Por Mario Sales
Flavio leu e comentou o post sobre a lógica peculiar dos
textos de Cabala. Disse que o texto “está de acordo com nossas conversas, porém
para o blog fica um tanto difícil entender, uma vez que é um texto pouquíssimo difundido
e entendido por um número restrito de pessoas”.
Fato. O assunto é árido.
Para acompanhar meu raciocínio ou mesmo minha perplexidade é
preciso ler o Sepher Bahir e o Sepher Yetzirá como também a Doutrina Secreta.
Não é assunto corriqueiro ou banal. Estamos falando dos textos fundamentais do
esoterismo.
E existem outros.
Nosso projeto é estudar às sextas Cabalá e continuar às quartas
revendo textos de Blavatsky, como este que estamos trabalhando “Ísis sem Véu”.
Temos interesse em ler os Upanishads, que em sânscrito quer
dizer “aos pés do mestre”, comentários feitos aos Vedas, os textos raiz do
Hinduísmo.
Ou seja, temos trabalho para mais de uma encarnação.
Não existe tristeza ou desanimo quando temos um objetivo
definido.
Eu queria ser mais didático no post, mas confesso que me
deixei levar, ingenuamente, pelo entusiasmo. Logo eu que sou um militante da
causa do esclarecimento e da facilitação do acesso ao conhecimento.
O que me vem à mente é que uma facilitação de compreensão
passa por um domínio profundo dos temas abordados, coisa que eu ainda não
tenho.
Foi de 2005 para cá, desde a minha iniciação no Martinismo
da TOM (Tradicional Ordem Martinista) que a Cabala começou a me interessar.
São apenas doze anos estudando e dada a complexidade do
assunto e a lentidão do meu intelecto, acho pouco.
É mais ou menos como os textos de Jacob Boheme. Comecei a
ler Jacob por Aurora, seu primeiro livro, no ano 2000, se não me falha a
memória, talvez motivado por uma entrevista do músico Lobão. Era mais
curiosidade. A dificuldade era tão grande de acompanhar seu raciocínio que o
livro me caiu das mãos, e ficou na biblioteca, encostado.
Ao entrar na Martinista, vi que o nome de Boheme era
repetido com respeito e veneração pelos irmãos mais antigos. Falavam da
importância e da influência que seu trabalho possuía na linha do tempo
esotérica, tendo marcado muitos autores, um deles Louis Claude de Saint Martin,
que dá o nome à Ordem. O que notei, no entanto, é que, embora todos
concordassem com sua importância, não conseguiam me passar seus conceitos básicos.
Quando eu perguntava sobre quais eram os assuntos que ele se
debruçara, via de regra me respondiam de forma vaga, imprecisa, com frases do
tipo “ele escreve sobre espiritualidade de modo muito profundo”, o que para mim
era como dizer que ele escrevia sobre cavalos, sem especificação da raça, do
porte, da cor do cavalo, se sobre a criação de cavalos ou sobre a arte da
equitação.
O esoterismo tem este problema. Existem textos dos quais a
maioria das pessoas fala sem absolutamente ter folheado que seja suas páginas.
É como o dificílimo texto de Martinez de Pasqualy, “Tratado
da Reintegração dos Seres”.
Fui informado de que há um curso regular na Loja São Paulo
da AMORC sobre o mesmo e gostaria de poder assisti-lo.
Quando tentei lê-lo fui assombrado pelas dificuldades de
acompanhar um pensamento de outras épocas, redigido de forma obscura e às vezes
enigmáticas.
Fui salvo pelo esquema do livro feito por seu secretário,
L.C. de Saint Martin, aonde as concepções ficaram claras como o dia.
Se o esquema realmente reflete as idéias do livro com
fidelidade, posso dizer que conheço o pensamento de Pasqualy no Tratado, mas
apenas porque fui auxiliado pelo Quadro Sinóptico feito por Saint Martin.
Gostaria de fazer o mesmo com o Bahir, mas isto implicaria
em um esforço para o qual ainda não me sinto pronto, mesmo com o auxílio das
explicações de Arieh Kaplan.
Escrever sobre o assunto me ajuda a fixar e refletir sobre os
conceitos que estudo.
Minha mais importante razão, no entanto, ao descrever minhas
angústias de leitor, minhas dificuldades hermenêuticas compreensíveis em
relação a estes textos é dividir com mentes afins, com interesses comuns, que
são na minha fantasia, o tipo de pessoas que vem ao blog, e arrancar deles
alguma manifestação que me ajude e que ajude a eles a lidar com estes
obstáculos interpretativos, posto que a maioria dos esoteristas está lendo (ou
não) estes textos e não dando aulas sobre eles.
São poucas as manifestações, entretanto.
O que me leva a pensar que não são muitos os que estão
trabalhando, estudando e interpretando esses textos. E aqueles que estão talvez
não leiam o blog.
Estas são apenas hipóteses, difíceis de comprovar.
Eu penso escrevendo.
Provavelmente, nem todo mundo é assim. E embora estejam na
mesma lida, não querem ou não sabem como compartilhar suas dificuldades, seus
obstáculos.
O certo é que ler junto com outras pessoas é muito animador
e nos protege da falta de determinação. Que nosso grupo de estudos prossiga por
muitos anos, se o Altíssimo permitir.
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