Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 10 de março de 2011

O OCULTISMO E A TEURGIA ESTÃO FORA DE MODA 2

Recebi agora a pouco o email de um frater da AMORC sobre o texto O OCULTISMO E A TEURGIA ESTÃO FORA DE MODA e, com sua autorização, publico, para promover o debate, suas colocações e a minha réplica. Fiquem à vontade para participar.

“Prezado Frater,


Também sou membro da AMORC e TOM
Em vista a seu último poste no Blog, gostaria de tecer alguns comentários. Respeito sua intelectualidade e desinteresse no ocultismo e teurgia. Mas afirmar que morreram ou estão fora de moda, é totalmente um non-sense. Nunca estiveram em moda, sempre foram reservadas a poucos, pessoas dotadas das condições adequadas de determinação e vontade. Apenas para ilustrar que a tradição continua perpetuada em outras ordens, recomendo consultar os sítios da Sociedade da Ciências Antigas, Hermanubis, Ordem Kabalística da Rosa+Cruz, por exemplo. Está, como sempre esteve, viva!... Não é para todos, mas aos verdadeiros homens de desejo, abre os portais de seu santuário.
Que você viva sempre na Eterna Luz da Sabedoria Cósmica !


AEC


Minha resposta:

Caro Frater AEC:


Primeiramente obrigado por seu comentário.
É sempre um prazer inenarrável esta troca de idéias. Em segundo lugar, gostaria de recolocar minhas idéias.
A prática do ocultismo, como o frater deve saber, sempre teve como objetivo o desencadear de efeitos palpáveis na realidade. Eram uma seqüência de técnicas e textos que, se lidos da forma certa, acompanhados de algum tipo de preparação pessoal e ritualismo, resultariam em manifestações visíveis e/ou audíveis de seres etéreos, terrestres ou celestes, permitindo o diálogo com estes seres ou transformando-os em emissários de determinadas incumbências.

Ou seja, ocultismo sempre buscou Poder, nunca auto conhecimento. Sempre buscou as respostas para as perguntas fundamentais (como viver em equilíbrio com meu meio ambiente e meu Deus de forma próspera e saudável) fora do homem e não dentro do homem.
Ao contrário, a busca mística era uma busca para dentro do homem, busca tão ou mais complexa do que a busca do Ocultismo, mas absolutamente livre de quaisquer aparatos especiais ou tecnologias obscuras para empreendê-la, já que o simples contemplar do mar em uma praia já potencializa e dá às vezes o pano de fundo para tal exercício.


Quando falo moda, refiro-me realmente a isto: um conjunto de práticas que alcançou um prestígio grandioso em um período histórico da sociedade, período este que já passou e prestígio este do qual não goza mais.
Era de bom tom que todo aquele que se dissesse místico fosse capaz de discorrer sobre técnicas ocultistas e usasse, ao se expressar, a terminologia própria deste campo.


Hoje, frater , não é mais assim. O frater e eu já podemos conversar sobre a vida mística através de categorias mais psicológicas do que ocultistas. Podemos falar em aprofundamento da consciência, aumento da consciência do mundo e de si, aperfeiçoamento da sensibilidade, uma fala que está encharcada de valores eminentemente psicológicos; no século XVII e XVIII não existia Psicologia Laica, apenas a religião, e a Bíblia, no Ocidente, e o Ocultismo baseado em valores cristãos, que desconhecia o trabalho místico hindu, o Vedanta, os Upanishad, ou mesmo o Corão de Maomé, ou aspectos importantes do Budismo Zen.



O mundo era muito menos globalizado e os Europeus brancos e cristãos ainda supunham ser o conhecimento judaico o único referencial importante na cultura.



Não havia a ciência, não havia positivismo, enfim, não havia Cultura fora dos textos do Velho e do Novo Testamento. Não é a toa que os trabalhos artísticos da época são redundantes e na sua grande maioria tratam de assuntos descritos no Livro Santo dos Cristãos e dos Judeus. Tudo isto mudou, passou, desapareceu.


Hoje a leitura que se faz dos textos bíblicos é muito mais crítica e qualificada ( veja como exemplo o eruditíssimo trabalho do professor Severino Celestino, sobre as muitas leituras possíveis do Hebraico, no You Tube). A Igreja, enfim, perdeu o poder de queimar os pensadores e matar os dissidentes e, livres de suas amarras, uma grande multidão de filósofos começou a pensar baseado em outros parâmetros que não os parâmetros da Igreja.


Foi assim que, pouco a pouco, aquela erudição sacra representada pela prática ocultista foi lentamente substituída pela erudição laica, proveniente de uma Astronomia Galileliana em oposição aos astrólogos, uma química como de Lavoisier, ao invés das Alquimia, e uma cultura mística verdadeiramente livre ao invés de um misticismo aparentemente cristão, mas que, na verdade, era essencialmente católico romano.



Ao contrário do que pareça, tais práticas perderam sim, toda a importância que tiveram um dia, não por serem combatidas, mas porque perderam espaço para a busca pessoal e despojada da Verdade Interior de cada um. E talvez, repito, um dos mais importantes artífices disso foi o próprio Saint Martin que, ao contrário de Willermoz, que continuou organizando templos, dedicou-se a iniciação pessoal e solitária, sem nenhum tipo de aparato, confirmando que "não se precisava muita coisa para ver a face de Deus". Bastava para isso que olhássemos em nossos espelhos, já que ele está dentro de nós. 

Paz profunda frater. 

M

Um comentário:

  1. Prezado Mário,

    Concordo com você! Hoje noto que existe mais prática pelo mentalismo. Há mais simplicidade nas práticas.
    Mas vale acrescentar que algumas pessoas para despertar "determinados poderes" necessitam de utensílios ou ferramentas para que haja uma conexão. Antigamente isso era mais evidente porque eram poucos os praticantes que tinham "poderes", isso fazia com que eles se tornassem mais notáveis, pois eram, também, pois seus conhecimentos quando explícitos, "diferentes" da igreja, mesmo tendo como base a "bíblia sagrada" como ponto de partida.

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