Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 28 de setembro de 2021

CORPOS

por Mario Sales

 



A tradição esotérica é pródiga em oferecer classificações as mais variadas para a composição íntima do ser humano. A Sociedade Teosófica reconhece sete deles diferentemente dos 3 ortodoxos corpo, alma e espírito, alma e espírito esses que recebem conotações diferentes, desde a sinonímia entre ambos, como no catolicismo, ou o discernimento de que o individuo é a alma e espírito apenas uma energia, nous, (espírito, em grego) que alimenta a estrutura, como no rosacrucianismo da AMORC.

Nos sete corpos teosóficos também encontramos uma visão semelhante, ao considerar que, como em uma boneca russa matrioska, se sucedem, um como envoltório do outro, permitindo que o puro espírito habite em ambiente material.

Matrioska


A esse puro espírito, presença de Deus em nós, os teósofos chamam Atma, envolvido por uma camada também de caráter altamente elevado, mas mais próxima da personalidade, chamada Budhi.

Associada a estas duas, encontra-se o chamado Mental superior, ou Manas superior, que configura o ser em evolução, a partícula individual que aprende ao longo das encarnações. Para que possa se manifestar no mundo físico, entretanto, postulam os teósofos a existência de mais 4 corpos, que ao contrário do conjunto anterior, a Tríade, possibilita como o escafandro ao mergulhador, o mergulho na matéria densa.

Esses quatro corpos, chamado de o Quaternário, compõe-se de Manas Inferior, corpo Astral, corpo Etérico e Físico.

Se o Manas ou Mental superior encerra aspectos divinos do peregrino garantindo-lhe algo semelhante a uma individualidade sem ruptura com o Todo, o Manas ou Mental inferior diz respeito ao instinto e as necessidades básicas da sobrevivência, trazendo consigo também uma sugestão de individualidade só que com a impressão de separação e isolamento.

Ambos, Manas superior e inferior estão ligados por uma ponte, uma estrutura intermediária chamada Anthakarana, que garante a intercomunicação entre Deus no homem e o homem comum, aquele que precisa dar conta das obrigações sociais e biológicas.

De baixo pra cima, temos o corpo físico, que é o que é, sem necessidade de maiores explicações; está envolto por uma energia agregadora, o corpo etéreo, que lhe dá coesão e forma, estrutura energética essa envolta por outra, chamada corpo astral, para a qual ainda me falta uma compreensão adequada.

O corpo astral, e não o mental, para o esoterismo, é a sede das emoções. Não sei bem ainda se quando uma projeção é feita, é este o corpo que projetamos, pois a nomenclatura esotérica ainda aguarda uma normatização e um glossário de alto nível.

Penso que, se o mental inferior não é a sede das emoções, resta-lhe ser o que todos no meio lhe atribuem: uma ferramenta de criação de objetos, circunstâncias e eventos, cumprindo a determinação do Gênesis de termos sido criados “à Sua imagem e semelhança”.

Curioso também que na nomenclatura em sânscrito, o corpo astral seja nomeado como Prana, a energia da vida entre os Yogues, energia essa mais plausível como força de coesão estrutural. Tudo indica, no entanto, que as energias de coesão ligadas ao corpo etéreo manifestam-se na matéria pelas forças de coesão atômicas enquanto o Prana teria um papel semelhante ao sangue que circula nas artérias e veias físicas, levando energia através dos canais de acupuntura a todas as regiões do organismo.

O Corpo etérico em sânscrito é chamado de Linga Sharira[1] e é uma duplicata perfeita do corpo físico o que faz sentido se consideramos que ele é a energia de agregação da estrutura física.





[1] Linga sharira (em sânscrito: linga, significando modelo; e sharira, que provem da raiz verbal sri, significando apodrecer), ou duplo etérico, designa, na teosofia, o 2º princípio na constituição setenária do homem, que é levemente mais etéreo que o corpo físico (sthula sharira). Segundo a Teosofia, ele permeia todo o corpo humano, sendo um molde de todos os órgãos, artérias, e nervos.

Linga sharira também recebe outros nomes tais como corpo etérico, corpo fluídico, duplo etérico, fantasma, doppelganger, homem astral, etc. Após a morte física, este duplo etérico ainda permanece algum tempo com vitalidade, formando o que se chama de "espectro" ou "fantasma". Segundo Blavatsky, o duplo etérico desempenha um papel importante nos fenômenos espíritas, sendo a substância que forma os chamados "espíritos materializados" nas sessões espíritas.

Deve-se notar que na literatura teósofica original (como a escrita por Blavatsky) o termo "corpo astral" não tem o mesmo significado de que o termo utilizado em literatura teosófica posterior (como a de C.W.Leadbeater). Nas obras de Blavatsky o corpo astral não se refere ao corpo emocional mas ao duplo etérico linga sharira. Contudo, mais tarde, C.W. Leadbeater e Annie Besant (Adyar School of Theosophy), e a seguir a eles, Alice Bayley, equacionaram o astral com o princípio kama (desejo) e designaram-no por corpo emocional (um conceito não encontrado na Teosofia anterior). Da Wikipedia

domingo, 5 de setembro de 2021

TRADUÇÕES LATINAS EM HARTMANN

A todos os fratres e sorores interessados em textos esotéricos.


Comecei a tradução de um pequeno livro, publicado pela AMORC americana, chamado Esoteric Classics, com ensaios de Franz Hartmann, Spencer Lewis, Willian Q. Judge e Paul Sedir.

Entre os textos de Hartmann chama a atenção o terceiro, Rosicrucian Symbols, onde ele descreve vários símbolos rosacrucianos com inscrições em latim.

Senti grande dificuldade na tradução dessas citações e compartilho com vocês, caso possam me ajudar nesse trabalho.

São as seguintes:

ac monstrante viam
Omnibus in omnibus
In virtute tua.
Signatur ne perdatur
Aurora ab lacrymis
Dulce amarum
In odorem suavitatis
Virginei laus prima pudoris
Dimittit inanes.
Honori invincem
Plena sibi et aliis
Descendendo ascendendo
Altissimus obnumbrat
Jam mitius ardet
Parit in alieno
Blando se pace salutant
Ut gaudeas mero
Amara sed salubris
Qua forma placebit
Usque ad divisionem animae
Amat et castigat
Delectat et cruciat
Non possentibus offert
His ego sustentor
Nec mors separavit
Cogit in unum
Plorat et devorat
Non est qui redimat
Languexit in umbra
Unam tetigis se sat est
Transfixum suavius
Merger ne mergantur
Sequirtur deserta cadentem
Pharmacumnon venenum
Ad te levavi oculos
Ne merger
Erantibus una micat
Non commovebitur
In puritate pretium
Accipit in sua
Non est hac tutior umbra
Non habet redargutionem
Non extingquetur
Morientis sideris umbra
Desinit in lacrymas
Concussio firmat
Vulneratum vulnerat
Supereminet omnes
Currit in odorem
Calor elicit imbres
Ut surgat in ortum
A lacrymis candor
Mersa non mergitur
Emergere nuntiat orbem
Tulit proedeam tartari
Dulce refrigerium
Recta a recto
Dum calet
Gemit delectum suum
Acuitur in praeliam
Ad sidera sursum
Intima lustrat
Cupio dissolvi
Innixa ascendit
Curso completo
Cui honorem honorem
Illue iter quo ostendum
Hac duce tuta via est
Praesidium et decus
Ultima secunda
Veniunt ad lucem
Non mergitur, sed extollitur

Colaborações para mariosergiosales@gmail.com.

Grato

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

A LEI ESTÁ EM NOSSOS CORAÇÕES

 

Por Mario Sales,FRC



E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.

Jesus, no Evangelho de Marcos 2:27


 

O Shabat é sagrado.

No Zohar, ainda nos textos preliminares, antes da primeira parashat, da primeira parte ou porção, conhecida por Bereshit, existe uma longa digressão sobre a natureza sagrada do Shabat.

Lá é dito que a razão da sacralidade deste período, que vai do pôr do sol na sexta feira até o pôr do sol no sábado, está no fato de que especificamente naquelas horas, as portas do céu estão abertas, e a inspiração divina flui livre para que os Justos, os Tzadikin, possam recebe-la.

Deve-se guardar, respeitar o Shabat, pois o Shabat é mais do que um dia e uma noite: o Shabat é uma porta dimensional, que é tão sutil e delicada, que será perturbada pela mínima manifestação de desarmonia, seja por ansiedade, indisciplina ou luxuria.

O que possa perturbar o vínculo com o sagrado deve ser evitado: as coisas da carne, os assuntos mundanos, o vinho, a voz elevada, a cólera, a exaltação.

É preciso comportar-se com pudor, temor e tremor, pois o Santo, Bendito Seja, estará atento aos nossos pensamentos e atitudes.

Em função disso, o trabalho deve ser suspenso, deve-se mergulhar em oração, meditando sobre a Torah, a lei, procurando a compreensão de seus segredos e de sua iluminação.

Esta é a tradição, estes são os parâmetros que qualquer judeu, fiel a sua fé, conhece e pratica.

Jesus era judeu. Jesus conhecia bem a Torah.

Mesmo assim relata o Evangelho de Marcos, capítulo 2:

“E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas.
E os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito?
Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam?
Como entrou na casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam?
E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.
Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor[1].”

Peca aquele que vive por sua consciência, que transcende as regras e age de acordo com seu coração e sensibilidade?

Devemos guardar o sábado, mas o que é guardar o sábado?

Um conjunto de normas e proibições, um ritual rígido que, se esquecido, incorrerá em terríveis prejuízos espirituais?

Onde reside nossa santidade, dentro ou fora de nós?

Quem pode ver nossa pureza e nossa sinceridade a não ser HaShem, o Deus de nossos corações e de nossas compreensões? E onde está este Deus que tanto veneramos e adoramos senão dentro de nós mesmos?

Jesus sabia todas estas coisas e com seu gesto, incomum, simples e despreocupado, mostrou que ele estava em harmonia com estas simples verdades, que não fazia aquilo que a tradição mandava, mas sim o que seu coração ditava. E isto se chama a liberdade verdadeira ou a prisão da consciência.

Nossa consciência nos autoriza certos comportamentos em função de sua autoridade sobre nós, já que nossa consciência, nossa guardiã, é também a presença de Deus em nós.

Nós somos extremamente complexos.

Estamos vivos e a vida é extremamente dinâmica. Nenhum texto, por mais belo e sagrado, consegue nos definir ou circunscrever. Nenhum livro pode ser maior que a própria existência.

“A idéia de verdade é um modo, fundamentado em um método, de conferir estabilidade a determinados discursos, não uma instância neutra detentora da essência das coisas, mesmo porque não há essência nem coisas neutras senão na linguagem. As palavras dão identidade a coisas distintas; sob a palavra permanece a vida em sua pluralidade e potência; não é possível reduzir a vida a um discurso”[2]

Temos que ir além do discurso, além da lei, sem ferir a lei. E isto é possível.

Todas as regras e normas foram criadas para representar uma noção de valor, algo que ajudaria a criar Ordem no Caos. Nenhuma lei foi criada com o intuito de prejudicar quem quer que seja, no mundo religioso ou secular. As normas visam o melhor para o convívio de muitos, como boias de sinalização ou mesmo cancelas, que impedem os acidentes e as tragédias desnecessárias. Mas para quem foram feitas? Para aqueles que não possuem discernimento próprio, que são desprovidos de senso coletivo.

Não é preciso dizer a alguém altruísta da necessidade e conveniência de se preocupar com o bem da coletividade. Sua consciência fará isso sozinha. Este homem ou esta mulher estarão para além do bem e do mal, serão membros da elite espiritual da humanidade, que traz em si a marca de muitas vidas, de muitas encarnações. São as almas antigas, que socorrem e ensinam, que estudam a sabedoria de todas as tradições religiosas identificando as semelhanças entre elas ocultas nas palavras e nas convicções nacionalistas.

Estas almas sabem que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.

Sabem que as portas do céu estão abertas todos os dias e que a chave para entrar por estas portas é a elevação espiritual e mental.

Não são os dias que são sagrados por si, mas são as pessoas que tornam seus dias sagrados, que fazem do seu cotidiano uma oração permanente, abençoando o mundo com suas simples presenças.

Deus está em nós, nós estamos nEle.

Assim, se percebermos que a luz já está em nós e permitirmos que ela se manifeste, não só santificaremos a noite de sexta feira, mas também a de quinta feira, como também as terças e os domingos pela manhã.

O céu aguarda ansioso nossa visita. Basta que nos deixemos levar pelos ventos da espiritualidade e subiremos mais alto que os pássaros e sem que percebamos estaremos conversando com os santos e com os anjos, enquanto os Iluminados, a nossa volta, nos revelarão os segredos do espírito e da evolução.

E voltaremos deste encontro encharcados de inspiração e êxtase, por termos passado alguns minutos na companhia daqueles que como nós, sabem que tudo que está a nossa volta é sagrado e que o mundo inteiro é nosso templo, nosso sanctum sanctorum, onde podemos vigiar e orar enquanto aprendemos as estratégias da misericórdia e do serviço.

Não, não precisamos de leis. Nossa lei está gravada a fogo em nossos corações, não em livros, não em textos; somos os filósofos de fogo, como nos classifica Blavatsky na Doutrina Secreta.

Somos os filhos da consciência, os buscadores incansáveis da luz e do Cálice Sagrado.

Somos os rosacruzes.


[1] Marcos 2:23-28

 [2] Viviane Mosé, in “Nietzsche Hoje” editora Vozes, 2ª reimpressão, 2019