Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

terça-feira, 30 de abril de 2013

DESABAFOS


por Mario Sales



Prezado irmão,
Há muito tempo não comento seu blog, mas não pude deixar de reparar que neste último você realmente desabafou o que lhe incomodava.
Não posso falar por todos, mas acredite, certos questionamentos e indagações que lhe fiz num passado não muito longínquo foram a título de esclarecimento. Além disso, seu blog parece-me uma zona neutra e segura, onde os debates acontecem sem que aja interferência da GLP (pelo menos até o momento). Você vêm representando um papel importante na senda Rosacruz e Martinista (acredito que até mais do que como maçom) neste blog, as pessoas confiam a ti suas dúvidas e questionamentos mais profundos, vêem em você um conselheiro confiável, uma fonte de informação segura e imparcial (não estou bajulando, nem adulando, apenas expressando minha opinião), e é por isso que as vezes, alguns frateres e sorores que estão passando por um momento de questionamento intenso podem as vezes se expressar de forma errônea, afinal de contas, as dúvidas delas não são contra você, mas elas acreditam que aqui serão ouvidas e obterão uma resposta sem sofrerem algum tipo de represália ou punição.
Se esse medo excessivo ocorre, é porque a GLP, os conselheiros e os oficiais de loja assim o propagaram ao longo das últimas décadas.
Sinceramente, acredito que ao invés de se sentir confrontado, fique feliz em saber que tantos buscadores encontram em seu blog um porto seguro e um farol do conhecimento.
Afinal de contas, essa vida é passageira e num piscar de olhos a gente já está se preparando para voltar para cá. TFA

Comentário de Frater Julio em A ESTRATÉGIA DO MAL



"...Tenha paciência, Deus está contigo
Deus está conosco até o pescoço..."

Trecho da letra de "Cartomante", de Ivan Lins e Vitor Martins



O Terapeuta, de Renée Magritte

Ando sem paciência. Concedo.
E minha falta de paciência reflete-se nos textos, nos desabafos que me sobem em momentos de incontinência emocional. E agradeço a Deus por cada excesso em palavras ou emoções, porque são excessos frutos de emoções honestas e humanas.
Alguns podem achar que místicos não são pessoas, que Cagliostro não usava o banheiro, ou que Pitágoras não tinha mau hálito ou unha encravada.
Tolice pura. Todos os homens na carne, penam as contingências da carne, todos transpiram como eu, todos sentem a dor de um corte inadvertido, todos tem irritações eventuais na pele e se coçam.
Alguns , mais românticos e fantasiosos, apegados às visões dos escritores de ocultismo franceses, mandam-me como argumentos de suas idéias textos idealistas sobre seres invisíveis, imaculados, espíritos superiores que apenas por misericórdia estão no mundo, mas cuja mente transita todo o tempo em esferas mais elevadas.
Acreditam na existência de seres especiais e diferenciados, mas recusam-lhes sua humanidade.
Senhores, convenhamos, um espírito que não conheça a carne e seus constrangimentos, não conhece a criação.
Esta visão de que nós, como místicos, devemos esquecer nossa natureza e demonstrar uma santidade idealizada pelas crenças e valores consagrados pela literatura, não só é falsa como fora de moda.
Místicos têm sentimentos, frustrações, problemas domésticos, dores de barriga.
Místicos sentem sede, fome, vontade de urinar.
Místicos tem problemas familiares, problema de saúde, problemas de relacionamento. Místicos comem pizza, às vêzes demais, e Cagliostro comeria muita pizza se pizza existisse em seu tempo.
O comentário de Frater Julio foi um alento, um ato de carinho e de fraternidade pelo qual agradeço.
Mas Julio, meu velho, não conheço culpa por atos honestos, ou não, se forem fruto, como disse, de emoções honestas. Tem horas que é difícil ter paciência com tolices descabidas, com receios infundados, com este estado de infantilização disfarçado de disciplina quando as pessoas não contribuem com suas opiniões, dúvidas e críticas por terem medo de se expressar com franqueza, por estarem em um ambiente que não permite o diálogo, a diferença de opiniões em ambiente fraterno.
É disso que venho falando nos últimos meses, antes de Reginaldo nos deixar de maneira súbita e inaceitável com facilidade, opiniões com as quais ele concordava.
Ambos , eu e ele, somos dinossauros da rosacruz, de ler monografias grandes e roxas.
Ambos, e agora falo com você Julio, nem eu nem Reginaldo tínhamos muita paciência com esta situação de apavoramento que víamos nos frateres, que sempre foram orgulhosos e estudiosos e hoje não passam de contribuintes assustados, cujos juramentos de fidelidade, que fizeram de boa fé e em ambiente sagrado são lembrados, não como eventos nobres, mas como compromissos de intimidação, em falas como :"veja bem, você jurou lealdade, não critique a Ordem". Todos nós, inclusive eu e Reginaldo, que embora morto ainda é uma referência de erudição na comunidade rosacruz brasileira, juramos lealdade à Rosacruz, e juramos com seriedade. Mas isto não significa que estejamos proibidos de pensar, de sentir, ou de manifestar nossas idéias livremente.
E tanto eu como ele tínhamos e temos opiniões não muito ortodoxas, mas nem por isso destoantes do espírito rosacruz livre pensador. Isto estava no Círculo de Tubingen, com Johann Valentin Andreae, e continua hoje, quero crer, em todos aqueles que livremente, concordando ou não comigo, fazem comentários neste blog.
 Por isso, com ironia, coloquei na entrada que este blog é "Um exercício solitário, poético e filosófico, baseado no preceito rosacruz da mais completa liberdade (possível) dentro da mais perfeita tolerância (possível). A maçonaria, o martinismo  e o rosacrucianismo como reflexão."
Eu acredito nisto.
Parucker repetia esta frase a cada convenção em Curitiba. Portanto, ele, nosso honrado ex-Grande Mestre também acreditava nisso.
Aonde a liberdade deixa de ser liberdade e passa a ser um destempero vai do bom senso de quem exerce essa liberdade, de agir e de pensar. Espera-se que sobre seus excessos derrame-se a tal tolerância supra citada. Esta é a Ordem que eu e Reginaldo nos afiliamos e na qual acreditamos, de coração, mas sem fantasias e romantismos, porque eu e ele éramos e somos seres humanos comuns, imperfeitos e orgulhosos de nossa imperfeição, esta característica da condição humana.
Por isso, meu caro Julio, desabafei sim, e me sinto bem melhor agora que o fiz.
Gosto quando o desabafo expõe de modo franco minha insatisfação com esta perda de realismo sobre o que é um rosacruz. Rosacruzes são como plantas, precisam de liberdade, precisam de espaço para experimentar e aprender o que puderem do mundo, mesmo sendo seres humanos imperfeitos, como Reginaldo era e eu sou.
Aliás, precisamos de espaço para experimentar porque somos seres humanos imperfeitos, e não por outra razões.
Porque ao contrário do que pensam escritores românticos como Tobias Churton ou Sédir, que granjearam fama pelos seus textos e não por seus feitos, rosacruzes não são nada mais além de pessoas bem visíveis, seres humanos bem comuns, mergulhados até o pescoço em uma existência humana e carnal e não espíritos olímpicos inatingíveis ou insensíveis às emoções.
Sim, tenho sentimentos.
E me orgulho disso, Julio, meu amigo.
Me orgulho muito disso.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A ESTRATÉGIA DO MAL

por Mario Sales

O Grande Irmão diz:
- Cuidado você está sendo observado!!! 
Anônimo
(comentário deixado no blog sobre o post "Pontes")

“O medo leva à raiva;
a raiva leva ao ódio;
o ódio leva ao sofrimento,
e o sofrimento leva ao Lado Negro da Força.”

Yoda.

Existem duas formas de se destruir uma pessoa ou uma instituição: a primeira é pelo ataque persistente contra seus ideais; a segunda forma é pelo elogio e pela adulação frequentes.
Bajular autoridades ou pessoas que aparentemente têm algum poder que respeitamos é uma forma de solapar suas forças e seu vigor, de tornar frágeis suas bases morais e seus valores primordiais. O elogiado, se não for um tolo envaidecido, sempre sente desconforto com o elogio; sabe que se ele for sincero, fortalece o Ego e estimula a Vaidade, o que não é espiritualmente desejável; e se for um elogio falso, mostra que o elogiador é alguém perigoso, dissimulado, que de alguma forma teme nossa dignidade e inveja a nobreza de espírito que supõe ver em nós, a tal que provavelmente, por temor, se pudesse a destruiria. O bajulador é um covarde portanto. Ele é subserviente, traiçoeiro, imprevisível, e deve ser mantido sob vigilância constante, pois se podemos ser atingidos a qualquer momento, com certeza o primeiro golpe virá daquele que mais nos elogia.
Temor, medo, esta é a chave. Tememos tudo que achamos grandioso, sejam coisas boas ou más. É um tipo de medo infantil, sem justificativa na vida adulta e só possível quando seu portador tem um grave problema de imaturidade.
Toda pessoa imatura tem medo de modo intenso e exagerado.
São visceralmente apavorados e por serem assim, estão sempre tensos, manifestando-se às vêzes de forma agressiva.
A mais importante estratégia do mal é fluir através do medo destas pessoas para se manifestar na sociedade.
Ele as usa como aríetes para derrubar os portões da dignidade e do equilíbrio.
Ele infiltra estes "Cavalos de Tróia" psicológicos em nossas comunidades, através dos elogios vazios, e aguarda que adormeçamos para nos atacar de modo traiçoeiro e terrível.
O Medo é a porta da raiva. E como lembrava Mestre Yoda na trilogia místico-mítica de Guerra nas Estrelas, “o medo leva à raiva; a raiva leva ao ódio; o ódio leva ao sofrimento, e o sofrimento leva ao Lado Negro da Força.”
O Medo é, portanto, a ponte para o Mal. Ele é a própria ponte pela qual o Mal passeia.
Por isso olho com muita tristeza e preocupado quando vejo que o mal se infiltrou entre os rosacruzes através do medo. Quando recebo comentários acovardados, amedrontados, intimidados, de pessoas que se dizem iniciados mas que na verdade são soldados do Lado Negro infiltrados em nossas fileiras, que são incapazes de ao menos assinarem um comentário e se identificarem, como pessoas normais, cujo próprio medo transpira pelos seus dedos assustados enquanto digitam seus textos mesquinhos, me entristeço profundamente.
Como, por Deus do céu, pudemos permitir, não que estas pessoas se tornassem membros de nossa Ordem, mas sim que se mantivessem dentro dela? Provavelmente porque não acompanhamos seu desenvolvimento, porque os deixamos ao Deus dará, sem verificar se seu desenvolvimento no conhecimento místico era compatível com o desenvolvimento do seu caráter, porque não cuidamos, em suma , como instituição de ensino que somos, da qualidade educacional e moral de nossos alunos.
Por comentários covardes e solertes como estes é que sabemos que pessoas assim podem até estar em dia com seus pagamentos mas jamais poderão ser chamados rosacruzes.
Falta-lhes o caráter do místico, sua coragem calma, sua integridade pessoal, sua maturidade espiritual.
Falta-lhes tudo, enfim, para que possa se dizer um iniciado. Mesmo assim ele terá um número de chave e recebe , provavelmente, monografias que não lê, ou se lê, não entende, e se não entende, não tem ninguém a quem perguntar sobre o que não entendeu. E assim, relaxa e continua com a sua farsa, a sua pretensão de achar-se membro da mais nobre Ordem esotérica da história da humanidade, quando na verdade, ele é apenas mais um a destruí-la aos poucos, com sua falta de iniciativa, sua covardia e seu medo que ele chama provavelmente de obediência.
Não pensa com sua própria cabeça.
Acha que está dentro de uma religião onde manda quem pode e obedece quem tem medo de quem pode.
Jamais contribuirá para a melhoria desta nobre Ordem pois ele mesmo não busca evolução alguma. Espera provavelmente que um líder iluminado venha lhe dizer como ser rosacruz, o que pensar e o que vestir.
E como ele não aparece, continua parado, aguardando, e debocha de todos que se esforçam para produzir conteúdo e reflexão. O movimento em si o horroriza.
Ele quer o estático. Ele é como a água que parada, apodrece.
É um irmão que merece nossa tolerância ou um indivíduo pernóstico e desagradável como tantos, que supõe saber algo que outros não sabem, e que não busca aprender mais por que acha que já sabe o suficiente?
Eu sempre digo que quem compreende não precisa tolerar o compreendido.
Mas comportamentos covardes são difíceis de compreender. Ou por outra, se compreendidos, entendemos que são a verdadeira estratégia do Mal.
Esta é uma Ordem de contrastes, como todas as Ordens são. Conheci rosacruzes cuja lembrança até hoje me causam um profundo orgulho de pertencer a AMORC.
E é por causa destas lembranças, destes homens e mulheres que permanecem comigo, em minha mente e em meu coração, que me preocupo muito quando encontro pessoas totalmente contrárias a estas dignas pessoas de meu passado e presente.
E penso comigo: é preciso ficar atento.
E acredito na fala da primeira iniciação de templo que diz: o som da voz de um iniciado rosacruz faz os demônios tremerem, no fundo dos abismos.
Este texto é o som da voz de um rosacruz.
Bruxos não devem ser provocados; não é seguro para quem o faz.

sábado, 27 de abril de 2013

MUSICA: Gayatri Mantra 2009 - Deva Premal & Miten with Manose

O ROSACRUCIANISMO NÃO É UMA RELIGIÃO


por Mario Sales



O forte desenvolvimento da Ordem Martinista nos últimos anos, dentro da Ordem Rosacruz, abrigada por Spencer Lewis, e preservada por Ralph Lewis, traz em seu bojo aspectos que deixam confusos frateres e sorores ao longo dos anos e tem causado episódicos problemas aos Grandes Conselheiros da AMORC em suas respectivas regiões.
E talvez o problema mais frequente seja o daqueles que, percebendo a diferença de viés entre as duas Ordens, sentem-se desconfortáveis de pertencer ao Martinismo e mesmo fazem uma campanha explícita contra a prática martinista dentro da Ordem. É verdade que estas vozes aos poucos tem diminuído e tendem a desaparecer, porque refletem pensamentos pouco flexíveis e de difícil adaptação a novas possibilidades. De certa forma, também são manifestações de anticlericalismo e considerando a história de perseguições e mortes engendrada em certos períodos da Igreja, muitas vêzes contra rosacruzes, entende-se o desconforto psicológico em abrigar uma Ordem Cristã.



Sim, porque ao usar-se o termo "Cristão" pensa-se imediatamente em Cristianismo, e o "Cristianismo", como movimento histórico, e a mensagem de Jesus o Cristo, como já vimos aqui, são coisas absolutamente diferentes. Principalmente pelo fato de Jesus jamais ter pertencido a nenhuma seita ou religião, de ter pregado uma prática de desapego as coisas materiais e de ter vivido de modo simples e sem luxo, enquanto aquela que se diz sua representante na Terra age como sabemos.


Louis Claude de Saint Martin

Nesta análise, entretanto, isto não vem ao caso. O que importa é que falar em uma Ordem Cristã dentro de um meio esoterista e religiosamente heterogêneo como é a Rosacruz, por mais que não sejamos sectários, é querer que óleo e água se misturem.


Jacques de Livron Joachim de la Tour de la Casa Martinez de Pasqually

Esoteristas não tem uma visão de Deus antropomórfica. Martinistas também não, mas parecem ter, ao transformar o Cristo Jesus no Grande Arquiteto do Universo, modificando uma antiga fórmula maçônica para evitar conflitos religiosos em Loja. Isto é compreensível apenas se lembrarmos que o Martinismo começou como Martinezismo, e que Martinez de Pasqualy era uma judeu Marrano, cristianizado, e que além disto era membro da Ordem maçônica, de onde extraíam-se membros para a Ordem Martinezista, conhecida como Ordem dos Cavaleiros Eleitos.
Ao dar uma personalidade e um rosto àquele que significará a representação de uma idéia, em princípio Universal, imediatamente esta mesma idéia é desuniversalizada e restrita àquele símbolo (no caso Jesus, o Cristo) e é difícil, a não ser para aqueles que já sejam cristãos, que tal modelo seja aceito e compreendido como representante geral da idéia em si.
Além disso, como já disse, ver o Cristo e não pensar na Igreja é muito difícil, embora hoje existam muitas igrejas cristãs diferentes da Igreja Católica de Roma. E se lembrarmos que os autores do Fama e do Confessio Fraternitatis, na Alemanha, eram protestantes anti papais viscerais, adeptos da Reforma de Martinho Lutero, fica mais visível o conflito a que me refiro.


Johann Valentin Andreae

Ordens Esotéricas não são religiões, mas associações de homens e mulheres voltadas ao estudo ou à prática dos ensinamentos ocultos da Tradição em suas vidas. Crêem no poder da mente, são Panteístas, vêem Deus em todas as coisas e em todos os seus Avatares, seja Maomé, Buda ou Jesus, Chico Xavier ou Krishna. Não dão em geral importância maior a um do que a outro, porque como místicos sabem que dentro de cada um destes iluminados, como dentro de qualquer ser humano, está a mesma luz, já que nossas almas são, como aliás ensina o Martinismo, emanações da alma de Deus, e portanto, da mesma natureza divina.
Rosacruzes oram para dentro, ou no máximo diante de sua própria imagem carnal no espelho, de forma a lembrarem sempre que o Deus de nosso coração e de nossa compreensão reside dentro de nós.
Martinistas fazem saudações a símbolos externos, ao qual prestam reverência ritualística, demonstrando sua devoção ao foco de sua oração, o GADU Cristo.
É importante lembrar, a título de justiça, que os ensinamentos de Saint Martin definem a Oração verdadeira e eficiente como aquela que vê no coração de cada iniciado a porta pela qual se chega ao Altíssimo e não em qualquer referencial externo, visão esta que se coaduna com o pensamento rosacruciano.
De qualquer forma, embora haja uma ênfase no pensamento de Louis Claude de Saint Martin, o martinismo que nos chega hoje, no século XXI é produto de um amálgama de visões e posturas, aonde Saint Martin é apenas uma delas, se bem que a principal.
Mistura-se no ritual aspectos do Ocultismo, já abandonados, do século XVIII, do Cristianismo como visto pelos cristãos europeus, do Cabala Cristão de Pico de La Mirândola e do Cabala Judaico de Luria.
Isto assim destrinchado de modo didático torna claro as influências de um e de outro componente cultural e filosófico no que hoje chamamos de TOM, mas dentro de um ritual pode parecer que estamos participando de uma prática monolítica, Una, indivisível, o que não é verdade.
E existem pessoas que não conseguem pensar sobre isso, mas conseguem sentir esta salada de influências juntas no caldeirão de uma única prática, ainda mais que a carta de Stanislas de Guaita, que garante liberdade e aceitação a todos os que frequentarem a TOM, às vêzes é esquecida por este ou aquele dirigente mais autoritário, ao demonstrarem certos excessos de zelo ritualístico que denunciam a mesma falta de compreensão e flexibilidade daqueles que deveriam defender a TOM, dentro da AMORC, quanto daqueles que a atacam como um problema desnecessário.
Absorver a TOM não foi um erro de Spencer Lewis ou de Ralph, foi apenas a manutenção de uma tradição rosacruciana de muitos séculos.
Nós, rosacruzes, não somos uma religião, mas pode-se dizer, estamos entre aqueles grupos chamados de Guardiões da Espiritualidade e de suas manifestações mais elevadas.
Guardamos e protegemos muitas tradições ao longo de séculos e a TOM é apenas mais uma, não a mais importante e provavelmente não a última.
Desde as pirâmides, preservamos a tradição Atlante, a tradição dos ritos de Elêusis, os ritos Órficos, os ritos Zoroastrianos, os ritos pitagóricos, os ritos essênios com seus conhecimentos terapêuticos, os ritos alquímicos, as práticas ocultistas que hoje praticamente abandonamos, alteramos os rumos e o conteúdo da Ordem Maçônica, insuflando-lhe o sopro do esoterismo, e obviamente, preservamos os ensinamentos Cristãos mais profundos, através de nossos pensadores do Círculo de Tübingen[1], além de preservarmos no décimo grau de templo os ensinamentos da nobre ordem dos Iluminatti[2].
Nós, rosacruzes, não somos uma religião, mas somos guardiões de muitas expressões da espiritualidade, pois aonde houver uma vontade legítima de buscar o divino, lá estaremos para velar e proteger esta iniciativa.
E se notarmos nesta iniciativa as características comuns a todas as manifestações de Deus na face da Terra, tornaremos esta iniciativa parte de nossos ensinamentos e a retransmitiremos adiante, mantendo nossa missão de zelar pela perenidade disto que chamamos genericamente de Tradição.


Adam Weishaupt, fundador da Ordem dos Iluminati na Baviera

Este é o papel histórico desta nobre Ordem e a razão pela qual abrigar a TOM é apenas decorrência de nossa própria natureza como preservadores do sagrado.


[1] O historiador francês Paul Arnold foi o primeiro a considerar os três manifestos como a obra comum do "Círculo de Tübingen", ou seja, o grupo que se reuniu ao redor do (futuro) teólogo Johan Valentinus Andreae e dos juristas Tobias Hess e   Christoph Besold, na Universidade de Tübingen (Alemanha). Frances Yates, no entanto, relacionou o rosacrucianismo "clássico" do século XVII unicamente a Frederico do Palatinado e sua corte inglesa em Heidelberg. Apesar do sucesso da tese de Yates, os historiadores Richard van Dülmen, Martin Brecht e Roland Edighoffer reconstituíam os fatos graças a uma pesquisa histórica aprofundada, que aconteceu a partir de 1977. Brecht e Edighoffer estudaram, ao mesmo tempo e independentemente um do outro, e finalmente provaram a autoria dos manifestos. Andreae se fez conhecer como o autor dos textos (sua “obra pessoal”) e Tobias Hess, defensor do milenarismo e partidário de Paracelso (que, como afirma o historiador Carlos Gilly, "Andreae honrou e defendeu após sua morte, como pai, irmão, mestre, amigo e companheiro"), teria sido o mestre e iniciador do grupo de onde saíram os manifestos da Rosa-Cruz.( http://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa-cruz
[2] Illuminati, (plural do latim  illuminatus, "aquele que é iluminado"), é o nome dado a diversos grupos, alguns históricos outros modernos, reais ou fictícios. Mais comumente, contudo, o termo "Illuminati" tem sido empregado especificamente para referir-se aos Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta da era do Iluminismo fundada em 1° de maio de 1776.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

PONTES


Por Mario Sales


Rosacruzes não são oradores. 
Maçons são oradores, aprendem em loja a defender suas posições , com elegância, com respeito ao contraditório. Aprendem a se colocar como líderes sociais.
Rosacruzes não são treinados para serem líderes sociais. 
São mais discretos e se liderarem na sociedade, liderarão com discrição, motivarão os que tem o talento para serem líderes, serão eminências pardas, reservados, cuidadosos.
Na verdade sua influência se dará pela informação fundamentada, pela experimentação de novas possibilidades de lidar com a realidade, pela ciência enfim.
Nós, rosacruzes de AMORC sempre fomos desde Spencer até Ralph, pesquisadores místicos e parapsicológicos.


Gary Stuart não ficou tempo o suficiente para sabermos qual o seu perfil. E nosso querido frater Cristian é um Imperator dedicado a administração e ao ritual. O Ato Científico não parece ser seu foco principal.
É um rosacruz dedicado à Ordem como todos somos, mas seu mister é de outra linha, sua linha de trabalho não é positivista como estávamos habituados. Ele fortaleceu a Ordem Martinista, o que em si foi um trabalho importante, mas deixou um pouco de lado esforços como o do falecido George Buletza que durante anos nos presenteou com pesquisas produzidas nos laboratórios de San José, na Califórnia.
Nesta Rosacruz, experimentalista, verificadora, me afiliei, 37 anos atrás.
Esta me parecia ser nossa função. E agora que a ciência pós quântica dá sinais de uma flexibilidade que Blavatsky não conheceu em seu tempo, agora era a hora de construir pontes com os positivas ortodoxos, encontrar ligações

entre nosso trabalho e o deles, procurar unir nossos conhecimentos de telepatia e telecinese com os neurologistas e neurocientistas em todo mundo; testar nossas terapias médicas em comum com a comunidade médica internacional, medir, averiguar nossos feitos terapêuticos estatisticamente e compará-los com as técnicas ortodoxas.

Nós, místicos modernos, deveríamos estar construindo pontes com a ciência, e não discursos.
Deveríamos estar produzindo conteúdo experimental e não apenas textos, por mais belos que os textos sejam.
Só que, como comentei com Frater Flávio esta semana, parece que isto não é mais o norte da AMORC, e é como se eu falasse no deserto.
Sinto falta da AMORC a qual me afiliei.
Espero sinceramente que seja só um saudosismo infundado.

domingo, 14 de abril de 2013

A BELEZA DA VIDA ESTÁ DENTRO DE NÓS


por Mario Sales
Monet, pintando em seu jardim, em Argenteuil


Eu mudei a entrada do Blog e coloquei como fundo um quadro de Monet, que aliás é um autoretrato do próprio Monet pintando seu jardim , no seu jardim, em Argenteuil, onde produziu algumas das mais preciosas obras da arte humana. Tenho profunda ternura pelos quadros de Monet, como de resto por todos os pintores que tentam, a cada dia, expressar a beleza e a sensibilidade que lhes vai na alma. Produzir beleza, além de tudo como profissão, é uma bênção, se bem que nem todos os artistas conseguiram uma vida serena como seus quadros, como suas obras. Monet é um desses que conseguiu. É óbvio que teve seus problemas pessoais e humanos, mas sua vida, seu cotidiano, nos jardins de Argenteuil foram tão serenas como a vida em um jardim, pintando este jardim, e vivendo destas pinturas, pode ser. Lá ele recebia seus amigos, também membros do movimento impressionista, Édouard Manet, Pierre-Auguste Renoir e Alfred Sisley. 

Casa de Monet em Argenteuil, 1873

O termo impressionista aliás , vem de um título de um quadro seu, "Impressão, nascer do sol", que recebeu uma crítica cáustica do escritor Louis Leroy, dizendo poucas e boas daquele quadro "Impressão". Ao invés de ficarem bravos, Monet e seus amigos tomaram o termo como nome de seu movimento e surgiu o Impressionismo, este conjunto de quadros que com pinceladas rápidas sugerem uma imagem que tem que ser observadas um pouco de longe para serem compreendidas, tem que ser pensadas, não apenas observadas.

Impressão, nascer do sol

Assim o impressionismo é também um estímulo aos cérebros dos contempladores, obriga-os à um esforço de compreensão na contemplação e isto os torna melhor.
Quem não só contempla a beleza, mas contempla uma beleza que não se revela com facilidade, (que não se entrega de maneira gratuita, mas que precisa ser extraída da experiência, resgatada da profundidade de nosso hemisfério direito, que mexe com todas as nossas fibras, que nos desconcerta), torna-se melhor como pessoa e esteta. 
Nenhum ser humano pode realmente ser humano sem ser um esteta, uma pessoa capaz de buscar e compreender a beleza que está no mundo, nas coisas e nas pessoas. 
Mais humano é aquele que vê beleza, mesmo recôndita, oculta, complexa, em todas as coisas que contempla, que consegue ver o divino em todas as suas manifestações sem se horrorizar ou sentir embaraço com aquelas que desafiam os seus hábitos contemplativos, já que está consciente de que, embora o número de imagens produzidas por uma caleidoscópio sejam infinitas, o número de espelhos é constante, as bases da produção são as mesmas, estáveis, perenes, divinas em essência.

Claude Monet, 1899

O Uno, aquilo que fundamenta esta pirâmide invertida em que se espelha a criação, expresso no mito de Atlas, que sozinho sustenta a Terra em suas costas, expande-se em miríades de variações a partir de um único paradigma.
É importante entender que a beleza não é apenas uma manifestação isolada em frente ao contemplador. 
A responsabilidade da construção da observação é divida entre objeto contemplado e o contemplador. A experiência do belo, seja na visão de um quadro ou na visão da vida, depende tanto do que é visto como de quem vê.
E a mente que se aprimora vê beleza em todas as coisas, uma beleza que está lá, e que só se revela quando entramos em harmonia com a Criação. 
Essa é a maior manifestação da vida mística: a harmonia, a capacidade de sentir-se parte desta imensa gama de possibilidades que chamamos realidade, numa fusão, ou em sânscrito, numa Yoga com o objeto contemplado.
É Narciso agora que devemos convocar para explicar a Iluminação Mística, que se manifesta na percepção da beleza naquilo que está a sua frente e na descoberta de que esta beleza é apenas a sua própria imagem refletida.
Rubem Alves diz que a primeira e mais importante função da educação é ensinar a ver.
É verdade.

terça-feira, 9 de abril de 2013

TEIAS: A ROSACRUZ NÃO QUER DISCUTIR A ROSACRUZ


Por Mario Sales




Se na Maçonaria encontramos um ambiente de livre especulação, onde especulação pura e simples se confunde com axioma filosófico ou pensamento racional, mas todos tem liberdade, isto é fato, de expressarem sua ideia particular de mundo, na Rosacruz AMORC impera o “silêncio dos estudiosos”, e toda reflexão crítica sobre o estado administrativo, sobre a eficácia dos métodos didáticos de ensino, sobre a capacidade das monografias preencherem, hoje, a necessidade dos estudantes que trabalham no sanctum do lar, é visto com desconfiança, muitas vezes como um problema disciplinar, implicando em sanções, punições internas discretas, elegantes, porém eficazes em cessar toda espécie de comentário que possa, mesmo que de leve, questionar hábitos administrativos.
Desculpem a sinceridade, mas ao fechar, meses atrás, a Teia de Indra, descobri que a minha Teia foi derrotadas pelas Teias burocráticas.
Existe uma sólida burocracia dentro da AMORC que se fortalece no perfil do estudante rosacruz, tímido, quieto, estudioso, muito mais preocupado em aprender do que em administrar. Todos aqueles que, como eu, em determinada época, serviram a Ordem em cargos administrativos, sabem ao que me refiro.
A noção de que o serviço deve ser desinteressado, desapegado, de que servir deve ser o prêmio para aquele que serve, além do apelo a lealdade, confunde-se com a ausência de pensamento crítico e estabelece que qualquer comentário que possa trazer mudanças aquilo que pode ser chamado Ortodoxia Administrativa reflete não uma sugestão inovadora mas um gesto de deslealdade.
E a Ordem, administrativamente, patina.
A sua intervenção da Internet , também chamada de "Web" ou "Teia", demonstra e exemplifica este ponto. Cantado em prosa em verso como um avanço nos trabalhos de divulgação da Ordem, o espaço da AMORC no Facebook, (que gerou pedidos e a instrução direta do Grande Mestre para que todos os grupos e comunidades rosacruzes daquele espaço fossem fechadas e se concentrassem no espaço da rosacruz oficial, diretriz esta que , ao que observo, só foi atendida por mim mesmo, fechando a o site da Teia de Indra, atendendo a pedido do Frater Helio, enquanto a maioria das comunidades no Facebook e fora dele continuam abertas e própseras), mostra bem o desconhecimento administrativo da velocidade com que se move o mundo digital e a sua plasticidade.
Ninguém controla todas as coisas.
Ninguém, nem nehuma organização, mesmo o Governo Americano, controla a Internet.
Ao solicitar que as comunidades já estabelecidas na Rede fossem fechadas e seu dinamismo interno fosse trocado por um espaço estático e de mão única como aquele que a AMORC criou no Facebook, apenas tentamos segurar água com as mãos.
A Rosacruz precisa repensar a rosacruz, mas deve fazê-lo não na sala de um conselho fechado, em algum lugar do Canadá. É verdade que a AMORC não está acostumada a liberdade democrática, mas que pelo menos lance mão de pesquisas internas de opinião, que ouça as opiniões de seus membros, em todos os países, e lhes pergunte quais são seus anseios, seus desejos e o que eles esperam de sua afiliação.
A Rosacruz deve perguntar aos Rosacruzes o que eles sugerem para melhorar a Ordem.
É preciso ouvir nossos frateres e sórores, lembrando sempre que a pirâmide sólida é construía de baixo para cima e a base sempre é mais larga que o ápice.

sábado, 6 de abril de 2013

"A MAÇONARIA" NÃO EXISTE


por Mario Sales


Raciocinem comigo.
Pensemos no exército de um país, o exército israelense, por exemplo. Disciplinado, organizado de modo hierárquico, exposto a vizinhos belicosos e ao ódio de muitos dos que fazem fronteira com seu país, trata-se de uma instituição absolutamente treinada para trabalhar em conjunto, como um único organismo, de modo eficiente e rápido. Existem milhares de soldados, homens e mulheres, no seu conjunto. Isto não impede que desempenhem seu papel como um grupo coeso e uno. O exército Israelense é uma Instituição real.


Agora pensemos em uma Instituição não militar, a Igreja Católica Apostólica Romana.
Composta também de uma hierarquia , ela tem milhares de membros e milhões de seguidores em todo o planeta. Sua organização interna possui protocolos que são seguidos em todas as igrejas que fazem parte de sua estrutura física e institucional. Sujeita a ter que conciliar visões internas diferenciadas de como atingir o objetivo de intermediar a Obra de Deus, como por ela compreendido, na face da Terra, brilhantemente instituiu a estratégia das Ordens, segmentos dentro da própria Igreja, com diferenças operacionais muito marcantes, como as entre Jesuítas e Franciscanos, Trapistas e Dominicanos. Mesmo assim, a Igreja, como instituição e organização, necessita de uma atuação coesa e isto é garantido pela liderança do Papa, que estabelece seus rituais, auxiliados por seus cardeais, arcebispos e bispos.
A Igreja, por mais diferenças internas entre suas ordens , por mais Universal que seja ( que é o significado da expressão "católica") é apenas uma sob a liderança de seu Comandante em Chefe. A Igreja, como instituição e organização existe.
Agora vejamos a Ordem Maçônica, conhecida como Maçonaria. Desde os tempos de sua fundação, por volta do ano mil da era cristã, como um sindicato de pedreiros construtores de Igrejas, que guardavam segredo de suas técnicas por motivos meramente profissionais e não ocultistas ou místicos, atravessou Mil Anos de modificações internas e externas.
Dividiu-se em vários ritos (mais de duzentos) que não prestam obediência ao mesmo Comandante em Chefe; seus rituais foram modificados, modernizados e depois, retificados, na busca de fidelidade aos modelos mais antigos; suas lojas são autônomas, e embora exista semelhança entre os símbolos e as premissas sociais e filosóficas, têm liberdade para interpretar de outro modo, se assim o desejar, algumas das noções básicas de sua história.


Criou-se a noção de Obediências, um conjunto de Lojas que se submete a direção de um único Grão Mestrado, e assim se constitui em Potência. Porém, em todo o mundo, e mesmo em nosso país, são muitas as potências, são muitos os comandantes em chefe desta mesma Ordem, cada um reivindicando para si uma legitimidade e uma fidelidade aos princípios desta Ordem que, em princípio, possui agora uma névoa forte a envolver seu passado e sua origem.
Como instituição única, com rituais diferentes, praticados por potências diferentes, a única coisa certa sobre a "Maçonaria" é de que ela não é uma única instituição, mas sim o nome de um enorme e variado conjunto de instituições espalhada pelos quatro cantos do planeta, em busca de uma unidade perdida sabe-se lá a quanto tempo.
"A Maçonaria" não tem um líder, mas vários.
E embora a sociedade e mesmo maçons pensem de outra forma, "A Maçonaria", como organização, não existe. Existem apenas os maçons, em diferentes ritos, em diferentes países e potências dentro destes países.