Suzano, 25 de Outubro de 2007
Mario Sales, FRC,S.:I.:,M.:M.:
A Prática Fomenta a Vontade
Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de compreender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do caráter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do caráter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.
Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do caráter. Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo. Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objetivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. A prudência aqui se reduz a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-á, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá.A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.
Tenho feito vários ensaios para escrever sobre este assunto, Psicologia e Misticismo, sem que me decidisse como fazê-lo, embora ele esteja permanentemente em minha cabeça, sem trocadilho.Seja pelo fato de que os conhecimentos sobre o comportamento do homem evoluíram, e muito, nos últimos 100 anos, seja pelo avanço dos exames de neuroimagem e de neuroquímica, houve uma significativa mudança de posição em relação ao papel da Vontade como determinadora de nosso comportamento.
Hoje sabemos, por exemplo, do significativo papel da hereditariedade quanto a um sem número de comportamentos, principalmente aqueles ligados ao vício, (alcoolismo, dependência de substâncias neuroativas, jogo), ou quanto ao papel da genética na composição dos corpos (obesidade, magreza, etc) coisas que há bem pouco tempo e ainda hoje em grupos menos informados são tratados como problemas de caráter ou de determinação.
Frases como “querer é poder”, interessantes e motivadoras, perdem significado à luz do conhecimento moderno do papel da herança genética somada às questões psicanalíticas do inconsciente, na vida de milhares de seres humanos.
Vamos analisar estes aspectos por partes.
Primeiro, consideremos a terminologia.
Genótipo, Fenótipo e Karma
Em genética, usamos o termo genótipo para definir as tendências que trazemos em nossos genes para determinadas doenças e comportamentos; e fenótipo, para designar o papel do meio ambiente no nosso comportamento final.
Como sempre, começamos nossa jornada entre duas colunas: uma que trazemos como bagagem (genótipo) e outra que receberemos aos poucos a partir da primeira e segunda infância (fenótipo), como por exemplo, o país em que nascemos, com suas peculiaridades de riqueza ou pobreza, a educação e o tipo de alimentação que vamos ter, os condicionamentos religiosos e morais aos quais seremos submetidos, provenientes de nossas famílias, das crenças ligadas as nossas classes sociais, econômicas, etc.
As Duas Pernas
Costumo comentar com meus amigos que o Genótipo é o Karma totalmente relacionado a outras existências e o Fenótipo apenas em parte, sendo que grande parte do Karma fenotípico será construído no dia a dia, nas interações que vamos ter com nosso meio e nas escolhas que faremos.
Aqui, entretanto, já fica óbvio, que parte do script de nosso drama kármico para uma determinada encarnação já está escrito em nosso código genético, e que isto terá uma importante função em nosso desempenho na Terra, não para nos prejudicar, mas para criar as condições de tensão necessárias ao nosso arremesso evolucional, como um estilingue se apóia nas colunas opostas do Y de madeira ao qual se prende.
Portanto, a força da Vontade, neste particular, é relativa. Bem mais importante que a Vontade, é o papel da compreensão e do conhecimento, ou melhor, a habilidade em tracionar a borracha do estilingue e compreender a mecânica do instrumento.
É o que nos torna mais capazes de enfrentar os muitos e variados desafios da nossa vida cotidiana. Compreensão e discernimento. Nossa persistência precisa do nosso conhecimento. Nós precisamos de ambos.
Afinal, quantas pernas temos? Uma ou Duas pernas?
E para que indivíduo a Vida, como fenômeno, será mais proveitosa? Para aquele que se preparou de forma esmerada ou para aquele que tem grande força de vontade, mas tudo ignora, e por isso não compreende o mundo que o cerca ou a herança que recebeu?
Será que o Conhecimento não fortalece muito mais a Vontade do que a Vontade fortalece o Conhecimento?
Discordo de Will Durant quando diz (e quem já não pensou assim?) que “... graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes...”: o que ganhamos principalmente é mais informação.
E esta consolidação de nosso arcabouço intelectual é o que nos garante estrutura para dar conta do cotidiano.
Para absorver esta informação precisamos estar aptos neurologicamente.
Voluntarismos, frases de efeito, não tornarão um indivíduo limitado, por problemas sociais, intelectuais, psiquiátricos ou neurológicos como o retardamento mental, mais aptos.
Ele será incapaz mesmo de entender o que significa a frase que é dita para motivá-lo. Falta-lhe intelecto; falta-lhe capacidade de compreensão.
A Limitação Orgânica
E nem por isso, por causa desta limitação orgânica, ele será menos humano que qualquer um de nós. Precisará, como todos nós precisamos, de carinho e afeto, cuidados e atenção.
Qual a mãe que recusaria ao seu filho, se portador da Síndrome de Down, menos carinho por causa disso?
Só que aqui a questão não é discutir a importância de um indivíduo limitado neurologicamente em comparação com outro que não tenha nenhuma limitação. Este tipo de comparação não faz parte do expediente do místico.
Ele sabe que muitas são as estratégias que o Universo usa para desenvolver uma determinada personalidade alma e assim, as limitações serão proporcionais a necessidade de um determinado indivíduo de forma a estimulá-lo a superar-se, no mesmo princípio acima descrito: grande tensão = a grande arremesso.
Compreender isto é mais importante do que lutar contra isso. Ver a tensão como parte de um estímulo é diferente de encarar a mesma tensão como obstáculo ou empecilho ao desenvolvimento. Só compreender isto já nos acalma e nos dá mais equilíbrio e senso de estratégia para usar nossas aparentes limitações a nosso favor.
Portanto, nem tudo é Vontade. Hoje sabemos disto.
Temos de ter um espírito mais amplo, portanto, na abordagem das dificuldades do estudante de misticismo de superar seus problemas pessoais de afirmação no mundo e concluir que, embora as escolas místicas façam a sua parte, transferindo valores éticos e estimulando a auto confiança nos seus membros, repetindo-lhes constantemente que eles podem ser mais do que são, bastando que se libertem da ilusão de serem incapazes para isto ou aquilo, o resultado, muitas vezes, é quantitativa e qualitativamente insatisfatório por motivos orgânicos e biológicos.
Não por que a mensagem não seja correta, mas por que o receptor não preenche todas as demandas da situação.
O Esqueleto no Armário
Mal comparando, é como se pedíssemos as pessoas que mudassem de andar, passando do andar de baixo para o andar de cima sem que existisse uma escada entre eles ou um elevador, apenas um buraco no teto, e cordas, frágeis, fáceis de arrebentar para ajudar na empreitada.
Enquanto saltam, tentando agarrar as bordas do buraco ou lançam as cordas para fixá-las e poderem subir por elas, os místicos que crêem na vontade ficam de lado, gritando: “Força, não desistam, vocês vão conseguir algum dia, não desistam”. Na minha opinião, uma simples escada seria melhor.
As escolas místicas são, eminentemente, transmissoras de um conhecimento específico. Quanto mais didáticas forem, maior o seu sucesso na transmissão deste conhecimento.
E ser didático é fornecer degraus àqueles que galgam níveis cada vez mais complexos de compreensão.
A Questão Fundamental
Porque sentimo-nos incapazes ou inseguros?
Porque temos medo de tentar ser mais felizes?
Porque temos a tendência de transferir infantilmente aos outros a responsabilidade pelo nosso próprio fracasso e sofrimento?
Spencer Lewis, em seu livro “Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios”, no último capítulo, usou uma expressão norte-americana que designa estas questões íntimas de cada um que tem que ser exploradas de modo muito particular. Ele chamava este conjunto de peculiaridades e idiossincrasias de “o esqueleto no armário”.
Temos sim, todos nós, o esqueleto que merecemos em nosso armário. Essa estranha e didática expressão lembra que se não resolvermos primeiramente nossas questões internas e pessoais, em uma palavra, psicológicas, elas nos perseguirão como uma sombra que nos impedirá de progredir com a velocidade que desejamos no campo da espiritualidade.
Por que somos o que somos
Também é certo, usando a visão do psicoterapeuta, no plano mundano, ou dos iluminados, no plano místico, que nenhuma pessoa é como é apenas porque quer ou escolheu ser assim.
Mesmo o espírito mergulhado em trevas tem uma história de vida que fundamenta este comportamento e suas atitudes anti-sociais, ou mesmo francamente psicopatológicas.
O místico diria que não existe apenas uma história de vida, mas várias histórias de vidas passadas que construíram a personalidade daquele ser perturbado.
Todo ser humano é um processo em andamento. Não é o que é, mas está daquele jeito e de outro modo seria se outras fossem as condições predisponentes, independente da sua vontade pura e simples.
Mesmo a Força da Vontade, Persistência e Obstinação que levam um ser ao sucesso a partir de condições adversas têm uma base biológica e espiritual a ser considerada.
É gratificante acharmos que fizemos a personalidade de alguém se tornar mais digna e forte com nossos conselhos, estímulos e sugestões, e já vi pessoas destruídas pela culpa de terem causado, em sua concepção, algum tipo de mal a alguém.
Só que o processo de evolução é tremendamente solitário e complexo. Nem somos totalmente responsáveis pelo sofrimento de outra pessoa, nem somos vítimas de ninguém, a não ser de nossas próprias crenças.
E nossas questões pessoais, nossos esqueletos, não devem ser encarados como questões morais mas antes como desafios intelectuais. Eles exigirão de nós esforço de compreensão, de estudo, de forma a entendermos por que nos comportamos como nos comportamos e poder de forma mais segura combater nossas limitações. Sem esforços heróicos mas com movimentos dirigidos pela ponderação e pela compreensão cada vez maiores do problema.
Cada um de nós traça com nossas escolhas nosso próprio destino se bem que dentro de nosso contexto sócio-psicológico específico e, tudo que podemos pedir a Deus é que façamos o melhor possível dentro de nossas possibilidades.
Claro, a quantidade de nosso conhecimento, o número de informações que coletaremos para nos ajudar em nosso trabalho no mundo determinará a velocidade e a qualidade de nosso progresso espiritual e material (pois estes dois nunca estão separados), e produziremos, digamos assim, uma maior quantidade de Bem para aqueles que nos cercam e, é óbvio, para nós mesmos.
Não temos já, manifesto, todo o poder que guardamos em potencial, mas ele já está em nós. Vamos aos poucos manifestando este poder pelo aperfeiçoamento de nossa sabedoria e sentimentos, que também são objeto de aprimoramento pela educação psicológica.
Sim, até a amar podemos aprender, desde que recebamos as informações necessárias, os exemplos necessários, já que no caso dos sentimentos valem mais as lições do exemplo do que das palavras.
Mesmo assim, como num processo psicoterapêutico, precisamos organizar na linguagem nosso auto conhecimento, de forma a aperfeiçoar nosso comportamento como seres humanos, vivendo em sociedade.
Livros aprimoram nosso intelecto, nosso pensamento; a Arte e a Beleza aprimoram nossa Sensibilidade.
A Vontade , também chamada Força de Vontade, sozinha, jamais conseguiria mobilizar o ser sem o consórcio da Beleza e da Sabedoria.
A tríade clássica é Sabedoria, Força e Beleza.
Conhecimento, com Elegância e Beleza, é Sabedoria; Sabedoria e Sensibilidade geram mais Conhecimento Elegante e Belo, num círculo Virtuoso que aprimora o espírito e o faz disparar em direção ao Todo Poderoso.
E este círculo virtuoso não é possível em uma mente emocionalmente imatura e pouco elaborada.
Não, a Vontade pura e simples não é tudo.
A ela devemos agregar Conhecimento, para que não seja a Força Cega de Schopenhaer, mas uma força dirigida e orientada na direção de Deus e da Luz.
O Homem e o progresso de sua Compreensão de si mesmo
Galileu tirou o homem e a Terra do centro do Universo, ao desacreditar a teoria do geocentrismo, advogando a teoria do heliocentrismo. Darwin contrariou a criação divina do homem descrita pela Bíblia ao demonstrar a teoria da evolução das espécies. Freud tirou por fim, de nós, nossa certeza da autoria de nosso comportamento, revolucionando a sociedade ao anunciar a existência do inconsciente – a zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos cuja formação se deve em grande parte às etapas da infância. Uma zona que não é passível de conhecimento direto e que é a área de transição entre o orgânico e o psíquico do individuo.
Precisamos agora perguntar se a Vontade é uma virtude suprema ou uma auxiliar do Discernimento, na Evolução.
Resta-nos a obrigação de perguntar, humildemente, se para que o Místico alcance a plenitude, basta que tenha determinação e persistência ou se, em alguns casos, necessitará de um auto estudo que o esclareça sobre os motivos de sua irregularidade por exemplo, no estudo de suas monografias ou experimentos.
Ou mesmo se conseguirá superar estas limitações apenas pela leitura dos livros sagrados somados a Oração.
Não vou negar que seja possível que tal coisa aconteça.
Acredito, entretanto, que se a abordagem fosse mais ampla, se ele fosse também capaz de submeter-se à auto análise e ao auto questionamento, pela via psicoterápica se necessário, ou pela via filosófica, ou por ambas, para resgatar aquele esqueleto no armário de que Spencer Lewis falava no final de seu livro, num processo de toalete mental fundamental para sua felicidade, o lucro e o desempenho daquele mesmo místico que reza e pede a Deus que o inspire seria melhor.
Não devemos julgar ninguém, não apenas porque somos almas piedosas e cristãs, mas porque é impossível não sermos injustos, já que jamais teremos acesso a todos os dados que fundamentam o comportamento daqueles que supomos sermos capazes de avaliar.
Por ignorarmos o processo anterior que resultou naquele comportamento, daquele indivíduo, e o contexto em que ele se desenvolveu (seu fenótipo) não temos como ser Justos, verdadeiramente.
E antes de sermos Mestres, precisamos aprender a sermos justos, nem que seja ao menos conosco, evitando cobrarmos responsabilidades de nós mesmos que não temos, ou de outros, que não conhecemos, já que somos apenas o melhor que podemos ser em nossas condições específicas.
Esta é a base do princípio Rosacruz da Tolerância.
Ignorância leva a severidade excessiva, e esta, leva a Culpa.
E Culpa não gera consciência, só sofrimento.
Nas palavras do Evangelista, só a verdade nos liberta, verdade que deve ser procurada incessantemente por todo místico sincero, fora e dentro de nós, já que o Universo interior é tão vasto quanto aquele das estrelas e das galáxias.
E, nas palavras de Blavatsky, não há religião superior à Verdade.
No primeiro comentário abordei a percepção óbvia de que o Voluntarismo ("Querer é Poder") não pode ser mais considerado fórmula de sucesso, se quisermos estimular adequadamente e incluir todas as pessoas possíveis na busca pela evolução.
Não é a Vontade, sozinha, que determina todos os acontecimentos, mas, isto sim, a combinação entre a quantidade e a qualidade de Conhecimento de um indivíduo de um lado e, de outro lado, um sem número de escolhas voluntárias e de circunstâncias involuntárias, felizes ou infelizes, que vão pouco a pouco moldando um caráter, uma biografia, um fracasso ou um sucesso.
E se existe um organizador destas experiências e escolhas em uma compreensão elevada da vida este só pode ser o Discernimento que advém do Conhecimento acumulado, seja este conhecimento intelectual, espiritual, estético, ou, principalmente emocional.
Quanto maior o grau de conhecimento, menos cega será a força de um indivíduo, e menor será a força de vontade necessária para transformar as coisas.
O conhecimento facilita nosso trabalho e torna a noção de força relativa. Basta lembrar do princípio da alavanca.
O Papel do Conhecimento sobre o Desempenho
O que faz com que pessoas biologicamente idênticas (gêmeos univitelinos, por exemplo) tenham comportamento diverso, para o místico, não chega a ser difícil explicar.
Corpos iguais, almas diferentes, comportamentos peculiares e individualizados.
Mas o que dizer de dois seres humanos que, biologicamente são diferentes, com um deles aparentemente em desvantagem por causa de uma limitação física e outro não, terem comportamentos e trajetórias em que, aquele beneficiado por um corpo absolutamente saudável não tem 1/3 do desempenho daquele que está preso a uma limitação física?
A mesma razão, a diferença entre as almas. E como essa diferença se expressa?
Algum tempo atrás, os pensadores e educadores responderiam sem hesitar que a Força Da Vontade em um era, com certeza, o diferencial em relação ao outro.
Hoje, eu não me sentiria seguro ao seguir este pensamento, no mínimo ingênuo neurofarmacologicamente.
Os Fatores Biológico e Bioquímico
E por que? Porque hoje, graças à genética e a neuroendocrinologia, sabemos da importância da presença ou da ausência de apenas um dos muitos hormônios que nos regem o comportamento, a disposição, a capacidade de reação.
Sabemos da importância da serotonina, este importante composto chave da alegria, na criação de personalidades frágeis ou fortes.
SEROTONINA
A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre as células do cérebro (neurônios). Ela é quimicamente representada pela 5-hidroxitriptamina (5-HT), sendo também freqüentemente designada por este nome.
Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio que rodeia o ser humano, e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Apesar de serem poucos os neurônios no nosso cérebro com capacidade para produzir e liberar serotonina, existe um grande número de células que detectam esse neurotransmissor. Desse modo, a serotonina desempenha um importante papel no funcionamento do nosso sistema nervoso e existem numerosas patologias relacionadas com alterações na atividade desse neurotransmissor.
(Fonte:http://perolas.blogs.sapo.pt/64216.html)
Quem como médico tratou de um depressivo e viu a transfiguração de sua face após a adequada administração das drogas corretas, nas doses corretas, sabe do que estou falando. Quem não é médico, mas passou pela experiência de viver o drama da depressão, e viu sua vida retornar às suas veias depois da abordagem farmacológica também sabe. Ou quem, vítima da deficiência do hormônio tireodiano viu sua capacidade de trabalho ir lentamente desaparecendo até que se inicia a reposição do mesmo e, mais uma vez, vê a existência descortinar-se a sua frente como um leque de possibilidades e não mais o arrastar-se de um dia atrás do outro, também sabe disso.
De que adiantaria dizer a essas pessoas “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer!” ?.
Nada. Não se trata de uma questão de vontade, trata-se de uma morbidade hormonal, bioquímica, uma circunstância específica que uma vez diagnosticada pode ser revertida e a qualidade de vida daquele homem ou daquela mulher, recuperada.
Até as áreas do otimismo nos seres humanos foram recentemente mapeadas.(vide artigo no final deste ensaio).
Mas por quantos séculos pessoas vítimas desta doença foram tratadas apenas como melancólicos sem fundamento? Quantos destes foram criticados como covardes, como fracos e rejeitados a uma condição secundária na sociedade, pelos defensores da Força de Vontade como explicação para todas as questões da existência? Quantos ouviram a frase: “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer?”
O que diferencia nossa época de todas as outras? Conhecimento. Temos mais conhecimento sobre a natureza intima do funcionamento do organismo do que tivemos antes e com certeza não sabemos ainda da missa a metade.
O que esta constatação óbvia nos ensina, de que, quanto mais temos conhecimento, mais percebemos que, o que antes parecia uma mera questão de escolha e determinação tem um fundamento hormonal ou bioquímico, reversível pela medicina moderna, é que devemos ser mais humildes e menos precipitados na prescrição de fórmulas de sucesso ou de conduta aqueles que queremos estimular, tanto dentro da Ordem quanto na vida profana.
Muitos são os seres humanos e muitas são as histórias de vida de cada um.
E se, como rosacruzes, acreditamos que o destino é uma construção de nossas escolhas ao longo de cada encarnação, devemos concordar também que parte de nossas escolhas já é feita dentro de um universo definido, dentro de uma arena pré traçada pela genética e pelas condições socioeconômicas através das quais retornamos a existência; e embora não sejam como supunham os marxistas, ou supõem hoje alguns biólogos, determinantes irrecorríveis de nosso comportamento, são influências que não podem ser desprezadas na avaliação do nosso desempenho psicológico e espiritual neste mundo.
Fazemos o melhor possível dentro de nossas circunstâncias.
E, como disse Ortega e Gasset, o que somos é a soma de nós mesmos com a nossa circunstância, e eu acrescentaria, circunstância interna, bioquímica, tanto quanto externa.
A Natureza Planetária da Rosacruz
Ao entrar em uma Ordem Esotérica mundial como a Rosacruz, estamos passando pela experiência iniciática de descobrir, para além dos nossos hábitos comportamentais, além de nossas peculiaridades locais, regionais, os sinais e os elementos universais que dormem em todos nós e os quais nos fazem habitantes do planeta terra, e membros da raça humana. Enfrentaremos , nesta iniciação, dois tipos de desafios: primeiro, o desafio cultural, no sentido antropológico da palavra depois, o desafio físico.
Consideremos o primeiro, o antrológico cultural.
Nós, estudantes rosacruzes, vimos de todas as partes do planeta e mesmo que achemos normal pensar o mundo a partir de nossa aldeia e de nossos costumes, muitas são as aldeias e os costumes, e cada tribo com suas lendas e seus deuses, seus mitos particulares. Uns são portadores de maior sensibilidade, outros tem o intelecto mais aguçado. Uns são mulheres, e de acordo com a região do planeta em que nasceram e cresceram, tornar-se-ão mulheres, como lembra Simone de Beauvoir, mais retraídas ou mais destemidas; outros são homens e, da mesma maneira serão influenciados pelas idéias correntes em seu meio sobre a noção de masculinidade específica de sua cultura.
Agora vejamos o segundo desafio: nossas peculiaridades biológicas e psicológicas. Tais características pessoais, físicas, nos precedem.
A existência de um equilíbrio emocional e bioquímico adequado, o hábito de fumar ou de beber, os efeitos que estes tipos de hábitos desencadearam ou desencadearão sobre o comportamento determinarão a capacidade de harmonização deste indivíduo com o Eterno. Nossa cor de pele, nossa estatura, nossa idade, são amostras de características que nos precederão. Podemos ser lentos ao falar, ou falar muito alto.
Tudo isto influenciará na nossa velocidade de harmonização com o meio místico que freqüentarmos.
E, afetando nossa harmonização social, poderá interferir com nossa harmonização espiritual.
Os místicos mais conservadores podem imaginar que este comentário não se sustenta já que as coisas da alma, na sua concepção, são tratadas pela alma, e a fé junto com a confiança superam todas as limitações; só que é preciso lembrar que todos os nossos movimentos, seja para cima, em direção a Deus, seja para baixo, em direção a nossos assuntos mundanos, passam por nossa mente, e esta, com certeza, é afetada pelo desempenho de nosso organismo, ou pelo menos pelo seu estado de conservação.
Como um indivíduo destruído pela ansiedade ou pela depressão pode sequer desejar compreender o misticismo em sua plenitude? Não falo de uma ansiedade fisiológica, mas de um quadro patológico, resultado de um trauma profundo. A vontade sozinha seria capaz de, neste caso, resolver o problema, ou um psicoterapeuta ou mesmo um psiquiatra deveria ser convocado?
Lembremos e modifiquemos um pouco o pensamento de Hermes Trimegistus: “O que está em cima, está em baixo, e o que está embaixo está em cima”, dizia ele.
E eu completo: o que está dentro está fora, bem como o que está fora, está dentro de nós, num movimento ininterrupto de criação e recriação do mundo, e recepção dos efeitos de nossa obra em nós.
Inter-relação entre os planos de atuação do Homem através da mente
É fácil, entender este último conceito: pensem em um escultor, que, após o término de sua obra, contempla-a e delicia-se com o resultado. O prazer estético que ele desfruta confunde-se com a sua auto-estima, reforçada pelo seu sucesso, e retro alimenta sua sensibilidade e vontade criadora.
E todos estes fluxos de percepção e reação passam através da mente que deve estar em mínimas condições de não interrompê-lo, como a lente dos óculos deve estar limpa para permitir a visão de quem a usa.
Assim, aquele que cria, também é transformado pela obra criada, da mesma maneira que Deus, o Criador, é modificado pelas nossas atitudes, nós, que segundo a Cabala fomos criados para retificar a criação.
Neste esquema fica claro que como intermedeia todas as movimentações de percepção e reação a mente deve ser saudável para permitir a comunicação entre todos os braços da cruz.
O importante não é, pois, a Cruz: o importante é a Rosa.
Deus, em nós, se aperfeiçoa. E este aperfeiçoamento pressupõe muito mais conhecimento do que vontade.
Schopenhauer, cético e desanimado com o desastre Napoleônico, fala de uma vontade cega que arrasta homens e nações pela história, a revelia de seus desejos, e conclui que o nosso sofrimento, enquanto seres humanos, seria inevitável.
Um hipotiroideu, que toma seu hormônio na forma de um simples comprimido, sabe que hoje, pelo menos, não é mais assim, já que o conhecimento acumulado permite que não seja.
Existe sim, como pressentiu o pensador alemão, uma Vontade por trás de todas as coisas, mas não apenas Vontade, porém antes de tudo uma Inteligência, que nada tem de cega, mas que, ao longo dos milênios, garante o crescimento do refinamento de nossa cultura e sensibilidade, e busca esse crescimento como seu bem mais precioso.
Entretanto, considerando a abrangência desta Inteligência, (que os Rosacruzes chamam de Consciência Cósmica),o explodir de Galáxias, o nascimento de estrelas, o surgimento ou o desaparecimento de civilizações inteiras, não são mais do que pequenos ajustes de curso.
Somos pó, enquanto seres corpóreos, e ao pó retornaremos, mas este pó que nos forma é o pó das estrelas, com as quais estamos em cumplicidade permanente, bem como com todas as coisas desta imensa criação.
Os Rosacruzes sabem, entretanto, como não sabia Schopenhauer, que não somos o corpo feito deste pó, mas estamos neste corpo, e que o corpo e tudo que existe de corpóreo não é nada mais do que um veículo para manifestação de nossa existência e experimentação de nossos sentimentos mais profundos nesta que é a mais fantástica experiência de Deus: a Vida Material, a Grande Ilusão, Maya.
Cegos somos nós, isto sim, pois jamais poderemos de nossas perspectivas isoladas, sozinhos, termos uma visão completa do Cenário Cósmico.
Ao contrário do que supõe Schopenhauer, o que nos afasta do deleite e do prazer da Vida não é a própria Vida, mas a nossa maneira de entendê-la, como uma situação hostil a nós ou harmônica conosco, como contrária a nós ou como uma força que conspira a nosso favor.
E quem controla esta percepção não é outra senão a mente, baseada no conhecimento que acumulou, principalmente o conhecimento emocional.
A evolução da Compreensão do Mundo através do Conhecimento Emocional
Esta maneira de ver a existência muda na medida em que também se transforma e aumenta nosso conhecimento sobre todas as coisas que nos cercam. Muda a partir das mudanças do Homem, a medida que sua consciência espiritual se expande e ele é tocado pela iniciação.
E iniciação é informação emocional, tanto quanto informação emocional é uma iniciação.
É a informação emocional e a cultura intelectual, somada ao desenvolvimento da sensibilidade estética e religiosa que nos transforma, e não a mera e simples Vontade, e para isto temos de estar aptos, neurológica, endocrinológica, antropologicamente.
Uma Vontade sem o refinamento do Conhecimento, mesmo que expressa em um corpo vigoroso, aí sim, é Cega, e por isso implica em mais sofrimento e esforço do que o necessário.
Já uma vontade não quantitativamente intensa, mas qualitativamente diferenciada, transforma o mundo a sua volta, coisa que nos ensina, todos os dias, o cientista Stephen Hawkins, preso por uma doença degenerativa a uma cadeira de rodas e nem por isso menos produtivo, ou o artista Cristopher Reeve que lutou até sua morte para superar as limitações de sua tetraplegia. Alguns pensarão que são ambos donos de uma vontade férrea. Eu diria que o conhecimento científico de Stephen e a motivação causada pela possibilidade de ajudar outros com problemas semelhantes, mas sem os recursos e a tecnologia da qual Reeve desfrutou, seriam suficientes para dar sentido e direção às suas vidas.
A força vem do conhecimento, não da simples vontade
Um corpo frágil que viaja pelo infinito, pelas galáxias e pelos buracos negros, através do conhecimento científico, em um caso; e no outro, uma mente clara, focada no benefício altruístico.
Metas e objetivos; direção e sentido de ação mental.
Isto é força. Isto sim é poder.
Pensem em Arquimedes e sua alavanca; pensem num mundo sem a roda e com a roda; pensem, enfim, em um mundo com livros e em um mundo sem livros.
Esta é a comparação que devemos fazer.
Este é o grande mistério: com o conhecimento correto, transformar um salão em trevas num local amplamente iluminado pode ser, simplesmente, a diferença entre abaixar ou levantar um mero interruptor.
APÊNDICE:
A origem do otimismo (publicado no Estado de São Paulo de 15 de novembro de 2007) por Fernando Reinach*
O ser humano é naturalmente otimista. É bem sabido que, independentemente de nosso nível de educação, temos uma enorme tendência de acreditar que o futuro será róseo. As pessoas superestimam sua longevidade e subestimam sua probabilidade de morrer. Acreditar que o Brasil é o país do futuro parece estar nos nossos genes. Essa característica de nosso cérebro faz sentido biológico. Sem ela, provavelmente seria mais difícil sobreviver em um ambiente em que impera a competição e a seleção natural. Uma das características da depressão é exatamente a redução desse otimismo e uma dificuldade em imaginar que o futuro é promissor.Por esse motivo, muitos neurologistas têm tentado descobrir em que área de nosso cérebro se origina o otimismo. Eles acreditam que essa tendência ao otimismo nada mais é que uma distorção sistemática da imaginação quando ela é aplicada a eventos que ainda estão por ocorrer, portanto no futuro.Agora, parece que um grupo de cientistas conseguiu mapear no cérebro a região responsável pelo otimismo.Voluntários foram colocados em uma máquina de ressonância magnética capaz de medir a cada instante a atividade de cada área do cérebro. Uma vez na máquina, eram instruídos a imaginar um evento no futuro ou relembrar um evento do passado.Quando terminavam de imaginar, a máquina era desligada e eles respondiam a um questionário sobre o que haviam imaginado. O evento era positivo ou negativo? Parecia distante ou próximo ao presente? A pessoa estava muito ou pouco envolvida no evento? Nos eventos que se relacionavam ao passado, fossem eles negativos ou positivos, ambos geravam respostas semelhantes. Nos relacionados ao futuro, sempre que o evento era positivo (vou ganhar um prêmio, vou me apaixonar), ele era mais intenso, imaginado mais perto do presente e a pessoa se via intimamente envolvida. Era o esperado, afinal somos otimistas.Na última parte do experimento, a atividade cerebral dos voluntários durante o tempo que imaginavam um evento positivos no futuro (vou comer um pernil ótimo amanhã) era comparada com a atividade cerebral quando as pessoas imaginavam eventos positivos no passado (ontem comi um pernil ótimo), um pensamento negativo no futuro (o pernil que vou comer amanhã vai me dar diarréia) ou um pensamento negativo no passado (o pernil que comi ontem me fez vomitar).
O resultado é que sempre que a imaginação se dirigia para o futuro e focava em um pensamento positivo, duas regiões do cérebro eram ativadas de maneira específica: a região da amígdala e a parte anterior do córtex cingulado rostral. Esses dados indicam que provavelmente é nessas partes do cérebro que se origina o otimismo. As duas regiões apresentam anomalias em pessoas afetadas por depressões profundas e pacientes com lesões nessas áreas tendem a apresentar depressão. Ficam incapazes de pensamentos otimistas. Esse experimento é um bom exemplo de como aos poucos estamos descobrindo como nosso cérebro cria nossa mente. Afinal, da mesma maneira que o coração bombeia sangue e o intestino digere os alimentos, a função do cérebro é criar e manter a mente. Mais informações em: Neural Mechanisms Mediating Optimism Bias. Nature, volume 450, página 102, ano 2007
Psicologia e Misticismo 3
O Papel do Treinamento Intelectual
"Uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' "
Definição de inteligência de "Mainstream Science on Intelligence",
que foi assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994:
INTELIGÊNCIA : fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Quando falamos que alguém é intelectualizado, referimo-nos via de regra a um indivíduo com grande quantidade de informações sobre um ou vários assuntos, geralmente dono de uma formação universitária e acostumado ao ato de raciocinar.Sabemos, entretanto que uma das características da inteligência é a sagacidade, ou melhor, a capacidade de desvencilhar-se de impasses e resolver problemas com rapidez e precisão. E nem sempre o indivíduo sagaz é intelectualizado ou vice versa.Resta a dúvida: a formação intelectual é suficiente para desenvolver sagacidade em um espírito ou isto terá mais a ver com a origem sociobiopsicológica deste mesmo indivíduo?Pode-se, colocando-se em outros termos, ensinar alguém a ser esperto, criativo?Provavelmente não.
O que faz de nós pessoas sagazes e de boa índole é a herança biológico cultural somada a educação e não só a educação.
Pode-se educar um indivíduo para pensar de forma lógica e encadeada, mas não necessariamente de forma original. Educa-se uma criança para saber colher informações, mas não necessariamente para sintetizá-las com elegância, síntese esta que é a base do crescimento de nossa capacidade intelectual.
Pensemos no quebra cabeça.
Todos podem ter acesso a todas as peças do quebra cabeça, mas a combinação dessas peças dever-se-á a capacidade de memória, observação e rapidez de combinar imagens e contornos de forma a completar a imagem geral.
Inteligência é um fenômeno dinâmico enquanto a intelectualidade é estático.
Todos sabem que é possível discursar por horas sem que nenhum conteúdo sólido seja passado adiante.
O intelecto é a falsa luz e defende, através do discurso, com igual veemência, o bem ou o mal.
Não argumentamos em defesa do que é certo apenas. Argumentamos em defesa de qualquer coisa, daquilo que acreditamos, mostrando que o argumento intelectual é escravo da crença e a crença na maioria das vezes não surge da reflexão, mas das tradições culturais antropológicas (pré-conceitos) daquele que argumenta.
Existe lógica possível até na defesa da crueldade.
Basta lermos “O Príncipe” de Maquiavel.
Isto não faz da crueldade algo lógico.
Da mesma maneira que distinguimos entre Intelectualizado e Sagaz, Culto e Criativo, é importante separar os conceitos de Intelectualizado do conceito de Evoluído. Evolução, do ponto de vista místico, refere-se ao aumento da Consciência Universal no Indivíduo, o que desencadeia neste um maior senso de altruísmo e senso de dever em relação à sociedade e a raça humana; mais, senso de dever e serviço com todas as formas de vida, não só as de conformação humanóide.
Um ser altamente evoluído, tocado pela graça de Deus, não precisa ser necessariamente intelectualizado, embora muitos seres intelectualizados nos pareçam, a primeira impressão, altamente evoluídos. Esta precipitação em julgar o caráter de alguém pela quantidade de livros que leu e títulos que tem gera muita decepção ao indivíduo mais ingênuo, e às vezes até, perplexidade, pois a confusão entre os dois é grande.
Não se trata, no entanto, de nada além de equívoco: uma coisa é ter cultura, outra é ser uma pessoa do Bem, por assim dizer.
O que nos leva a outra reflexão: tampouco há relação entre a falta de Intelecto e a Santidade.
Vale dizer, a ausência de um intelecto minimamente trabalhado, e da capacidade de raciocinar, não nos torna seres tocados pela luz, como certa época apregoou a Igreja de Roma, com uma campanha em prol da “simplicidade de espírito”, no sentido de que os mais humildes veriam a face de Deus enquanto os mais complexos deveriam ser (e eram) queimados como hereges e blasfemos.
Esta crença equivocada e maligna, de que a ignorância e por decorrência, a pobreza, fossem garantias de um lugar no céu após a morte, só interessavam aqueles que queriam e precisavam manter seu poder sobre as massas ignorantes de forma intocada.
Esta propaganda maldita foi tão persistente e durou tantos séculos que muitos a consideram inquestionável, de fato, até pessoas mais esclarecidas.Ignorância e pobreza foram, naqueles tempos, transformadas em virtudes purificadoras.Talvez por isso seja difícil para alguém ligado a esta corrente religiosa, pensar no lucro e no sucesso material com tranqüilidade, sem a impressão de que sua prosperidade material, mesmo aquela conseguida às custas de esforço e trabalho, não esteja tirando um pouco de sua alma.
Vê-se o mesmo tabu antropológico entre intelectuais que julgam severamente o Dalai-Lama indigno de confiança apenas porque vai às suas palestras de tênis, ou que criticam quaisquer forma de arrecadar fundos financeiros para manutenção de uma religião, mostrando em sua aversão vestígios da concepção católica, historicamente vitoriosa nesta região ibero sul-americana, do lucro como um pecado.
Mesmo depois de tantos séculos das pregações e dos texto de Calvino, o homem e a mulher comum, mesmo aquele educado e intelectualizado, não possui sagacidade para perceber, num processo simples de análise histórica, o papel da ideologia dentro de seu comportamento, fundamentando suas idéias do que é e não é correto em ambiente religioso.
Desta forma primária e preconceituosa, pobres e miseráveis fazem mais sucesso ao preencher o estereótipo do santo do que aqueles que possuem riqueza e abundância e fazem muito pela sociedade.
Quanto mais renúncia pessoal ao doar de si, mais digno é o indivíduo da alcunha de santo, como para citar um exemplo recente, o trabalho de Irmã Dulce no Brasil ou de Madre Teresa de Calcutá, na Índia e na Inglaterra.São preconceitos, noções que vão antes de nós, a nossa frente, dando cor às coisas que vemos, deformando-as e reformando-as ao sabor de nossas crenças.Em seguida surge o discurso, justificando nossa concepção e conduta, justificando nosso preconceito.O intelecto, por mais atraente e envolvente que nos pareça, é escravo das nossas crenças, escravo de nossos preconceitos.
O místico sabe que precisa do intelecto como precisa de um animal de transporte, um camelo, ou um cavalo, que transporte suas idéias de um ponto a outro do campo da existência.
Usa-o como auxiliar e sabe de suas limitações.
Nem por isso o despreza e, através deste intelecto, mergulha nos textos sagrados com o apetite de um exegeta dedicado, sabedor, no entanto, que a prudência é uma das sete virtudes dos mestres e que deve ir ao texto com cuidado e discursar com o coração, e não com sua cabeça, descrevendo sensações que vem do fundo de sua alma e não praticando apenas um jogo de palavras, frio, sem vida.
Cultura E Sensibilidade
Não, a ignorância e a miséria não contribuem para o aperfeiçoamento espiritual e nenhum místico equilibrado discordará disto.Precisamos, enquanto místicos, estar atentos ao nosso desenvolvimento intelectual o mais constantemente possível e ao aperfeiçoamento de nossa sensibilidade através da arte, seja a música ou a pintura, seja a literatura ou a escultura.Além disto, temos de educar nossas emoções, nossos sentimentos que não devem ser reprimidos ou negligenciados como parte importante parte de nossa personalidade que são.Já citei a psicoterapia como técnica de autoconhecimento, mas não é a única forma.
A meditação pode ajudar. E muito.
Tudo vai depender do perfil psicológico do místico e da sua educação.
“Homem, conhece-te a ti mesmo” lembrava a inscrição na entrada do oráculo de Delfos, “e conhecerás os deuses”, concluía.
O Oráculo de Delfos
O caminho é interior. A busca é para dentro.
Esta é outra obviedade mística, mas que não custa sempre repetir, principalmente quando as pessoas insistem em freqüentar formas mais espalhafatosas de organizações esotéricas, sempre em busca do espetáculo, ou mesmo grupos de atividade coletiva, de condicionamento de grupo, talvez cansados da solidão, talvez por não terem trabalhado bem seus sentimentos, e por anos, embora dedicados rosacruzes, não conseguiram elaborar sua insatisfação com alguns aspectos da convivência dentro de capítulos e lojas.
Lojas e capítulos rosacruzes são ambientes adequados aos rosacruzes, mas ainda assim são ambientes humanos, que podem acelerar nossas percepções pela interação social ou retardar nossa evolução humana e mística, caso não consigamos usar esta convivência para nosso crescimento.
O certo é que, embora sejam locais onde encontramos mentes afins continuam a ser ambientes humanos, marcados pela heterogeneidade de personalidades normal em qualquer agrupamento social.
Isso é bom e isso é ruim, ao mesmo tempo.É bom por que esta convivência reforça a nossa egrégora e a egrégora por si nos fortalece.Ruim porque a falta de maturidade e de elaboração pode levar a frustrações de falsas expectativas e isto gera conflito. Ao mesmo tempo isto é novamente bom por que desfaz ilusões e o crescimento emocional só é possível pela perda das ilusões e das fantasias.
O problema, repito, não está na Rosacruz e em seus corpos afiliados, mas naqueles estudantes rosacruzes que passam a freqüentar estes agrupamentos sem que tenham equilíbrio para freqüentar quaisquer outros ambientes humanos.E o que buscam os rosacruzes? Equilíbrio.Pregamos a Tolerância, mas esta depende antes de tudo deste equilíbrio e desta maturidade que buscamos.E este equilíbrio diferenciado que chamamos de Paz Profunda não advém apenas de elaborações espirituais, mas também de aperfeiçoamento comportamental se me permitem mais uma vez repetir este tópico.A Ordem faz a sua parte. Cada rosacruz deve, com honestidade, fazer a sua, de forma a não cobrar da Rosacruz aquilo que só cada um, pelo seu esforço pessoal, de modo solitário, pode conseguir.Para isto, Cultura Intelectual e Maturidade ajudam. O sucesso de cada um vai depender destes dois pilares, destas duas colunas, que quanto mais sólidas forem, melhor sustentarão um ambiente místico mais equilibrado.Lembro para encerrar um trecho de um dos muitos ensaios que Krishnamurti deixou (“Diálogos sobre a Mudança Interior”)
“Pode o indivíduo, que é responsável pelos conflitos e misérias em si mesmo existentes e, portanto, existentes também no mundo, consentir que seja a sua mente-coração embotada por filosofias e idéias falsas? Se vós, que tendes criado essa luta e sofrimento, não vos modificardes fundamentalmente, poderão os sistemas, as conferências, os planos, promover a ordem e a boa-vontade? É imperioso que vos transformeis, porquanto assim como sois o mundo é. Vossos conflitos interiores se traduzem por desastres exteriores. Vosso problema é o problema do mundo, e só vós o podeis resolver, não outrem; não podeis confiar a outros a solução. O político, o economista, o reformador, é, tal como vós, oportunista, idealizador de planos engenhosos; mas o nosso problema — esses conflitos e misérias humanos, essa existência vã, causadora de tantos desastres e angústias — reclama algo mais do que expedientes engenhosos, do que reformas superficiais de políticos e propagandistas. Requer-se uma mudança radical da mente humana, e pessoa alguma pode levar a efeito essa transformação, senão vós mesmos. Porque, conforme sois, assim é o vosso grupo, vossa sociedade, vosso chefe; sem vós, o mundo não existe; em vós está o começo e o fim de todas as coisas. Nenhum grupo, nenhum chefe pode estabelecer o valor eterno: só vós o podeis”.
É isto.
Mario Sales, FRC,S.:I.:,M.:M.:
A Prática Fomenta a Vontade
Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de compreender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do caráter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do caráter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.
Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do caráter. Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo. Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objetivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. A prudência aqui se reduz a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-á, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá.A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.
Will Durant, in 'Filosofia da Vida'
Tenho feito vários ensaios para escrever sobre este assunto, Psicologia e Misticismo, sem que me decidisse como fazê-lo, embora ele esteja permanentemente em minha cabeça, sem trocadilho.Seja pelo fato de que os conhecimentos sobre o comportamento do homem evoluíram, e muito, nos últimos 100 anos, seja pelo avanço dos exames de neuroimagem e de neuroquímica, houve uma significativa mudança de posição em relação ao papel da Vontade como determinadora de nosso comportamento.
Hoje sabemos, por exemplo, do significativo papel da hereditariedade quanto a um sem número de comportamentos, principalmente aqueles ligados ao vício, (alcoolismo, dependência de substâncias neuroativas, jogo), ou quanto ao papel da genética na composição dos corpos (obesidade, magreza, etc) coisas que há bem pouco tempo e ainda hoje em grupos menos informados são tratados como problemas de caráter ou de determinação.
Frases como “querer é poder”, interessantes e motivadoras, perdem significado à luz do conhecimento moderno do papel da herança genética somada às questões psicanalíticas do inconsciente, na vida de milhares de seres humanos.
Vamos analisar estes aspectos por partes.
Primeiro, consideremos a terminologia.
Genótipo, Fenótipo e Karma
Em genética, usamos o termo genótipo para definir as tendências que trazemos em nossos genes para determinadas doenças e comportamentos; e fenótipo, para designar o papel do meio ambiente no nosso comportamento final.
Como sempre, começamos nossa jornada entre duas colunas: uma que trazemos como bagagem (genótipo) e outra que receberemos aos poucos a partir da primeira e segunda infância (fenótipo), como por exemplo, o país em que nascemos, com suas peculiaridades de riqueza ou pobreza, a educação e o tipo de alimentação que vamos ter, os condicionamentos religiosos e morais aos quais seremos submetidos, provenientes de nossas famílias, das crenças ligadas as nossas classes sociais, econômicas, etc.
As Duas Pernas
Costumo comentar com meus amigos que o Genótipo é o Karma totalmente relacionado a outras existências e o Fenótipo apenas em parte, sendo que grande parte do Karma fenotípico será construído no dia a dia, nas interações que vamos ter com nosso meio e nas escolhas que faremos.
Aqui, entretanto, já fica óbvio, que parte do script de nosso drama kármico para uma determinada encarnação já está escrito em nosso código genético, e que isto terá uma importante função em nosso desempenho na Terra, não para nos prejudicar, mas para criar as condições de tensão necessárias ao nosso arremesso evolucional, como um estilingue se apóia nas colunas opostas do Y de madeira ao qual se prende.
Portanto, a força da Vontade, neste particular, é relativa. Bem mais importante que a Vontade, é o papel da compreensão e do conhecimento, ou melhor, a habilidade em tracionar a borracha do estilingue e compreender a mecânica do instrumento.
É o que nos torna mais capazes de enfrentar os muitos e variados desafios da nossa vida cotidiana. Compreensão e discernimento. Nossa persistência precisa do nosso conhecimento. Nós precisamos de ambos.
Afinal, quantas pernas temos? Uma ou Duas pernas?
E para que indivíduo a Vida, como fenômeno, será mais proveitosa? Para aquele que se preparou de forma esmerada ou para aquele que tem grande força de vontade, mas tudo ignora, e por isso não compreende o mundo que o cerca ou a herança que recebeu?
Será que o Conhecimento não fortalece muito mais a Vontade do que a Vontade fortalece o Conhecimento?
Discordo de Will Durant quando diz (e quem já não pensou assim?) que “... graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes...”: o que ganhamos principalmente é mais informação.
E esta consolidação de nosso arcabouço intelectual é o que nos garante estrutura para dar conta do cotidiano.
Para absorver esta informação precisamos estar aptos neurologicamente.
Voluntarismos, frases de efeito, não tornarão um indivíduo limitado, por problemas sociais, intelectuais, psiquiátricos ou neurológicos como o retardamento mental, mais aptos.
Ele será incapaz mesmo de entender o que significa a frase que é dita para motivá-lo. Falta-lhe intelecto; falta-lhe capacidade de compreensão.
A Limitação Orgânica
E nem por isso, por causa desta limitação orgânica, ele será menos humano que qualquer um de nós. Precisará, como todos nós precisamos, de carinho e afeto, cuidados e atenção.
Qual a mãe que recusaria ao seu filho, se portador da Síndrome de Down, menos carinho por causa disso?
Só que aqui a questão não é discutir a importância de um indivíduo limitado neurologicamente em comparação com outro que não tenha nenhuma limitação. Este tipo de comparação não faz parte do expediente do místico.
Ele sabe que muitas são as estratégias que o Universo usa para desenvolver uma determinada personalidade alma e assim, as limitações serão proporcionais a necessidade de um determinado indivíduo de forma a estimulá-lo a superar-se, no mesmo princípio acima descrito: grande tensão = a grande arremesso.
Compreender isto é mais importante do que lutar contra isso. Ver a tensão como parte de um estímulo é diferente de encarar a mesma tensão como obstáculo ou empecilho ao desenvolvimento. Só compreender isto já nos acalma e nos dá mais equilíbrio e senso de estratégia para usar nossas aparentes limitações a nosso favor.
Portanto, nem tudo é Vontade. Hoje sabemos disto.
Temos de ter um espírito mais amplo, portanto, na abordagem das dificuldades do estudante de misticismo de superar seus problemas pessoais de afirmação no mundo e concluir que, embora as escolas místicas façam a sua parte, transferindo valores éticos e estimulando a auto confiança nos seus membros, repetindo-lhes constantemente que eles podem ser mais do que são, bastando que se libertem da ilusão de serem incapazes para isto ou aquilo, o resultado, muitas vezes, é quantitativa e qualitativamente insatisfatório por motivos orgânicos e biológicos.
Não por que a mensagem não seja correta, mas por que o receptor não preenche todas as demandas da situação.
O Esqueleto no Armário
Mal comparando, é como se pedíssemos as pessoas que mudassem de andar, passando do andar de baixo para o andar de cima sem que existisse uma escada entre eles ou um elevador, apenas um buraco no teto, e cordas, frágeis, fáceis de arrebentar para ajudar na empreitada.
Enquanto saltam, tentando agarrar as bordas do buraco ou lançam as cordas para fixá-las e poderem subir por elas, os místicos que crêem na vontade ficam de lado, gritando: “Força, não desistam, vocês vão conseguir algum dia, não desistam”. Na minha opinião, uma simples escada seria melhor.
As escolas místicas são, eminentemente, transmissoras de um conhecimento específico. Quanto mais didáticas forem, maior o seu sucesso na transmissão deste conhecimento.
E ser didático é fornecer degraus àqueles que galgam níveis cada vez mais complexos de compreensão.
A Questão Fundamental
Porque sentimo-nos incapazes ou inseguros?
Porque temos medo de tentar ser mais felizes?
Porque temos a tendência de transferir infantilmente aos outros a responsabilidade pelo nosso próprio fracasso e sofrimento?
Spencer Lewis, em seu livro “Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios”, no último capítulo, usou uma expressão norte-americana que designa estas questões íntimas de cada um que tem que ser exploradas de modo muito particular. Ele chamava este conjunto de peculiaridades e idiossincrasias de “o esqueleto no armário”.
Temos sim, todos nós, o esqueleto que merecemos em nosso armário. Essa estranha e didática expressão lembra que se não resolvermos primeiramente nossas questões internas e pessoais, em uma palavra, psicológicas, elas nos perseguirão como uma sombra que nos impedirá de progredir com a velocidade que desejamos no campo da espiritualidade.
Por que somos o que somos
Também é certo, usando a visão do psicoterapeuta, no plano mundano, ou dos iluminados, no plano místico, que nenhuma pessoa é como é apenas porque quer ou escolheu ser assim.
Mesmo o espírito mergulhado em trevas tem uma história de vida que fundamenta este comportamento e suas atitudes anti-sociais, ou mesmo francamente psicopatológicas.
O místico diria que não existe apenas uma história de vida, mas várias histórias de vidas passadas que construíram a personalidade daquele ser perturbado.
Todo ser humano é um processo em andamento. Não é o que é, mas está daquele jeito e de outro modo seria se outras fossem as condições predisponentes, independente da sua vontade pura e simples.
Mesmo a Força da Vontade, Persistência e Obstinação que levam um ser ao sucesso a partir de condições adversas têm uma base biológica e espiritual a ser considerada.
É gratificante acharmos que fizemos a personalidade de alguém se tornar mais digna e forte com nossos conselhos, estímulos e sugestões, e já vi pessoas destruídas pela culpa de terem causado, em sua concepção, algum tipo de mal a alguém.
Só que o processo de evolução é tremendamente solitário e complexo. Nem somos totalmente responsáveis pelo sofrimento de outra pessoa, nem somos vítimas de ninguém, a não ser de nossas próprias crenças.
E nossas questões pessoais, nossos esqueletos, não devem ser encarados como questões morais mas antes como desafios intelectuais. Eles exigirão de nós esforço de compreensão, de estudo, de forma a entendermos por que nos comportamos como nos comportamos e poder de forma mais segura combater nossas limitações. Sem esforços heróicos mas com movimentos dirigidos pela ponderação e pela compreensão cada vez maiores do problema.
Cada um de nós traça com nossas escolhas nosso próprio destino se bem que dentro de nosso contexto sócio-psicológico específico e, tudo que podemos pedir a Deus é que façamos o melhor possível dentro de nossas possibilidades.
Claro, a quantidade de nosso conhecimento, o número de informações que coletaremos para nos ajudar em nosso trabalho no mundo determinará a velocidade e a qualidade de nosso progresso espiritual e material (pois estes dois nunca estão separados), e produziremos, digamos assim, uma maior quantidade de Bem para aqueles que nos cercam e, é óbvio, para nós mesmos.
Não temos já, manifesto, todo o poder que guardamos em potencial, mas ele já está em nós. Vamos aos poucos manifestando este poder pelo aperfeiçoamento de nossa sabedoria e sentimentos, que também são objeto de aprimoramento pela educação psicológica.
Sim, até a amar podemos aprender, desde que recebamos as informações necessárias, os exemplos necessários, já que no caso dos sentimentos valem mais as lições do exemplo do que das palavras.
Mesmo assim, como num processo psicoterapêutico, precisamos organizar na linguagem nosso auto conhecimento, de forma a aperfeiçoar nosso comportamento como seres humanos, vivendo em sociedade.
Livros aprimoram nosso intelecto, nosso pensamento; a Arte e a Beleza aprimoram nossa Sensibilidade.
A Vontade , também chamada Força de Vontade, sozinha, jamais conseguiria mobilizar o ser sem o consórcio da Beleza e da Sabedoria.
A tríade clássica é Sabedoria, Força e Beleza.
Conhecimento, com Elegância e Beleza, é Sabedoria; Sabedoria e Sensibilidade geram mais Conhecimento Elegante e Belo, num círculo Virtuoso que aprimora o espírito e o faz disparar em direção ao Todo Poderoso.
E este círculo virtuoso não é possível em uma mente emocionalmente imatura e pouco elaborada.
Não, a Vontade pura e simples não é tudo.
A ela devemos agregar Conhecimento, para que não seja a Força Cega de Schopenhaer, mas uma força dirigida e orientada na direção de Deus e da Luz.
O Homem e o progresso de sua Compreensão de si mesmo
Galileu tirou o homem e a Terra do centro do Universo, ao desacreditar a teoria do geocentrismo, advogando a teoria do heliocentrismo. Darwin contrariou a criação divina do homem descrita pela Bíblia ao demonstrar a teoria da evolução das espécies. Freud tirou por fim, de nós, nossa certeza da autoria de nosso comportamento, revolucionando a sociedade ao anunciar a existência do inconsciente – a zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos cuja formação se deve em grande parte às etapas da infância. Uma zona que não é passível de conhecimento direto e que é a área de transição entre o orgânico e o psíquico do individuo.
Precisamos agora perguntar se a Vontade é uma virtude suprema ou uma auxiliar do Discernimento, na Evolução.
Resta-nos a obrigação de perguntar, humildemente, se para que o Místico alcance a plenitude, basta que tenha determinação e persistência ou se, em alguns casos, necessitará de um auto estudo que o esclareça sobre os motivos de sua irregularidade por exemplo, no estudo de suas monografias ou experimentos.
Ou mesmo se conseguirá superar estas limitações apenas pela leitura dos livros sagrados somados a Oração.
Não vou negar que seja possível que tal coisa aconteça.
Acredito, entretanto, que se a abordagem fosse mais ampla, se ele fosse também capaz de submeter-se à auto análise e ao auto questionamento, pela via psicoterápica se necessário, ou pela via filosófica, ou por ambas, para resgatar aquele esqueleto no armário de que Spencer Lewis falava no final de seu livro, num processo de toalete mental fundamental para sua felicidade, o lucro e o desempenho daquele mesmo místico que reza e pede a Deus que o inspire seria melhor.
Não devemos julgar ninguém, não apenas porque somos almas piedosas e cristãs, mas porque é impossível não sermos injustos, já que jamais teremos acesso a todos os dados que fundamentam o comportamento daqueles que supomos sermos capazes de avaliar.
Por ignorarmos o processo anterior que resultou naquele comportamento, daquele indivíduo, e o contexto em que ele se desenvolveu (seu fenótipo) não temos como ser Justos, verdadeiramente.
E antes de sermos Mestres, precisamos aprender a sermos justos, nem que seja ao menos conosco, evitando cobrarmos responsabilidades de nós mesmos que não temos, ou de outros, que não conhecemos, já que somos apenas o melhor que podemos ser em nossas condições específicas.
Esta é a base do princípio Rosacruz da Tolerância.
Ignorância leva a severidade excessiva, e esta, leva a Culpa.
E Culpa não gera consciência, só sofrimento.
Nas palavras do Evangelista, só a verdade nos liberta, verdade que deve ser procurada incessantemente por todo místico sincero, fora e dentro de nós, já que o Universo interior é tão vasto quanto aquele das estrelas e das galáxias.
E, nas palavras de Blavatsky, não há religião superior à Verdade.
A Psicologia e o Misticismo - 2
Delimitando as Circunstâncias
Suzano,SP, 07/11/2007
No primeiro comentário abordei a percepção óbvia de que o Voluntarismo ("Querer é Poder") não pode ser mais considerado fórmula de sucesso, se quisermos estimular adequadamente e incluir todas as pessoas possíveis na busca pela evolução.
Não é a Vontade, sozinha, que determina todos os acontecimentos, mas, isto sim, a combinação entre a quantidade e a qualidade de Conhecimento de um indivíduo de um lado e, de outro lado, um sem número de escolhas voluntárias e de circunstâncias involuntárias, felizes ou infelizes, que vão pouco a pouco moldando um caráter, uma biografia, um fracasso ou um sucesso.
E se existe um organizador destas experiências e escolhas em uma compreensão elevada da vida este só pode ser o Discernimento que advém do Conhecimento acumulado, seja este conhecimento intelectual, espiritual, estético, ou, principalmente emocional.
Quanto maior o grau de conhecimento, menos cega será a força de um indivíduo, e menor será a força de vontade necessária para transformar as coisas.
O conhecimento facilita nosso trabalho e torna a noção de força relativa. Basta lembrar do princípio da alavanca.
O Papel do Conhecimento sobre o Desempenho
O que faz com que pessoas biologicamente idênticas (gêmeos univitelinos, por exemplo) tenham comportamento diverso, para o místico, não chega a ser difícil explicar.
Corpos iguais, almas diferentes, comportamentos peculiares e individualizados.
Mas o que dizer de dois seres humanos que, biologicamente são diferentes, com um deles aparentemente em desvantagem por causa de uma limitação física e outro não, terem comportamentos e trajetórias em que, aquele beneficiado por um corpo absolutamente saudável não tem 1/3 do desempenho daquele que está preso a uma limitação física?
A mesma razão, a diferença entre as almas. E como essa diferença se expressa?
Algum tempo atrás, os pensadores e educadores responderiam sem hesitar que a Força Da Vontade em um era, com certeza, o diferencial em relação ao outro.
Hoje, eu não me sentiria seguro ao seguir este pensamento, no mínimo ingênuo neurofarmacologicamente.
Os Fatores Biológico e Bioquímico
E por que? Porque hoje, graças à genética e a neuroendocrinologia, sabemos da importância da presença ou da ausência de apenas um dos muitos hormônios que nos regem o comportamento, a disposição, a capacidade de reação.
Sabemos da importância da serotonina, este importante composto chave da alegria, na criação de personalidades frágeis ou fortes.
SEROTONINA
A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre as células do cérebro (neurônios). Ela é quimicamente representada pela 5-hidroxitriptamina (5-HT), sendo também freqüentemente designada por este nome.
Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio que rodeia o ser humano, e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Apesar de serem poucos os neurônios no nosso cérebro com capacidade para produzir e liberar serotonina, existe um grande número de células que detectam esse neurotransmissor. Desse modo, a serotonina desempenha um importante papel no funcionamento do nosso sistema nervoso e existem numerosas patologias relacionadas com alterações na atividade desse neurotransmissor.
(Fonte:http://perolas.blogs.sapo.pt/64216.html)
Quem como médico tratou de um depressivo e viu a transfiguração de sua face após a adequada administração das drogas corretas, nas doses corretas, sabe do que estou falando. Quem não é médico, mas passou pela experiência de viver o drama da depressão, e viu sua vida retornar às suas veias depois da abordagem farmacológica também sabe. Ou quem, vítima da deficiência do hormônio tireodiano viu sua capacidade de trabalho ir lentamente desaparecendo até que se inicia a reposição do mesmo e, mais uma vez, vê a existência descortinar-se a sua frente como um leque de possibilidades e não mais o arrastar-se de um dia atrás do outro, também sabe disso.
De que adiantaria dizer a essas pessoas “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer!” ?.
Nada. Não se trata de uma questão de vontade, trata-se de uma morbidade hormonal, bioquímica, uma circunstância específica que uma vez diagnosticada pode ser revertida e a qualidade de vida daquele homem ou daquela mulher, recuperada.
Até as áreas do otimismo nos seres humanos foram recentemente mapeadas.(vide artigo no final deste ensaio).
Mas por quantos séculos pessoas vítimas desta doença foram tratadas apenas como melancólicos sem fundamento? Quantos destes foram criticados como covardes, como fracos e rejeitados a uma condição secundária na sociedade, pelos defensores da Força de Vontade como explicação para todas as questões da existência? Quantos ouviram a frase: “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer?”
O que diferencia nossa época de todas as outras? Conhecimento. Temos mais conhecimento sobre a natureza intima do funcionamento do organismo do que tivemos antes e com certeza não sabemos ainda da missa a metade.
O que esta constatação óbvia nos ensina, de que, quanto mais temos conhecimento, mais percebemos que, o que antes parecia uma mera questão de escolha e determinação tem um fundamento hormonal ou bioquímico, reversível pela medicina moderna, é que devemos ser mais humildes e menos precipitados na prescrição de fórmulas de sucesso ou de conduta aqueles que queremos estimular, tanto dentro da Ordem quanto na vida profana.
Muitos são os seres humanos e muitas são as histórias de vida de cada um.
E se, como rosacruzes, acreditamos que o destino é uma construção de nossas escolhas ao longo de cada encarnação, devemos concordar também que parte de nossas escolhas já é feita dentro de um universo definido, dentro de uma arena pré traçada pela genética e pelas condições socioeconômicas através das quais retornamos a existência; e embora não sejam como supunham os marxistas, ou supõem hoje alguns biólogos, determinantes irrecorríveis de nosso comportamento, são influências que não podem ser desprezadas na avaliação do nosso desempenho psicológico e espiritual neste mundo.
Fazemos o melhor possível dentro de nossas circunstâncias.
E, como disse Ortega e Gasset, o que somos é a soma de nós mesmos com a nossa circunstância, e eu acrescentaria, circunstância interna, bioquímica, tanto quanto externa.
A Natureza Planetária da Rosacruz
Ao entrar em uma Ordem Esotérica mundial como a Rosacruz, estamos passando pela experiência iniciática de descobrir, para além dos nossos hábitos comportamentais, além de nossas peculiaridades locais, regionais, os sinais e os elementos universais que dormem em todos nós e os quais nos fazem habitantes do planeta terra, e membros da raça humana. Enfrentaremos , nesta iniciação, dois tipos de desafios: primeiro, o desafio cultural, no sentido antropológico da palavra depois, o desafio físico.
Consideremos o primeiro, o antrológico cultural.
Nós, estudantes rosacruzes, vimos de todas as partes do planeta e mesmo que achemos normal pensar o mundo a partir de nossa aldeia e de nossos costumes, muitas são as aldeias e os costumes, e cada tribo com suas lendas e seus deuses, seus mitos particulares. Uns são portadores de maior sensibilidade, outros tem o intelecto mais aguçado. Uns são mulheres, e de acordo com a região do planeta em que nasceram e cresceram, tornar-se-ão mulheres, como lembra Simone de Beauvoir, mais retraídas ou mais destemidas; outros são homens e, da mesma maneira serão influenciados pelas idéias correntes em seu meio sobre a noção de masculinidade específica de sua cultura.
Agora vejamos o segundo desafio: nossas peculiaridades biológicas e psicológicas. Tais características pessoais, físicas, nos precedem.
A existência de um equilíbrio emocional e bioquímico adequado, o hábito de fumar ou de beber, os efeitos que estes tipos de hábitos desencadearam ou desencadearão sobre o comportamento determinarão a capacidade de harmonização deste indivíduo com o Eterno. Nossa cor de pele, nossa estatura, nossa idade, são amostras de características que nos precederão. Podemos ser lentos ao falar, ou falar muito alto.
Tudo isto influenciará na nossa velocidade de harmonização com o meio místico que freqüentarmos.
E, afetando nossa harmonização social, poderá interferir com nossa harmonização espiritual.
Os místicos mais conservadores podem imaginar que este comentário não se sustenta já que as coisas da alma, na sua concepção, são tratadas pela alma, e a fé junto com a confiança superam todas as limitações; só que é preciso lembrar que todos os nossos movimentos, seja para cima, em direção a Deus, seja para baixo, em direção a nossos assuntos mundanos, passam por nossa mente, e esta, com certeza, é afetada pelo desempenho de nosso organismo, ou pelo menos pelo seu estado de conservação.
Como um indivíduo destruído pela ansiedade ou pela depressão pode sequer desejar compreender o misticismo em sua plenitude? Não falo de uma ansiedade fisiológica, mas de um quadro patológico, resultado de um trauma profundo. A vontade sozinha seria capaz de, neste caso, resolver o problema, ou um psicoterapeuta ou mesmo um psiquiatra deveria ser convocado?
Lembremos e modifiquemos um pouco o pensamento de Hermes Trimegistus: “O que está em cima, está em baixo, e o que está embaixo está em cima”, dizia ele.
E eu completo: o que está dentro está fora, bem como o que está fora, está dentro de nós, num movimento ininterrupto de criação e recriação do mundo, e recepção dos efeitos de nossa obra em nós.
Inter-relação entre os planos de atuação do Homem através da mente
É fácil, entender este último conceito: pensem em um escultor, que, após o término de sua obra, contempla-a e delicia-se com o resultado. O prazer estético que ele desfruta confunde-se com a sua auto-estima, reforçada pelo seu sucesso, e retro alimenta sua sensibilidade e vontade criadora.
E todos estes fluxos de percepção e reação passam através da mente que deve estar em mínimas condições de não interrompê-lo, como a lente dos óculos deve estar limpa para permitir a visão de quem a usa.
Assim, aquele que cria, também é transformado pela obra criada, da mesma maneira que Deus, o Criador, é modificado pelas nossas atitudes, nós, que segundo a Cabala fomos criados para retificar a criação.
Neste esquema fica claro que como intermedeia todas as movimentações de percepção e reação a mente deve ser saudável para permitir a comunicação entre todos os braços da cruz.
O importante não é, pois, a Cruz: o importante é a Rosa.
Deus, em nós, se aperfeiçoa. E este aperfeiçoamento pressupõe muito mais conhecimento do que vontade.
Schopenhauer, cético e desanimado com o desastre Napoleônico, fala de uma vontade cega que arrasta homens e nações pela história, a revelia de seus desejos, e conclui que o nosso sofrimento, enquanto seres humanos, seria inevitável.
Um hipotiroideu, que toma seu hormônio na forma de um simples comprimido, sabe que hoje, pelo menos, não é mais assim, já que o conhecimento acumulado permite que não seja.
Existe sim, como pressentiu o pensador alemão, uma Vontade por trás de todas as coisas, mas não apenas Vontade, porém antes de tudo uma Inteligência, que nada tem de cega, mas que, ao longo dos milênios, garante o crescimento do refinamento de nossa cultura e sensibilidade, e busca esse crescimento como seu bem mais precioso.
Entretanto, considerando a abrangência desta Inteligência, (que os Rosacruzes chamam de Consciência Cósmica),o explodir de Galáxias, o nascimento de estrelas, o surgimento ou o desaparecimento de civilizações inteiras, não são mais do que pequenos ajustes de curso.
Somos pó, enquanto seres corpóreos, e ao pó retornaremos, mas este pó que nos forma é o pó das estrelas, com as quais estamos em cumplicidade permanente, bem como com todas as coisas desta imensa criação.
Os Rosacruzes sabem, entretanto, como não sabia Schopenhauer, que não somos o corpo feito deste pó, mas estamos neste corpo, e que o corpo e tudo que existe de corpóreo não é nada mais do que um veículo para manifestação de nossa existência e experimentação de nossos sentimentos mais profundos nesta que é a mais fantástica experiência de Deus: a Vida Material, a Grande Ilusão, Maya.
Cegos somos nós, isto sim, pois jamais poderemos de nossas perspectivas isoladas, sozinhos, termos uma visão completa do Cenário Cósmico.
Ao contrário do que supõe Schopenhauer, o que nos afasta do deleite e do prazer da Vida não é a própria Vida, mas a nossa maneira de entendê-la, como uma situação hostil a nós ou harmônica conosco, como contrária a nós ou como uma força que conspira a nosso favor.
E quem controla esta percepção não é outra senão a mente, baseada no conhecimento que acumulou, principalmente o conhecimento emocional.
A evolução da Compreensão do Mundo através do Conhecimento Emocional
Esta maneira de ver a existência muda na medida em que também se transforma e aumenta nosso conhecimento sobre todas as coisas que nos cercam. Muda a partir das mudanças do Homem, a medida que sua consciência espiritual se expande e ele é tocado pela iniciação.
E iniciação é informação emocional, tanto quanto informação emocional é uma iniciação.
É a informação emocional e a cultura intelectual, somada ao desenvolvimento da sensibilidade estética e religiosa que nos transforma, e não a mera e simples Vontade, e para isto temos de estar aptos, neurológica, endocrinológica, antropologicamente.
Uma Vontade sem o refinamento do Conhecimento, mesmo que expressa em um corpo vigoroso, aí sim, é Cega, e por isso implica em mais sofrimento e esforço do que o necessário.
Já uma vontade não quantitativamente intensa, mas qualitativamente diferenciada, transforma o mundo a sua volta, coisa que nos ensina, todos os dias, o cientista Stephen Hawkins, preso por uma doença degenerativa a uma cadeira de rodas e nem por isso menos produtivo, ou o artista Cristopher Reeve que lutou até sua morte para superar as limitações de sua tetraplegia. Alguns pensarão que são ambos donos de uma vontade férrea. Eu diria que o conhecimento científico de Stephen e a motivação causada pela possibilidade de ajudar outros com problemas semelhantes, mas sem os recursos e a tecnologia da qual Reeve desfrutou, seriam suficientes para dar sentido e direção às suas vidas.
A força vem do conhecimento, não da simples vontade
Um corpo frágil que viaja pelo infinito, pelas galáxias e pelos buracos negros, através do conhecimento científico, em um caso; e no outro, uma mente clara, focada no benefício altruístico.
Metas e objetivos; direção e sentido de ação mental.
Isto é força. Isto sim é poder.
Pensem em Arquimedes e sua alavanca; pensem num mundo sem a roda e com a roda; pensem, enfim, em um mundo com livros e em um mundo sem livros.
Esta é a comparação que devemos fazer.
Este é o grande mistério: com o conhecimento correto, transformar um salão em trevas num local amplamente iluminado pode ser, simplesmente, a diferença entre abaixar ou levantar um mero interruptor.
APÊNDICE:
A origem do otimismo (publicado no Estado de São Paulo de 15 de novembro de 2007) por Fernando Reinach*
O ser humano é naturalmente otimista. É bem sabido que, independentemente de nosso nível de educação, temos uma enorme tendência de acreditar que o futuro será róseo. As pessoas superestimam sua longevidade e subestimam sua probabilidade de morrer. Acreditar que o Brasil é o país do futuro parece estar nos nossos genes. Essa característica de nosso cérebro faz sentido biológico. Sem ela, provavelmente seria mais difícil sobreviver em um ambiente em que impera a competição e a seleção natural. Uma das características da depressão é exatamente a redução desse otimismo e uma dificuldade em imaginar que o futuro é promissor.Por esse motivo, muitos neurologistas têm tentado descobrir em que área de nosso cérebro se origina o otimismo. Eles acreditam que essa tendência ao otimismo nada mais é que uma distorção sistemática da imaginação quando ela é aplicada a eventos que ainda estão por ocorrer, portanto no futuro.Agora, parece que um grupo de cientistas conseguiu mapear no cérebro a região responsável pelo otimismo.Voluntários foram colocados em uma máquina de ressonância magnética capaz de medir a cada instante a atividade de cada área do cérebro. Uma vez na máquina, eram instruídos a imaginar um evento no futuro ou relembrar um evento do passado.Quando terminavam de imaginar, a máquina era desligada e eles respondiam a um questionário sobre o que haviam imaginado. O evento era positivo ou negativo? Parecia distante ou próximo ao presente? A pessoa estava muito ou pouco envolvida no evento? Nos eventos que se relacionavam ao passado, fossem eles negativos ou positivos, ambos geravam respostas semelhantes. Nos relacionados ao futuro, sempre que o evento era positivo (vou ganhar um prêmio, vou me apaixonar), ele era mais intenso, imaginado mais perto do presente e a pessoa se via intimamente envolvida. Era o esperado, afinal somos otimistas.Na última parte do experimento, a atividade cerebral dos voluntários durante o tempo que imaginavam um evento positivos no futuro (vou comer um pernil ótimo amanhã) era comparada com a atividade cerebral quando as pessoas imaginavam eventos positivos no passado (ontem comi um pernil ótimo), um pensamento negativo no futuro (o pernil que vou comer amanhã vai me dar diarréia) ou um pensamento negativo no passado (o pernil que comi ontem me fez vomitar).
O resultado é que sempre que a imaginação se dirigia para o futuro e focava em um pensamento positivo, duas regiões do cérebro eram ativadas de maneira específica: a região da amígdala e a parte anterior do córtex cingulado rostral. Esses dados indicam que provavelmente é nessas partes do cérebro que se origina o otimismo. As duas regiões apresentam anomalias em pessoas afetadas por depressões profundas e pacientes com lesões nessas áreas tendem a apresentar depressão. Ficam incapazes de pensamentos otimistas. Esse experimento é um bom exemplo de como aos poucos estamos descobrindo como nosso cérebro cria nossa mente. Afinal, da mesma maneira que o coração bombeia sangue e o intestino digere os alimentos, a função do cérebro é criar e manter a mente. Mais informações em: Neural Mechanisms Mediating Optimism Bias. Nature, volume 450, página 102, ano 2007
Psicologia e Misticismo 3
O Papel do Treinamento Intelectual
"Uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' "
Definição de inteligência de "Mainstream Science on Intelligence",
que foi assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994:
INTELIGÊNCIA : fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Quando falamos que alguém é intelectualizado, referimo-nos via de regra a um indivíduo com grande quantidade de informações sobre um ou vários assuntos, geralmente dono de uma formação universitária e acostumado ao ato de raciocinar.Sabemos, entretanto que uma das características da inteligência é a sagacidade, ou melhor, a capacidade de desvencilhar-se de impasses e resolver problemas com rapidez e precisão. E nem sempre o indivíduo sagaz é intelectualizado ou vice versa.Resta a dúvida: a formação intelectual é suficiente para desenvolver sagacidade em um espírito ou isto terá mais a ver com a origem sociobiopsicológica deste mesmo indivíduo?Pode-se, colocando-se em outros termos, ensinar alguém a ser esperto, criativo?Provavelmente não.
O que faz de nós pessoas sagazes e de boa índole é a herança biológico cultural somada a educação e não só a educação.
Pode-se educar um indivíduo para pensar de forma lógica e encadeada, mas não necessariamente de forma original. Educa-se uma criança para saber colher informações, mas não necessariamente para sintetizá-las com elegância, síntese esta que é a base do crescimento de nossa capacidade intelectual.
Pensemos no quebra cabeça.
Todos podem ter acesso a todas as peças do quebra cabeça, mas a combinação dessas peças dever-se-á a capacidade de memória, observação e rapidez de combinar imagens e contornos de forma a completar a imagem geral.
Inteligência é um fenômeno dinâmico enquanto a intelectualidade é estático.
Todos sabem que é possível discursar por horas sem que nenhum conteúdo sólido seja passado adiante.
O intelecto é a falsa luz e defende, através do discurso, com igual veemência, o bem ou o mal.
Não argumentamos em defesa do que é certo apenas. Argumentamos em defesa de qualquer coisa, daquilo que acreditamos, mostrando que o argumento intelectual é escravo da crença e a crença na maioria das vezes não surge da reflexão, mas das tradições culturais antropológicas (pré-conceitos) daquele que argumenta.
Existe lógica possível até na defesa da crueldade.
Basta lermos “O Príncipe” de Maquiavel.
Isto não faz da crueldade algo lógico.
Da mesma maneira que distinguimos entre Intelectualizado e Sagaz, Culto e Criativo, é importante separar os conceitos de Intelectualizado do conceito de Evoluído. Evolução, do ponto de vista místico, refere-se ao aumento da Consciência Universal no Indivíduo, o que desencadeia neste um maior senso de altruísmo e senso de dever em relação à sociedade e a raça humana; mais, senso de dever e serviço com todas as formas de vida, não só as de conformação humanóide.
Um ser altamente evoluído, tocado pela graça de Deus, não precisa ser necessariamente intelectualizado, embora muitos seres intelectualizados nos pareçam, a primeira impressão, altamente evoluídos. Esta precipitação em julgar o caráter de alguém pela quantidade de livros que leu e títulos que tem gera muita decepção ao indivíduo mais ingênuo, e às vezes até, perplexidade, pois a confusão entre os dois é grande.
Não se trata, no entanto, de nada além de equívoco: uma coisa é ter cultura, outra é ser uma pessoa do Bem, por assim dizer.
O que nos leva a outra reflexão: tampouco há relação entre a falta de Intelecto e a Santidade.
Vale dizer, a ausência de um intelecto minimamente trabalhado, e da capacidade de raciocinar, não nos torna seres tocados pela luz, como certa época apregoou a Igreja de Roma, com uma campanha em prol da “simplicidade de espírito”, no sentido de que os mais humildes veriam a face de Deus enquanto os mais complexos deveriam ser (e eram) queimados como hereges e blasfemos.
Esta crença equivocada e maligna, de que a ignorância e por decorrência, a pobreza, fossem garantias de um lugar no céu após a morte, só interessavam aqueles que queriam e precisavam manter seu poder sobre as massas ignorantes de forma intocada.
Esta propaganda maldita foi tão persistente e durou tantos séculos que muitos a consideram inquestionável, de fato, até pessoas mais esclarecidas.Ignorância e pobreza foram, naqueles tempos, transformadas em virtudes purificadoras.Talvez por isso seja difícil para alguém ligado a esta corrente religiosa, pensar no lucro e no sucesso material com tranqüilidade, sem a impressão de que sua prosperidade material, mesmo aquela conseguida às custas de esforço e trabalho, não esteja tirando um pouco de sua alma.
Vê-se o mesmo tabu antropológico entre intelectuais que julgam severamente o Dalai-Lama indigno de confiança apenas porque vai às suas palestras de tênis, ou que criticam quaisquer forma de arrecadar fundos financeiros para manutenção de uma religião, mostrando em sua aversão vestígios da concepção católica, historicamente vitoriosa nesta região ibero sul-americana, do lucro como um pecado.
Mesmo depois de tantos séculos das pregações e dos texto de Calvino, o homem e a mulher comum, mesmo aquele educado e intelectualizado, não possui sagacidade para perceber, num processo simples de análise histórica, o papel da ideologia dentro de seu comportamento, fundamentando suas idéias do que é e não é correto em ambiente religioso.
Desta forma primária e preconceituosa, pobres e miseráveis fazem mais sucesso ao preencher o estereótipo do santo do que aqueles que possuem riqueza e abundância e fazem muito pela sociedade.
Quanto mais renúncia pessoal ao doar de si, mais digno é o indivíduo da alcunha de santo, como para citar um exemplo recente, o trabalho de Irmã Dulce no Brasil ou de Madre Teresa de Calcutá, na Índia e na Inglaterra.São preconceitos, noções que vão antes de nós, a nossa frente, dando cor às coisas que vemos, deformando-as e reformando-as ao sabor de nossas crenças.Em seguida surge o discurso, justificando nossa concepção e conduta, justificando nosso preconceito.O intelecto, por mais atraente e envolvente que nos pareça, é escravo das nossas crenças, escravo de nossos preconceitos.
O místico sabe que precisa do intelecto como precisa de um animal de transporte, um camelo, ou um cavalo, que transporte suas idéias de um ponto a outro do campo da existência.
Usa-o como auxiliar e sabe de suas limitações.
Nem por isso o despreza e, através deste intelecto, mergulha nos textos sagrados com o apetite de um exegeta dedicado, sabedor, no entanto, que a prudência é uma das sete virtudes dos mestres e que deve ir ao texto com cuidado e discursar com o coração, e não com sua cabeça, descrevendo sensações que vem do fundo de sua alma e não praticando apenas um jogo de palavras, frio, sem vida.
Cultura E Sensibilidade
Não, a ignorância e a miséria não contribuem para o aperfeiçoamento espiritual e nenhum místico equilibrado discordará disto.Precisamos, enquanto místicos, estar atentos ao nosso desenvolvimento intelectual o mais constantemente possível e ao aperfeiçoamento de nossa sensibilidade através da arte, seja a música ou a pintura, seja a literatura ou a escultura.Além disto, temos de educar nossas emoções, nossos sentimentos que não devem ser reprimidos ou negligenciados como parte importante parte de nossa personalidade que são.Já citei a psicoterapia como técnica de autoconhecimento, mas não é a única forma.
A meditação pode ajudar. E muito.
Tudo vai depender do perfil psicológico do místico e da sua educação.
“Homem, conhece-te a ti mesmo” lembrava a inscrição na entrada do oráculo de Delfos, “e conhecerás os deuses”, concluía.
O Oráculo de Delfos
O caminho é interior. A busca é para dentro.
Esta é outra obviedade mística, mas que não custa sempre repetir, principalmente quando as pessoas insistem em freqüentar formas mais espalhafatosas de organizações esotéricas, sempre em busca do espetáculo, ou mesmo grupos de atividade coletiva, de condicionamento de grupo, talvez cansados da solidão, talvez por não terem trabalhado bem seus sentimentos, e por anos, embora dedicados rosacruzes, não conseguiram elaborar sua insatisfação com alguns aspectos da convivência dentro de capítulos e lojas.
Lojas e capítulos rosacruzes são ambientes adequados aos rosacruzes, mas ainda assim são ambientes humanos, que podem acelerar nossas percepções pela interação social ou retardar nossa evolução humana e mística, caso não consigamos usar esta convivência para nosso crescimento.
O certo é que, embora sejam locais onde encontramos mentes afins continuam a ser ambientes humanos, marcados pela heterogeneidade de personalidades normal em qualquer agrupamento social.
Isso é bom e isso é ruim, ao mesmo tempo.É bom por que esta convivência reforça a nossa egrégora e a egrégora por si nos fortalece.Ruim porque a falta de maturidade e de elaboração pode levar a frustrações de falsas expectativas e isto gera conflito. Ao mesmo tempo isto é novamente bom por que desfaz ilusões e o crescimento emocional só é possível pela perda das ilusões e das fantasias.
O problema, repito, não está na Rosacruz e em seus corpos afiliados, mas naqueles estudantes rosacruzes que passam a freqüentar estes agrupamentos sem que tenham equilíbrio para freqüentar quaisquer outros ambientes humanos.E o que buscam os rosacruzes? Equilíbrio.Pregamos a Tolerância, mas esta depende antes de tudo deste equilíbrio e desta maturidade que buscamos.E este equilíbrio diferenciado que chamamos de Paz Profunda não advém apenas de elaborações espirituais, mas também de aperfeiçoamento comportamental se me permitem mais uma vez repetir este tópico.A Ordem faz a sua parte. Cada rosacruz deve, com honestidade, fazer a sua, de forma a não cobrar da Rosacruz aquilo que só cada um, pelo seu esforço pessoal, de modo solitário, pode conseguir.Para isto, Cultura Intelectual e Maturidade ajudam. O sucesso de cada um vai depender destes dois pilares, destas duas colunas, que quanto mais sólidas forem, melhor sustentarão um ambiente místico mais equilibrado.Lembro para encerrar um trecho de um dos muitos ensaios que Krishnamurti deixou (“Diálogos sobre a Mudança Interior”)
“Pode o indivíduo, que é responsável pelos conflitos e misérias em si mesmo existentes e, portanto, existentes também no mundo, consentir que seja a sua mente-coração embotada por filosofias e idéias falsas? Se vós, que tendes criado essa luta e sofrimento, não vos modificardes fundamentalmente, poderão os sistemas, as conferências, os planos, promover a ordem e a boa-vontade? É imperioso que vos transformeis, porquanto assim como sois o mundo é. Vossos conflitos interiores se traduzem por desastres exteriores. Vosso problema é o problema do mundo, e só vós o podeis resolver, não outrem; não podeis confiar a outros a solução. O político, o economista, o reformador, é, tal como vós, oportunista, idealizador de planos engenhosos; mas o nosso problema — esses conflitos e misérias humanos, essa existência vã, causadora de tantos desastres e angústias — reclama algo mais do que expedientes engenhosos, do que reformas superficiais de políticos e propagandistas. Requer-se uma mudança radical da mente humana, e pessoa alguma pode levar a efeito essa transformação, senão vós mesmos. Porque, conforme sois, assim é o vosso grupo, vossa sociedade, vosso chefe; sem vós, o mundo não existe; em vós está o começo e o fim de todas as coisas. Nenhum grupo, nenhum chefe pode estabelecer o valor eterno: só vós o podeis”.
É isto.
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