Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 21 de novembro de 2017

SETE ANOS

por Mario Sales







Em uma quarta-feira, no dia 3 de março de 2010, com um ensaio intitulado “Considerações místicas sobre as três virtudes teologais de Paulo apóstolo: a visão mística”, este blog começou sua caminhada.
Após 7 anos de trabalho, acredito que tenha diminuído em muito a angustia que era o desejo não satisfeito na época de expressar minhas posições sobre aspectos filosóficos, administrativos e místicos acerca da vida esotérica.
Embora o marcador da capa mostre 240.006 acessos ao longo do tempo, o contador interno do Google, mantenedor do conjunto dos Blogspot, registra 278.763 como o número correto.
Mesmo assim depois de 76 comentários pessoais, 266 ensaios místicos, 127 ensaios psicológico-comportamentais, 22 textos sobre epistemologia e 338 vídeos, (alguns retirados do blog à minha revelia pelo administrador, provavelmente a pedido dos autores com direitos autorais), mesmo considerando esta produção não consegui como desejava criar um ambiente de permanente debate acerca de temas que são caros ao rosacrucianismo prático, à vida maçônica e ao Martinismo da T.O.M., a Tradicional Ordem Martinista abrigada na AMORC.
Por algum tempo pareceu que isso aconteceria e houve mesmo embates históricos, tensos, além de manifestações curiosas de visitantes esporádicos que, a mim me parece, gostariam de criar seu próprio blog, e por alguma razão que não alcanço, não o fizeram, fazendo deste espaço seu espaço de expressão.
Tudo isso passou.
Nesses sete anos muitos leitores vieram e muitos desapareceram, alguns inclusive morreram, no vai e vém constante da existência; terminei minhas monografias de AMORC após 40 anos de ordem, um pouco atrasado, eu sei, mas cada um tem seu ritmo. Este ano oficializei minha saída da Maçonaria, embora permaneçam os vínculos de amizade e o carinho pelos irmãos de Loja.
Do Martinismo resta a dedicação ao estudo de Cabala, que tem me envolvido nos últimos anos, culminando no esforço atual de montar, numa extensão da URCI, uma sequência de 50 horas de aulas sobre Cabala para toda a Ordem em ambiente virtual. Um projeto grandioso ainda em organização.
O blog, no entanto, não me parece com a mesma intensidade de sete ou seis anos atrás.
Isto porque, como em todos os fenômenos do mundo objetivo, o tempo passa. E mudamos aos poucos nosso foco. Talvez isso explique a baixa audiência, de 1000 a 1500 acessos por semana para meros 300 acessos.
Pode ser uma fase. Pode ser que passe.
Mesmo que isso não ocorra, agradeço ao Cósmico pelo tempo que, até hoje, dediquei a este projeto, e que me permitiu expressar, de forma organizada, uma série de posições que precisavam, pelo menos para mim, se manifestar.
Não se pode lidar com o mundo de Atziluth, pura idéia, sem tempo ou espaço.
Vivemos em Malkuth, em Assiah, no nível da Criação material, e como tal, como no jogo do bicho carioca, vale o escrito, não o pensado.
Nem todas as minhas angustias filosóficas podem ser descritas, falta-me a competência literária e emocional para isso.
As que pude manifestar na forma de texto, no entanto, já retiraram de minhas entranhas uma serie de duvidas e questionamentos, e os tornaram públicos, de forma a serem compartilhados por outras pessoas.
Provavelmente muitos se reconheceram naquelas reflexões, e dessa forma, o blog cumpriu e continua cumprindo seu papel de fornecer mais um tijolo na melhoria do mundo, na restauração do mundo, o Tikun Olam, despedaçado pela Shevira Hakelin, o estilhaçar dos vasos da Árvore da Vida.
Dessa forma, como todos nós colaboramos na construção de nossa sociedade com nossas habilidades, minha colaboração tem sido esta, de compartilhar dúvidas e incertezas, gerando reflexão, para um seleto numero de pessoas, é bem verdade, mas grupo ao qual eu pertenço.
Nosso grupo é o grupo de esoteristas e místicos, estudantes do mundo interior, exploradores íntimos, que buscam cumprir o vaticínio escrito em Delfos, o oráculo grego.

Que os mestres permitam que continuemos nesta jornada, dentro e fora destas linhas e textos, em busca do prêmio maior, o Santo Cálice, conquista daqueles que, por persistência ou merecimento, buscam realizar.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O RESHIMO (A IMPRESSÃO)[1]

 [1]



"Após haver falado do TzimTzum, analisaremos agora aquilo que permaneceu no lugar donde se afastou a luz do Ein Sof. Por acaso, uma vez que a Luz Infinita se contraiu, ficou em seu lugar simplesmente um espaço vazio e oco?
O tzimtzum permitiu que a luz e o esplendor do Criador fossem percebidos, já que anteriormente, não podiam ser vistos. Essa luz que pode ver-se antes das sephirot e da formação dos mundos é conhecida como Reshimo, palavra derivada do vocábulo hebreu Roshem, que significa Impressão. Ou seja, se refere a impressão que ficou da luz, antes de ser contraída. O Reshimo assinala o lugar aonde existe toda a realidade, porque ele outorga existência a tudo, coisa que não podia proporcionar o ilimitado.
Em uma exegese desses conceitos pode falar-se do livro do Gênesis (28:10) aonde Rashi escreve a respeito: “Nos ensina que a partida de um homem justo de uma cidade deixa uma impressão”. A explicação é que apesar de que o justo abandone a cidade, fica uma impressão dele; em outros termos, a Santidade que irradiou durante o tempo que esteve ali, está ainda presente. Em todo lugar aonde reinou a Santidade, não é possível apaga-la e embora a fonte da mesma haja partido, sua impressão sempre permanece.
Logo depois do tzimtzum, quando o Criador retirou Sua luz ilimitada, ficou em seu lugar uma Santidade, que comparada com a que a precedeu, é como a obscuridade frente a luz, como a sombra do homem ante ele mesmo. No que nos diz respeito, essa luz é a fonte e raiz de toda a realidade, local de todos os mundos.
Isso assinala que antes do tzimtzum a luz do Ein Sof era completa, e que era impossível discriminar entre a Luz e a Luminosidade porque se anulavam ante a Luz do Ein Sof, tal como a luz de uma vela se anula frente a luz do sol.
O Eterno criou, em um primeiro momento, algo como um espaço vazio. Apesar de ter criado a realidade das sefirot sem a necessidade de fazê-lo por etapas, Ele quis criar os mundos de acordo com a natureza dos seres criados, ou seja, passo a passo. Então, antes de emanar as sephirot, criou o Reshimo, que é a raiz da realidade futura.
Agora compreendemos como esta progressão gradual foi estabelecida desde o princípio. O criador quis continuar uma Ordem “concatenada” (em que uma coisa se liga e se desprende da outra) na qual Sua luze o esplendor de Sua Santidade aparecem no mesmo nível.
No Reshimo encontra-se enraizado o futuro da realidade em sua totalidade."




[1] El Zohar, Tópicos de la Cabala, 3ª parte, capítulo 2, página 59 a 61, Ediciones Obelisco, 2006, Projeto Amós, Barcelona, Espanha.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

OBSTÁCULOS AO ENTENDIMENTO




Por Mario Sales




Flavio leu e comentou o post sobre a lógica peculiar dos textos de Cabala. Disse que o texto “está de acordo com nossas conversas, porém para o blog fica um tanto difícil entender, uma vez que é um texto pouquíssimo difundido e entendido por um número restrito de pessoas”.

Fato. O assunto é árido.

Para acompanhar meu raciocínio ou mesmo minha perplexidade é preciso ler o Sepher Bahir e o Sepher Yetzirá como também a Doutrina Secreta. Não é assunto corriqueiro ou banal. Estamos falando dos textos fundamentais do esoterismo.

E existem outros.

Nosso projeto é estudar às sextas Cabalá e continuar às quartas revendo textos de Blavatsky, como este que estamos trabalhando “Ísis sem Véu”.



Temos interesse em ler os Upanishads, que em sânscrito quer dizer “aos pés do mestre”, comentários feitos aos Vedas, os textos raiz do Hinduísmo.

Ou seja, temos trabalho para mais de uma encarnação.

Não existe tristeza ou desanimo quando temos um objetivo definido.

Eu queria ser mais didático no post, mas confesso que me deixei levar, ingenuamente, pelo entusiasmo. Logo eu que sou um militante da causa do esclarecimento e da facilitação do acesso ao conhecimento.

O que me vem à mente é que uma facilitação de compreensão passa por um domínio profundo dos temas abordados, coisa que eu ainda não tenho.



Foi de 2005 para cá, desde a minha iniciação no Martinismo da TOM (Tradicional Ordem Martinista) que a Cabala começou a me interessar.

São apenas doze anos estudando e dada a complexidade do assunto e a lentidão do meu intelecto, acho pouco.

É mais ou menos como os textos de Jacob Boheme. Comecei a ler Jacob por Aurora, seu primeiro livro, no ano 2000, se não me falha a memória, talvez motivado por uma entrevista do músico Lobão. Era mais curiosidade. A dificuldade era tão grande de acompanhar seu raciocínio que o livro me caiu das mãos, e ficou na biblioteca, encostado.

Ao entrar na Martinista, vi que o nome de Boheme era repetido com respeito e veneração pelos irmãos mais antigos. Falavam da importância e da influência que seu trabalho possuía na linha do tempo esotérica, tendo marcado muitos autores, um deles Louis Claude de Saint Martin, que dá o nome à Ordem. O que notei, no entanto, é que, embora todos concordassem com sua importância, não conseguiam me passar seus conceitos básicos.

Quando eu perguntava sobre quais eram os assuntos que ele se debruçara, via de regra me respondiam de forma vaga, imprecisa, com frases do tipo “ele escreve sobre espiritualidade de modo muito profundo”, o que para mim era como dizer que ele escrevia sobre cavalos, sem especificação da raça, do porte, da cor do cavalo, se sobre a criação de cavalos ou sobre a arte da equitação.

O esoterismo tem este problema. Existem textos dos quais a maioria das pessoas fala sem absolutamente ter folheado que seja suas páginas.

É como o dificílimo texto de Martinez de Pasqualy, “Tratado da Reintegração dos Seres”.

Fui informado de que há um curso regular na Loja São Paulo da AMORC sobre o mesmo e gostaria de poder assisti-lo.

Quando tentei lê-lo fui assombrado pelas dificuldades de acompanhar um pensamento de outras épocas, redigido de forma obscura e às vezes enigmáticas.

Fui salvo pelo esquema do livro feito por seu secretário, L.C. de Saint Martin, aonde as concepções ficaram claras como o dia.

Se o esquema realmente reflete as idéias do livro com fidelidade, posso dizer que conheço o pensamento de Pasqualy no Tratado, mas apenas porque fui auxiliado pelo Quadro Sinóptico feito por Saint Martin.

Gostaria de fazer o mesmo com o Bahir, mas isto implicaria em um esforço para o qual ainda não me sinto pronto, mesmo com o auxílio das explicações de Arieh Kaplan.

Escrever sobre o assunto me ajuda a fixar e refletir sobre os conceitos que estudo.

Minha mais importante razão, no entanto, ao descrever minhas angústias de leitor, minhas dificuldades hermenêuticas compreensíveis em relação a estes textos é dividir com mentes afins, com interesses comuns, que são na minha fantasia, o tipo de pessoas que vem ao blog, e arrancar deles alguma manifestação que me ajude e que ajude a eles a lidar com estes obstáculos interpretativos, posto que a maioria dos esoteristas está lendo (ou não) estes textos e não dando aulas sobre eles.

São poucas as manifestações, entretanto.

O que me leva a pensar que não são muitos os que estão trabalhando, estudando e interpretando esses textos. E aqueles que estão talvez não leiam o blog.

Estas são apenas hipóteses, difíceis de comprovar.

Eu penso escrevendo.

Provavelmente, nem todo mundo é assim. E embora estejam na mesma lida, não querem ou não sabem como compartilhar suas dificuldades, seus obstáculos.

O certo é que ler junto com outras pessoas é muito animador e nos protege da falta de determinação. Que nosso grupo de estudos prossiga por muitos anos, se o Altíssimo permitir.

sábado, 21 de outubro de 2017

A ESTRANHA LOGICA DOS TEXTOS TRADICIONAIS DE CABALÁ

por Mario Sales


“Qual é o significado da expressão: ´elevou-se no pensamento`? Porque não dizemos ´desceu [no pensamento]?
De fato, dissemos: ´Aquele que fita a visão da Carruagem primeiro desce, depois ascende`.
Usamos aqui a expressão [ de descer] porque dizemos: ´Aquele que fita a visão (tzafiat) da Carruagem. ` (...).
Aqui, todavia, falamos do pensamento, [e, por isso, fala-se apenas de ascensão]. Pois o pensamento não inclui visão alguma e não tem qualquer final. E, tudo aquilo que não tenha nenhum final ou limite, não tem descida alguma.
Por isso, dizem: ´Alguém desceu ao limite do conhecimento de seu amigo`. Pode-se chegar ao limite do conhecimento de uma pessoa, mas não ao limite de seu pensamento. ”
Sepher Bahir, comentado por Arieh Kaplan, 1980, Imago Editora, versículo 88, págs. 58 e 59.


Capa do Bahir, no original



Quem já se aventurou a ler “A Doutrina Secreta”, o colossal trabalho de H.P.Blavatsky, sabe o que é estudar um texto obscuro. A linguagem do século XIX, as características da escritora, espontaneamente prolixa e labiríntica nas suas dissertações, as inúmeras interrupções na linha de pensamento para longas explicações sobre trechos pouco importantes, combatem aqueles cujo único objetivo é extrair deste vasto material alguma informação ou sentido.
Ler o Bahir, como de resto o Sepher Yetzirá, esbarra em problemas um pouco maiores.
Não se trata apenas de que seu autor (Isaac, O cego, ou outro) ter ou não um pensamento claro e uma linha de raciocínio retilínea, cujas conclusões nos pareçam coerentes com as propostas. Muitas vezes não sabemos do que o autor está falando, o que nos remete a uma questão fundamental ao estudante de Cabalá não judeu.
Toda a ramificação da cultura judaica tem duas raízes: de um lado, a Torah e o Talmude; de outro lado o cotidiano da vida judaica, suas práticas religiosas e crenças.
Aqueles que se interessam pelo estudo da Cabalá e não são judeus, podem, obvio estudar a Torah e ler o Talmude inteirando-se de suas imagens e conceitos; mas pelo fato de não terem vivenciado o ambiente familiar de uma família ou comunidade judaica, sente uma forte sensação de estranhamento ao se deparar com textos que, além da distância histórica no tempo apresentam peculiaridades de encadeamento de ideias próprias desta cultura.
Mesmo entre judeus, nem todos têm, ou interesse, ou capacidade para estudar Cabalá.
É preciso que, primeiramente, o interessado tenha uma forte motivação pessoal, um perfil compatível com horas e horas de leitura e interpretação e a paciência características dos exegetas em uma vez contemplando um texto estranho e obscuro, não ceder à tentação de abandoná-lo, esforçando-se em descobrir o código que o fundamenta.
Porque este código existe.
Os textos cabalísticos são difíceis de ser interpretados primeiro porque são textos de épocas em que o espírito didático não era prioritário ao escritor, e segundo, porque tais textos foram escritos por cima de uma cultura fortemente baseada na Torah e no Talmude.
E ainda existe um terceiro motivo para o esoterismo de tais textos: sua lógica interna é peculiar e em nada segue o cânone grego de pensamento, que produziu preciosidades como “Todos os homens são mortais; Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal. ”
Não. As frases são caracterizadas por terem aparentemente um nascimento semelhante ao das Sephirot, como descrito no Sepher Yetzirá, “ Dez Sephirot do Nada”, como representação da ideia de que as Sephirot são manifestações puramente conceituais e diáfanas, sem natureza alguma material.




Rabino Arieh  Kaplan

Como no trecho acima: “Aquele que fita a visão da Carruagem primeiro desce, depois ascende. ”
Ou na pergunta: “Qual é o significado da expressão: ´elevou-se no pensamento`? Porque não dizemos ´desceu` [no pensamento]? ”

Salvo questões inerentes as imperfeições de tradução do original em inglês, problema ao qual todo leitor deve estar atento, no esforço de esclarecer este enigma, o Rabino Arieh Kaplan explica que “O conceito de pensamento é igual ao de “acima”. Não importa o quão alto se alcance, pode-se ir mais além. ” E conclui: “Por isso a palavra “elevar” é empregada”.

Ao longo de sua explicação[1] o Rabino Kaplan dissertará sobre a natureza do pensamento, a impossibilidade de compreender a natureza da mente que pensa, o simbolismo da expressão “Merkavah-Carruagem” como um exercício de vidência espiritual,(já que se refere a esta prática pré-Cabalística que durou do século II AC até o século VIII DC, aonde místicos judeus, baseados na visão do livro de Ezequiel, 1, 1-28, através da meditação, se elevavam espiritualmente a níveis que eles chamavam de Palácios, em número de sete, sendo que o sétimo palácio representaria o encontro com a Divindade).

Sem essa explicação a expressão “fitar a visão da Carruagem...” não parece compreensível. Ainda mais porque na publicação, a expressão vem com o termo “visão” em letras minúsculas, e “Carruagem” em letras maiúsculas, como se fossem coisas diferentes. Um problema da tradução e não do texto.

A expressão precisa também ser elaborada pelo leitor neófito, entendendo e extrapolando que carruagem significa transporte, e que na época seria um símbolo adequado do ato de transportar-se através da meditação, à níveis mais elevados.
Explicado que “fitar a Visão da Carruagem”, portanto, é uma expressão que designa um ato de percepção de uma expressão do divino, conseguida durante o estado de Epifania pelos místicos judeus, o rabino Kaplan explica a natureza do fenômeno da vidência espiritual e das Sephirot associadas ao fenômeno.

Em nenhum momento, no entanto, ele esclarece por que o indagador do versículo se espanta por não se usar a expressão “desceu no pensamento”, ou porque, no versículo, é dito “Aquele que fita a Visão da Carruagem, primeiro desce, depois ascende. ”
Seguindo a peculiar forma de pensar dos versículos do Bahir, dever-se-ia atentar para o significado da expressão “primeiro desce”. Isto, no entanto, não é discutido.
As perguntas, dos discípulos que em princípio estão interrogando o mestre Nehuniá Bem Hakaná, são tanto ingênuas quanto profundas e suas perplexidades inexplicáveis. As respostas, da mesma forma, não são esclarecedoras, como se esperaria de um texto que se diz “O Livro da Iluminação”.

Linha por linha, o conhecimento se oculta em um código de conceitos e visões de mundo típicas da cultura judaica e da época em que foi redigido, duas camadas a serem penetradas pelo leitor-interpretador, um exercício de fôlego e paciência.
Nos comentários do Rabino Kaplan conseguimos um importante suporte neste esforço, sem o qual seria impossível compreender o que significa realmente o que está escrito em cada trecho deste importante texto de Cabalá. Mesmo assim não é suficiente, como de resto nenhuma explicação conseguiria ser. Já que se trata de um livro acerca do mais profundo conhecimento do judaísmo, a interpretação desafia aquele que à ela se dedica, principalmente se este não deseja, por pura precipitação, extrair sentidos equivocados do texto.
Some-se a isso a peculiar maneira de encadear ideias que observamos ao ler passagens como esta cima.

E este não é o melhor nem o mais complexo exemplo. Há outros, mais instigantes.
Como no versículo 79, no trecho que diz:

“O ouvido é, também, infinito, e nunca saciado. Está, portanto, escrito (Eclesiastes 1:8): “O ouvido não se farta de ouvir. ”

E em seguida, conclui:
“Porque é assim? Porque o ouvido tem a forma do Alef. (...). Por isso o ouvido não se farta de ouvir. ”

Uma conclusão esotérica, no mínimo, já que o ouvido não tem a forma do Alef, fato que dá uma pálida ideia daquilo que aguarda os bravos exploradores de textos cabalísticos.
Mais esotérico ainda é o fato do Rabi Kaplan não confirmar ou mesmo tecer considerações sobre esta estranha semelhança declarada no texto.

Kaplan diz: “A visão e a audição correspondem, respectivamente, a Chochmá- Sabedoria e Biná-Compreensão. Podemos apreender o Divino com compreensão, mas não com Sabedoria. O nível mais elevado de nossa compreensão é, portanto, Biná-Compreensão, o nível do ouvido, mas mesmo aqui existe um reflexo de Kether- Coroa, no Alef do ouvido (Ozen).”







O que eu quero evidenciar aqui é que, mesmo seguindo os complicados códigos da Cabalá, não se encontra um sentido ou uma relação entre Aleph e Ouvido (Ozen) , já que, como vimos, Aleph corresponde a Keter-Coroa e o Ouvido a Biná-Compreensão.
Para resolver a contradição, Kaplan usa um recurso no mínimo curioso, criando uma conexão em princípio não existente com o seguinte raciocínio:
“O nível mais elevado de nossa compreensão é, portanto, Biná-Compreensão, no nível do Ouvido, mas, mesmo aqui, existe um reflexo de Keter-Coroa no Alef de Ozen (do Ouvido)
É esta a explicação, a ligação está em um reflexo que aparentemente saiu da cartola de Kaplan. E está feita a correlação.
A explicação, portanto, esclarece alguns pontos e deixa outros obscuros, mesmo que estejamos falando da mais didática autoridade em seu tempo sobre conhecimento da Cabalá.
Sua morte precoce, de ataque cardíaco em sua casa, privou estudantes de todo mundo de sua visão e esforço para tornar estes textos fundamentais da cultura judaica acessíveis a judeus e não judeus.
Mesmo assim, trechos e versículos dos livros clássicos sobre Cabalá ainda carecem de uma interpretação mais completa e mais compreensível para aqueles que como nós pensam, não como um judeu, mas como um grego.
Superemos este problema. Estas leituras, de qualquer forma, devem ser feitas com o cérebro e com a alma, na esperança da que a intuição nos forneça a informação que o intelecto, às vezes, não consegue dar.




[1] Bahir, O Livro da Iluminação, 1980, Ed. Imago, pág 185

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

DUAS COMPREENSÕES SOBRE O PAPEL DE MALKUT

Por Mario Sales



“O papel da sefira de Malkut é receber e transmitir para as sefirot. A conexão entre a sefira Malkut com Yesod é em duas direções. Malkut recebe de Yesod e transfere aos seres criados, e por sua vez recebe destes e retransmite a Yesod. A sefira de Yesod transmite o que recebe de Malkut em direção as alturas espirituais, até alcançar a raiz mesma de cada ação. ”
O Zohar, traduzido, comentado e explicado,
in Introdução ao Estudo da Cabala em Geral,
As Sefirot, pág. 52, 4ª edição de julho de 2014, volume 1,
 tradução: projeto Amós, Ediciones Obelisco, Barcelona, Espanha


Eu sempre defendi que, sendo a criação o espelho de Deus, o raio de luz da criação proveniente do Altíssimo retornava a Ele, levando seu reflexo.
Foi com tristeza que li os comentários de Arieh Kaplan nas explicações de um versículo do Bahir, em que o rabino defendia a tese de que Malkut recebia e recebia, apenas, inseminada pelas sefirot mais elevadas por intermédio de Yesod. Que Malkut era passivo, feminino, enquanto o Zeir Anpin acima dela era masculino, ativo, e sua ação sobre Malkut era predominante.
Tristeza porque um dos axiomas que trago comigo é que o Universo é fluxo, movimento, de forma que qualquer que seja a instância discutida, pessoas ou dimensões, estas não podem apenas receber, mas com certeza esboçam, em função deste estímulo, alguma reação, mesmo que não igual em intensidade ou qualidade.
Ler, em uma autoridade indiscutível do Cabalá, que Malkut, aonde vivo, é área só de recepção, não fazia nenhum sentido.
E aí começo a ler este presente dos Deuses que chegou as minhas mãos, dezenove volumes de uma coleção de trinta e dois planejados, da Ed. Obelisco de Barcelona.
E logo na introdução, aonde eles têm o cuidado de dar noções básicas sobre a Cabalá, produzem este belo trecho em epígrafe que autoriza minha interpretação, já que se trata de um grupo realizando o exaustivo trabalho de revisão do Zohar desde 2006.

A mensagem é clara: existe troca, retroalimentação, de forma que Malkut também se expressa e devolve como informação aquilo que recebe como estímulo a vida.

sábado, 23 de setembro de 2017

REFLEXÕES CABALÍSTICAS

SOBRE OS CONFLITOS HERMENÊUTICOS NO “GRUPO DE ESTUDOS CABALISTICOS” DAS SEXTAS FEIRAS
Por Mario Sales


“Mostrarei compaixão quando escolher mostrar compaixão apesar de que não o mereça”

Talmud, Berajot 7ª, citado nos comentários ao Zohar, Hakdamá, seção de Bereshit, Ediciones Obelisco, pág 44



“Pergunta o autor se essa “justiça” é a caridade. Caridade é o conceito de dar alguma coisa gratuitamente, sem que isso seja merecido. A resposta é não. O conceito de dádiva gratuita é como uma “cota de malha”, usada sobre o “corpo”. O “corpo” é Tiferet-Beleza, que é o conceito de dar, comedidamente. (Ora) Se Deus concedesse Seu bem gratuitamente, sem que fosse merecido, não seria um bem perfeito”

Comentário do Rabino Arieh Kaplan, ao verbete 75 do Sepher Al Bahir, ed. Imago, 1ª edição 1980, pág. 173



Vejam como são as coisas.
Não fosse o esforço de leitura de vários textos e de diferentes fontes, o estudante de Cabala ingênuo acreditaria estar diante de uma explicação definitiva quando lesse alguma das duas versões acima.
Não é tão simples, no entanto.
Estudar Cabala é mergulhar não só em uma cultura específica, com um raciocínio lógico peculiar e estranho, como logo se percebe nas primeiras páginas, mas que está longe de ser um campo homogêneo aonde certos conceitos gozam de interpretações padrão aceitas por toda a comunidade.




Cota de malha


É comum em textos judaicos a referência a um trecho da Torah, como forma de justificar determinada linha de pensamento, mas isto não implica segurança de que aquela interpretação encontra respaldo indiscutível.
Ninguém seria tolo de negar autoridade ao Rabino Arieh Kaplan para promover a interpretação do Bahir, como o faz em sua edição comentada. Da mesma maneira, devemos dar ao Talmud o mesmo tipo de atenção e respeito.
Nos trechos acima evidencio o conflito entre duas visões, entre duas interpretações, feitas em textos de caráter referencial na Cabalá. A ponto de, ao fazermos a leitura ontem a noite do Bahir, eu ter defendido a tese de que a interpretação sobre a Natureza da Caridade do Rabino era a imagem clara de uma perspectiva característica do judaísmo ao contrário da visão Cristã, mais conhecida, de dar por dar, sem olhar a quem.
O termo “comedido”, no comentário do rabino Kaplan, significa moderado, eu diria mais, cuidadoso, dando a impressão de alguém que pensa, reflete antes de dar, como se avaliasse o receptor da dádiva, ou seja, estabelecesse a partir de um critério particular se este seria ou não merecedor da dádiva antes de oferecê-la.
Mais à frente, em seu desdobramento, o Rabino esclarece:
“Para que esse bem seja perfeito, deve ser merecido. Esse é o conceito de “justiça” (Tzedek) onde uma recompensa justa é concedida a uma ação justa para obtê-la. ” (Idem, pág 173)
Mais clareza e conflito entre duas interpretações é impossível. Ao que se depreende, o contexto interpretativo às vezes define a linha de interpretação, que não parte de princípios gerais, mas de circunstâncias do texto em análise, o que torna a leitura dos textos cabalísticos e sua interpretação atomizada, às vezes sem obedecer a princípios gerais e consagrados.
Este tipo de conclusão é absurda, senão não teríamos como falar em um campo de saber definido, mas a tentação de se fazer este julgamento, pelo menos a partir da minha enorme ignorância, é forte.
O belíssimo texto em espanhol que introduz o Zohar, traduzido pelo Projeto Amós, em 2006, em Barcelona, continua em sua linha dizendo que:
“Desde esse ponto de vista, tanto a sefira de Hockmah como a de Biná representam um grande nível de bondade, devido ao seu alto nível espiritual”
Já o rabino Kaplan rebate com o seguinte raciocínio:
“Se Deus concedesse Seu bem gratuitamente, sem que fosse merecido, não seria um bem perfeito. Por que não sendo merecido, seria o “pão da vergonha” (Maguid Mesharim, Bereshit). Além disso, uma vez que o receptor está recebendo sem dar, quando recebe não se assemelha, de forma alguma, a Deus...Para que esse bem seja perfeito, deve ser merecido. Esse é o conceito de “justiça” (Tzedek) onde uma recompensa justa é concedida a uma ação justa para obtê-la.”
E continua:
“Diz-se que esse conceito de “justiça” está na “cabeça”, que é definida como “verdade” (EMeT). “Verdade” já foi definida nesse contexto, consistindo de Hockmah-Sabedoria, Biná-Compreensão e Daat-Conhecimento.”
Para os cabalistas de Barcelona, a tríade superior da Árvore representa a bondade infinita de Deus, caracterizada pela dádiva indiscriminada.
Para o Rabino Kaplan, a mesma tríade, se bem que com a Participação de Daat, configura a Justiça, e o critério de discriminação entre dádivas merecidas e não merecidas.
Deus dá a todos generosamente, e como lembra Paulo apóstolo em Atos, 10-34, “Deus não faz acepção de pessoas”, ou deve haver sim um critério para a dádiva, baseado na Verdade oriunda da Justiça?
Talvez uma conciliação possível dessas duas visões seja a de que o rabino fala sobre o Receptor, que como ele mesmo lembra, mais a frente, “o homem deve fazer por ser merecedor desse bem” enquanto que os cabalistas de Barcelona referem-se a Deus, o Doador, e não ao homem, quando dizem que Deus escolhe mostrar compaixão mesmo que aquele que a recebe não o mereça.
O Doador, portanto, é sempre dádiva, mas o receptor deve esforçar-se para tornar-se digno desta dádiva, o que de certa maneira, torna-o harmônico com a dádiva em si.
Quanto melhores formos como seres humanos, mais assemelhar-nos-emos ao Criador e mais aptos estaremos a receber e compartilhar de Sua infinita bondade, sendo que esta semelhança entre o homem e Deus garante a eficácia da dádiva ou graça perfeita. 
O Bem doado a um indivíduo despreparado (ou indigno) para recebe-lo é como uma energia que não encontrando um bom condutor se esvai e desaparece sem causar benefício real.
Esta interpretação, no entanto, é um esforço pessoal meu de tentar conciliar posturas hermenêuticas aparentemente antagônicas.
Nunca é demais supor que meu juízo de valor possa estar comprometido pelo meu pouco conhecimento deste campo tão rico e heterogêneo.
Que o Senhor do Universo me inspire em minhas leituras.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

PRESENÇA E HARMONIA: FILOSOFIA



Aos meus leitores duas palavras: cometi dois equívocos, durante a gravação do programa que considero significativos e por isso quero corrigi-los.
O primeiro é que a época dos pré socráticos começa no séc VI AC e não no séc IV como afirmei, sendo que no séc IV é o período correspondente a atividade socrática e o trabalho literário de Platão.
O segundo equívoco foi quando afirmei que Platão tinha o nome de Aristóteles, em homenagem ao seu mestre. O que eu deveria ter dito era que o nome de Aristóteles era em homenagem ao seu mestre, Aristóteles, conhecido também pelo seu apelido de Platão, ombros largos, que passou a História. Dito isso, desfrutem do programa. Abraços

domingo, 30 de julho de 2017

A IMPORTÂNCIA DA ILUSÃO


por Mario Sales




Maya (tradição hinduísta) sempre foi definida como um problema a ser resolvido, não como uma condição a ser entendida, contextualizada, capaz de ter um significado e uma razão de ser, dentro da dinâmica da existência. 
Tenho falado várias vezes da importância da ilusão, do papel fundamental de Malkuth (tradição hebraica), de que a visão que aqui é o inferno e que o paraíso está fora daqui é uma visão equivocada. 
Maya é ilusão sim, mas é também laboratório de evolução.
Sem ilusão não há evolução.
É isso.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

FIGURA DIVINA, UM SIMBOLO ALQUIMICO, XIIa PARTE


por Mario Sales

NAS REGIÕES INFERIORES



ESQUEMA XXV


O esquema acima mostra a região da qual estamos saindo e que eu denominei o “tórax” do Grande Símbolo.
Nossas análises nos fizeram inventariar quatro (sempre quatro) sub símbolos dentro desta região que é inclusive delimitada para definir sua especificidade e orientar o interpretador de tempos futuros, o hermeneuta.
No entanto não encerramos totalmente nosso inventário.
Resta ainda descrever e revelar um pequeno trecho composto na maioria de frases que mais lembram rótulos.
Retiremos os sub-símbolos e tudo que possa nos distrair e teremos esta imagem.



ESQUEMA XXVI



O trecho que nos interessa está na parte inferior do “tórax” e consta dos seguintes textos:

ESQUEMA XXVII


PHILOSOPHIA e CHIMIA, a primeira palavra abaixo do pulmão esquerdo, o pulmão dos elementos astrais, e CHIMIA abaixo do pulmão direito, o pulmão das coisas materiais.
A relação é clara: filosofia aqui representa um conhecimento mais elevado e refinado, próprio para o estudo de coisas mais sutis enquanto Chimia, a Química, ficaria restrita ao estudo dos elementos componentes da natureza.

ESQUEMA XXVIII

Da sua combinação teríamos o a ESTRELA FILOSOFICA, o nome do DUPLO TRIÂNGULO que acabamos de estudar.
É quando este equilíbrio é alcançado, ao término da reação alquímica, que se encontra a Pedra Filosofal, ou Mercurius Philosophorum.
Da lixivia desta Pedra que obtemos a AQUA VITAE[1], o composto resultante da lavagem do composto final do trabalho alquímico, o soro da eterna juventude, o soro da transmutação e aperfeiçoamento espiritual, transformando o homem-chumbo no homem-ouro.
Era também a panaceia, o remédio que curaria todas as moléstias e garantiria a vida eterna ao seu possuidor.
Agora estamos falando propriamente de alquimia, aqui onde se transita para o mundo inferior, aonde descemos para a prática na Natureza como a conhece o homem comum.
De nada adiantaria dominar a Arte se o Alquimista não pudesse praticá-la em sua própria existência, em sua própria sociedade e se toda a sua vida, por vezes, era marcada pelo retiro e pelo estudo, esta era apenas a preparação necessária para que pudesse, renovado, servir como guia, como modelo para aqueles que o cercavam.
Havia na busca alquímica não só a procura pela elevação individual, mas um genuíno e altruístico desejo de, melhorando-se, melhorar toda a humanidade.
É aqui, nesta altura do símbolo, que começamos verdadeiramente o processo alquímico, pelo CALCINAR, DISSOLVER/SUBLIMAÇÃO, SEPARAR [FILTRAGEM] (SEPARATIO/NON SEPARATIO), CONJUNÇÃO, FERMENTAÇÃO, e DESTILAÇÃO, para depois COAGULAR e, finalmente, chegar a TINTURA.
Tanto é assim, que este ponto de virada está identificado pela esfera, aonde os gases fundamentais borbulham, junto com o Mercúrio, o Enxofre e o Sal (ou Arsênico).
Queria aqui fazer algumas reflexões. Vejam que os vapores sobem, vêm de baixo para cima. Ascendem, a partir das regiões inferiores, e buscam níveis mais elevados.
O processo alquímico reconhece, neste desenho, que como o Lótus, a bela flor oriental que brota da lama, a evolução do espírito em direção ao Divino, objetivo primeiro do processo alquímico, provém, se origina, nas regiões inferiores, no que existe de mais humano.

ESQUEMA XIX





Símbolos identificando os vapores que provém da Natureza

Só ascende aquele que está embaixo, ou dito de outra fora, é preciso ser imperfeito para buscar a perfeição.
Essa é uma lição de humildade e realismo, um alerta aqueles que julgavam e julgam que o processo alquímico não passava de um conjunto de fantasias religiosas.
A Ascensão psico-espiritual é um processo seríssimo, ainda mais em uma época de ignorância, medo e superstição.
E ainda hoje, precisamos de alquimia em nossas vidas, de transmutação interna, como tão bem intuiu Jung.
Nosso laboratório, hoje, é interno, e mais que nunca, as soluções para os nossos dilemas e a força para superar nossas limitações estão dentro de nós mesmos.




Símbolo alquímico da Água de Pedra ou Pedra Filosofal




[1] Supunha-se que Aqua vitae era um lixiviado a partir do composto sólido resultante da Grande Obra, que era a pedra da transmutação do filósofo. Para este aqua vitae foi atribuído a propriedade de transmutar "homem chumbo" no "homem de ouro filosófico"; reconhecido também como o elixir da eterna juventude.