Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 30 de julho de 2010

SENSIBILIDADE, SAGACIDADE E ERUDIÇÃO Ia PARTE

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:, M.:M.:



Questiona um leitor deste blog (sim, eles existem) se é necessário conhecer tantas coisas para sermos “fera” no misticismo, segundo sua interessante expressão.
É uma questão que angustia muitos, ao convivermos com brilhantes irmãos, e nós os temos aos montes nesta nobre Ordem Rosacruz, que exalam conhecimento e que nos inquietam, fascinam e motivam com sua capacidade de reter informações acerca do Universo do misticismo.
Sim, o Misticismo mundial é um Universo, e por isso, é de bom alvitre que escolhamos um campo com o qual nos identifiquemos e nos dediquemos a ele, para que o conheçamos melhor.
Alguns, entretanto, preservam o espírito enciclopedista , e se fascinam por todas as coisas que dizem respeito à História do Misticismo, como se, sem essas informações, não se pudessem chegar a bom termo na senda.
Não é bem assim.
Lembremos o conceito de Sagacidade, dom que recebemos do altíssimo e o qual aperfeiçoamos com a cultura intelectual ou aplicamos de forma selvagem, mas também eficiente no dia a dia.
A Sagacidade é, como eu disse, um dom.
Alguns a tem, outros não.Não há como artificialmente desenvolvê-la. Ela é a qualidade que diferencia as pessoas bem sucedidas daquelas que não o são. Ela é a resultante da combinação da sabedoria e do entendimento, como está recomendado no início do Sepher Yetzirah.
A Sagacidade é, pois, um ato de Cabala.
Existe um sinônimo de Sagacidade em nosso idioma, esperteza, mas prefiro o termo sagacidade à esperteza por que esta última ganhou conotações muito desagradáveis nos últimos anos, como se a Esperteza fosse a Sagacidade do Mal e a Sagacidade, a Esperteza do Bem.
De qualquer modo, a Sagacidade é uma virtude fundamental ao caminho na senda mística. Com ela percebemos as mentiras por trás de falsos discursos moralistas, as falhas de caráter daqueles que a muitos parecem verdadeiros santos, ou mesmo as nossas falhas diante do desafio de nos tornarmos dignos de sermos chamados Defensores da Tradição.
A Sagacidade pode ser usada, portanto, em dois sentidos: para fora e para dentro.
É como um olho revelador das coisas e personalidades que nos cercam, mas também ajuda muito na nossa própria autocrítica.
E é dentro de nós que se trava a verdadeira batalha.
Ela vai nos mostrar quando estamos acumulando informações sem valor para nossa evolução e quando certas outras informações são, sim, fundamentais para o nosso aperfeiçoamento esotérico.
A Batalha é entre o bom senso e a insensatez.
Assim, a erudição pode ou não nos ajudar nos nossos trabalhos místicos, desde que seja uma erudição sensata, e que possa, portanto, ser estrategicamente usada para nos ajudar e não para nos atrapalhar.
Acumular informações sem saber bem para que não é sensato. Demonstra que o indivíduo não é sagaz.
O Iniciado Sagaz usa apenas as informações que lhe ajudam e sabe desprezar um sem número de outras que, diante de seus objetivos, que devem ser claros, não tem nenhuma utilidade.
Isto de chama Objetividade ao lidar com a Subjetividade.
Também uma Virtude fundamental ao místico.
Ninguém coloca seu barco no oceano sem um curso ou uma carta náutica, um sextante ou, mais modernamente, uma conexão de satélite e um GPS.
Precisamos saber para onde queremos ir e como chegar lá, antes de começarmos a caminhada.
Erudição não é um peso nessas horas, faz parte da bagagem.
O problema portanto não é a erudição mas como a usamos.
Quem acha que acumular milhões de informações de modo anárquico levá-lo-á mais rapidamente à iluminação está redondamente enganado. Como é de domínio público, pode inclusive impedir a Iluminação desejada.
Se ao invés, um indivíduo de Espírito Sagaz e coração puro tiver intenção de alcançar a Iluminação, o Cálice Sagrado do Cavaleiro, necessitará de algumas informações para que possa chegar com segurança ao Castelo de Camelot.
E quando falo Espírito Sagaz refiro-me não a alguém intelectualmente inteligente, mas sim, intelectualizado ou não, dotado de uma conexão com o Altíssimo que permite que ele possa ver além das intenções e dos véus, antecipando movimentos e percebendo no silêncio uma série de Verdades.
A Sagacidade é uma forma de Intuição, parte por velocidade de pensamento, parte por conexão como o Todo Poderoso.
Existe espaço para todos dentro do Universo Místico: homens de renúncia, sadhus, da tradição indiana, e intelectuais sagazes e poderosos. Cada um no seu terreno de ação pode contribuir ao avanço do conhecimento do Ocultismo sem perder o rumo do maior objetivo do Místico.
Só que a renúncia, desde o início do século passado, se caracterizou como uma espécie de egoísmo. Concentrados em si mesmos, estes homens e mulheres abandonaram todas as coisas da vida comum para encontrar Deus, como se não pudessem encontrá-lo em suas casas, com suas famílias ou no seu trabalho.
E talvez não pudessem mesmo.
Em Yoga dizemos que são tipos de yoga diferentes. Um é o bhakti, o devoto; o outro é o gnana yogue, o yogue do conhecimento. De qualquer forma, todos nós devemos praticar a karma yoga, a Yoga da Ação no meio humano, em companhia de nossos irmãos de espécie, que como sempre precisaram, precisam hoje de nossa presença, nós místicos, que nos dizemos iniciados , e não de nossa ausência através de um caminho de isolamento e afastamento da sociedade.
Hoje, aqueles de nós que se recusarem a participar da sociedade e levar a boa nova dentro do próprio meio ambiente social, estarão se recusando a auxiliar aqueles que não tem esta iniciação e que, nós bem sabemos, precisam desesperadamente dela.
Não é mais hora de cavernas e de silêncio.
Nós, que temos a palavra, precisamos pronunciá-la, não mais omiti-la.
Eu não disse revelá-la, mas utilizá-la.
O Verbo é poder, pois no princípio, o Verbo estava com Deus, e ainda hoje , o Verbo é Deus.
Só que O Verbo não é apenas poder, mas poder para alguma coisa.
Peço a Deus que essa alguma coisa seja auxiliar o maior número de pessoas a encontrarem o caminho.
Para isso, precisaremos de palavras e ações, precisaremos de Sagacidade.
A cultura, neste caso, pode e deverá ser de extrema utilidade.
Simplicidade, eu sempre digo, é uma perigosa armadilha.
Que sejam simples os corações, mas complexas as nossas cabeças. Esta é a equação secreta da Sagacidade.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

OS MUITOS MARTINISMOS NA HISTÓRIA RECENTE DO MARTINISMO

Martinez de Pasqually

Por Mario Sales FRC.:, S.:I.:, M.:M.:

Não existe tal coisa como o Martinismo, mas Martinismos e em conjunto, não são, em nenhum momento, um outro tipo de rosacrucianismo.
Existem, isto sim, momentos rasacrucianos na história do martinismo moderno.
É de Stanislas de Guaita a seguinte frase:
“- Não queremos aqui te impor convicções dogmáticas. Pouco importa para nós que te consideres um materialista, espiritualista ou idealista; que professes fé no Cristianismo ou no Budismo; que te proclames um livre pensador ou que defendas até mesmo o ceticismo absoluto.Não atormentes teu coração agitando teu espírito com problemas que só podes resolver perante a tua consciência e no silêncio solene de tuas paixões aquietadas. Se te sentes evolvido pelo amor verdadeiro de teus irmãos e irmãs humanos, não procures nunca dissolver os laços de solidariedade que te unem ao reino hominal considerado em sua síntese...”
Senhores, este é um texto rosacruciano na boca de um co-fundador da Ordem Martinista restaurada por Papus, no final do século XIX.
Papus e Guaita eram espíritos enciclopédicos e absolutamente comprometidos com a preservação do conhecimento esotérico.
Louis Claude de Saint Martin
Eram homens de seu tempo, mas também de todos os tempos, estando fortemente ligados ao passado de onde provém a Tradição como ao futuro aonde a força deste trabalho místico se projetou e ainda se projeta.
Papus
Homens-Ponte, fundamentais a toda linha de cultura,
a todo esforço intelectual de preservação.
Só que o Martinismo Papusiano não cursa apenas com posturas tão rosacrucianas como a que está presente na frase “Pouco importa para nós que te consideres um materialista, espiritualista ou idealista; que professes fé no Cristianismo ou no Budismo; que te proclames um livre pensador ou que defendas até mesmo o ceticismo absoluto.”
Guaita
O Martinismo moderno herda também a tristeza e a falta de élan vital do Philosophe Inconu, sempre identificado com o que eu chamo de espiritualismo triste, olhos postos no céu e desviados da Terra e da vida em sociedade.
Ao contrário de Guaita e Papus, ambos seres cosmopolitas, (um de origem nobre e o intelectual mais poderosos daquele grupo de seres reunidos pelo destino em Paris, e o outro um dos homens que soube casar uma formação científica positivista com uma poderosa atividade mística), Saint Martin não estava a vontade no mundo e na vida, e embora maçon ativo até metade de sua existência participando ativamente das decisões quanto ao destino da Ordem dos Éllus Cohen após a morte de seu mestre, Martinez de Pasqualy, optou pelo caminho da discrição e do contato pessoa a pessoa , com um discurso de natureza altamente espiritualista, mas com pitadas de religiosismo católico expresso em seus inúmeros textos, como o culto à pobreza física e a chamada renúncia às coisas do mundo, categorias tão presentes no discurso da Santa Madre Igreja, por motivos aqui já amplamente discutidos.
Enquanto Stanislas de Guaita é um homem de posses, um nobre que tem um apartamento em Paris e um castelo no interior e que metade do ano passava na cidade caçando textos que pudesse usar em seu trabalho de restauração do conhecimento esotérico, Saint Martin concentra seus esforços nos textos de Jacob Boheme e Pasqually, e na sua própria intuição.
Saint Martin é um homem culto, mas aparentemente recluso, que tem forte formação bíblica, e que vê o mundo do ponto de vista de um jurista do século XVIII. Guaita e Papus são cosmopolitas, pesquisadores, interessados em tudo que cheire a misticismo, absolutamente avessos a quaisquer tipos de autoritarismos o de pensamentos moralistas. O carinho que ambos têm pela obra de Saint Martin refere-se ao seu teor místico e a sinceridade que eles depreendem de seus textos. Em momento nenhum lhes passa pela cabeça olhar aquele conterrâneo e dedicado sábio espiritualista como um ser humano que tem convicções e posturas muito diferentes das suas na maneira de entender as etapas necessárias a consecução da santidade, objetivo último de todos três. 
A Iluminação, como todos sabem, pode ser atingida por várias estradas. A do sofrimento e da renúncia não é a via rosacruciana, com certeza, pelo menos como exposta por H. Spencer Lewis, poucos anos depois da morte de Papus. Papus morre em 25 de outubro de 1916 e Spencer Lewis abre os trabalhos da AMORC no Ocidente em 1915, mas seu empreendimento ganharia força e desenvolvimento anos depois.
Lewis era um americano típico do ponto de vista do pragmatismo, e tinha valores morais retirados da tradição protestante, através de sua formação religiosa metodista. Recusava a doutrina da pobreza física e material como condição para a pureza e pregou um misticismo adequado a uma época socialmente diferenciada e encharcada de ciência como a nossa. Lançou as bases de um misticismo moderno e devemos a ele frases que destroem anos de repressão moralista com um enfoque absolutamente científico como aquela em que lembra que "se os instintos estão já em nós desde a infância e fazem parte de nossa natureza, e se a natureza e nós mesmos somos criações de Deus Todo Poderoso, então os instintos foram colocados em nós pelo próprio Deus e são tão sagrados quanto tudo que ele criou". Uma visão tão lúcida e positivista contrasta com qualquer pensamento espiritualista que se lamente pela vida material ou que considere, a exemplo da Igreja Católica, o corpo humano como fonte de pecado e perdição. 
É a instauração de um pensamento místico moderno a maior contribuição de Lewis, e de resto da AMORC, ao misticismo mundial. Este espírito, repito, já estava em Stanislas de Guaita e Papus, mas não o encontramos em Saint Martin, como de resto em outros místicos do passado.
Porque? Porque à época de Saint Martin, como de ordinário na de Jacob Boheme, a cultura intelectual era concentrada na Bíblia. Toda a sabedoria do mundo, fosse laica ou religiosa, passava pelo livro santo dos cristãos. 
Não era comum para os que não fossem seguidores do Islamismo estudar o Corão, e o Budismo era uma curiosidade exótica. 
O Vedanta indiano, da mesma maneira, não fazia parte dos estudos daqueles que queriam alcançar os mais altos níveis de espiritualidade. 
Insights místicos eram insights bíblicos. 
Discursos espiritualistas eram discurso bíblicos, citavam passagens bíblicas e comentavas trechos da Bíblia.
Era o século XVIII e o movimento enciclopedista de Voltaire e Diderot tinha apenas começado. O conhecimento laico engatinhava e ninguém em são consciência produzia conhecimento sem que houvesse um respaldo de algum texto da Bíblia. 
E a física de Newton? E a filosofia de Kant e depois Schopenhauer ou mesmo a de Spinoza, no século XVI? Ou Galileu e Kepler? 
Todas estas manifestações na ciência laica e na filosofia, já confrontavam alguns dogmas religiosos, de maneira racionalmente irrefutável. Porém anos, séculos ainda se passariam para que tais golpes decantassem no espírito da sociedade, e se tornassem categorias do senso comum. 
O amor ao conhecimento laico, livre das amarras da Igreja, prospera no século XIX e prepara o advento do positivismo de Augusto Conte, onde a ruptura definitiva entre conhecimento científico e da Igreja acontece. 
É neste momento que pessoas como Guaita e Papus se inserem. Cheios de ímpeto, penas inquietas, como eram chamados, escreviam e estudavam incansavelmente todos os textos sagrados e não apenas o texto bíblico, colocando o conhecimento absorvido em perspectiva e filtrando todas as informações através do esoterismo e da simbólica arcana.
Não estavam aprisionados ao simbolismo bíblico de Céu e Inferno, Paraíso e Não-Paraíso, nem viam Adão e Eva como personagens históricos, mas como partes da maravilhosa capacidade mítica e literária de Moisés, símbolos como tantos outros neste oceano de signos chamado esoterismo mundial. 
E havia também Blavatsky, não podemos esquecer. Com seu trabalho na Sociedade Teosófica, juntamente com Olcott, muito do esoterismo oriental mergulhou no Ocidente, criando uma outra área de atenção na espiritualidade deste lado do planeta e propondo, pela primeira vez, o reencontro destas duas culturas desde as cruzadas. O mundo deixara de ser um mundo uno e bíblico e tornara-se plural. Muitas eram as perspectivas e as leituras possíveis da espiritualidade e não mais apenas aquela baseada na simbologia judaica da Torah ou do Cristianismo primitivo dos apóstolos. Haviam, finalmente, outras possibilidades.
Tantas, que Papus sentiu necessidade, a meu ver estrategicamente errada, de criar uma Ordem Cristã que tivesse características essencialmente ocidentais, como se isto fosse possível, e como se o próprio Cristo não fosse um Oriental. 
Assim ele restaura o discurso do Filósofo Desconhecido e o resto é história. Troca iniciações com Chaboseau e tudo começa ou recomeça, na mesma França aonde o Martinismo e o Martinezismo tinham praticamente adormecido.
Se o País, entretanto, era o mesmo, as pessoas e o mundo haviam mudado. Os valores do século XIX são mais cosmopolitas e os discursos simbólicos são apenas simbólicos, e nada mais. Spencer Lewis já se preparava para iniciar seu trabalho dentro de poucos anos com o qual traria um frescor e uma modernidade ao pensamento místico Ocidental impressionantes, sem em nenhum momento desejar restringir a Tradição ou a Ordem Rosacruz apenas às contribuições do Ocidente. Sendo como era de formação protestante, conhecia muito bem a espiritualidade bíblica, mas tinha uma visão marcada pelo protestantismo europeu presente no Círculo de Tubingem, com Valentin Andrea, o mentor do texto da Fama Fraternitatis, círculos em que o pensamento de prosperidade material não se opunha a vontade de Deus e no qual a intelectualidade era considerada uma bênção e não uma ameaça a espiritualidade, como para a Igreja Católica. 
Com o rosacrucianismo moderno, o intelecto pode de novo respirar ares de liberdade dentro de um grupo espiritualista e muitos encontraram abrigo em suas fileiras ao fugir do dogma e da intolerância em suas respectivas religiões, sentindo-se a vontade para adorar a Deus sem prejuízo de sua dignidade material e mental. A Ordem Rosacruz não é e nunca foi uma religião e está muito mais identificada com o pensamento de Guaita, no texto que inicia este ensaio, do que com a vontade de Papus de fazer uma Ordem meramente Ocidental, em contrapartida à Escola Teosófica com sede em Madras, na Índia.
O estranho é que Papus, este homem cosmopolita, este médico brilhante e místico poderoso vá desencavar um discurso calcado no pensamento bíblico e que tantas tristes lembranças traz a mente dos rosacruzes, como as perseguições religiosas da Inquisição ou o massacre do Cátaros no Sul da França.
Não que o texto de Saint Martin esteja ligado a Igreja Católica, mas existem inflexões em suas posturas que nos lembram este tipo de Universo de valores. Talvez o mais marcante destes valores é trabalhar com categorias simbólicas como Queda , ou com a noção de prevaricação ou desobediência que gerou a Queda, noções que pressupõem, como já analisei aqui em outra oportunidade, a dedução de que a vida na Terra é um Castigo, que viver aqui é necessariamente ruim e faz parte de uma punição que recebemos por não termos nos comportando bem; ora, essas são colocações interessantes e satisfatórias para outras épocas e outros séculos, mas não satisfaz nenhum rosacruz que tenha lido Descartes, também rosacruz, e também francês, que já no século XVI dizia que não existia pecado, mas erro. A noção de que a vida material é uma punição, de que existimos como resultante de um crime, ou de que a existência inteira seja uma punição é insuportável para aqueles que se consideram seguidores do pensamento de Harvey Spencer Lewis. E se ele não percebeu isso, ao tentar preservar a Ordem Martinista, mantendo-a sob a proteção da AMORC, durante as reuniões da FUDOSI, foi porque este detalhe é muito sutil, embora pertinente. A Ordem Martinista é uma ordem Cristã, que pode em muito enriquecer a sensibilidade de quem a freqüenta, mas de forma alguma é um monolito filosófico doutrinário. 
Nela convivem várias tendências, desde a tendência teúrgica, hoje tímida na TOM, de Martinez de Pasqually, como a visão enciclopedista de Stanislas de Guaita, e alguns martinistas tenderão para este ou para aquele lado da balança. No entanto, é importante lembrar que a Tradicional Ordem Martinista, hoje, é uma Ordem dentro da Ordem Rosacruz AMORC, e por isso é formada apenas por Rosacruzes, pessoas que beberam da fonte do Spencerlewsismo e que se habituaram a pensar misticamente com leveza e pluralidade, livres das amarras dogmáticas das religiões e livre das imagens típicas dos discursos religiosos. Não é, portanto, estranho que muitos rosacruzes sintam profundo desconforto em ouvir termos como pecado contra Deus, ou desobediência e punição, ao participarem de fóruns martinistas, palavras presentes no trabalho de Martinez de Pasqually, um representante de um século em que estas categorias eram a única maneira de falar de espiritualismo. Igualmente, devemos lembrar que era pertinente e compreensível que Martinez de Pasqually pensasse e se expressasse assim já que era um judeu Marrano, depositário desta herança cultural judaica tão cara para tantos no Ocidente. 
Não importa que digamos que quando ele fala em Queda e pecado, coloca estes aspectos de modo simbólico. O Rosacruz moderno simplesmente não consegue conviver confortavelmente com tal discurso. 
Aqueles que o fazem, recorrem a seu passado religioso para assimilar este discurso, mas a época e a evolução da ciência ortodoxa e mística já não permitem o uso destas imagens.
Para Spencer Lewis, a vida material poderia e deveria ser o palco para a expressão plena dos potenciais divinos no homem. Para Saint Martin estamos aqui apenas porque pecamos e precisamos sair daqui, (morrendo, portanto), logo que possamos, para reencontrar a paz perdida.
O Rosacruz moderno tem paz, e busca a Paz Profunda, não morrendo, mas vivendo na sociedade , trabalhando, estudando e cuidando de sua vida, sem descuidar por causa disso de uma relação e uma conexão profunda com a Consciência Cósmica. 
Para Saint Martin, esta conexão não existe, foi rompida, como diz em um trecho de "Instruções aos Homens de Desejo":
“A prevaricação foi ter desobedecido à lei, ao preceito e mandamento que lhes haviam sido dados desde a emanação, e de ter concebido um pensamento contrário àquele do Eterno. Desde então, a comunicação que tinham com o Eterno foi rompida”
Tal conexão só poderá ser recuperada, segundo ele, pela reintegração ao Todo Poderoso, que foi perdida pelo pecado. 
O rosacruz, ao contrário desta posição, acha que o que existe é apenas um problema de consciência maior ou menor desta conexão, mas que a mesma não pode ser rompida nem nunca foi, senão a vida nem existiria, já que todo rosacruz sabe que vive todos os dias pela graça do Nous, a presença da energia divina em nós, base da nossa vida material e espiritual. 
O discurso de Saint Martin é muito rico e em certos momentos, inspirador, mas peca pelas suas características de época e pelo uso de categorias que não condizem com a visão moderna da espiritualidade. Talvez estes sejam os maiores problemas para certos rosacruzes que, incapazes de divisarem todos estes aspectos, abandonam o Martinismo ou se recusam a entrar por acharem que não estariam em ambiente rosacruciano. Eu mesmo senti este desconforto, mas uma coisa é importante lembrar: a TOM é feita por rosacruzes e independente destes detalhes aqui citados, seu ambiente é feito da mesma tolerância que se conhece dentro da AMORC. Só pela discussão, e isto os martinistas sabem fazer como ninguém, poderemos chegar ao inevitável consenso que virá com o tempo, quando esta convivência ainda recentes de pouco mais que 80 anos será aperfeiçoada, e observaremos uma progressiva rosacrucianização do discurso martinista.
Esta é minha impressão.

sábado, 24 de julho de 2010



"É difícil ser religioso quando certas pessoas nunca são incineradas por relâmpagos."

Bill Waterson, pela boca de seu personagem, Calvin

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O MÍSTICO E O COTIDIANO



Por Mario Sales, FRC,S.:I.:,M.:M.:






Os não iniciados e aqueles que começam na senda mística supõem , erroneamente, que os portais das escolas esotéricas são portais dimensionais e não marcos iniciais de uma longa caminhada.

Por isso crêem que basta cruzar estes portais, para que coisas estranhas e mágicas comecem a ocorrer em suas vidas.

Imaginam que, súbita e inexplicavelmente, depois de se associarem a escolas esotéricas , seus problemas, suas angústias, suas necessidades materiais desaparecerão ou sofrerão uma grande reviravolta para melhor.

A percepção posterior de que isto não ocorreu, causa em muitos desilusão, frustração, desalento. E assim como entraram, saem pela mesma porta, antes de alguns meses de caminhada.

Triste da Ordem Esotérica que se esforçar para mantê-los em seus quadros.

Estas pessoas não podem e não devem permanecer dentro de grupos diferenciados e místicos, principalmente porque lhes falta discernimento e equilíbrio.

Falta-lhes, em uma palavra, maturidade.

E sem ela o que nos guia é a providência divina, ou laços de outras encarnações, ou seja, vínculos para além do humano e dos comuns dos mortais.

Aqueles que não possuem tais vínculos, afastar-se-ão, e devem se afastar, para que não tragam mais problemas do que as bênçãos que poderiam receber desta afiliação.

Até entre iniciados reina este tipo de equívoco, de que a magia isenta as pessoas da necessidade de relacionamentos, de se esforçar para aperfeiçoar-se como ser social, como pai, marido, esposa, mãe , profissional.

É imprescindível que o místico seja um indivíduo materialmente razoavelmente bem sucedido, para que se possa falar de uma prática mística e esotérica também razoavelmente bem resolvida.

Não há véus que separem mais o profano do sagrado e , na verdade, para o místico consciente, tudo é sagrado.

Só que com o tempo ele começa a dar mais valor às coisas que achava deveria deixar para trás ao cruzar os umbrais de Ordens Secretas. Sua família, seus filhos, seu trabalho, ganham uma dimensão tão importante quanto sua atividade templária ou suas orações solitárias e meditações.

Até seus animais de estimação têm tanta importância quanto seu sucesso pessoal em tornar-se um ser humano melhor, já que “para o sábio humilde não existe diferença entre o brâmane educado, o elefante, a vaca, o cão e o comedor de cachorro”.

Foi-se o tempo em que os chamados homens e mulheres santas tinham o hábito de vestirem hábitos e batinas. Hoje santos e aqueles que ainda não são caminham pelas ruas com seus ternos, ou roupas mais simples, disfarçados na multidão que tudo encobre e oculta.

Seus problemas são os problemas de qualquer ser huamno. O que existe de diferente em um iniciado é a atitude interior com a qual encara os seus desafios cotidianos prosaicas e comuns e não como vive a margem dêles.

Este tempo de omissão terminou.

Todos estão convocados.

E a cada soldado, de acordo com sua patente, sua responsabilidade.

À luta então.Ou à diversão, não importa.

À vida, todos. O planeta inteiro é o nosso convento.




















quarta-feira, 21 de julho de 2010

Espiritualidade, Materialismo e Espiritualismo Materialista

Por Mario Sales, FRC,S.:I.:,M.:M.:






Chama atenção a criatividade de nossa época e se formos justos, de todas as épocas.


As pessoas menos críticas, menos dadas a análise do sociopsicológico humano, supõem que os seres dividem-se em crentes e ateus. E que os ateus são, por definição, materialistas, enquanto que os crentes , em complemento, seriam espiritualistas.


Ora, ao longo dos séculos não tem sido bem este quadro simples que temos divisado. Desde os tempos em que haviam uma profusão de deuses como no panteão grego e os templos disputavam seguidores com técnicas de hidráulica as quais provocavam efeitos especiais com portas que pareciam abrir-se sozinhas e estátuas que desciam do teto como que flutuando sobre a cabeça dos devotos com potencial para serem convertidos, o negócio, digamos assim, das religiões, nunca foi um terreno essencialmente puro.


A obrigação moral implantada pelos discursos canônicos e no púlpito das igrejas da Idade média, que convencia a todos que o contato com Deus não prescindia de um intermediário, e que este intermediário era um padre ou outro membro da Igreja, e que tal intermediário deveria ser tratado com regalia , o que obrigava moralmente pessoas miseráveis a dividirem com os párocos do convento parte de seu parco sustento, na intenção de agradar a Deus, agradando seus representantes na Terra, deixa bem claro que a fé muitas vezes foi instrumento de sobrevivência para uns (poucos) enquanto significava objeto de devoção para outros (muitos).


Não, a questão da crença ou do ateísmo, ou da oposição clássica entre espiritualistas e materialistas , se pensarmos com mais cuidado, pode e deve ser enriquecida com uma terceira categoria: a dos Espiritualistas Materialistas.


Este estranho mais compreensível grupo compõe-se de pessoas absolutamente inescrupulosas, que dedicam toda a sua infeliz existência à ludibriar a boa fé de incautos, inocentes e outros simples de espírito, que enchem as cidades e que aumentam a cada dia, os quais não conseguem dar conta , psicológica e fisicamente dos muitos desafios da vida moderna, ou por serem resultado de processos sociais e familiares, para dizer o mínimo, difíceis, ou por que não receberam o benefício da cultura e do discernimento da educação ou a bênção da sagacidade do Altíssimo.


Estes são os modernos membros da conhecida “massa de manobra” conhecida de analistas políticos, mas presente também dentro do fenômeno religioso.


Sacerdotes ou religiosos do grupo dos Espiritualistas Materialistas, no entanto, não devem receber toda a culpa por seu sucesso. Eles apenas lidam com um material riquíssimo e fértil: os filhos da Superstição.


A maioria das pessoas que buscam o espiritualismo, buscam, também, soluções.


Problemas, na vida cotidiana, são infinitos. Ter habilidade, ser sagaz, faz com que estes problemas transformem-se em desafios estimulantes. No entanto, para quem não tem o dom da sagacidade, conquistado ou dado por Deus, os mesmos problemas são fonte de muito sofrimento e desolação. Tanta que geram a busca por soluções definitivas e súbitas, descoladas da realidade, baseadas na intervenção de forças mágicas, e de forças invisíveis que só o supersticioso crê existirem. Não falo aqui de assuntos místicos e esotéricos.


Falo é de fantasias, de ilusões , que são alimentadas pelo desespero e pela falta de perspectiva de solução a curto prazo.


Não fosse essa idéia peculiar de muitos de que a relação com o Todo Poderoso, ou com seus santos, baseia-se para ser proveitosa num escambo de mercadorias, tipo sacrifícios em troca de bênçãos, orações em troca de riqueza e prosperidade, sem que o interessado tenha que fazer qualquer coisa além de rezar, dá a base para a ação de um grupo sempre criativo de charlatães da fé que sabem muito bem como se utilizar deste conhecimento acerca da natureza humana.


O aspecto espiritualista-materialista nos devotos permite o surgimento de sacerdotes proporcionais a tal perfil.


O resto é história.


Relacionar-se com Deus esperando sempre alguma coisa material de Deus (e diga-se de passagem, sem esperar nada de nós, também, por tabela) é a melhor maneira de propiciar a multiplicação de igrejas com nomes grandiloqüentes, Mundiais, Universais, nunca locais, as quais não são mais do que o atendimento de uma demanda social específica.


Os seres humanos são assim.


Paciência.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

TRANSDISCIPLINARIEDADE EM EMAILS

OBS: Para análise dos três Rosacruzes que lêem este blog já que a URCI agora se dedica a este assunto de forma apaixonada, relegando a segundo plano a recuperação do caráter positivista que tanta dignidade trouxe a nossa Amada Ordem e que hoje anda meio esquecido.






De: Tânia Regina Toledo

Para: mario sales ; mariosergio47@hotmail.com

Enviadas: Quarta-feira, 16 de Junho de 2010 1:08:48

Assunto: Compartilhamentos...


Olá, querido irmão !

Envio um link interessante, que descobri em minhas navegações, de um site que tem a intenção da trocar experiências pautadas no conceito da Transdisciplinaridade.

Há bastante material de texto, projetos e discussões a respeito do texto :

http://www.redebrasileiradetransdisciplinaridade.net/mod/resource/view.php?id=19

Aproveito para reiterar o pedido de que envie-me seu texto, apresentado no Encontro de São José, para que eu possa debruçar-me, analisar, meditar e tentar alcançar...Rsrsrsrr

Abração.

Tânia Toledo

PS.: Sem querer abusar, e já abusando: lembre-se da minha Tabela Periódica !!!

 
(veja, se ainda não viu, o novo visual da tabela, proposto por Philip Stewart : http://www.iejusa.org.br/cienciaetecnologia/imagens/tabela18.gif )






De: mario

Para: taniartoledo...

Enviadas: Quarta-feira, 16 de Junho de 2010 8:39:21

Assunto: Res: Enc: Compartilhamentos...


Eu li um texto daqueles link's que vc me enviou, com o título Programa de Aprendizagem: Uma experiência pedagógica nos cursos de licenciatura, da Unisinos-Brasil. Veja o que eu falei sobre a necessidade de clareza quanto aos fundamentos usados no estudo das possibilidades operacionais da Transdisciplinariedade.Ao final do texto, o que se percebe? Os autores chamaram de abordagem nova simplesmente a aplicação de uma técnica epistemológica que tem 100 anos: a Fenomenologia de Husserl, importante mecanismo de interpretação de textos e culturas.

Isto invalida os esforços dos proponentes daquele trabalho? Não, mas indica que antes de se lançar a experimentações legítimas, melhor seria que fossem mais fundamentadas, com pesquisa bibliográfica mais ampla, apenas para evitar o mais simples dos erros científicos: a repetição de investigações que se superpõem.O progresso não é linear em seu conjunto mas em cada raio da esfera do conhecimento que se expande em todas as direções precisamos ter uma mínima racionalidade para que as etapas sejam seguidas e possamos acumular dados progressivamente mais complexos.Mesmo que esse trajeto não seja feito linearmente, mas com saltos entre uma e outra linha de trabalho, há que haver pertinência entre as linhas frequentadas para que os efeitos acumulativos de conhecimento sejam úteis e produtivos.

Transdisciplinariedade não é conhecimento lateral. E dinâmica de interação entre linhas diferentes da mesma expansão mas sempre para a frente e para longe do centro da esfera.Quando eu faço um esforço sem fundamentação, sem uma revisão bibliográfica anterior, o que acontece é a repetição de esforços já feitos, o chamado Retrabalho, onde um esforço genuíno apenas patina. Esta é minha preocupação.

Existe muita coisa interessante que facilita a busca de métodos transdisciplinares que precisam ser conhecidos antes de buscar esta mesma transdisciplinariedade. A transdisciplinariedade não é uma idéia a parte, mas o diálogo entre todas as idéias e campos.Este diálogo não começou agora, hoje, quando demos um consenso a ele, da mesma maneira que um índio de uma tribo qualquer não é batizado definitivamente antes que ele esteja adulto, mas recebe um nome provisório enquanto cresce.Só depois de adulto, conhecendo seu caráter, a tribo lhe outorga seu Nome Verdadeiro.

Assim, na minha opinião , a Transdisciplinariedade já era uma praxis antiga, só que não Nominada, Batizada.

Batizá-la com este nome não a torna manifesta, mas apenas constata sua existência. Desta forma, para sermos mais eficazes em nosso esforço de organização e compreensão deste fenômeno, precisamos resgatar a história desta prática antes sem nome e hoje conhecida pelo apelido de transdisciplinariedade.






De: Tânia Regina Toledo

Data: 16/06/2010 13:15:55

Para: mario

Assunto: Res: Res:Enc: Compartilhamentos...


Olá, Frater.
Bom dia!

Grata pela resposta. Assim podemos estabelecer uma linha de diálogo, que no meu entender será muito enriquecedora, caso mantenha-se viva e pulsante.

Digo isto porque este exercício é muito útil a mim, para alicerçar ( ou abalar o alicerce estabelecido...Rsrsrs) e desenvolver linhas de racicínio lógico e argumentativo, com foco (minha principal dificuldade), e assim construir conhecimentos fundamentados em princípios lógicos com possibilidade de produtos tangíveis(mas também intangíveis...), embora não dogmáticos ou definitivos, com valor não só teórico: que possam ser aplicados à prática, utilizados construtivamente.

Apenas atento e entendo que o surgimento de lógicas inovadoras, que trazem quebras de paradigmas, normalmente causam polêmica e desconforto, e penso que este último ser uma de suas preocupações, pois trata-se de uma nova lógica.

Concordo em gênero, número e grau com todos os seus argumentos. Mas penso que, para que o conhecimento se construa numa perspectiva piagetiana mesmo, que nos é mais familiar, precisa ocorrer paulatinamente, por etapas, modificando estruturas já existentes. A conversa precisa estar na roda, e para isto é preciso que tenha um nome, uma fundamentação, concordo plenamente. Porém, acho que já tem um nome, e até um apelindo (TransD), mas ainda não está na roda. Ainda não se fala disto e é isso que precisa acontecer, virar notícia, ser publicizado, para então começar a ser discutido. Este é um dos princípios da TransD: levar em conta a contradição e a inclusão do terceiro termo de uma proposição. Ora, este princípio nos é ensinado na Ordem desde as primeiras lições, vindo em concordância ao princípio do triângulo. Lembra-me uma fala da Inciação à Loja: "Não podem ambos estar errados?", levando inevitavelmente a uma terceira proposição possível.
Evidentemente, isto não exclui sua preocupação quanto à dificuldade que possa estabelecer-se, pois em geral, poucos são os que dispõem-se a sentir os alicerces aparentemente seguros de seu conhecimento serem abalados, aceitando novas estruturas em construção.

Concordo também que no site que lhe enviei o link, há estudos ainda frágeis conceitualmente, fracos teoricamente. Também avaliei assim, num dos projetos que li. Isto faz parte do processo de construção e ocorre mesmo em projetos baseados em linhas teóricas já consagradas.

Em termos de teoria, parece-me, que a criança (já não tão criança, dado que surge contemporânea aos estudos Piagentianos, com quase quatro décadas de estudo), já vive entre nós, já tem nome, apelido e estudos sérios e consistentes. Falta-nos olhar e reconhecê-la.

Penso ser esta a proposta da URCI, corroborada pelo nosso Grande Mestre.

Vamos olhar pra ela juntos, que assim fica mais fácil, encontrando, na Babel, formas alternativas de comunicação, humanos e criativos que somos, sem medo dos riscos de fazer emergir o novo aqui e agora. Não foi assim com o Frater Spencer Lewis, inegavelmente um visionário ?

Abração.


Tânia




Querida Sóror
Vc dizia :

"Apenas atento e entendo que o surgimento de lógicas inovadoras, que trazem quebras de paradigmas, normalmente causam polêmica e desconforto, e penso que este último ser uma de suas preocupações, pois trata-se de uma nova lógica."

Então, quanto as minhas preocupações, não é nem uma dessas, e estas muito menos são as mais importantes. O desconforto que uma estética diferente possa provocar faz parte de seu apelo artístico assim como o desconforto de um pensamento original faz parte de seu charme intelectual. Eu até gosto. Agora, há uma diferença entre Caos produtivo, Desconforto Instigante, e o que se chama "intelectualização do nada".

O assunto é interessante, mas é um assunto técnico, não ideológico. Para mim ele não tem apelo emocional.Acredito que é um decorrência natural e esperada da expansão do conhecimento humano.Por isso, deve ser analisado com carinho e competência, calmamente, construindo pontes sólidas e não rudimentares, ou mesmo pseudo pontes que se transformam em vias paralelas à margem que queríamos atingir.

Quando falo que é um assunto técnico, quero dizer que , no meu entender, criar ferramentas intelectuais é mais significativo do que especular sobre a ideologia por trás de sua construção, de forma quase sempre desordenada. E quando falo em ferramentas, refiro-me a ferramentas de linguagem.

Tania, sinceramente, não acho que ninguém queira pegar no trabalho pesado da TransD. E este trabalho silencioso, monótono até, é o trabalho de construir imagens comuns, e antes disso, de desfazer o ruído do pedantismo.

Eu explico.Tudo está contido na equação:
TransD = 1°) Lg A a * Ddt = Im-Id e 2°) Im-Id * Ddt = DesTrad Lg A b


Eu explico: Vc como eu já deve ter ouvido exposições anti-didáticas que ocultavam sua mediocridade num palavreado confuso e muitas vezes específico de uma área. Libertada destes termos de jargão, o ruído do pedantismo, a Idéia volta a ser Idéia. Idéia pura, límpida, descritível. Sim , descritível; porque quando falei que as ferramentas são ferramentas de linguagem, não quis dizer criar um vocabulário próprio da Trans D , o qual se transformaria em mais um conjunto de termos herméticos e inacessíveis ao comum dos mortais, ou seja, outro jargão.

Na minha cabeça a fórmula da Trans D é :

Linguagem da Area a (Lg A a) x didática(Ddt) = Imagem da Idéia(Im-Id). Em uma segunda passagem , Im-Id x Ddt = Descrição Traduzida (DesTrad) para Linguagem da Area b (Lg A b).

 
Portanto um conceito de A, uma imagem que o represente, e finalmente uma descrição que explique esta imagem para B. Isto é Trans D. O resto é só ruído do pedantismo.

Paz Profunda

M


quarta-feira, 14 de julho de 2010

A CABALA DE CADA UM

por Mario Sales, FRC,M.:M.: e S.:I.:



O Sepher Zohar diz a certa altura:


“Já que a forma do Homem compreende tudo que está nos céus em cima e na terra embaixo, Deus a escolheu como sua própria forma.”


Podemos, portanto, Vê-Lo, vendo-nos, observando-nos. Nossas certezas, são Suas certezas. Nossas dúvidas , Suas dúvidas.


São afirmações antropocêntricas, confirmadas por este trecho, na mesma página, logo abaixo:


“O Homem é o ponto central ao redor do qual gira toda a Criação.”


Ou por outra, tudo começa e termina em cada um de nós. É isto que o texto do Zohar e da Cabala, por decorrência , diz.


Que conclusões podemos tirar destas afirmações? A primeira , na minha opinião, é que existem tantos universos e tantas criações quantos são os seres humanos na face da Terra.


Esta afirmação que aparentemente beira a insanidade pela enorme subjetividade que possui, não é descabida para os místicos. Olhos no mundo, os místicos sabem, cada homem interage com este mundo de um modo diferente, reage de um modo diferente, e cria a sua volta uma rede de relações característica de sua peculiar maneira de pensar o mundo.


Mais: ele cria um mundo para si, com seu pensamentos, com sua imaginação, antes de com seus atos.


Nem a própria Cabala escapa deste fenômeno. Embora aparentemente seja a mesma tradição para todos que a estudam, de forma alguma ela ecoa dentro de espíritos diferentes da mesma maneira.


Existem aqueles que olharão para a Tradição que ela encerra com ânsias de poder; outros, com projetos espirituais; existirão ainda aqueles que entrarão em seus domínios em busca da manifestação teúrgica, certos de que através dos anjos poderão superar suas próprias limitações espirituais.


E assim a Cabala será diferente para cada um. Nenhum poderá no entanto percebê-la antes de se livrar de suas expectativas pessoais a respeito desta sagrada tradição já que xícaras cheias não podem receber mais chá.


Cabala quer dizer “aquilo que se recebeu” no sentido de Tradição.


Só recebe quem permite que o conhecimento lhe seja entregue, que tem as mãos nuas quando se dirige a dádiva.


Aquele que já tem alguma coisa nas mãos, não pode segurar mais nada.


É preciso se livrar de tudo que possa atrapalhar antes de receber alguma coisa, seja a Cabala ou outra coisa qualquer.


Toda dádiva é divina, como lembra João Batista: “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.”


Mesmo as dádivas sabidamente divinas devem ser aceitas para serem recebidas. A aceitação, a disponibilidade psicológica diante da dádiva, é talvez a mais importante das condições para que a bênção se consume.


A bênção de Binah depende de Hochmah. Só uma e outra combinadas levam a Da’at, o conhecimento para além da vida material, inacessível aos que ainda estão na carne, segundo dizem.


Cada um, portanto, compreenderá de acordo com sua sabedoria. Cada um conhecerá de acordo com a combinação de sua sabedoria, compreensão e misericórdia.


A cada pessoa será dado o mundo que ela puder receber e perceber.


Que pode ser mais justo e adequado?


O que mais fiel ao espírito de Geburah, a Justiça?


O que acreditamos ser, somos, O que acreditamos que o mundo é, ele será.


Compreendamos este poder, e o resto nos será acrescentado. Por que o “...homem é a síntese de todos os Nomes Santos. No homem estão contidos todos os mundos...” diz o Zohar.


Que o Inefável nos abençoe com o discernimento.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

OS ROSACRUZES MODERNOS E O MEDO DE PENSAR








por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



Estranho ser membro de uma Ordem milenar, constituída por alguns dos pensadores mais fundamentais da história do conhecimento, e ter medo de pensar.


Medo, sim.


Refletir, como o nome diz, é lançar luzes que retornam sobre nós, imagens em um espelho, que no caso da reflexão intelectual, é o espelho da opinião alheia, que acolhe nossa opinião e a devolve encharcada de compreensões e interpretações pessoais, prenha de idéias que, antes de idéias, são reações às provocações do raio de luz inicial, ou seja, reflexos.
Rosacruzes, tradicionalmente, são pensadores e pesquisadores místicos, cientistas e filósofos, no mínimo livres pensadores, espíritos inquietos e produtivos, que contribuíram e contribuem, cada um a seu modo, para o engrandecimento do conhecimento.


Existem exemplos históricos: Francis Bacon, pai da metodologia científica; Descartes, pai do ceticismo metodológico; Leibnitz, criador do conceito de Mônada que expressa da seguinte forma: “Mônadas são centros de forças; substância é força, enquanto o espaço, extensão e movimento são meros fenômenos”; Dalton, químico, metereologista e físico inglês que fez um extenso trabalho sobre a teoria atômica; Newton, pai da física Mecânica e do cálculo , juntamente com Leibnitz.


A única peculiaridade que difere o cientista e o filósofo rosacruz daquele que não pertence ao meio místico é o pressuposto divino.Todos os rosacruzes são pensadores e cientistas estão em consenso sobre a existência de uma Inteligência que tudo comanda e organiza, segundo Sua vontade transcendente. Este é um pressuposto íntimo de qualquer místico, seja ele um cientista, um filósofo, ou não. Todos pensamos a partir de pressupostos íntimos. Identificá-los esclarece nosso caráter e nossas tendências.


Estes pressupostos são muito importantes e nos motivam contra adversários teóricos e faz com que defendamos com paixão nossas idéias e crenças. Ainda hoje é assim. E existe espaço para expressão de todo tipo de idéias na maioria dos países, não em todos, infelizmente.
No passado , no entanto, não era assim. Na maioria dos países, dar sua livre opinião ou defender um determinado ponto de vista científico trazia ao seu autor o risco de perder a sua liberdade ou a própria vida, como aconteceu com Giordano Bruno, entre outros.
Quando Giordano Bruno pensava sobre o Universo, sabia que devia ter medo.
Eram tempos sombrios.
Aliás seus temores se confirmaram, e morreu na fogueira da Inquisição por causa de suas opiniões e posições acerca do Infinito e dos Mundos.


Era freqüente que os homens tivessem receio de suas idéias atingirem a susceptibilidade de autoridades eclesiásticas e políticas, e alguns viam-se obrigados a desaparecer nas trevas, ocultar-se , para preservar sua própria vida.
Como eu disse , eram tempos sombrios.
Hoje, em 2010, os místicos ocidentais estão mais seguros quanto a sua integridade física. Talvez o problema atual seja exatamente o contrário: ninguém mais se preocupa com o que os místicos têm a dizer.


Seu discurso está oculto pelo alarido das vozes profanas e das religiões fundamentalistas, que não falam alto, gritam mesmo nos ouvidos da humanidade.


Hoje estamos ocultos pelo barulho da mediocridade. Se antes o perigo era que nossos segredos fossem profanados, hoje precisamos temer a apatia e o desinteresse que avança pela sociedade, exatamente como Nietzsche previu uma centena de anos atrás.
Dentro deste cenário, é no mínimo estranho que entre rosacruzes, homens e mulheres herdeiros como foi visto, de uma tradição de pensadores e cientistas, educadores e mestres das artes, encontremos muitos deles com receio em expressar suas opiniões e idéias de forma livre e entusiasmada, no ambiente de sua própria Ordem, a Ordem Rosacruz qual mais de uma vez os estimulou a pensar de forma livre com o lema “A mais completa liberdade na mais perfeita tolerância”.
Não é incomum eu escutar de frateres sua preocupação quanto a idéias originais e se preocuparem se estas idéias serão aceitas pela área administrativa da Ordem, como se pensar fosse uma espécie de sacrilégio e estivéssemos mergulhados em um ambiente religioso e dogmático que não permitisse discussão e análise.
Talvez porque estudantes rosacruzes são provenientes de outras experiências sociais, acreditem que as propostas da Ordem Rosacruz quanto à liberdade sejam apenas retóricas já que não acreditam ser possível tamanha liberdade de opinião sem conseqüências nefastas. Talvez o demônio da apatia tenha invadido nossas trincheiras e todos nós estejamos ameaçados pelo niilismo espiritual, a tal ponto que , ao contemplarmos uma simples reflexão livre suponhamos estar diante de um ato de coragem.
Talvez confundam a necessidade de bom senso e equilíbrio necessária a convivência em qualquer meio heterogêneo, com restrições à liberdade de opinião ou de comportamento.
Convenhamos, não somos livres para sermos grosseiros, não somos livres para atacarmos à Ordem que juramos defender, não somos livres para pregar em nosso meio o preconceito ou o fanatismo religioso, em suma , não somos livres para ser tolerantes com a intolerância; mas somos livres para opinar e principalmente para pensar, isto somos, com certeza. Não é preciso coragem para sermos francos dentro de um espírito fraterno.
Coragem tinham nossos antepassados que pertenceram à Ordem e fugiam da morte certa, escondendo-se em códigos e gestos secretos, fechando suas reuniões e colocando nas portas sentinelas armados que garantissem a segurança daqueles que ali se reuniam para orar e louvar o Deus de seus corações.
Eram, como eu disse , tempos sombrios.Pelo menos no passado, a sombra estava fora de nós. Talvez a ameaça fosse tão material e objetiva que havia clareza sobre aonde estava o mal e aonde estava o bem.
Hoje o confronto se interiorizou, e as sombras combatem conosco dentro de nós mesmos e nos ameaçam tirando nossa capacidade de reflexão, tornando-nos burocráticos, acovardados mesmo, descrentes de qualquer ambiente que se diga fraterno; mais: que nem todas as nossas opiniões devem ser expressas pois seremos vítimas de alguma punição por expressarmos pensamentos heterodoxos em relação a sabe Deus quais dogmas que supomos em nossa fantasia não podermos contrariar.
A Ordem não é uma religião, mas uma Ordem Esotérica, e o nome pressupõe uma Hierarquia, uma organização que administre a Instituição que preserva a poderosa Tradição Rosacruz, nada no entanto parecido com a Santa Sé, ou com o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.
Não há pelotões de fuzilamento à nossa espera se cometermos algum erro de avaliação ou se dissermos ou publicarmos quaisquer impropriedades de pensamento, desde que motivada por esta condição da qual nenhum de nós pode escapar: nossa falibilidade humana, aliás tão bem defendida pelo nosso Frater Descartes ao dizer que “ não existe o pecado, mas o erro.”
Seres humanos erram e tem o Sagrado direito de errar.


O que juramos ao entrarmos para a Ordem é preservá-la dos seus detratores, é ter respeito e cordialidade por nossos oficiais e líderes, servir nossos irmãos com dedicação, estudarmos tudo o que pudermos sobre a Tradição Esotérica nesta e em todas as nossas outras encarnações.
Juramos também silêncio sobre o que for para ser silenciado. Mas em nenhum momento a Ordem nos exigiu mudez, muito menos passividade intelectual ou apatia emocional.
Em tudo que fazemos na vida, e agora falo como médico, é saudável que haja algum grau de paixão.
E em ambiente rosacruz, nenhum membro desta nobre Ordem deve recear usar este dom divino do raciocínio para elaborar suas opiniões e reflexões.
Aliás, livres pensadores é tudo que desejamos dentro de nossas fileiras.
Homens e mulheres livres dos grilhões da mente, livres da prisão do espírito, do medo que tinha o servo de seu senhor, o crente de seu bispo, o súdito de seu rei.


Somos, nós , os membros da Ordem Rosacruz, homens e mulheres livres em espírito, não apenas em corpo, e devemos crer e praticar esta liberdade de forma intransigente, embora sempre em atitude de fraternidade e cordialidade.


Nossas obrigações com a Ordem incluem esta liberdade de pensamento, este conforto espiritual e esta segurança psicológica que, esperamos, todos os nossos membros desfrutem enquanto entre nós.


Pode ser que encontremos, eventualmente, em nossos corpos afiliados, frateres e sorores que não acreditem nisto, que não sintam esta bênção íntima do Altíssimo que nos liberta da mediocridade espiritual; que creiam que disciplina é escravidão, que o convívio com a autoridade administrativa impõe não a cordialidade, mas o medo.


Nossa obrigação como Artesãos por antiguidade ou por designação kármica, é demonstrar que isto é um erro; devemos sempre alertá-los que aquele ambiente de trevas e medo que sempre nos perseguiu, não pode penetrar nossos templos a não ser pelas nossas próprias mãos e que devemos , todos juntos, defender nossa Amada Ordem da apatia e da mediocridade acovardada que, de forma insidiosa, se infiltra entre nós se não permanecermos vigilantes. Esta é uma batalha sem quartel, a verdadeira batalha dos místicos, travada no interior de cada um, todos os dias, em todas as horas. As armas dos místicos são as três primeiras sephiroth Keter, Chokmah e Binah, ou seja Deus, a Sabedoria e o Conhecimento. Este é o escudo místico triangular do Rosacruz, que o defende de mergulhar sua cabeça como o Avestruz, na terra, e que lhe garante o direito de refletir de forma franca e libertar-se do medo de pensar.

sábado, 3 de julho de 2010

Epístola Preambular




Para o Ilustrísssimo Senhor Michel de Castelnau

Senhor de Mauvissière, Concressaut e Joinville,Cavaleiro da Ordem do Rei Cristianísssimo, Conselheiro de seu Canselho Privado, Capitão de Cinquenta Homens de Armas, e Embaixador junto a Sereníssima Rainha da Inglaterra


"Se eu, ilustríssimo Cavaleiro, manejasse o arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse um fato, ninguém faria caso de mim, raros me observariam, poucos me censurariam, e facilmente poderia agradar a todos. Mas, por eu ser delineador do campo da natureza, atento ao alimento da alma, ansioso da cultura do espírito e estudioso da actividade do intelecto, eis que me ameaça quem se sente visado, me assalta quem se vê observado, me morde quem é atingido, me devora quem se sente descoberto. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos. Se quiserdes saber porque isto acontece, digo-vos que a razão é que tudo me desagrada, que detesto o vulgo, a multidão não me contenta, e só uma coisa me fascina: aquela, em virtude da qual me sinto livre em sujeição, contente em pena, rico na indigência e vivo na morte; em virtude da qual não invejo aqueles que são servos na liberdade, que sentem pena no prazer, são pobres na riqueza e mortos em vida, pois que têm no próprio corpo a cadeia que os acorrenta, no espírito o inferno que os oprime, na alma o error que os adoenta, na mente o letargo que os mata, não havendo magnanimidade que os redima, nem longanimidade que os eleve, nem esplendor que os abrilhante, nem ciência que os avive. Daí, sucede que não arredo o pé do árduo caminho, por cansado; nem retiro as mãos da obra que se me apresenta, por indolente; nem qual desesperado, viro as costas ao inimigo que se me opõe, nem como deslumbrado, desvio os olhos do divino objeto: no entanto, sinto-me geralmente reputado a um sofista, que mais procura parecer subtil do que ser verídico; um ambicioso, que mais se esforça por suscitar nova e falsa seita do que por consolidar a antiga e verdadeira; um trapaceiro que procura o resplendor da glória impingindo as trevas dos erros; um espírito inquieto que subverte o edifício da boa disciplina.
Oxalá, Senhor, que os santos numes afastem de mim todos aqueles que injustamente me odeiam; oxalá que me seja sempre propício o meu Deus; oxalá que me sejam favoráveis todos os governantes do nosso mundo; oxalá que os astros me tratem tal como à semente, de maneira que apareça no mundo algum fruto útil e glorioso do meu labor, acordando o espírito e abrindo o sentimento àqueles que não têm luz e intelecto; pois, em verdade, eu não me entrego a fantasias, e se erro, julgo não errar intencionalmente; falando e escrevendo, não disputo por amor da vitória em si mesma (pois que todas as reputações e vitórias considero inimigas de Deus, abjectas e sem sombra de honra, se não assentarem na verdade), mas por amor da verdadeira sapiência e fervor da verdadeira especulação me afadigo, me apoquento, me atormento. É isto que irão comprovar os argumentos de demonstração, baseados em raciocínios válidos que procedem de um juízo recto, informado por imagens não falsas, que, como verdadeiras embaixadoras, àqueles que as procuram, patentes àqueles que as miram, claras para todo aquele que as aprende, certas para todo aquele que as compreende. Apresento-vos agora a minha especulação acerca do infinito, do universo e dos mundos inumeráveis."

Giordano Bruno

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A IMAGEM E A IDÉIA

por Mario Sales, FRC, S.:I.:, M.:M.:



Toda idéia anseia por uma imagem que a expresse.

São como o Fogo e o Calor.

Idéias sem imagens são pífias em força, vazias de poder, reféns de raciocínios aquém da imaginação.

Mesmo a Música e a Matemática devem eventualmente encontrar as suas expressões imagísticas, seja na arte da Ópera, no Balé ou nos Filmes; seja nas tentativas quase frustras de visualizar as formas geométricas ou espaciais resultantes de uma equação.

Idéias precisam de Imagens como a Vida precisa imensamente da Imaginação. Não vivemos a Realidade como supomos, mas deslizamos em meio as crenças que nos formam, conduzem e circundam, em choque ou cumplicidade constante com outras crenças daqueles que conosco coexistem na sociedade.

A própria existência, em si, depende de uma Imagem a guiá-la: e os fatos , melhor dizendo, os “fatos”, ah, os “fatos”, estes submetem-se às concepções que dominam as mentes daqueles que os interpretam, e que afirmam testemunhá-los.

Convicções muito fortes constituem-se em aparente solidez, desmontável pelas concepções científicas da Mecânica Quântica, ou por filósofos atentos ao aspecto mais importante da vida humana: seu caráter eminentemente psicológico.

A mente é poderosa, para o bem e para o mal, e a Imagem é o único arreio que este animal bravio permite que lhe seja colocado.

Quanto mais clara a Imagem, mais domesticada a Energia Mental, e mais poderosa sua expressão, sua força.

Imagens são como funis, pelos quais canalizamos e disciplinamos os fluxos da energia mental, criadora, à Imagem e Semelhança do Todo Poderoso.

Somos criadores de Mundos e não sabemos.

“Somos Deuses e não sabemos disso.”

Cônscios de todas essas coisas, de todas essas premissas, cuidemos de elaborar Idéias de Beleza e Refinação, de Progresso Científico e Moral para a Humanidade, e não esqueçamos de dar a cada uma dessas Idéias uma Imagem que a canalize para o que chamamos de Mundo Real, pois tudo que o homem pode imaginar ele pode criar.

Esta também é uma crença, mais uma entre tantas.

Espero que neste campo de incertezas e energias que chamamos de Realidade, ela prevaleça, e que eu mesmo, em nome do Bem de todos e daqueles que eu amo, possa usá-la para criar um mundo melhor.