Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

TEXTOS MAÇÔNICOS


A INICIAÇÃO VERDADEIRA



À Glória do Grande Arquiteto do Universo


e dos Mestres


Ir:. Mario Sales


Suzano 30 de outubro de 2006


Apresentado na Loja Maçonica Luz e Caridade


e no Capítulo Rosacruz de Suzano-AMORC



O termo iniciação é conhecido de todos os membros de escolas esotéricas.

Era através de iniciações que os novos membros eram e são, até hoje, admitidos ao convívio nestas instituições.

Na maçonaria o hábito de fazer iniciações começa após o fenômeno dos maçons aceitos, séc XIV e XV, por conta da falência da maçonaria operativa, com o abandono progressivo dos banquetes de recepção aos novos membros e a substituição por um ritual rico de simbolismo.

Muitos destes maçons aceitos eram templários e rosacruzes , em fuga das perseguições da inquisição da Igreja Católica e que necessitavam do abrigo de uma ordem formada pela elite da sociedade local.

Por sua influência, símbolos bíblicos e cabalísticos foram introduzidos no rito maçônico de receber o novo membro,buscando com o impacto teatral e psicológico a transmissão da importância deste momento e desta passagem.

Toda iniciação é uma introdução a uma nova idéia, a uma nova perspectiva de mundo.

Portanto, toda iniciação é a transmissão de uma informação de modo não oral e lingüístico. Existe um texto e um script para a iniciação, mas sua parte mais importante não é a parte lida ou falada.

O que confere a este momento um caráter único , todos concordarão, é o seu impacto emocional e psicológico.

As coisas ditas ou ouvidas com o coração jamais são esquecidas.

Desse modo, muitas são as iniciações que atravessamos ao longo de nossas vidas, dentro ou fora do templo iniciático.

O templo, em geral, representa a superfície da Terra, com seus pontos cardeais, simbolizando que o que se faz ali dentro, a busca pela retidão e pela dignidade naquele ambiente deve refletir-se na vida lá fora, no mundo profano.

A maior Ordem Iniciática que podemos pertencer é a Sociedade Humana. Nela somos iniciados pelos ritos de passagem comuns a todas as pessoas : infância,puberdade, descoberta da sexualidade, a dor, a doença,o casamento,o nascimento dos nossos filhos, a morte dos nossos pais e a mais elevada de todas as iniciações, a nossa própria morte.



Mestre Saint Germain

Às vezes cercados de cerimônias, às vezes não, os momentos de nossas vidas são iniciações também, talvez as mais importantes.

Muitos episódios que nos acontecem devem ser encarados por este prisma.

Se não nos trouxer alegria, com certeza nos trará algum aprendizado, alguma informação nova que nos ensinará como viver melhor, mesmo naqueles momentos que nos pareçam os mais embaraçosos e os mais difíceis.

Segundo Richard Bach diz em seu precioso livro, “Ilusões”, que só estamos na vida por duas razões: ou para aprender , ou para nos divertir. E eu acrescentaria uma terceira : por ambas estas razões, ao mesmo tempo.

Esse seria o Ideal de existência.

Para isso, no entanto, é necessário que mudemos nossa perspectiva do que realmente é a existência. Usando uma analogia não muito original, lembremos que a vida é apenas um teatro de sombras, aonde somos os atores, às vezes principais, às vezes coadjuvantes, os diretores de cena, os espectadores e os contra regras.

Montamos o palco, decoramos o texto, colocamos a máscara e vamos em seguida para a bilheteria receber as entradas daqueles que convidamos para assistir o nosso espetáculo pelo qual , certas vezes, cobramos alto.

Só o indivíduo que se reconhece como diretor de seu espetáculo e que sabe que tudo aquilo é apenas isto, um teatro , pode usufruir com prazer da experiência , assim como o iniciado deve-se deixar levar pela experiência teatral da iniciação sem nunca esquecer que se trata apenas e tão somente de uma representação com a finalidade única e exclusiva de recebe-lo no seio de seus irmãos de ordem.

Cada iniciação nos torna mais sábios como cada peça de teatro que assistimos nos faz pensar mais profundamente em algum tema sobre o qual jamais tenhamos antes refletido.

Repito: o ideal é que reflitamos sobre estes temas, mas com deleite e prazer, seguros de que não é necessário Dor e Sofrimento e ranger de dentes para que nos tornemos seres humanos mais evoluídos, mas única e exclusivamente conhecimento.

Toda e qualquer experiência pela qual passemos , visa apenas isto: aumentar nossa sabedoria e nossa alegria, pois nossa felicidade sempre será diretamente proporcional a nossa compreensão e discernimento sobre o fenômeno humano.








AONDE COMEÇA O INFERNO






“E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu , trabalhando , tinha feito, e eis que tudo era vaidade, e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol”.



Livro do Eclesiastes ou Pregador, cap 2, versículo 11



Eu poderia ter rebatido de forma veemente o comentário daquele irmão. Equivocado, julgou que eu estivesse me posicionando a favor de assassinos, não importa se de direita ou de esquerda. Queria dizer naquele momento, que eu sou e sempre serei contra aqueles que mancharam a honra do país com a tirania, ou com a asfixia das liberdades, a destruição da inteligência da nação.

Não é esta a nossa fala, pela boca do primeiro vigilante? Não estamos em loja “para combater os preconceitos e a injustiça...?”.

Como pode um maçon defender a tirania, ou ver sentido em qualquer coisa que fira a liberdade de opinião?

Poderia ter retrucado milhões de coisas, mas me lembrei que a paixão não é boa conselheira, embora dê o tom e o matiz da existência.

E o que importava é que, naquele momento, eu senti em mim a força da paixão, representada pela ira e pela indignação em relação a um argumento, talvez infeliz, talvez mal formulado, mas de qualquer forma, que me causou uma vontade imensa e quase incontrolável de reação furiosa.

Quase.

Pois toda porta que se abre pode ser novamente fechada.

E assim, depois de alguns segundos, eu entendi que tudo era vaidade. Qualquer reação, na minha cabeça, serviria apenas às intenções do demônio, e não de Deus.

Serviria para gerar o conflito, a desarmonia, não só na Loja, mas principalmente em mim.

Não usaria agora o argumento infeliz de que me calei por causa dos outros.

Calei a paixão em mim num exercício de superação e discernimento solitário, pessoal.

Uma loja é um laboratório de personalidades e comportamentos. Na loja, exercemos sobre nós mesmos, de forma às vezes quase inconsciente, um esforço de disciplina mental que nos eleva como seres humanos e como cidadãos, não deste ou de outro país, mas da raça humana.

Somos todos membros do planeta Terra.

Precisamos uns dos outros.

Podemos nos digladiar como animais; podemos jogar bombas uns nos outros ou matar aqueles que discordam de nós.

Tudo isto podemos fazer.

Também da mesma forma, podemos não fazer, porque não devemos fazer estas coisas em nome da humanidade que pertencemos e à qual, queiramos ou não, estamos ligados por laços culturais e biológicos.

Se, cada um de nós, no momento que visse se abrir as portas do inferno, soubesse ter a prudência , o cuidado de fechá-la, sem alarde, por que o alarde não faz bem, tanto quanto o bem não faz alarde, passaríamos ao largo de chacinas, guerras, perseguições, poderíamos enfim dizer que não somos iguais àqueles que combatemos, e que estamos realmente construindo templos à virtude e masmorras aos vícios, que somos melhores, por que sabemos como fechar, silenciosamente, as portas do mal abertas, involuntariamente, pelo vento da Vaidade.

O silêncio tem sua própria eloqüência, sua própria força de expressão. Mas às vezes ele não é um silêncio pensado, mas fruto de uma enorme tensão interna que nos obriga a mergulhar fundo em nós mesmos e resgatar nossa alma dos braços do Demônio do Orgulho e do Ego, que tem asas nos pés e a leveza de uma pluma.

Por que o mais terrível dos demônios não é aquele que ruge ou que grita em nossos ouvidos palavras de ordem ou que nos sacode com braços fortes.

O mais terrível dos demônios e aquele que nos encanta e seduz com graça e com cuidado, que nos persuade com argumentos absolutamente lógicos e bem delineados dizendo que o Mal é bom e que matar e destruir o outro será um ato justo, nos libertará de nossa angústia existencial e nos consolará de nossas outras frustrações.

Este demônio, elegante, sedutor, jamais altera sua voz, sua fleugma. Ele é calmo e seguro. Fala pausadamente.

Meus irmãos, esta batalha talvez seja a mais difícil, combater aquele que não nos desafia, que não nos ofende, que só nos elogia e agrada.

Combater aquele que nos traz conforto, alimento, deleite. Aquele que, sagaz e sorrateiro, nos enfraquece enquanto, aparentemente, nos fortalece.

Certos oásis são, com certeza, armadilhas para um beduíno cansado do deserto. É preciso beber de suas águas com prudência, moderadamente, ou elas nos envenenarão.

Poços contaminados podem parecer maravilhosos quando a sede é grande. E é aí, exatamente que reside o verdadeiro risco.

Lembro a todos a proporção 10/90. Eu não tenho controle sobre 10 % do que me acontece. Um acidente doméstico, na rua, um incidente qualquer, mas tenho controle sobre os 90 % restantes que representarão a minha reação ao ocorrido.

Sou eu, e não as minhas paixões, quem vai determinar como vou reagir (ou não reagir) às muitas e incontáveis provocações do inimigo, no intuito de roubar a minha alma ou a minha paz.

E se eu, com firmeza, souber me calar, e concentrar todas as minhas forças em me conhecer e arrancar a máscara do rosto do Supremo Embusteiro, terei recuperado o meu auto domínio e poderei aí sim, dizer que sou, finalmente, Mestre de Mim mesmo.

Tudo isto é muito bonito, mas o mais belo de tudo,é o fato de ter vivenciado este episódio em Loja, durante uma sessão comum, onde alguns podem supor testemunhar , todas as noites, apenas a repetição de monótonos rituais, mas que, para que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, e eu diria, boca para calar, muitas maravilhas podem ocorrer e iniciações, várias, atravessarão o espírito do verdadeiro iniciado.









A Ordem Maçônica Moderna e suas características


Lorde Oliver Cromwell (Huntingdon, 25 de Abril de 1599 — Westminster, 3 de Setembro de 1658 )



Existem três critérios que devem ser levados em consideração ao analisar-se uma ordem secreta: o esotérico, o ocultista, e o místico.


Por esotérico entendo o caráter de sigilo que envolve estas agremiações, onde seus membros são obrigados a prestar juramento de segredo sobre suas atividades e se comprometem a receber sanções, algumas extremamente graves, caso quebrem este compromisso.


Por ocultismo, considero o conjunto das práticas, comumente estudadas no século XVIII e XIX, ligadas a magia e a teurgia, sendo a magia o conjunto de técnicas ligadas ao domínio através de encantamentos e vocalizações das coisas da terra e a teurgia, o mesmo processo ligado às coisas e criaturas do céu (principalmente os Anjos de Deus).


E por último, entendo por Misticismo, a prática dirigida a comunhão interna com Deus, sem intermediários, que busca a integração e a fusão com a vontade divina em nosso próprio coração, e não fora de nós.


Há escolas que são mais esotéricas que místicas, mais místicas que esotéricas, ou mais ocultistas que místicas.


A ordem Maçônica já teve momentos históricos diferentes.


Do ano mil até o evento dos maçons aceitos (a partir da diminuição de prestígio e dos recursos financeiros da corporação dos pedreiros de Londres com o incêndio da cidade e a perda do monopólio da construção de catedrais, conseqüência da instauração da república protestante de Oliver Cromwell, com a conseqüente diminuição do tamanho das igrejas) a maçonaria tinha um caráter altamente esotérico, pouco ocultista e nada místico.


Com a instauração da maçonaria aristocrática, por volta de 1717 até 1789, quando se transforma em especulativa, a ordem maçônica vive um período ainda altamente esotérico, francamente ocultista com algumas pinceladas de misticismo.


De 1789 para cá, o que se viu foi o desaparecimento progressivo do aspecto esotérico, com a publicação aceita e aplaudida pelos líderes maçônicos de vários textos sobre maçonaria, dando detalhes precisos de seu funcionamento interno (haja visto, como exemplo, existir uma editora especializada nestas publicações) livros os quais são encontrados em qualquer livraria profana, em qualquer shopping, em qualquer banca de jornal.


Existem irmãos de maçonaria que inclusive tornaram-se especializados nestas publicações , como é o caso de Rizzardo Del Camino, se não me engano, autor gaúcho.


Nem por isso tiveram a garganta cortada ou foram expulsos por terem violado o sigilo que juraram preservar.


Além de perder seu caráter esotérico, a maçonaria abandonou as práticas ocultistas quase totalmente, por não serem mais compatíveis com a racionalidade moderna ou com os objetivos modernos da Ordem.


Por último, a Ordem maçônica também não tem mais um caráter místico. A referência ao GADU, que norteia nossas reuniões revestem-se mais de um aspecto quase religioso, de respeito a algo externo a nós, do que a busca de algo interior.


Atualmente, ao ir a Loja, o maçon vai em busca da fraternidade, da igualdade e da liberdade do convívio entre irmãos, mas não em busca da espiritualidade relacionada, por exemplo, à busca do sufista ou do monge.


Nada impede que um ou outro membro da Ordem tenha características espirituais mais exaltadas, ou interesses em ocultismo ao estilo dos trabalhos de Eliphas Levi, mas deverá trilhar um caminho individual e nada na prática coletiva maçônica moderna o ajudará neste caminho.


Talvez por isto mesmo, pela progressiva perda de interesse dos próprios membros da ordem, os símbolos do templo, principalmente aqueles de mais alto caráter ocultista, tornem-se aos poucos mais e mais ilegíveis para os irmãos que vão aos rituais e mesmo invisíveis, para a maioria.


Isto tudo para minha tristeza como de nobres irmãos já no Oriente Eterno, como Nicolas Aslan, minha referência constante.






Suzano 25 de fevereiro de 2009