Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

DESFRUTEMOS

por Mario Sales



Como já disse, não sou cristão, sou hinduísta.
Categorias como culpa e arrependimento não fazem nenhum sentido para mim.
Culpa, no sentido de achar que a situação que eu provoquei, seja ela qual for, e que causou algum mal estar a terceiros, foi inteira e totalmente responsabilidade minha, é presunção e orgulho do Ego, que acha-se senhor de suas escolhas e vontades, quando, como lembra Espinoza, no mais das vezes satisfazemos necessidades.
Não tenho a ilusão de Arjuna, aos pés de Krishna, cabisbaixo, dizendo que não pode mais lutar porque não quer matar seus tios, seu professor e seus primos.




Estamos todos nas mãos de Krishna, de Shiva, que lembra a Arjuna (e a nós mesmos que) "...Enquanto falas palavras sábias, estás lamentando aquilo com que não precisas te afligir. Os sábios não lamentam nem os vivos nem os mortos. Nunca houve um tempo que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à velhice, do mesmo modo, chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica confusa com essa mudança. Ó Filho de Kunti, o aparecimento transitório de felicidade e aflição, e seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a tolerá-los sem perturbar-se".



Tudo é Maya, e nós, seres humanos, encerrados nesta armadura grosseira e limitada, neste escafandro que torna nossos movimentos lentos e limitados e nossa percepção confusa e imperfeita, não podemos nem devemos nos sentir culpados pelos erros que inevitavelmente cometeremos.
Só o Altíssimo tudo sabe, tudo conhece, e mesmo assim, nos criou para continuar aprendendo.
Deus é sedento de conhecimento. Nós somos seus pesquisadores.
Perdoar-se não é a mesma coisa que ser auto condescendente. É apenas reconhecer a inevitabilidade do erro em condições de consciência tão adversas. Da mesma forma e dentro do mesmo raciocínio, não pode haver arrependimento, já que arrepender-se é olhar para trás e lamentar e a vida é progresso, evolução, aperfeiçoamento.




Melhoraremos, desde que aprendamos aonde erramos e corrijamos nosso rumo e comportamento, em busca daquilo que é mais ético, mais digno, mais misericordioso, dentro de nossas possibilidades, dentro de nossa realidade.
Cristãos, que se julgam Cristãos mas na verdade são Paulinos, lamentam-se.
Não os Hinduístas, reencarnacionistas que são, conscientes que são de que as vidas que se sucedem trazem sempre uma melhora de nosso desempenho como seres humanos e como almas imortais.
Nossa missão aqui, como dizia Richard Bach, só tem dois aspectos: divertir-se ou aprender.
Não há lugar para lamentos morais ou arrependimentos, apenas para a vida, pois não se conhece criança que sinta culpa por seus erros ou arrependimento por seus acidentes durante as intermináveis brincadeiras exploratórias do mundo.
Como a criança, encaremos cada queda como parte da diversão, e cada arranhão como um evento a mais para ser computado no nosso inventário de acontecimentos interessantes.
Viver é expor-se ao sucesso e arriscar-se a ser de maneira inesperada, intensamente feliz.
Desfrutemos pois.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

TUDO É OU FOI CIÊNCIA

por Mario Sales

Vocês devem ter achado estranho estes posts mais recentes sobre robôs e óculos informatizados e devem estar se perguntando o que tem a ver robotica com misticismo.
Na verdade eu estou apenas sendo fiel ao nome do meu blog, Imaginário do Mario, e no meu imaginário, ambas as coisas, ciência aplicada e misticismo convivem pari passo.


Nas últimas semanas eu e meu 3 vêzes Irmão, Flavio, temos lido e estudado, como já contei aqui, a obra de Balavatsky, A Doutrina Secreta. E lá , independente do seu contexto social e científico, que era completamente diferente do de hoje, o que nos chamou a atenção entre outras coisas, foi o fato de que HPB, a todo o momento, tentava criar pontes com o conhecimento científico ortodoxo da época, ora tentando demonstrar que ele estava errado, à luz de seus conhecimentos esotéricos, ora usando-o como comprovação de que ela estaria correta.
Blavatsky, a esoterista das esoteristas do século XIX, mostra de modo inconfundível, preocupação em dialogar com o conhecimento científico daquele momento, para explicar a sua noção de cosmos, de criação do Universo, e da evolução da própria vida através dos reinos mineral, vegetal e animal. Existe, generalizando, em todo estudioso de assuntos esotéricos, uma impressão de que aquilo que ele estuda é ciência em algum lugar do Universo, mesmo que não seja considerado assim em nosso planeta ou em nossa cultura atual.


Eu e Flavio já discutimos, salvo engano meu, que se viva fosse, HPB se deliciaria com as milhares de informações disponíveis a quem queira pesquisar, nos dias de hoje. Provavelmente a velha senhora russa se sentiria extremamente feliz em contemplar as fotos do Hubble, não o astrônomo, mas o telescópio, e a construção das imagens após a superposição das de origem térmica, as fotos de raio x e as simplesmente óticas.
Os berços de criação de estrelas, as nebulosas, tudo a fascinaria. A microscopia eletrônica , a física quântica com suas incertezas, a rede internacional de computadores, tudo, tenho certeza, a atrairia, mesmo que como símbolos ou imagens daqueles conceitos quase incompreensíveis que ela descreve lançando mão de comparações entre as tradições indiana, judaica e egípcia.


Algo que sempre me vem a mente é que, não o misticismo, que é uma busca interior de Deus atemporal e solitária, mas o esoterismo, este acúmulo de informações acerca de religiões comparadas, mitologias de várias nações e culturas, e seus possíveis sentidos ocultos, muito se beneficiou e se beneficiará da informática, no sentido de organização dos dados disponíveis e de sua sistemática catalogação, de forma a permitir rápidas consultas ou comparações, na busca do sonho de Jung de uma simbologia Universal, um conjunto cultural que diga respeito a toda a humanidade, de onde talvez estas múltiplas tradições e manifestações tenham se originado. Existe muita informação no Universo esotérico à espera de organização adequada.

Pessoalmente acredito que Jung, embora tenha fracassado no seu objetivo de compilar os símbolos da humanidade e, na verdade, tenha criado novas categorias simbólicas, como os Arquétipos do Velho, da Mãe e da Sombra, estava certo em supor que existisse uma raiz comum para todos estes ramos atuais.



Penso que esta raiz era a Cultura Atlantiana, que a semelhança de um país, cujas diversas regiões acabam por modificar a língua pátria com entonações diferentes e costumes regionais, criando os chamados sotaques locais, ou mesmo dialetos derivados de uma mesma língua mãe, também a Cultura Atlantiana, poderosa como se diz que era, deve ter tido, no seu tempo, dezenas de embaixadas espalhadas por todo o planeta, comunidades satélites distantes, que exatamente em função da distância do centro civilizatório, devem ter desenvolvido seus próprios dialetos para narrar a mesma história comum.




Daí as peculiaridades em cada cultura (Babilônica, Celta, Indígena Americana, Indígena Australiana, Chinesa, Jônica, Viking, etc.) em que mitologias absolutamente diversas nos propõem idéias de Cosmogêneses semelhantes mesmo que descritas em histórias absolutamente diferentes.


Não há como provar tais coisas, mas minha intuição é forte de que esta é a explicação mais coerente. E de que, além disso, tudo o que nós chamamos de esotérico, e mesmo a linha de pensamento e praxis chamada Ocultismo, provavelmente não passam de um eco deformado de uma ciência pregressa e esquecida, em um tempo em que estas coisas não eram sobrenaturais mas partes integrantes de um corpo de conhecimento sólido e funcional, que auxiliou provavelmente na construção de civilizações e no desenvolvimento e bem estar de uma grande sociedade.
Tudo é ou foi ciência. 
E existem, do ponto de vista da epistemologia, o ramo da filosofia que estuda a constituição de um corpo de saber humano e dos critérios de verdade que fundamentam este saber, muitas possibilidades de desenvolver uma cultura científica. Cada povo caracteriza-se por enfatizar um tipo de abordagem científica da realidade e provavelmente cada um supõe, em seu momento, que sua abordagem é a mais perfeita e a mais avançada. Só que a moderna antropologia já não aceita a comparação linear de sociedades, nem a classificação das mesmas em sociedades pré e pós industriais, ou primitivas e avançadas, pois tantos são os aspectos e critérios possíveis a serem considerados para se classificar uma sociedade como avançada que fica difícil traçar-se um comparativo sem cometer injustiças sem definir quais critérios usaremos para isso.


Se consideramos a ecologia ninguém é mais avançado que os indígenas, sejam americanos, australianos, africanos ou brasileiros. A harmonia destes povos com a natureza e o respeito aos ritmos do cosmos que cultivavam e cultivam até hoje são notórios.



Se considerarmos a Medicina, o modelo tecnológico-químico americano e europeu não supera a tradicional acupuntura chinesa, antes se complementam de forma admirável, num somatório de conhecimentos e linhas de raciocínio diversas que podem, se reunidas, ampliar como hoje acontece, a oferta de possibilidades terapêuticas ao paciente.





Nossa sociedade ocidental moderna, por exemplo, tem como base de sua ciência a tríade elétrica, química, e mecânica.




Agora, imaginem que uma outra sociedade baseasse toda sua atividade, social, militar e científica, em diferentes aplicações da Acústica, e através de sons conseguisse construir prédios, defender-se de seus inimigos e propiciar terapêutica aos seus doentes.Talvez os nossos mantras sejam apenas um vestígio de uma vasta quantidade de sons que um dia constituíram a base de um conhecimento muito mais vasto e variado.

Tudo é ou foi ciência.
O que nos falta é a lembrança disso e dados que comprovem esta ligação entre corpos de conhecimento científico que foram descontinuados ou por catástrofes naturais, como a destruição de Atlântida, ou atos de barbárie anticulturais que custaram um preço incalculável à história do conhecimento, como a destruição da Biblioteca de Alexandria.



O que sinto é que os mitos não são apenas mitos, mas podem ocultar a História de outros tempos, tão intensa, tão real e palpável, quanto as notícias dos nossos jornais da manhã. Mas o tempo, este terrível ácido, destrói a solidez de qualquer lembrança, e faz com que suponhamos sonhos coisas que antes eram tão densas quanto as paredes de nossas casas.




A história de Tróia é uma demonstração disso. Considerada uma lenda por séculos,"Troia (em grego antigo Τροία, transliterado Troia, ou Ίλιον, transliterado Ílion; em latim Troia ou Ilium; em hitita Wilusa ou Truwisa; em turco Truva) é uma cidade onde ocorreu a célebre Guerra de Troia, descrita na Ilíada, um dos poemas atribuídos a Homero. Hoje é o nome de um sítio arqueológico em Hissarlik, na Anatólia, próximo à costa em que está hoje a província turca de Canakkale, a sudoeste do Monte Ida.Uma nova cidade foi fundada no sítio no reinado do imperador romano Augusto. Floresceu até o estabelecimento de Constantinopla, e declinou gradualmente durante os tempos bizantinos. Nos anos 1870 o arqueólogo alemão Heinrich Schiliemann escavou a área. As escavações revelaram várias cidades construídas em sucessão a cada outra. Uma das cidades (Troia VII) é frequentemente identificada com a Troia homérica"[1].


A lenda, graças a Arqueologia, tornou-se parte da História.
Que mais desenterraremos se continuarmos a cavar? 
O que mais pode ser descoberto com a melhoria das técnicas de investigação arqueológica? Esperemos. Muitas coisas provavelmente ainda aguardam para vir à luz.


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Troia

MAIS MOMENTOS DE APRENDIZADO DO BEBÊ ROBO

UM BEBE ROBÔ APRENDENDO A RELACIONAR CORES E COISAS

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MAIS GOOGLE GLASS

GOOGLEGLASS, O ÓCULOS DO GOOGLE

Lá vem mais uma tecnologia destas que modifica nosso cotidiano, ainda em testes intermináveis para ansiosos como eu.
Desfrutem este vídeo e os outros que publicarei. É muito legal.

YOANI SANCHEZ





Yoani escreveu:

"No aeroporto de Recife um lugar para o abraço… Ali encontrei muitas pessoas que durante anos têm apoiado meu empenho de viajar para fora das fronteiras nacionais. Houve flores, presentes e até um grupo de gente me insultando que muito gostei – confesso – porque me permitiu dizer que eu sonhava com que “algum dia em meu país as pessoas pudessem expressar publicamente dessa forma contra algo, sem represálias”. Um verdadeiro presente de pluralidade para mim que chego de uma Ilha que tentaram pintar com a monocromática cor da unanimidade."

Trata-se de alguém diferenciado. E filóloga, veja, uma "perigosa" rebelde que conhece o poder da palavra.

E os tiranos sempre temeram a palavra, porque sabem o poder da palavra. Tiranos sobrevivem e dominam seus tiranizados com seus discursos, não com seus canhões. São como serpentes que sibilam para suas presas e as imobilizam e hipnotizam com um som. Depois dizem, os ingênuos céticos, que não existem encantamentos.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

NOSSO FOCO DEVE ESTAR NO PRESENTE


por Mario Sales

Talvez o mais importante ensinamento da técnica de meditação, seja em que escola seja discutida, é que o meditador deve abandonar-se na experiência de mergulhar no presente.
No Samyama Yoga, a sequencia de quatro passos finais do Ashtanga Sadhana (caminho das oito partes) de Patânjali, dedicada aos aspectos mais mentais da prática, a concentração antecede a meditação.

É preciso, nesta sequência, distrair-se dos acontecimentos periféricos (prathyahara), mergulhar em estado de perfeita concentração (Dharana) para só depois entrar em estado meditativo (Dhyana).
Eu fixo um ponto ( o centro de um mandala, a chama de uma vela, ou um som monótono, repetitivo, chamado mantra) para que pouco a pouco possa ir penetrando no fluxo de vida, no fluxo de consciência, como um punhal que quanto mais afiado, mais pontiagudo, mais fácilmente penetra uma superfície qualquer.
Nossa mente (chitta) vive em desorganização e dispersão constante, seja pelos muitos apelos da vida na carne, seja pela ausência de uma educação psicológica nos moldes da escola Sankhya ou da escola doYoga, duas das mais importantes escolas de filosofia da Índia na chamada Era Dourada, possivelmente cinco mil anos atrás.
O exercício meditativo visa a desfazer esse turbilhão (Vritti) mental, e melhorar nossa percepção do aqui e do agora que, pasmem, não é estático. Quanto mais mergulhamos no aqui-agora, mas o percebemos como um rio rápido, um fluxo ininterrupto de idéias e inspiração, proveniente diretamente da Fonte de Todas as Fontes.
Este contato, como costumo dizer, é a prova indiscutível da existência e da presença de Deus em nós. As discussões sobre provas da existência do Altíssimo são estéreis enquanto se concentram na busca destas mesmas provas fora de nós mesmos. Se alguma pessoa realmente cética, destituída de qualquer tipo de sensibilidade  mística, quiser por a prova seu próprio ceticismo, deve, de maneira decidida, meditar.




A meditação nos põe em contato com planos mais profundos de nossa própria mente, nos revela uma nova percepção da realidade que com a mente em turbilhão não é possível enxergar, da mesma forma que uma lente suja e engordurada não nos permite contemplar o mundo a nossa volta. Precisamos limpar as lentes de nossos óculos mentais para contemplar adequadamente a realidade de maneira mais profunda e revigorante.
Mas eu perdi o fio da meada. O que me atraiu para esta reflexão é o que acontece ao contemplar-se face a face o aqui-agora, o, digamos assim, presente contínuo, que em nosso vernáculo é conhecido por gerúndio.
O presente real está sempre no gerúndio.
Duas coisas são impossíveis na criação: silêncio total e imobilidade. Tudo na existência tem som e movimento, mesmo que seja o som às vêzes inaudível do OM universal, que dizem, alguns ouvem quando atingem o estado de consciência mais profundo da meditação.
Focar no presente em fluxo, gerundial, esta é a lição de quem medita.
Em estado de Consciência Desperta, não existe passado nem futuro, só o fluxo presencial.
Presente, presença. Duas palavras que se fundem e tem origem etimológica semelhante.
A presença é, pois, fluxo.
Quem está no fluxo não olha para trás, não olha o passado nem mesmo como referência.
Esta é uma estranha lição no Ocidente, acostumado a pensar a História como uma orientação para nossas condutas, para evitar que erros pessoais e sociais se repitam.



E o que vemos? Nas palavras de Karl Marx, no "18 do Brumário", um texto pequeno mas revelador, "a história como que se repete sempre duas vêzes: a primeira como tragédia e a segunda como farsa".
Brilhante percepção. Temos o hábito, nós, aqui no Ocidente, de virar nossa cabeça para trás, como a esposa de Ló em Gênesis 19: 26. E ao fazermos isso, nos fascinamos com o que não mais existe, com o que passou, com aquilo que, portanto, é apenas uma lembrança. Vivemos destas lembranças, destas vagas lembranças, e acrescentamos sobre estas lembranças nossa imaginação, nossos desejos, nossos ideais de perfeição, montando ao final desta construção mental uma imagem híbrida, quimérica, que às vezes não conseguimos separar mais da realidade histórica aonde ela se fundamentou.
Este fenômeno psicológico tão hodierno quanto antigo e comum acontece frequentemente nas escolas de mistério, seja entre rosacruzes da AMORC, maçons ou martinistas.
Somos guardiões de uma tradição, mas, às vezes, guardamos não a essência da Tradição, mas sua forma.
Lembramos com respeito e saudade de outras épocas, de outras Ordens, e nos comportamos como a mulher de Ló, paralisados de fascínio pelo que já não existe mais e que acabou de ser destruído, como Sodoma o foi pelos raios dos Anjos do Senhor.
Não temos facilidade de focar no presente porque falta o treino meditativo, o hábito com os três passos do Samyama Yoga.
Se rosacruzes de AMORC, maçons e martinistas olhassem em estado meditativo para si mesmos veriam apenas o fluxo, o Presente Eterno, o Aqui-Agora, aonde a forma não tem nenhuma importância e aonde só a essência prevalece.
Esta essência é a Tradição que precisa ser preservada e que é nossa função preservar. É a Tradição que está dentro de nós, que sempre esteve e sempre estará dentro de nós, a mesma sabedoria que esteve em outros Esoteristas e Místicos e líderes mundiais em todas as épocas.
Um precioso tesouro oculto, o Verdadeiro Cálice de Cristo, aonde está depositado o Vinho da Vida, do qual se bebermos, jamais sentiremos sede outra vez.
É dentro de nós e não fora de nós, que estão os alicerces de nossas Ordens, o fundamento de nosso trabalho como místicos e esoteristas.
É dentro de nós e não fora de nós que estão as chaves para a compreensão dos textos os mais esotéricos, os quais não tem segredos para aqueles que olham com os olhos e as lentes mentais limpas do entulho do passado e da lembrança que nos obscurece a visão.
A mais alta iniciação é a Transição, que é o nome que os rosacruzes dão ao que os ocidentais chamam de Morte; no entanto, abaixo dela existe outra iniciação também de grande importância para o buscador, que implica no desenvolvimento desta visão interior, desta sensibilidade que só se manifesta quando nos libertamos da visão linear, sequencial, e passamos a ver o mundo com uma perspectiva esférica.
Só o tempo linear permite a farsa Histórica que Marx citava no seu brilhante arrazoado. O tempo místico é o tempo grego, o tempo eônico, circular, que não tem princípio nem fim, o tempo místico, mítico, não histórico.




Precisamos nos livrar do passado para finalmente vivenciarmos o estado de Iniciados.
O Iniciado não pode ter a mesma compreensão do homem não iniciado.

Pior que não ser iniciado é ser um iniciado histórico, que revisita o passado constantemente como uma viúva que revê com tristeza as fotos de seu falecido esposo.
O passado não está apenas morto, ele é a verdadeira Morte. Ele é o Não-existente que nos assombra e nos impede de viver o nosso presente real.
Com isso quererei eu que reneguemos nossos antepassados, nossos companheiros de outras épocas, nossos irmãos que construíram, enfim, a estrutura sobre a qual nos apoiamos? Não. Desejo apenas estimular uma mudança de viés, uma alteração do modo de administrar estas lembranças. Há dois tipos de passado, seja para homens ou para instituições: o primeiro, aquele que fundamenta (fundação- yesod, a sephira na base do pilar do meio da árvore da vida), que nos dá a sustentação para nossos trabalhos, como em ciência, quando lemos trabalhos antigos para ver até onde os que vieram antes de nós chegaram e a partir de onde devemos recomeçar a busca pela descoberta, produto deste diálogo com os que nos antecederam; o segundo, é o passado âncora, que nos imobiliza, que impede nosso navio de vagar mar a dentro, na busca de novos povos, novos oceanos.
O mesmo passado pode ser âncora ou fundação. Tudo depende de quem o consulta. Quem se baseia nele, fundamenta-se; quem ancora nele, tenta reproduzi-lo, reeditá-lo.
Rosacruzes, Maçons e Martinistas devem prestar tributos a todos os seus irmãos de todas as épocas pelo seus feitos por uma questão de justiça, mas jamais devem se esquecer que nossas Ordens devem ser o produto daquilo que fazemos hoje, no Aqui-Agora, percepção que nos livra do risco de em nossos dias sermos, não Ordens Esotéricas Reais e Contundentes na sociedade, mas apenas tentativas de repetições do que passou, tristes imitações sem vida, ou nas palavras de Marx, apenas farsas históricas.

AINDA OS TEMPLÁRIOS


por Mario Sales

"A história prefere lendas à  homens, nobreza à brutalidade, discursos inflamados às ações discretas. A História lembra das batalhas , mas esquece o sangue."

Do início do filme "Lincoln, caçador de vampiros"



Como houve uma intensa repercussão sobre a análise histórico crítica dos Templários, acho pertinente aprofundar o tema. Algumas reações foram mesmo de desconforto e este é o papel da reflexão verdadeiramente desassombrada, descompromissada com qualquer preconceito, em busca apenas da contemplação da realidade possível de ser contemplada.
Possível, porque como alguém comentou, tudo tem dois lados, e obviamente análises, sejam favoráveis ou desfavoráveis ao analisado, são sempre parciais.
Então, sinto-me bem por ter exposto "o outro lado da lua", para muitos que a admiram apenas como o "astro dos enamorados". A Lua, vista de perto, é cheia de crateras e rochas mortas. A sua indiscutível beleza em nosso céu, à noite, tem a ver com uma luz que não é propriamente sua, mas foi roubada do Sol, e nos é refletida de forma que seu verdadeiro dono não recebe o crédito.
As Ordens de Cavalaria também são assim. Recebem uma importância ao longo de séculos que tem mais a ver com nossos próprios ideais de perfeição romântica, e como com a Lua, esquecemos que estas Ordens tem um lado escuro, por serem parte de um exército, existiam para combater; e para vencer, era preciso que destruíssem seus inimigos, tirando-lhes a vida.



Mesmo aqueles que saíram de sua zona de conforto ao lerem aquelas linhas, por serem pessoas diferenciadas intelectualmente, como sei que são, concordarão que, como naquela época, na nossa é moda corrente tratar os árabes como bárbaros sem alma, seres no mínimo não civilizados. Esta é a história contada pelo Ocidente, sobre um tipo de povo ao qual o Ocidente deve praticamente toda a sua ciência e conhecimento.
Devemos aos árabes nossa matemática e astronomia (Al Biruni), nossa medicina e filosofia (Averróis e Avicena).
Os números que usamos em nossos cálculos são conhecidos como algarismos arábicos.
A Tábua de Esmeralda (ou Tábua Esmeraldina) , "o texto que deu origem à Alquimia islâmica e ocidental", foi primeiramente publicado em árabe , para ser traduzido  apenas no século XII para o Latim e aí sim começar a influenciar a Europa. Surgiu primeiramente nos textos seguintes: Kitab Sirr al-Khaliqa wa Sanat al-Tabia (c.650 d.C.), Kitab Sirr al-Asar (c.800 d.C.), Kitab Ustuqus al-Uss al-Thani (século XII), e finalmente, no Secretum Secretorum (c. 1140). É lá, na Tábua, que encontramos a frase tão decantada por maçons e rosacruzes: "Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius", traduzida como "O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.”



São estes mesmos árabes que conquistam Jerusalém e que são combatidos por Ordens de Cavalaria ocidentais, comandadas por Roma. É desses inimigos, chamados bárbaros, mas muito mais naquela época do que na nossa, representantes de uma civilização altamente refinada, que estamos falando.
Por outro lado, existe o aspecto literário. Como foram uma Ordem em princípio gerada no seio da chamada "Santa Madre Igreja", os Templários tiveram sua história banhada por textos que a enalteciam, escritos exatamente pelos únicos intelectuais e escritores que eram funcionários públicos com estabilidade no emprego e direitos trabalhistas assegurados, em uma época em que comer todos os dias não era para todos: os padres. E entre eles, São Bernardo de Claraval, que escreve sobre eles: "Um Cavaleiro Templário é verdadeiramente, um cavaleiro destemido e seguro de todos os lados, pois sua alma é protegida pela armadura da fé, assim como seu corpo está protegido pela armadura de aço. Ele é, portanto, duplamente armado e sem ter a necessidade de medos de demônios e nem de homens."[1]
Ora, isto tem um impacto no imaginário de qualquer nação. Ainda mais quando descrito e repetido em meio as missas que ocorriam a todo momento em todas as partes da Europa cristã.
Mas são os templários apenas um engodo, produto do marketing e da propaganda de Roma, ou teriam dentro de suas fileiras algum valor espiritual real?
É preciso, para ser sensato, lembrar que nenhuma Ordem, seja religiosa, esotérica ou de Cavalaria é totalmente homogênea. Mesmo entre os grupos mais cruéis encontramos lampejos de nobreza.
O que não quer dizer que não possamos falar em uma Ordem dos Templários AJM e PJM (antes de Jacques de Molay e pós Jacques de Molay).
O martírio do Grão Mestre arquitetado por Felipe IV e pelo Papa Clemente V teve um papel de divisor de águas na vida da Ordem.
A Ordem que reverenciamos não é aquela das batalhas na Terra Santa, nem a que acumulava tesouros indescritíveis, nem mesmo a que se dizia "pobre" e "casta", mas que gerava expressões como até hoje de diz na Alemanha: "beber como um Templário". A Ordem que reverenciamos, às vêzes de modo excessivo, era o que eu dizia no outro ensaio, é a Ordem Templária PJM.
Perseguidos, desmoralizados, sem a proteção de outrora da chamada "Santa Madre Igreja", eles são obrigados a fugir e mergulhar na clandestinidade, conhecendo o que os rosacruzes chamam de "a noite negra da alma".
Porque da mesma forma que hoje muitos se iludem julgando nobres e probos homens que primavam pela violência e às vêzes barbárie, como parte de seu cotidiano, também os próprios templários foram iludidos pelo mesmo discurso que os criou e alimentou sua existencia AJM.
De cavaleiros cuja  "alma, é protegida pela armadura da fé, assim como seu corpo está protegido pela armadura de aço" passaram a ser fugitivos perseguidos, humilhados pela própria Igreja que antes os idolatrava.
A desilusão que se seguiu (desilusão - perda da ilusão) deve ter tido, como teve, um forte impacto psicológico em suas vidas pessoais e este novo período da Ordem foi, provavelmente, uma busca de novos valores, mais perenes, menos católico-romanos e mais humanos, não mais baseados na literatura dos padres, em seus discursos de ódio contra os árabes, que antes de serem homens sem Cristo eram concorrentes da política expansionista das Igreja que deveriam ser destruídos a qualquer custo.
Os Templários PJM eram agora homens mais lúcidos, menos embalados por fantasias e mais conscientes de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
Não há mais a vontade de conquistar e destruir um inimigo contra o qual foram lançados como cães adestrados por um treinador malicioso.
São agora senhores de sua vontade, sem rédeas ideológicas, sem uma bandeira de intolerância religiosa, sem ódios pré programados em suas mentes.
Começam um novo tipo de existência, muito semelhante a outras Ordens que conhecemos, discretos, voltados para a sua própria evolução como homens dignos, quase como um período de expiação de culpas pelas barbaridades da guerra, que com certeza foram muitas, pois não existe guerra que não seja bárbara.
É neste contexto de renascimento das cinzas, com a espada agora sendo mais um símbolo do que um instrumento de morte, que eles atravessam os séculos seguintes, do XIII até o XVIII, quando aparecem em meio a reorganização da Maçonaria na França, na pessoa do Cavaleiro de Ramsay (1686-1743). O trecho a seguir é retirado de "Maçonaria: a descoberta de um mundo misterioso" de Angela Cerinotti, Ed. Globo: "André Michel de Ramsay,( ... ) havendo se transferido para a França e se tornando "Grande Orador da Ordem" ( um cargo criado pela maçonaria francesa, não contemplado na Inglaterra), preparou para o dia 12 de março de 1737, em ocasião de um encontro entre expoentes de várias lojas, um discurso destinado a ter repercussão, depois de sua publicação. Na verdade, Ramsay não propôs, como muitos acreditam,a criação de graus suplementares, mas limitou-se a afirmar a superioridade da Maçonaria Escocesa quanto à pureza da tradição.(...) Muito provavelmente Ramsay não tinha consciência de quanto as implicações de seu discurso se revelariam determinantes para as novas feições da Maçonaria na Europa Continental.(...) Mas o modelo ético de que ele se serviu para traçar o retrato do maçon ideal não era mais o do "pedreiro-livre", e sim a do "cavaleiro"; e o contexto não era mais o canteiro de obras da catedral gótica  e sim o campo dos Cruzados, onde haviam lutado, juntos, a fidelidade a uma elevada tarefa religiosa e a honra do exercício das armas. Ramsay sustentou que o apelativo free-mason não deveria ser entendido pelos Irmãos "em sentido literal e grosseiro", como se "os fundadores da Ordem tivessem sido simples trabalhadores de pedras ou do mármore ou gênios curiosos que queriam aperfeiçoar as artes"  ou "apenas hábeis arquitetos que queriam dedicar seus talentos e seus bens à construção de templos exteriores". Os verdadeiros fundadores da Maçonaria tinham sido, segundo Ramsay, "príncipes religiosos e guerreiros que queriam", de acordo com a definição dada por São Paulo, "iluminar, edificar e construir os Templos vivos do Altíssimo".
Por esta longa citação, que foi apoiada no texto "Simbologia Maçônica, Graus Escoceses" de U. Gorel Porciatti, citado no texto de Angela Cerinotti, pode-se concluir que a chamada ligação Maçônica Templária nasce, e esta é a conclusão mais óbvia, de uma construção literária do cavaleiro de Ramsay, com o único intuito de estabelecer parâmetros de nobreza que envaidecessem os membros da Ordem Maçônica em França, geralmente provenientes da Aristocracia.
A negação da origem da maçonaria nas Guildas Inglesas de construtores, a suposição de que na verdade os maçons fossem produto do esforço de Nobres de construir uma Ordem de Cavalaria, tudo isto brota das tintas de um texto e não de fatos históricos.
A reunião entre maçons e templários do período PJM só se sustenta na necessidade de proteção e abrigo no segredo daqueles que, tendo sido antes poderosos, eram agora apenas e tão somente fugitivos sem pátria.
Ao contrário do que Ramsay diz, todas as evidências históricas apontam para um início da Maçonaria em moldes de humilde relacionamento entre pedreiros, que eram obrigados a conviver por séculos, já que uma catedral levava dezenas de anos para ser construída ( a de Barcelona levou duzentos anos). Em dois séculos, os construtores iniciais morrem e transmitem seus legados aos seus filhos que continuam seu ofício, e as ligações entre as famílias se aprofundam, com um alto grau de solidariedade entre os que estão expostos aos riscos de uma engenharia sem as medidas de segurança que hoje conhecemos. Uma única pedra que caísse, mataria dezenas de homens. Um tal grau de risco comum cria laços, não os laços da Guerra, como propunha Ramsay, mas os laços de um destino comum de trabalho e amizade.
Quanto ao fato de originalmente os Templários serem assim chamados por terem erigido sua sede sobre as ruínas do Antigo Templo de Salomão, simbolismo este que até nossos dias é consagrado entre maçons, isto não quer dizer que o simbolismo bíblico fosse fundador da Ordem Maçônica, mas sim que , a posteriori, estes fatos foram alçados ao imaginário e transferidos arbitrariamente ao passado como fato fundador. A Maçonaria Simbólica é posterior a Maçonaria Operativa, portanto o valor de símbolos como o Templo de Salomão só é consagrado em nossa Ordem quase ao final da Maçonaria Aristocrática, nos século XVII e XVIII.

O Incêndio de Londres



A maçonaria sempre foi uma Ordem Esotérica, no sentido do segredo, mas o tipo de segredo que guardou e guarda mudou ao longo dos séculos. No início, este esoterismo serviu a preservação de técnicas profissionais de corte das pedras, no intuito de manter a reserva de mercado, o que sustentou a Ordem até o incêndio de Londres, de 2 a 5 de setembro de 1666, quando a destruição da cidade foi tão grande que foi necessário chamar pedreiros de outros países, quebrando o monopólio da Guilda ou Sindicato Londrino de Construtores, os primeiros maçons. É neste contexto que a Maçonaria, unicamente no sentido de buscar sua própria sobrevivência, acelera o fenômeno dos maçons aceitos, o qual já ocorria desde o século XIV, com a entrada na Ordem de pessoas que não tinham em princípio vínculos com a Arte de Construir Catedrais ou o que quer que fosse, mas eram, isto sim, membros da Aristocracia, fascinados com o apelo de pertencerem a uma sociedade secreta. Entre os séculos XIV e XVIII, a maçonaria se transformaria, agora sim, de uma Ordem Secreta Profissional, em uma Ordem Esotérico-Simbólica, com uma metamorfose progressiva de seus ritos, a adoção de um ritual de Iniciação no lugar do Banquete de Aceitação que acontecia antes para os que nela ingressavam. É neste período, provavelmente sob a influência dos rosacruzes que se tornaram membros de suas fileiras, que a Bíblia passou a ser a fonte das reflexões maçônicas, e não mais apenas e tão somente a camaradagem entre os Irmãos.
Não surgimos como filósofos, nem mesmo como Cavaleiros, mas como pedreiros proprietários de uma técnica única de corte de pedras ensinada, mais uma vez , por padres arquitetos na virada do século X, quando começa a reconstrução da Europa após a Guerra de Cem Anos, humildes e acostumados ao trabalho braçal e à cerveja, mas com um forte senso de pertencimento a um grupo solidário e leal.
Existiram templários dentro da maçonaria sim, mas no período PJM. Eram já outro tipo de templários, mais preocupados em construir do que destruir, talvez até mais templários maçonizados do que maçons templarizados, dada a influência positiva de uma convivência com seres pacíficos e solidários, tendo pouco a ver com aqueles templários AJM, que matavam e saqueavam árabes. Para estes templários, a batalha real tornou-se apenas uma lembrança, nas sombras do anonimato forçado.
A conotação de origem templária da maçonaria e a construção de um passado imaginário de lutas e glórias associada àquela Ordem, AJM, está, como demonstramos, dentro de um contexto literário e discursivo, algo do qual fomos convencidos em uma noite de março de 1737, pela habilidade retórica de um poderoso orador.



[1] Bernard de Clairvaux, c. 1135, De Laude Novae Militae—In Praise of the New Knighthood

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

EQUÍVOCOS NA INTERPRETAÇÃO DO PAPEL HISTÓRICO E MESMO SIMBÓLICO DOS TEMPLÁRIOS

Por Mario Sales

"A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (em latim "Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominici"),[2] mais conhecida como Ordem dos Templários, Ordem do Templo (em francês:"Ordre du Temple" ou "Les Templiers") ou Cavaleiros Templários (algumas vezes chamados de: Cavaleiros de Cristo, Cavaleiros do Templo, Pobres Cavaleiros, etc), foi uma das mais famosas Ordens Militares de Cavalaria.[3] A organização existiu por cerca de dois séculos na Idade Média, fundada no rescaldo da Primeira Cruzada de 1096, (por Hugo de Payens, em 1118) com o propósito original de proteger os cristãos que voltaram a fazer a peregrinação a Jerusalém após a sua conquista. Os seus membros fizeram voto de pobreza e castidade para se tornarem monges, usavam mantos brancos com a característica cruz vermelha, e o seu símbolo passou a ser um cavalo montado por dois cavaleiros. Em decorrência do local onde originalmente se estabeleceram (o Monte do Templo em Jerusalém, onde existira o Templo de Salomão, e onde se ergue a atual Mesquita de Al-Aqsa) e do voto de pobreza e da fé em Cristo denominaram-se "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão".O sucesso dos Templários esteve vinculado ao das Cruzadas. Quando a Terra Santa foi perdida, o apoio à Ordem reduziu-se. Rumores acerca da cerimónia de iniciação secreta dos Templários criaram desconfianças, e o rei Filipe IV de França profundamente endividado com a Ordem, começou a pressionar o Papa Clemente V a tomar medidas contra eles. Em 1307, muitos dos membros da Ordem em França foram detidos e queimados publicamente.[4] Em1312, o Papa Clemente dissolveu a Ordem. O súbito desaparecimento da maior parte da infraestrutura europeia da Ordem deu origem a especulações e lendas, que mantêm o nome dos Templários vivo até aos dias atuais."

fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_dos_Templ%C3%A1rios



A maioria dos esoteristas devem, para ser esoteristas, ter prazer na história romanceada e serem sensíveis às idéias nobres e elevadas. Este prazer pelo aspecto romântico como conhecido na tradição literária da Alemanha do século XVIII, não tem necessariamente em si uma denúncia de ingenuidade. Ele reflete o prazer pela beleza, como o gosto pela poesia, pela boa música, pela boa arte. 
Na verdade, como ser sensível que é, o esoterista é um indivíduo imbuído do estético até os ossos. Ele olha o mundo pelos olhos do espírito e o espírito vê a beleza da Criação e a presença de Deus nas coisas mais simples e comezinhas. O olhar do iniciado se fascina com facilidade, como a criança, de quem ele busca retirar características, exatamente para vivenciar sua condição de iniciado. 
Não foi o mestre Jesus que ensinou que para descobrirmos o caminho do reino dos céus devemos ser simples como as crianças? 
Feito este preâmbulo, compreende-se que a simplicidade de espírito, que na verdade reflete a pureza d'alma que qualquer iniciado almeja, reflete-se em modelos como os da lenda da Távola de Artur e, por extensão, aos Cavaleiros da Ordem dos Templários, decantados em prosa em verso. 




Só que a Ordem fundada por Hugo de Payen em 1118 nada tem a ver com a lenda dos cavaleiros Bretões, já que estes são produto do imaginário romântico e em vez de seres humanos reais e históricos, são símbolos de valores e idéias caras àqueles que estão em busca da Luz, expressada miticamente no Santo Cálice de Cristo, ou "Hole Graal", na língua inglesa. 
Já os templários são um fato histórico, tendo sua existência datada, em um contexto político religioso bem definido e com uma atuação não devidamente compreendida pelos contemporâneos que os reverenciam como se não fossem seres humanos reais envolvidos em uma guerra religiosa sanguinária e absolutamente descabida de motivos legítimos. 
Seu nobre lema (escrito por São Bernardo (e) extraída do livro dos Salmos: "Non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam" (Slm. 115:1 - Vulgata Latina) que significa "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome a glória" ) e o fato de intitularem-se como Pobres em seu próprio nome, não impediu que esta se tornasse a mais rica e poderosa ordem de cavalaria nos 200 anos de sua existência. 




Os templários eram não só protetores de peregrinos mas também de valores materiais, tendo tradicionalmente sido os inventores do cheque, como o conhecemos, um documento em papel que representava determinava quantia, de forma que não se carregasse muitos valores em uma viagem sempre perigosa, e ao chegar ao destino, fosse possível de posse deste documento, resgatar o valor que ele indicasse. Isto implicava em ter que estocar altos valores nos locais de destino como nos locais de partida, o que caracteriza uma atividade bancária. Isto em si já demonstraria a falácia de imputar a estes cavaleiros o título de pobres, mas existem outros equívocos , produtos de uma excessiva romantização de sua história, principalmente a sua santidade de objetivos. Devemos lembrar que o fenômeno templário ocorre em meio às cruzadas. Cruzadas eram expedições militares que tinham por objetivo principal "a libertação da Terra Santa ( Jerusalém) do domínio muçulmano. 
Ora, neste particular, os Templários são o negativo da foto dos guerreiros de Alá, a versão da Igreja Romana dos combatentes religiosos perfeitos do profeta, movidos pelo discurso de ódio entre religiões que dominava o cenário medieval. Se os árabes os chamavam de Infiéis, por não seguirem a crença do Islã, da mesma forma eles nomeavam os árabes que na sua visão, alimentada por Roma, eram homens vis e sem piedade. 
Na verdade, era uma guerra como qualquer outra, com o agravante de que era travada em um período de baixa tecnologia e nenhum recurso médico, com instrumentos de batalhas extremamente cruéis, como as espadas ou espadagões que de tão pesados deviam ser empunhados com as duas mãos. Os ferimentos infligidos por este tipo de arma eram lacerantes e necessariamente não causavam morte imediata, mas que causariam a morte depois de algumas horas ou dias de agonia, geralmente por hemorragias incoercíveis, acompanhadas de dor extrema pelas prováveis lesões nervosas. 
As condições de batalha por serem atrozes traziam realidade a mente daqueles que tinham se motivado a se envolver nestas campanhas influenciados pelo discurso sempre hábil de padres e sacerdotes recrutadores. Havia também a falsa impressão de que por um período de envolvimento de 2 a 3 anos era possível conseguir para si e seus descendentes riqueza, nobreza e títulos, fora benefícios espirituais abstratos vendidos pelo discurso dos sacerdotes como consequência das atrocidades contra as tropas de Saladino, o mais poderoso dos inimigos dos Cavaleiros de Cristo. A dor e o sofrimento das batalhas ao vivo geravam desilusão e alta taxa de deserção, como na batalha de Hattin, ganha por Saladino em 1187, que refletia o desencanto entre as fantasias alimentadas ao sair do país de origem e a realidade triste da Guerra. 
Se hoje, para meu espanto, muitos rendem homenagem à Ordem dos Templários e mesmo ensaiam teatralmente sua restauração em nossos tempos de celulares e computadores, isto se deve apenas ao romantismo supra citado e a falta de conhecimento histórico. 
Não é compreensível que um acontecimento tão brutal quanto a morte de mulheres e crianças muçulmanas, passadas a fio de espada pelo primeiro comandante das Cruzadas, Balduíno IV, na batalha de Montigisard, possa inspirar devoção cristã ou espiritualidade. 
Ainda mais quando o nome do Cristo, um ser de misericórdia infinita está associado com este banho de sangue histórico que foram as cruzadas, aonde os Templários estiveram envolvidos de maneira indiscutível. 
É preciso que repensemos como esoteristas maduros o excessivo louvor que depositamos nesta associação de cavaleiros, que não são um grupo de santos e mártires, mas um braço armado e extremamente violento da Igreja na consecução da sua hegemonia territorial ao longo dos séculos 11 e 12.