Por Mario Sales, FRC.: ; S.:I.: ; M.:M.:
Algumas semanas atrás, o blog foi sacudido por um debate acerca da pertinência de uma prática ocultista ortodoxa em nossos dias.
Minha posição foi de que não havia cabimento em tal coisa, dado o simples fato de que a própria arte mágica ter evoluído com o passar dos anos, no que fui combatido energicamente por dois cavalheiros dos quais até hoje não sei o nome.
Talvez tenham imaginado que em meu arrazoado eu queria renegar 36 anos de prática mística esotérica rosacruciana ou seis anos de Maçonaria e de Martinismo.
Não sei bem.
Se foi essa a impressão que ficou, tratou-se obviamente de um equívoco.
Se existe algo de que não posso nem quero me desfazer, é da minha condição de Iniciado.
Como tal, tenho um papel ou papéis definidos a desempenhar, dentre eles o que mais me orgulha, o de ponte entre três nobres ordens.
Rosacrucianizar o Martinismo e a Maçonaria, no sentido de transmitir a ambos a sede de conhecimento e a ambição espiritual dos artesãos rosacruzes, esta é uma nobre missão.
Martinizar o rosacrucianismo, levando-o a uma maior atividade templária, da mesma forma, fortalece as duas ordens e amplia os horizontes de seus membros.
Em qualquer Ordem em que estejamos, entretanto, não abdicamos de nossa condição de Iniciado em combate, sim, em confronto permanente com as forças das Trevas, que só um iniciado pode reconhecer e combater com a devida obstinação.
Era isso também que eu defendia naquele debate de semanas atrás citado acima (O OCULTISMO E A TEURGIA ESTÃO FORA DE MODA 1,2 e 3).
Hoje não combatemos no mundo visível, no mundo dos mantos e cajados. Hoje combatemos em terreno muito mais refinado e impreciso em contornos: combatemos dentro do mental.
Quem prestar atenção perceberá que uma apatia importante se alastra por todo o planeta. Chamemos este desânimo coletivo de Trevas.
São estas Trevas que nos desafiam com sua anedonia, sua ausência de objetivos, sua ética amoral e confusa.
Em muitas ordens esotéricas vemos este ataque de forma ostensiva, com um grande número de Frateres e Sórores abandonando as fileiras da Ordem , bem como mestres Maçons abandonando suas Lojas, e Martinistas que, desmotivados, se afastam de suas Heptadas mal atingem o que acham ser o último grau , o de S.:I.:, como um curso que se acaba e não uma convivência que se aprimora e que se inicia.
Lutamos, nós, os iniciados modernos, contra o poderoso Demônio do Desânimo, que não tem corpo, nem forma, nem voz, e que é capaz de ter múltiplos rostos e múltiplas vozes, sempre com um discurso envolvente, aliciando os que consegue para um caminho sem volta.
Uma vez que convença o incauto de que não vale a pena dedicar-se a prática do Misticismo, de que ficar descansando em sua casa, em frente a uma televisão idiotizante, é melhor do que buscar conhecimento e iluminação, a batalha contra as Trevas, para este irmão, estará perdida.
Hoje, meus caros, a luta se trava dentro de nós. Não temos mais bandeiras claras pelo quais lutar, viver ou morrer. Nossos cuidados com segurança, nossos toques, palavras de passe e sinais, tudo parece sem sentido.
Estamos em tempos de uma perigosa paz que nos amortece os reflexos e que nos enfraquece de modo importante, progressivo.
É preciso estar atento. A nossa própria batalha de Kurukshetra expandiu-se, os lados estão definidos, mas os soldados ainda podem trocar de lado se assim o quiserem, a qualquer momento.
Nós, os representantes da Luz, devemos estar a postos, e como Ulisses, muitas vezes lutar será amarrar-se a um mastro e colocar cera nos ouvidos de nossos companheiros para que não sejam seduzidos pelo canto das sereias do mal que tentam nos afastar da senda esotérica.
Trata-se de um período dos mais difíceis e só os verdadeiramente tocados pela espada iniciática poderão ultrapassá-lo ilesos. Os que não tiverem em suas testas e em seus ombros o toque da iniciação serão arrastados pela Magia do Mal que tentará das mais variadas maneiras, convencê-los de que desistir e sair da senda é a melhor coisa a fazer. O Demônio do Desânimo trabalha com sutileza, como de resto qualquer demônio age. Começará fazendo com que o Iniciado se esqueça de seus ensinamentos exatamente quando mais precisar deles, diante de uma demanda profana qualquer, um problema financeiro, ou pessoal.
Lançará véus mágicos sobre seus olhos de modo a impedir que ele veja as soluções possíveis e impedirá sua visualização embotando suas idéias e provocando-lhe sono e desmotivação.
Não é uma guerra aberta, franca, mas uma seqüência de escaramuças, uma atividade de guerrilha, com técnicas de sabotagem e destruição dos fundamentos da sua estrutura de convicções.
Só os soldados treinados e experientes conseguirão superar tais ataques, súbitos, sempre inesperados, dia após dia, semana após semana.
E este é um motivo pra desespero? De forma alguma.
Para o Verdadeiro Iniciado, tudo isto não passa de mero exercício e treinamento, aonde ele aperfeiçoa seus dons e habilidades.
A Batalha contra o Demônio do Desânimo é eterna, mas pode ser superada pelo bom humor associado a pensamentos elevados e atividades de engrandecimento espiritual.
Uma coisa é certa: afastar-se de seus quartéis-generais, suas Ordens, suas Egrégoras, é tudo o que o Iniciado não deve fazer nesses sombrios momentos que atravessamos.
Precisamos do reforço positivo de nossos ambientes espirituais, não importa qual seja ele, de maneira a assegurar que pelo fato de muitos vigiarem, em muitas direções nossa segurança aumente e o inimigo jamais nos surpreenda despreparados.
A Egrégora é nossa redoma de proteção.
Não devemos desprezá-la, mas utilizá-la a nosso favor e a favor de todos que estão como nós sob sua proteção.
Este combate entre a Luz e as Trevas já dura desde que a Humanidade surgiu e provavelmente não cessará. É possível, entretanto, transformá-lo de ameaça em uma oportunidade de aperfeiçoamento moral espiritual pois só podemos demonstrar nossa capacidade quando respondemos a um desafio de grande importância.
É isso que nos fortalece e estimula.
Não fomos feitos para as redes e para o Paraíso, imóvel, sem evolução.
Somos energias em deslocamento, forças de transformação, que só encontram seu sentido na existência quando em movimento e ação.
Não esqueçamos a lição mais importante da iniciação: não somos nós que agimos, mas Deus que age em nós.
O único pecado é a Omissão. Agindo estaremos sempre em consonância com a vontade divina e a vitória de nossos melhores desejos é certa.
Que a voz de Krishna em nossos ouvidos, nos sirva de inspiração:
“Levante-se e prepare-se para lutar. Depois de conquistar seus inimigos você terá um reino próspero. (...) Você, ó Savyasacin, poderá ser nada mais que um instrumento na luta.”
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