Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Tenho acompanhado com alguma apreensão o aumento da freqüência do uso da palavra hierarquia no sentido administrativo, dentro das conversas da AMORC.
Existe um ditado no meio militar que diz que, a autoridade que precisa lembrar sua patente, já está desprestigiada.
O bom comandante, aquele que é amado por suas tropas, não tem necessidade de fazer valer suas divisas pois possui uma autoridade inerente a seu comportamento, o que cria lealdade e respeito por ele, de seus subordinados.
Em uma ordem não militar, como a AMORC, o fenômeno é mais intenso e vívido. Se bem que, como rosacruzes, somos instados a nos afastarmos de práticas personalistas, evitando assim o erro da Vaidade, por outro lado, todos nós temos como Frateres e Sórores, pessoas pelas quais temos profunda admiração e respeito. Estas pessoas exercem sobre nós sua influência cultural e psicológica, uma influência do bem, e mesmo que saibamos que são pessoas iguais a nós em suas limitações e incertezas, temos por ela o carinho que teríamos por um grande amigo, por um pai ou um irmão, em latim, frater.
Portanto ter carinho por este ou aquele rosacruz de nosso convívio mais imediato não caracteriza a prática do culto da personalidade, mas apenas o reconhecimento da influência e da importância daquele irmão ou irmã sobre nossas vidas e pensamentos.
Diva Ogeda foi uma dessas pessoas, quando entre nós. Não importa se seus comportamentos e orientações estavam ou não sempre em consonância com os fatos. O que importa é que todos nós que convivemos com ela reconhecíamos a presença do inspiração do Altíssimo em seu entusiasmo, espírito, e dedicação a causa da AMORC no Brasil e fora dele.
Jamais alguém contestaria uma determinação de Sóror Diva. Com sua fala carregada de sotaque, meio arrastada, tinha dominado a arte de influenciar pessoas ao seu redor e magneticamente, sem gestos exaltados, sem palavras ríspidas e sem lembrar quaisquer aspectos hierárquicos, conseguia tudo o que desejava daqueles com quem conversava em busca de algum benefício para a Ordem.
Diva foi Grande Conselheira da região SP2, de Atibaia até Queluz. Deixou o cargo após um sem número de realizações. Dedicou-se em seguida a consolidação da Ordem Martinista na região fortalecendo com sua presença e estímulo a Heptada Guarulhos, onde tive o privilégio de conviver com ela.
Por muito tempo, depois de deixar o cargo de Grande conselheira, apenas colaborou com capítulos, lojas e pronaoi sem nunca relembrar sua condição de ex-autoridade máxima regional, e em nenhum momento teve que lembrar seu passado para manter o respeito que recebia.
Ela era e sempre seria uma autoridade para todos nós que desfrutamos de seu convívio, pelo seu magnetismo, pelo seu amor genuíno ao rosacrucianismo e por sua vontade inquebrantável de intervir materialmente no fortalecimento administrativo regional.
É preciso que não esqueçamos o exemplo de pessoas como Diva Ogeda.Quem é verdadeiramente rei nunca perde a majestade.
Todos nós que ocuparmos algum cargo na AMORC devemos ter em mente que nossa autoridade virá de dentro de nós e não do cargo em si. Como se o cargo procurasse pelo indivíduo e não o indivíduo pelo cargo.
Ninguém aceitará a autoridade de alguém que lembre verbalmente que é uma autoridade ou que apele para seu cargo na Hierarquia Administrativa para demonstrar a sua importância.
Isto é apenas vaidade, e todos nós, do Imperator ao mais simples oficial administrativo, somos todos servidores da AMORC. Quanto mais alto o cargo, mais complexa a responsabilidade assumida, e mais espinhoso e trabalhoso o compromisso.
Mesmo assim, nem sempre nosso trabalho será aplaudido ou reconhecido e teremos de conviver com a ingratidão ou o aparente desânimo de alguns em relação aos nossos pedidos e requisições.
A tolerância é importante, mas como já disse em outro ensaio aqui, quem compreende não precisa tolerar.
É preciso que compreendamos e que desenvolvamos o poder interno, o que vem de dentro. Se assumirmos o cargo com o coração puro, forças místicas invisíveis virão em nosso auxílio e nos tornarão maiores do que somos pelo tempo que for necessário, de forma a que cumpramos com dignidade nossa missão.
E se nosso coração além de puro, conseguir sintonizar com estas forças de forma satisfatória, este poder não nos abandonará, e será como se fôssemos batizados no fogo, como em Pentecostes, e esta bênção em nós, esta autoridade em nós que vem do Alto, será eterna.
Que nossos líderes estejam sempre atentos a estes aspectos. Esta tem sido a postura tradicional de todos. Sua força vem de sua competência mística e espiritual, se é que podemos dizer assim.
Sem esta bênção do Alto, de nada valerá falar-se em cargos ou hierarquia.
Rosacruzes, em geral, não dão a mínima importância para estas coisas.
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