por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Estranho ser membro de uma Ordem milenar, constituída por alguns dos pensadores mais fundamentais da história do conhecimento, e ter medo de pensar.
Medo, sim.
Refletir, como o nome diz, é lançar luzes que retornam sobre nós, imagens em um espelho, que no caso da reflexão intelectual, é o espelho da opinião alheia, que acolhe nossa opinião e a devolve encharcada de compreensões e interpretações pessoais, prenha de idéias que, antes de idéias, são reações às provocações do raio de luz inicial, ou seja, reflexos.
Rosacruzes, tradicionalmente, são pensadores e pesquisadores místicos, cientistas e filósofos, no mínimo livres pensadores, espíritos inquietos e produtivos, que contribuíram e contribuem, cada um a seu modo, para o engrandecimento do conhecimento.
Existem exemplos históricos: Francis Bacon, pai da metodologia científica; Descartes, pai do ceticismo metodológico; Leibnitz, criador do conceito de Mônada que expressa da seguinte forma: “Mônadas são centros de forças; substância é força, enquanto o espaço, extensão e movimento são meros fenômenos”; Dalton, químico, metereologista e físico inglês que fez um extenso trabalho sobre a teoria atômica; Newton, pai da física Mecânica e do cálculo , juntamente com Leibnitz.
A única peculiaridade que difere o cientista e o filósofo rosacruz daquele que não pertence ao meio místico é o pressuposto divino.Todos os rosacruzes são pensadores e cientistas estão em consenso sobre a existência de uma Inteligência que tudo comanda e organiza, segundo Sua vontade transcendente. Este é um pressuposto íntimo de qualquer místico, seja ele um cientista, um filósofo, ou não. Todos pensamos a partir de pressupostos íntimos. Identificá-los esclarece nosso caráter e nossas tendências.
Estes pressupostos são muito importantes e nos motivam contra adversários teóricos e faz com que defendamos com paixão nossas idéias e crenças. Ainda hoje é assim. E existe espaço para expressão de todo tipo de idéias na maioria dos países, não em todos, infelizmente.
No passado , no entanto, não era assim. Na maioria dos países, dar sua livre opinião ou defender um determinado ponto de vista científico trazia ao seu autor o risco de perder a sua liberdade ou a própria vida, como aconteceu com Giordano Bruno, entre outros.
Quando Giordano Bruno pensava sobre o Universo, sabia que devia ter medo.
Eram tempos sombrios.
Aliás seus temores se confirmaram, e morreu na fogueira da Inquisição por causa de suas opiniões e posições acerca do Infinito e dos Mundos.
Era freqüente que os homens tivessem receio de suas idéias atingirem a susceptibilidade de autoridades eclesiásticas e políticas, e alguns viam-se obrigados a desaparecer nas trevas, ocultar-se , para preservar sua própria vida.
Como eu disse , eram tempos sombrios.
Hoje, em 2010, os místicos ocidentais estão mais seguros quanto a sua integridade física. Talvez o problema atual seja exatamente o contrário: ninguém mais se preocupa com o que os místicos têm a dizer.
Seu discurso está oculto pelo alarido das vozes profanas e das religiões fundamentalistas, que não falam alto, gritam mesmo nos ouvidos da humanidade.
Hoje estamos ocultos pelo barulho da mediocridade. Se antes o perigo era que nossos segredos fossem profanados, hoje precisamos temer a apatia e o desinteresse que avança pela sociedade, exatamente como Nietzsche previu uma centena de anos atrás.
Dentro deste cenário, é no mínimo estranho que entre rosacruzes, homens e mulheres herdeiros como foi visto, de uma tradição de pensadores e cientistas, educadores e mestres das artes, encontremos muitos deles com receio em expressar suas opiniões e idéias de forma livre e entusiasmada, no ambiente de sua própria Ordem, a Ordem Rosacruz qual mais de uma vez os estimulou a pensar de forma livre com o lema “A mais completa liberdade na mais perfeita tolerância”.
Não é incomum eu escutar de frateres sua preocupação quanto a idéias originais e se preocuparem se estas idéias serão aceitas pela área administrativa da Ordem, como se pensar fosse uma espécie de sacrilégio e estivéssemos mergulhados em um ambiente religioso e dogmático que não permitisse discussão e análise.
Talvez porque estudantes rosacruzes são provenientes de outras experiências sociais, acreditem que as propostas da Ordem Rosacruz quanto à liberdade sejam apenas retóricas já que não acreditam ser possível tamanha liberdade de opinião sem conseqüências nefastas. Talvez o demônio da apatia tenha invadido nossas trincheiras e todos nós estejamos ameaçados pelo niilismo espiritual, a tal ponto que , ao contemplarmos uma simples reflexão livre suponhamos estar diante de um ato de coragem.
Talvez confundam a necessidade de bom senso e equilíbrio necessária a convivência em qualquer meio heterogêneo, com restrições à liberdade de opinião ou de comportamento.
Convenhamos, não somos livres para sermos grosseiros, não somos livres para atacarmos à Ordem que juramos defender, não somos livres para pregar em nosso meio o preconceito ou o fanatismo religioso, em suma , não somos livres para ser tolerantes com a intolerância; mas somos livres para opinar e principalmente para pensar, isto somos, com certeza. Não é preciso coragem para sermos francos dentro de um espírito fraterno.
Coragem tinham nossos antepassados que pertenceram à Ordem e fugiam da morte certa, escondendo-se em códigos e gestos secretos, fechando suas reuniões e colocando nas portas sentinelas armados que garantissem a segurança daqueles que ali se reuniam para orar e louvar o Deus de seus corações.
Eram, como eu disse , tempos sombrios.Pelo menos no passado, a sombra estava fora de nós. Talvez a ameaça fosse tão material e objetiva que havia clareza sobre aonde estava o mal e aonde estava o bem.
Hoje o confronto se interiorizou, e as sombras combatem conosco dentro de nós mesmos e nos ameaçam tirando nossa capacidade de reflexão, tornando-nos burocráticos, acovardados mesmo, descrentes de qualquer ambiente que se diga fraterno; mais: que nem todas as nossas opiniões devem ser expressas pois seremos vítimas de alguma punição por expressarmos pensamentos heterodoxos em relação a sabe Deus quais dogmas que supomos em nossa fantasia não podermos contrariar.
A Ordem não é uma religião, mas uma Ordem Esotérica, e o nome pressupõe uma Hierarquia, uma organização que administre a Instituição que preserva a poderosa Tradição Rosacruz, nada no entanto parecido com a Santa Sé, ou com o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.
Não há pelotões de fuzilamento à nossa espera se cometermos algum erro de avaliação ou se dissermos ou publicarmos quaisquer impropriedades de pensamento, desde que motivada por esta condição da qual nenhum de nós pode escapar: nossa falibilidade humana, aliás tão bem defendida pelo nosso Frater Descartes ao dizer que “ não existe o pecado, mas o erro.”
Seres humanos erram e tem o Sagrado direito de errar.
O que juramos ao entrarmos para a Ordem é preservá-la dos seus detratores, é ter respeito e cordialidade por nossos oficiais e líderes, servir nossos irmãos com dedicação, estudarmos tudo o que pudermos sobre a Tradição Esotérica nesta e em todas as nossas outras encarnações.
Juramos também silêncio sobre o que for para ser silenciado. Mas em nenhum momento a Ordem nos exigiu mudez, muito menos passividade intelectual ou apatia emocional.
Em tudo que fazemos na vida, e agora falo como médico, é saudável que haja algum grau de paixão.
E em ambiente rosacruz, nenhum membro desta nobre Ordem deve recear usar este dom divino do raciocínio para elaborar suas opiniões e reflexões.
Aliás, livres pensadores é tudo que desejamos dentro de nossas fileiras.
Homens e mulheres livres dos grilhões da mente, livres da prisão do espírito, do medo que tinha o servo de seu senhor, o crente de seu bispo, o súdito de seu rei.
Somos, nós , os membros da Ordem Rosacruz, homens e mulheres livres em espírito, não apenas em corpo, e devemos crer e praticar esta liberdade de forma intransigente, embora sempre em atitude de fraternidade e cordialidade.
Nossas obrigações com a Ordem incluem esta liberdade de pensamento, este conforto espiritual e esta segurança psicológica que, esperamos, todos os nossos membros desfrutem enquanto entre nós.
Pode ser que encontremos, eventualmente, em nossos corpos afiliados, frateres e sorores que não acreditem nisto, que não sintam esta bênção íntima do Altíssimo que nos liberta da mediocridade espiritual; que creiam que disciplina é escravidão, que o convívio com a autoridade administrativa impõe não a cordialidade, mas o medo.
Nossa obrigação como Artesãos por antiguidade ou por designação kármica, é demonstrar que isto é um erro; devemos sempre alertá-los que aquele ambiente de trevas e medo que sempre nos perseguiu, não pode penetrar nossos templos a não ser pelas nossas próprias mãos e que devemos , todos juntos, defender nossa Amada Ordem da apatia e da mediocridade acovardada que, de forma insidiosa, se infiltra entre nós se não permanecermos vigilantes. Esta é uma batalha sem quartel, a verdadeira batalha dos místicos, travada no interior de cada um, todos os dias, em todas as horas. As armas dos místicos são as três primeiras sephiroth Keter, Chokmah e Binah, ou seja Deus, a Sabedoria e o Conhecimento. Este é o escudo místico triangular do Rosacruz, que o defende de mergulhar sua cabeça como o Avestruz, na terra, e que lhe garante o direito de refletir de forma franca e libertar-se do medo de pensar.
Prezado Mário,
ResponderExcluirConcordo plenamente com seus argumentos, para isso, é necessário que os aspectos místicos da ordem não seja confundido com o aspecto de religioso de uma igreja, por mais que na origem elas tenham semelhança.
A ordem precisa incentivar cada vez mais o estudo em grupo para incentivar as pessoas que foram oprimidas inconscientemente por conceitos religiosos que foram aplicados para muitos membros por conta de criação familiar, numa época que acredito que muitos nem sabiam da existência da R+C. Dessa forma as pessoas aprendem e liberam suas opiniões.
Um outro ponto a ser colocado, é deixar de lado a questão emocional, termos um pouco de racionalidade para voltarmos as reflexões e a unificar os conceitos místicos cada vez mais a ciência, como na antiguidade. Não uma ciência vazia, mas com conteudo em busca da Paz e do desenvolvimento humano, tais como lembram alguns estudos dos antigos alquimistas.
Nós como FRC temos que incentivar a publicação de artigos, não mais fantasiosos, mas que gerem ações investigativas por todos os estudantes R+C, isso nas publicações da ordem.
Meu medo, se assim posso dizer, é que os templos virem uma espécie de igreja. Desejo, como FRC, que esse espaço, seja incentivado não para inércia e sim para ações mística, inclusive, fortalecendo cada vez mais o auxílio espiritual, como sendo uma forma de aperfeiçoamos cada vez mais nossa capacidade de SER.
Fernando Monteiro - FRC