá de acordo com sua sabedoria. Cada um conhecerá de acordo com a combinação de sua sabedoria, compreensão e misericórdia.
A cada pessoa será dado o mundo que ela puder receber e perceber.
Que pode ser mais justo e adequado?
O que mais fiel ao espírito de Geburah, a Justiça?
O que acreditamos ser, somos, O que acreditamos que o mundo é, ele será.
Compreendamos este poder, e o resto nos será acrescentado. Por que o “...homem é a síntese de todos os Nomes Santos. No homem estão contidos todos os mundos...” diz o Zohar.
Que o Inefável nos abençoe com o discernimento.
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