Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

RELIGIÃO E CIÊNCIA NO SÉCULO XXI

Profundamente triste com o ataque a ciência e particularmente à arte Médica, feito em trechos do Appelatio Fraternitatis, este documento com indiscutível viés obscurantista mal disfarçado, que pra minha decepção foi chancelado por todos os Grandes Mestres e pelo Imperator , trago para reflexão a fala do professor Leandro Karnal sobre estes dois caminhos, o da fé e o da razão.
Embora eu tenha aprendido com os Rosacruzes que a Rosacruz não é uma religião seu comportamento, nos últimos anos, deixa dúvidas sobre a atual concepção acerca deste perfil.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O MEDO É O CAMINHO PARA O LADO NEGRO






O medo é o caminho para o lado negro. 
O medo leva a raiva, 
A raiva leva ao ódio, 
O ódio leva ao sofrimento. ”

De uma fala de Yoda na trilogia de “Star Wars”





Minha sétima fase terminou dia 11 com o meu aniversário. Todos os rosacruzes sabem o que significa a sétima fase. Em linguagem astrológica é chamado de inferno astral. O período de Shiva, da destruição e da renovação, da precipitação de problemas, e desta forma, de renascimento.
A maneira como tudo aconteceu foi muito rápido e sórdido, de forma que, na minha ingenuidade pessoal de supor-me capaz de suportar com estoicismo as intempéries a que todos estamos sujeitos, fraquejei.
Vi o Medo e a perplexidade tomarem conta da minha existência, de forma tão intensa que de nada valeram meus conhecimentos esotéricos e técnicas.
O Medo sempre foi meu maior inimigo: medo de errar (insegurança), medo de perder alguma coisa preciosa, um ente querido, um relacionamento afetivo (apego), medo das autoridades acadêmicas (subserviência), das reviravoltas da existência (fantasia da perfeição permanente).
Como todo ser humano comum, criei meios eficientes de ocultar este medo de todos os meus relacionamentos sociais, de forma tão bem-sucedida que até mesmo eu supunha não ter medo algum.

Por sua importância emocional, entretanto, o Medo não pode ser ignorado permanentemente.
Ouvi em alguma parte que só existem verdadeiramente dois sentimentos sendo todos os outros derivados deles: o Medo e o Amor.
Por isso minhas recentes experiências me obrigaram a estudar em mim a natureza de meu Medo, e este é o resumo de minhas reflexões.
Descobri por exemplo, que a sequência descrita por Yoda em epígrafe, não faz parte apenas de um roteiro de um filme de ficção. Lembrando que o consultor de George Lucas para a realização da trilogia inicial foi ninguém mais, ninguém menos, que Joseph Campbel, mitólogo e pensador americano, as reflexões que são expostas ali muitas vezes merecem atenção.

Realmente o Medo da ameaça nos transforma, por reflexo, em pessoas agressivas, primeiro com raiva e depois, ódio, e quando o ódio se instala vem o ressentimento, o rancor, que Shakespeare dizia ser “como tomar veneno e querer que o outro morra”.
No meu esforço civilizado de ocultar de mim mesmo meu próprio lado negro, meu ódio foi renomeado de “indignação”, sempre “justa”, claro, já que o nomeador e juiz era eu mesmo; mas chamar um lobo de cordeiro não cria lã em seu corpo. Portanto, enquanto meu ódio crescia, seu efeito colateral, o rancor, o acompanhava em volume e densidade.
Pela rapidez como tudo ocorreu pode-se dizer que foi um laboratório e uma representação de um comportamento pessoal de toda uma encarnação, e como o objetivo da sétima fase é o renascimento, antes de renascer eu precisava morrer para concepções e modos de ser anteriores.
Na morte, o que é uno se separa em partes, o corpo se desintegra, a alma reavalia seu comportamento naquela vida, para que possa extrair conhecimento para suas próximas experiências.
E assim, subitamente atingido pelo que classifiquei de uma perseguição injusta, reproduzi o comportamento ao qual estava habituado: medo que leva a raiva, raiva que leva ao ódio, ódio que leva ao ressentimento, o pior defeito humano segundo Nietzsche.
O desdobramento, no entanto, não acaba aí.
O ressentimento leva à autocomiseração, auto piedade, à auto vitimização, e frases como “porque eu?”, “Pai, por que me abandonastes?”, vêm à mente imediatamente.
Tudo isso para fortalecer a noção de “indignação justa” de que eu falava há pouco e fechar um círculo vicioso, criando um sistema fechado, com retroalimentação contínua.





O Medo, entretanto, começa todo o ciclo.
E qual a origem do Medo?
O Medo não é um sentimento necessariamente ruim, sendo a base da prudência e do senso de autopreservação.
Só quando este sentimento é pervertido por um aumento descomunal de intensidade, é que se transforma em algo paralisante e fomentador de alucinações e ansiedade extrema. Entre as alucinações mais frequentes estão aquelas que nos afirmam que nossa destruição pessoal, seja física ou psicologicamente, está próxima.
Se o Medo em sua intensidade normal gera Prudência, em intensidade patológica gera o Pânico e o Pânico leva a reflexões e expectativas altamente negativas e nefastas, levando o indivíduo a crer firmemente que nada acabará bem e haverá sangue, dor e ranger de dentes, ao final do processo.
Como nunca parei para fazer esta autoanálise com a maturidade que tenho hoje, a sequência Medo-Pânico-Raiva-Ódio-Rancor-Auto piedade-Desespero-Mais Pânico sempre foi inconsciente e se instalava com uma rapidez impossível de acompanhar.
Exposta pela luz da experiência, como Alexandre, percebi tratar-se de um "nó górdio", que deveria ser cortado a fio de espada, já que era impossível desatá-lo por sua complexidade.
A pergunta era: aonde cortar? Minha própria sanidade mental corria um grave risco se não houvesse uma rápida intervenção.
Embora a inspiração pareça desaparecer de nós durante momentos de crise financeira, emocional ou física, sempre restam as “bocas de Deus” para nos auxiliar. Sim, Bocas de Deus, suas milhares de Bocas espalhadas em toda a Humanidade e em qualquer pessoa, tanto um servidor humilde no meu serviço que começou a me trazer textos de reflexão espiritualistas absolutamente pertinentes e oportunos, quanto os amigos íntimos que ao verem minha falta de rumo começaram a me aconselhar estratégias. Em todos estes casos, a presença da “Voz Divina” se manifestou.
Pela boca de um amigo, Deus disse: “Ore pela alma de seus inimigos, não por eles, mas por você, para que sua paz retorne. ”
E assim, durante um mês, três vezes ao dia, eu orava:
“Senhor, fazei com que as vidas de A, B e C, prosperem, como também as de seus descendentes. Que tenham saúde e conheçam a abundância. Que Sua mão desça sobre suas cabeças e os proteja, não por eles, Senhor, não por eles, mas por mim, para que esse Rancor desapareça de minha alma e eu possa recuperar minha paz interior. ”
A primeira vez que pronunciei em voz baixa essas palavras, eu estava no consultório, sozinho, e uma grande paz tomou todo meu ser.
Calmo, eu senti que algo em mim havia se desfeito, e que outra coisa, diferente, começava a se manifestar em seu lugar.
Esta foi, pois, a Prece de meu Renascimento.
Em minha mente, e provavelmente influenciado pelo que estudei da Acupuntura Chinesa que ensina que o ressentimento se aloja no Fígado Energético (Gan), imaginei um fluxo escuro drenando da área hepática para a cabeça e daí, pelo Sahashara Chakra, ou Chakra da Coroa, para o Alto, saindo de mim.
Dias e dias esta foi a imagem que eu tinha em minha mente como representação desta depuração que, com aquela prece, eu tinha iniciado.
Dias depois, talvez dez deles, a imagem se modificou. Comecei a perceber que a cor era cinza escura e depois mais clara, e não mais escura.
Psicologicamente, à medida que o Rancor drenava, eu sentia primeiro o Ódio desaparecer de mim e depois, a Raiva, pouco a pouco. 

Ao que parece, percebi que a Intensidade da Emoção lhe dá a sua Natureza, sendo o Ódio diferente da Raiva apenas nisso, a força com que se manifesta. Da mesma maneira, para se manter, essas emoções dependem de uma energia que é retirada de nossa própria economia, e quando essa energia começa a desaparecer, quando essa alimentação cessa, as emoções que demandam mais Energia são as primeiras a sucumbir.
Assim iniciei o processo reverso, saindo do Pânico por diminuir o Rancor, saindo do Rancor pela diminuição e desaparecimento do Ódio, extinto por falta de recursos, e finalmente, desmontando as bases de sustentação da Raiva pela mesma Estratégia.
A Raiva, por necessitar de menos energia que o Ódio, desapareceu mais devagar, talvez duas semanas após o desaparecimento do Ódio. E aí, quando estas quatro camadas se desfizeram, lá embaixo de tudo estava apenas o Medo, o Medo básico, que está dentro de cada homem e de cada mulher, algo instável e facilmente inflamável que precisava ser, não destruído, mas corrigido em seu comportamento, para que eu finalmente renascesse não só desta pequena morte, mas da minha própria, até aquele momento, medíocre existência.
Drenar e aperfeiçoar este Medo era a fase mais importante desta iniciação e foi com o ânimo melhorado e confiante que iniciei este processo.
Ainda sob a influência dos conhecimentos da Acupuntura, lembrei que para os chineses, o Medo é consequência da fraqueza da energia Ki dos Rins, chamados Shen.
Assim, em minha imaginação, vi que a drenagem de energia que começara no meu fígado, agora estava associada a uma intensificação da cor dourada em meus rins, que brilhavam intensamente, à medida que o medo diminuía em mim.
O fluxo da energia cinza continuava a sair pela cabeça vinda do Fígado, enquanto meus Rins brilhavam, sendo que até hoje enquanto escrevo esta imagem está minha mente.
Foi aí que intuí uma segunda camada de Medo abaixo do Medo que eu havia atingido na minha Catarse, algo que eu chamei de Medo Profundo, e que me parecia algo muito mais difícil de depurar. Agora já era Outubro, eu estava de férias e o processo continuava, só que totalmente concentrado no estudo e depuração do Medo em mim em suas diferentes profundidades.
A Oração do Perdão, ou Prece do Renascimento, como chamei, já não a fazia três vezes por dia, mas apenas uma vez, e mesmo assim o fluxo, em minha imaginação, de saída do Rancor, continuava estável. Parecia que eu tinha entrado em um Círculo Virtuoso, o qual precisava nesta fase apenas de ajustes de precisão, sem dúvida a parte mais delicada de todo o processo.
Por vicio analítico, classifiquei as duas camadas de Medo que identifiquei de Medo Superficial, ou da Cabeça, e Medo Profundo, ou do Coração.
Entendi que o Medo da Cabeça não era o meu inimigo, era ele a base da prudência.
Meu problema estava em dissipar o Medo Profundo, que bloqueava a mais importante parte de nosso ser, a minha conexão com Deus.
O Medo Profundo, concluí, como o zinabre ou a ferrugem, prejudicam a passagem da energia por nosso ser e nos desvitaliza. É pelo nosso coração que mantemos o contato com a Consciência Cósmica.
Se este coração estiver embotado por algo como o Medo Profundo, instala-se a falta de Confiança no Universo e na sempre benéfica intenção de Deus para conosco.
O Medo Profundo, percebi, era não a causa do Medo Superficial, a camada superior, mas escondia-se embaixo desta para sabotar a nossa Confiança nos Desígnios Divinos.
Quando nos deparamos com uma experiência que nos parece um tipo de ameaça, nossa primeira reação, a mais instintiva é fugir dessa ameaça, e combate-la, para que não nos prejudique.
Esta reação é instintiva, e parte do Medo Superficial, o primeiro a reagir. A manutenção, entretanto, do estado de Medo, tanto no tempo quanto no aumento de sua intensidade até se tornar Pânico, é mediada por este Medo Profundo, causa da falta de Confiança nas Leis Universais, na Justiça Universal.
É o Medo Profundo que nos adoece, não o Medo Superficial.
Como dissipá-lo?
Como eu havido descoberto no Ódio, o Medo Profundo é uma emoção que só se sustenta se for alimentada por uma grande dose de energia que é retirada de nosso próprio sistema emocional; portanto, para dissipá-lo eu precisava matá-lo de fome, cessando sua alimentação.
E como fazê-lo? Desprezando-o, não dando ouvidos aos seus falsos alertas que contaminavam minha intuição.
Dou um exemplo prático.
Notei, em minha autoanálise, que muitas vezes minhas intuições eram contaminadas por um receio extremo. Não sei se só percebi agora este aspecto ou se começou a acontecer recentemente. Não importa.
De posse desta percepção, comecei a vigiar meus pensamentos.
Então, certa noite, ao chegar para uma reunião da maçonaria, encontrei o pátio do estacionamento lotado de carros. Isto me obrigava a deixar meu carro na rua, do lado de outros. A rua onde fica a entrada do estacionamento da Loja não tem iluminação nem calçamento, podendo ser comparada a um enorme terreno baldio. Junto comigo chegou um irmão que manifestou preocupação por deixar o seu próprio carro exposto, e em um discurso típico de 
envenenamento mental, comentou isto em voz alta comigo. Disse que pediria a esposa do caseiro da nossa Loja que desse uma olhada, se bem que eu não atinava como isto mudaria as intenções de algum meliante mal-intencionado.
Ao fechar o carro, procurei em minha intuição algo que me garantisse que poderia deixar o carro ali em segurança. E então consegui fazer o mais difícil, percebi a insinuação insidiosa do Medo Profundo na resposta do meu coração ao meu questionamento intuitivo, dizendo: “cuidado, com certeza seu carro será roubado ou danificado, atenção”.
Primeiro atentei para que aquela advertência não tinha a pureza e a imediata certeza que vem de uma autentica percepção intuitiva; segundo, percebi que ela refletia o 
envenenamento mental de meu irmão de Loja; terceiro, desprezei seu aviso, e pensei que nunca havia ocorrido coisa igual antes, e como nenhuma intuição confiável havia surgido de que algo fosse acontecer de ruim, aquela só poderia ser uma contaminação do meu Medo Profundo, disfarçado de Prudência.
Como eu disse, o Medo Profundo não é a causa do Medo Superficial, mas apenas se esconde embaixo deste.
E assim, desprezando esta pré-ocupação mental infundada, entrei na reunião, participei com tranquilidade e saí para encontrar meu carro em perfeitas condições, sem que nada de mal tivesse ocorrido.
Doutra feita, já mais consciente, desmascarei o Medo Profundo tentando incutir preocupação em mim com minhas filhas, que se atrasaram para chegar em casa.
Declarei que aquela não era uma intuição verdadeira, mas apenas um reflexo do Medo Profundo, pai da Ansiedade. Desprezei-o e pouco depois minhas filhas chegavam em casa.
Assim, percebi que o Medo Profundo não interfere apenas no nosso relacionamento com o que acontece na nossa vida social, mas também na nossa vida íntima, psíquica e mística, contaminando nossas percepções e intuições, tanto fora como dentro de nós.
E agora ao final do mês de outubro, estou nesta fase de levar à inanição algo que tem me acompanhado toda a vida. Quando este Medo Profundo desaparecer tenho certeza de duas coisas: estarei melhor como pessoa e como alma em evolução e me sentirei estranho como se uma parte de mim fosse retirada.
Seja a Luz ou as Trevas dentro de nós, ambas são parte de nossa personalidade, e se uma delas se modifica temos de nos adaptar a esta nova correlação de forças internas.
Há muito tempo queria fazer este relato, mas não havia ainda atingido uma distância histórica suficiente para contemplá-lo de modo, mas completo. Espero que a minha experiência possa ser útil aqueles que como eu, continuam nesta senda infinita de aperfeiçoamento.
Uma última coisa: existe outra maneira de perceber a infecção do Medo Profundo em nós. Ela se manifesta pela frequência de nossa hesitação. O mesmo Yoda que disse a frase em análise, disse também: “Faça, ou não faça. Não existe o Tentar. ” 

É isto.
O Medo de Arjuna em Kuruksetra era o mesmo Medo Profundo de que falamos, ao que Krishna retruca: “Levante-se e Lute”.
Nunca hesite. Não tenha medo de errar. 

Tenha medo apenas de se Omitir, de fugir ao seu papel de Representante das Forças Divinas na Terra.