Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 29 de agosto de 2010

O GRANDE MESTRE, O FÓRUM E A PALAVRA PERDIDA

Por Mario Sales FRC.:, S.:I.:, M.:M.:




Assisti neste fim de semana o nosso querido Frater Helio de Moraes, aqui na Loja Rosacruz Guarulhos, em São Paulo, enquanto respondia aos membros presentes em um fórum da Ordem, antes de uma ritualística da qual ele participou.
Desde que entrei na Ordem, Frater Helio é o meu terceiro Grande Mestre, meu e da Rosacruz Brasileira, por sinal.
Já na primeira pergunta, uma muito querida e reflexiva soror bombardeou-o com algumas questões contundentes, 5 na verdade, das quais a primeira consumiu quase 30 minutos de resposta.
Referia-se a questão do dogma e que, na opinião da soror, a Ordem deveria assumir que possuía alguns, e exemplificava com conceitos como a existência de Deus, o fato de que a Ordem afirma que todas as religiões inspiradas derivam da mesma tradição, etc.
Pacientemente, como deve ser um Grande Mestre, frater Hélio tentou explicar que a Ordem, ao contrário da opinião da sóror, não tinha dogmas, e disse que dogmas implicariam em verdades inquestionáveis as quais se fossem questionadas implicariam em algum tipo de sanção, já que com esta contestação caracterizar-se-ia uma heresia, e que no caso das afirmações da Ordem nada disso aconteceria com quem discordasse de suas premissas.
Notei que ele enquanto respondia procurava uma palavra que não conseguia expressar que sintetizava seu raciocínio e esclareceria a soror em sua dúvida.
Os Fóruns são reuniões coletivas (havia 102 assinaturas no livro de presença) e precisam de certo protocolo para que possam transcorrer com um mínimo de racionalidade. Assim sendo, Frater Helio estabeleceu logo ao princípio que, por esse motivo, só responderia perguntas feitas por escrito.
Por isso abstive-me de comentar em voz alta que a palavra que ele procurava e que não pronunciou, a qual, uma vez pronunciada, traria paz ao espírito da nossa inquiridora sóror, no mais legítimo espírito rosacruz e martinista, diga-se de passagem, era a palavra POSTULADO.
Parece bizantina a minha preocupação, mas não é. Clareza de pensamento anda paripasso com clareza de expressão lingüística e quando usamos a palavra certa, no momento certo, podemos economizar 30 ou mais minutos de resposta e nos dedicarmos a um número maior de respostas e a um número maior de pessoas.
Fazendo um trocadilho, foi por causa de uma Palavra Perdida que levamos meia hora para responder a esta soror uma simples questão de definição: quem postula não dogmatiza, apenas estabelece um princípio básico de raciocínio para embasar seu processo de investigação.
Podemos todos partir de postulados pessoais baseados em crenças pessoais, mas a forma mais comum de postular é na ciência, que o faz embasada por observações experimentais e pelo estudo dos fenômenos do Universo. Isto é o mais simples pensamento lógico conhecido, herança dos Jônicos, Thales , Anaximandro, Anaxímenes, e o nosso interessantíssimo Empédocles de Agrigento, o médico que postulou pela primeira vez que a realidade como um todo era composta de 4 elementos básicos: a água, o fogo, a terra e o ar.
E desde o tempo dos Jônios, que representaram 6 séculos antes de Cristo uma inexplicável e súbita ruptura entre o Mito e a Razão, o Logos, a palavra, tem sido o instrumento de trabalho dos pensadores, dos educadores e dos cientistas.
Por isso a minha angústia ao ver sem poder interferir, por respeito ao protocolo, meu querido frater Hélio em busca da palavra perdida, que, naquela longa resposta, não conseguiu encontrar.

NÃO, NÓS NÃO PRECISAMOS DE TOLERÂNCIA

Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



Um dos postulados fundamentais da práxis rosacruz é o conceito de Tolerância.

Segundo este conceito, toda vez que lidamos com a diferença, com o heterogêneo, com o desconforto de natureza física ou psicológica devemos aplicar o princípio da Tolerância e superar estes instantes de constrangimento ou perplexidade com elegância e , para usar uma palavra antiga que gosto muito, com fleugma.

Tolerar significa entender que não existe um padrão repetitivo de pessoas e que todas elas vêm a nós em modelos e cores e tamanhos os mais variados, com os quais devemos conviver de forma equânime, já que uma das normas do Universo é a variedade.

No entanto existe outra maneira de se ver o problema da convivência com o diferente, talvez mais avançada e mais refinada que esta, talvez mesmo uma evolução em relação a esta estratégia.

E esta seria a estratégia da compreensão pelo conhecimento.

Considerando a questão da Tolerância alguns conceitos me vieram a mente:

1°: Tolerar quer dizer suportar alguém ou alguma coisa ; o dicionário Houaiss vai além: diz que tolerar é suportar com indulgência.

2° Tudo que eu suporto ( ou tolero) exige de mim algum tipo de esforço emocional, já que , em circunstâncias normais eu não suportaria (toleraria) aquilo que, por princípio filosófico rosacruciano, eu me proponho a suportar.

3°Por outro lado, o que me causa desconforto naquilo que eu suporto (tolero), causa-me desconforto por ser estranho ao meu modo de vida, ou por outra, por ser desconhecido ao meu modo de entender e vivenciar o mundo.

4° É sabido que aquilo que é desconhecido pode vir a ser conhecido pelo estudo e pela informação, antecipando-me através de meios menos desconfortáveis as características exóticas das coisas que eventualmente me causariam perplexidade.

5° Como exemplo cito certos hábitos de alimentação de povos do extremo oriente, como o consumo de cobras, ou o consumo de pequenos vermes fritos, ou para usar uma imagem já hoje menos estranha, o consumo de alimentos marinhos crus.

6° O conhecimento prévios destes hábitos e costumes pela leitura me torna mais preparado intelectualmente para lidar com estas situações presencialmente, o que explica porque antropólogos conseguem conviver em harmonia com povos previamente estudados, não só por falarem sua língua, mas por compreender seus peculiares costumes.

7° Podemos concluir que o nosso desconforto ou embaraço, em relação à certas experiências ou comportamentos é inversamente proporcional a nosso grau de conhecimento prévio sobre tais práticas através da leitura ou do estudo.

8° Podemos concluir também, portanto, que a nosso desconforto é diretamente proporcional a nossa ignorância do que nos causa desconforto; ou melhor, é o inesperado que nos embaraça não o conhecido.

Assim sendo, podemos inferir o final de nosso raciocínio. Não precisamos suportar com desconforto aquilo que desconhecemos ou que nos seja estranho.

Não, nós não precisamos mesmo de Tolerância, mas de cultura, de leitura, de conhecimento que nos liberte das trevas acerca do heterogêneo ao nosso redor.

Um espírito culto é um espírito elástico e adaptável e convive sem esforço emocional algum, com os sem número de faces que Deus costuma usar para se apresentar a nós.

Estudemos tudo sobre tudo, pois, substituindo a Tolerância pela Compreensão.

Só o ignorante Tolera. O ser Humano culto Compreende, não precisa Tolerar.

domingo, 15 de agosto de 2010

AS SEPHIROT COMO VIRTUDES

 Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



O Cabala desafia a todos os que entram em seus domínios. É um conhecimento esotérico não só por que foi propositalmente escondido de muitos, mas lida com técnicas e ensinamentos tão sutis e poderosos que não são acessíveis aos afoitos, despreparados ou ambiciosos, mas só aos que se dispõem, pacientemente, a ruminar seus ensinamentos, lenta e calmamente.
Uma das minhas ruminações neste universo esotérico é a Árvore da Vida. Tema recorrente para os estudantes de Cabala, é como o nome diz uma estrutura em forma de árvore dita como o símbolo da Criação em si. O Conceito é apresentado pela primeira vez no texto conhecido como Sepher Yetzirah, ou “O Livro da Criação ou Formação”, atribuído ao Rabino Aquiba, redigido entre os séculos III e IV, que chegou até nós em várias versões : curtas, como a de Saadia Gaon e Rabad III(Abraam Ben David, autor do modelo de Árvore das Sephirot) , respectivamente século X e século XIII) com 6 capítulos, ou longas, com 8 capítulos, como as de Shabbatai Donelo ou a de Isaac Luria, adaptada por Gaon de Vilna, nos séculos X e XVIII.
Pelo que diz o Sepher Yetzirah comentado pelo maravilhoso rabino Arieh Kaplan, as sephirot não são nomeadas no Sepher Yetzirah, mas “são todas derivados da escritura”.
Como por exemplo, em Provérbios (3: 19-20) : “Com Sabedoria (2) Deus (Ketter, a Coroa, 1) estabelece a Terra, com Entendimento (3)a firmou nos céus e com seu Conhecimento ( sephirah oculta) as profundidades foram quebradas.” Ou em Êxodo, 31:3 : “ Eu o enchi com o Espírito de Deus, com Sabedoria(2), com Entendimento(3) e com Conhecimento (sefirah oculta).
Estas são as três Primeiras sephiroth depois da Coroa, Ketter, que representa o próprio Deus. As outras aparecem, segundo Arieh Kaplan, em Crônicas 1, 29: 11, onde se diz: “ Teu, ó Deus, são a Grandeza(4), a Força(5), a Beleza(6), a Vitória(7) e o Esplendor (8),por Tudo (9)no céu e na terra; teu ó Deus, é o Reino.(10)” Diz ainda o Rabino Kaplan, que “em quase todas as fontes , chama-se à primeira Chesséd(Amor), em vez de Gedulá (Grandeza). Similarmente,” continua ele “ a sexta é chamada Iessód (Fundação) em lugar de Tudo. Entretanto nos textos cabalísticos mais antigos ambas são usadas.”
O que se pergunta é: para que serve este conhecimento? Existem várias colocações acerca disso e a mais interessante é que a Árvore é o Caminho da energia de Deus até a Humanidade. Quando Deus quer vir a Humanidade ele segue o Caminho da Árvore, mas por outro lado, quando o Homem quer chegar até Deus, pode fazê-lo fazendo o caminho inverso e subindo plano por plano até a Coroa, Ketter, chegando até o Altíssimo. Hoje, no entanto, me ocorreu pensar nas sephirot também como Virtudes Éticas em uma época em que não existia psicanálise ou coisa que o valha. Seguindo este raciocínio, qualquer homem que desenvolver em si, nesta ordem, partindo do Reino, Malkut, a Criação, uma estrutura material sólida (Fundação), depois manifestar o Esplendor em sua vida, iluminando e servindo sua sociedade com seu serviço e presença, Superar e Vencer (Vitória) suas dificuldades exteriores e interiores, seus sentimentos mesquinhos, seus defeitos morais, não deixando que após seu sucesso ,o Esplendor, o Ego o torne presa da Vaidade, desenvolvendo assim Beleza em sua vida material e principalmente espiritual, desenvolverá uma Força Moral e uma noção de Justiça suficientes, para disseminar a sua volta o Amor e a Misericórdia , condições imprescindíveis para o Entendimento correto que leva, finalmente a Sabedoria. E todos compreenderão que , o Sábio pode por ser sábio, tocar as vestes e os pés de Deus.
Esta sequência de movimentos pode talvez tornar mais compreensível ao homem comum a Árvore da Vida e suas duas mãos de fluxo, como uma orientação de atitude, capaz de tornar aquele que a segue um ser mais próximo da Divindade.
Que todos nós possamos absorver este ensinamento, entendendo e nos alimentando dos frutos virtuosos desta árvore.
Contador Grátis

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PSICOLOGIA E MISTICISMO

Suzano, 25 de Outubro de 2007





Mario Sales, FRC,S.:I.:,M.:M.:

A Prática Fomenta a Vontade


Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de compreender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do caráter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do caráter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.
Vem daí a inutilidade da leitura de livros que apontam as estradas reais do caráter. Tenho diante de mim um volume de um tal Leland (Londres, 1912), intitulado Tendes a Vontade Forte? ou Como Desenvolver Qualquer Faculdade do Espírito pelo Fácil Processo do Auto-Hipnotismo. Existem centenas destas obras-primas ao alcance dos simplórios de todas as cidades. Mas o caminho é mais penoso e longo. Esse caminho é o caminho da vida. Vontade, isto é, desejo unificado (Schopenhauer já o provou), constitui a forma característica da vida que cresce; e a sua força só aumenta quando a vida lhe defronta novos labores e novas vitórias. Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objetivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer. A prudência aqui se reduz a conduzir o empreendimento por partes, porque cada passo em falso enfraquecer-nos-á, do mesmo modo que cada vitória parcial nos fortalecerá.A realização cria mais realizações; graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes; a prática fomenta a vontade.


Will Durant, in 'Filosofia da Vida'


Tenho feito vários ensaios para escrever sobre este assunto, Psicologia e Misticismo, sem que me decidisse como fazê-lo, embora ele esteja permanentemente em minha cabeça, sem trocadilho.Seja pelo fato de que os conhecimentos sobre o comportamento do homem evoluíram, e muito, nos últimos 100 anos, seja pelo avanço dos exames de neuroimagem e de neuroquímica, houve uma significativa mudança de posição em relação ao papel da Vontade como determinadora de nosso comportamento.
Hoje sabemos, por exemplo, do significativo papel da hereditariedade quanto a um sem número de comportamentos, principalmente aqueles ligados ao vício, (alcoolismo, dependência de substâncias neuroativas, jogo), ou quanto ao papel da genética na composição dos corpos (obesidade, magreza, etc) coisas que há bem pouco tempo e ainda hoje em grupos menos informados são tratados como problemas de caráter ou de determinação.
Frases como “querer é poder”, interessantes e motivadoras, perdem significado à luz do conhecimento moderno do papel da herança genética somada às questões psicanalíticas do inconsciente, na vida de milhares de seres humanos.
Vamos analisar estes aspectos por partes.
Primeiro, consideremos a terminologia.


Genótipo, Fenótipo e Karma


Em genética, usamos o termo genótipo para definir as tendências que trazemos em nossos genes para determinadas doenças e comportamentos; e fenótipo, para designar o papel do meio ambiente no nosso comportamento final.
Como sempre, começamos nossa jornada entre duas colunas: uma que trazemos como bagagem (genótipo) e outra que receberemos aos poucos a partir da primeira e segunda infância (fenótipo), como por exemplo, o país em que nascemos, com suas peculiaridades de riqueza ou pobreza, a educação e o tipo de alimentação que vamos ter, os condicionamentos religiosos e morais aos quais seremos submetidos, provenientes de nossas famílias, das crenças ligadas as nossas classes sociais, econômicas, etc.


As Duas Pernas


Costumo comentar com meus amigos que o Genótipo é o Karma totalmente relacionado a outras existências e o Fenótipo apenas em parte, sendo que grande parte do Karma fenotípico será construído no dia a dia, nas interações que vamos ter com nosso meio e nas escolhas que faremos.
Aqui, entretanto, já fica óbvio, que parte do script de nosso drama kármico para uma determinada encarnação já está escrito em nosso código genético, e que isto terá uma importante função em nosso desempenho na Terra, não para nos prejudicar, mas para criar as condições de tensão necessárias ao nosso arremesso evolucional, como um estilingue se apóia nas colunas opostas do Y de madeira ao qual se prende.
Portanto, a força da Vontade, neste particular, é relativa. Bem mais importante que a Vontade, é o papel da compreensão e do conhecimento, ou melhor, a habilidade em tracionar a borracha do estilingue e compreender a mecânica do instrumento.
É o que nos torna mais capazes de enfrentar os muitos e variados desafios da nossa vida cotidiana. Compreensão e discernimento. Nossa persistência precisa do nosso conhecimento. Nós precisamos de ambos.
Afinal, quantas pernas temos? Uma ou Duas pernas?
E para que indivíduo a Vida, como fenômeno, será mais proveitosa? Para aquele que se preparou de forma esmerada ou para aquele que tem grande força de vontade, mas tudo ignora, e por isso não compreende o mundo que o cerca ou a herança que recebeu?
Será que o Conhecimento não fortalece muito mais a Vontade do que a Vontade fortalece o Conhecimento?
Discordo de Will Durant quando diz (e quem já não pensou assim?) que “... graças a pequenas conquistas ganhamos confiança para as grandes...”: o que ganhamos principalmente é mais informação.
E esta consolidação de nosso arcabouço intelectual é o que nos garante estrutura para dar conta do cotidiano.
Para absorver esta informação precisamos estar aptos neurologicamente.
Voluntarismos, frases de efeito, não tornarão um indivíduo limitado, por problemas sociais, intelectuais, psiquiátricos ou neurológicos como o retardamento mental, mais aptos.
Ele será incapaz mesmo de entender o que significa a frase que é dita para motivá-lo. Falta-lhe intelecto; falta-lhe capacidade de compreensão.


A Limitação Orgânica


E nem por isso, por causa desta limitação orgânica, ele será menos humano que qualquer um de nós. Precisará, como todos nós precisamos, de carinho e afeto, cuidados e atenção.
Qual a mãe que recusaria ao seu filho, se portador da Síndrome de Down, menos carinho por causa disso?
Só que aqui a questão não é discutir a importância de um indivíduo limitado neurologicamente em comparação com outro que não tenha nenhuma limitação. Este tipo de comparação não faz parte do expediente do místico.
Ele sabe que muitas são as estratégias que o Universo usa para desenvolver uma determinada personalidade alma e assim, as limitações serão proporcionais a necessidade de um determinado indivíduo de forma a estimulá-lo a superar-se, no mesmo princípio acima descrito: grande tensão = a grande arremesso.
Compreender isto é mais importante do que lutar contra isso. Ver a tensão como parte de um estímulo é diferente de encarar a mesma tensão como obstáculo ou empecilho ao desenvolvimento. Só compreender isto já nos acalma e nos dá mais equilíbrio e senso de estratégia para usar nossas aparentes limitações a nosso favor.
Portanto, nem tudo é Vontade. Hoje sabemos disto.
Temos de ter um espírito mais amplo, portanto, na abordagem das dificuldades do estudante de misticismo de superar seus problemas pessoais de afirmação no mundo e concluir que, embora as escolas místicas façam a sua parte, transferindo valores éticos e estimulando a auto confiança nos seus membros, repetindo-lhes constantemente que eles podem ser mais do que são, bastando que se libertem da ilusão de serem incapazes para isto ou aquilo, o resultado, muitas vezes, é quantitativa e qualitativamente insatisfatório por motivos orgânicos e biológicos.
Não por que a mensagem não seja correta, mas por que o receptor não preenche todas as demandas da situação.


O Esqueleto no Armário


Mal comparando, é como se pedíssemos as pessoas que mudassem de andar, passando do andar de baixo para o andar de cima sem que existisse uma escada entre eles ou um elevador, apenas um buraco no teto, e cordas, frágeis, fáceis de arrebentar para ajudar na empreitada.
Enquanto saltam, tentando agarrar as bordas do buraco ou lançam as cordas para fixá-las e poderem subir por elas, os místicos que crêem na vontade ficam de lado, gritando: “Força, não desistam, vocês vão conseguir algum dia, não desistam”. Na minha opinião, uma simples escada seria melhor.
As escolas místicas são, eminentemente, transmissoras de um conhecimento específico. Quanto mais didáticas forem, maior o seu sucesso na transmissão deste conhecimento.
E ser didático é fornecer degraus àqueles que galgam níveis cada vez mais complexos de compreensão.




A Questão Fundamental


Porque sentimo-nos incapazes ou inseguros?
Porque temos medo de tentar ser mais felizes?
Porque temos a tendência de transferir infantilmente aos outros a responsabilidade pelo nosso próprio fracasso e sofrimento?
Spencer Lewis, em seu livro “Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios”, no último capítulo, usou uma expressão norte-americana que designa estas questões íntimas de cada um que tem que ser exploradas de modo muito particular. Ele chamava este conjunto de peculiaridades e idiossincrasias de “o esqueleto no armário”. 
Temos sim, todos nós, o esqueleto que merecemos em nosso armário. Essa estranha e didática expressão lembra que se não resolvermos primeiramente nossas questões internas e pessoais, em uma palavra, psicológicas, elas nos perseguirão como uma sombra que nos impedirá de progredir com a velocidade que desejamos no campo da espiritualidade.


Por que somos o que somos




Também é certo, usando a visão do psicoterapeuta, no plano mundano, ou dos iluminados, no plano místico, que nenhuma pessoa é como é apenas porque quer ou escolheu ser assim.
Mesmo o espírito mergulhado em trevas tem uma história de vida que fundamenta este comportamento e suas atitudes anti-sociais, ou mesmo francamente psicopatológicas.
O místico diria que não existe apenas uma história de vida, mas várias histórias de vidas passadas que construíram a personalidade daquele ser perturbado.
Todo ser humano é um processo em andamento. Não é o que é, mas está daquele jeito e de outro modo seria se outras fossem as condições predisponentes, independente da sua vontade pura e simples.
Mesmo a Força da Vontade, Persistência e Obstinação que levam um ser ao sucesso a partir de condições adversas têm uma base biológica e espiritual a ser considerada.
É gratificante acharmos que fizemos a personalidade de alguém se tornar mais digna e forte com nossos conselhos, estímulos e sugestões, e já vi pessoas destruídas pela culpa de terem causado, em sua concepção, algum tipo de mal a alguém.
Só que o processo de evolução é tremendamente solitário e complexo. Nem somos totalmente responsáveis pelo sofrimento de outra pessoa, nem somos vítimas de ninguém, a não ser de nossas próprias crenças.
E nossas questões pessoais, nossos esqueletos, não devem ser encarados como questões morais mas antes como desafios intelectuais. Eles exigirão de nós esforço de compreensão, de estudo, de forma a entendermos por que nos comportamos como nos comportamos e poder de forma mais segura combater nossas limitações. Sem esforços heróicos mas com movimentos dirigidos pela ponderação e pela compreensão cada vez maiores do problema.
Cada um de nós traça com nossas escolhas nosso próprio destino se bem que dentro de nosso contexto sócio-psicológico específico e, tudo que podemos pedir a Deus é que façamos o melhor possível dentro de nossas possibilidades.
Claro, a quantidade de nosso conhecimento, o número de informações que coletaremos para nos ajudar em nosso trabalho no mundo determinará a velocidade e a qualidade de nosso progresso espiritual e material (pois estes dois nunca estão separados), e produziremos, digamos assim, uma maior quantidade de Bem para aqueles que nos cercam e, é óbvio, para nós mesmos.
Não temos já, manifesto, todo o poder que guardamos em potencial, mas ele já está em nós. Vamos aos poucos manifestando este poder pelo aperfeiçoamento de nossa sabedoria e sentimentos, que também são objeto de aprimoramento pela educação psicológica.
Sim, até a amar podemos aprender, desde que recebamos as informações necessárias, os exemplos necessários, já que no caso dos sentimentos valem mais as lições do exemplo do que das palavras.
Mesmo assim, como num processo psicoterapêutico, precisamos organizar na linguagem nosso auto conhecimento, de forma a aperfeiçoar nosso comportamento como seres humanos, vivendo em sociedade.
Livros aprimoram nosso intelecto, nosso pensamento; a Arte e a Beleza aprimoram nossa Sensibilidade.
A Vontade , também chamada Força de Vontade, sozinha, jamais conseguiria mobilizar o ser sem o consórcio da Beleza e da Sabedoria.
A tríade clássica é Sabedoria, Força e Beleza.
Conhecimento, com Elegância e Beleza, é Sabedoria; Sabedoria e Sensibilidade geram mais Conhecimento Elegante e Belo, num círculo Virtuoso que aprimora o espírito e o faz disparar em direção ao Todo Poderoso.
E este círculo virtuoso não é possível em uma mente emocionalmente imatura e pouco elaborada.
Não, a Vontade pura e simples não é tudo.
A ela devemos agregar Conhecimento, para que não seja a Força Cega de Schopenhaer, mas uma força dirigida e orientada na direção de Deus e da Luz.




O Homem e o progresso de sua Compreensão de si mesmo




Galileu tirou o homem e a Terra do centro do Universo, ao desacreditar a teoria do geocentrismo, advogando a teoria do heliocentrismo. Darwin contrariou a criação divina do homem descrita pela Bíblia ao demonstrar a teoria da evolução das espécies. Freud tirou por fim, de nós, nossa certeza da autoria de nosso comportamento, revolucionando a sociedade ao anunciar a existência do inconsciente – a zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos cuja formação se deve em grande parte às etapas da infância. Uma zona que não é passível de conhecimento direto e que é a área de transição entre o orgânico e o psíquico do individuo.
Precisamos agora perguntar se a Vontade é uma virtude suprema ou uma auxiliar do Discernimento, na Evolução.
Resta-nos a obrigação de perguntar, humildemente, se para que o Místico alcance a plenitude, basta que tenha determinação e persistência ou se, em alguns casos, necessitará de um auto estudo que o esclareça sobre os motivos de sua irregularidade por exemplo, no estudo de suas monografias ou experimentos.
Ou mesmo se conseguirá superar estas limitações apenas pela leitura dos livros sagrados somados a Oração.
Não vou negar que seja possível que tal coisa aconteça.
Acredito, entretanto, que se a abordagem fosse mais ampla, se ele fosse também capaz de submeter-se à auto análise e ao auto questionamento, pela via psicoterápica se necessário, ou pela via filosófica, ou por ambas, para resgatar aquele esqueleto no armário de que Spencer Lewis falava no final de seu livro, num processo de toalete mental fundamental para sua felicidade, o lucro e o desempenho daquele mesmo místico que reza e pede a Deus que o inspire seria melhor.
Não devemos julgar ninguém, não apenas porque somos almas piedosas e cristãs, mas porque é impossível não sermos injustos, já que jamais teremos acesso a todos os dados que fundamentam o comportamento daqueles que supomos sermos capazes de avaliar.
Por ignorarmos o processo anterior que resultou naquele comportamento, daquele indivíduo, e o contexto em que ele se desenvolveu (seu fenótipo) não temos como ser Justos, verdadeiramente.
E antes de sermos Mestres, precisamos aprender a sermos justos, nem que seja ao menos conosco, evitando cobrarmos responsabilidades de nós mesmos que não temos, ou de outros, que não conhecemos, já que somos apenas o melhor que podemos ser em nossas condições específicas.
Esta é a base do princípio Rosacruz da Tolerância.
Ignorância leva a severidade excessiva, e esta, leva a Culpa.
E Culpa não gera consciência, só sofrimento.
Nas palavras do Evangelista, só a verdade nos liberta, verdade que deve ser procurada incessantemente por todo místico sincero, fora e dentro de nós, já que o Universo interior é tão vasto quanto aquele das estrelas e das galáxias.
E, nas palavras de Blavatsky, não há religião superior à Verdade.




A Psicologia e o Misticismo - 2


Delimitando as Circunstâncias
Suzano,SP, 07/11/2007


No primeiro comentário abordei a percepção óbvia de que o Voluntarismo ("Querer é Poder") não pode ser mais considerado fórmula de sucesso, se quisermos estimular adequadamente e incluir todas as pessoas possíveis na busca pela evolução.
Não é a Vontade, sozinha, que determina todos os acontecimentos, mas, isto sim, a combinação entre a quantidade e a qualidade de Conhecimento de um indivíduo de um lado e, de outro lado, um sem número de escolhas voluntárias e de circunstâncias involuntárias, felizes ou infelizes, que vão pouco a pouco moldando um caráter, uma biografia, um fracasso ou um sucesso.
E se existe um organizador destas experiências e escolhas em uma compreensão elevada da vida este só pode ser o Discernimento que advém do Conhecimento acumulado, seja este conhecimento intelectual, espiritual, estético, ou, principalmente emocional.
Quanto maior o grau de conhecimento, menos cega será a força de um indivíduo, e menor será a força de vontade necessária para transformar as coisas.
O conhecimento facilita nosso trabalho e torna a noção de força relativa. Basta lembrar do princípio da alavanca.


O Papel do Conhecimento sobre o Desempenho


O que faz com que pessoas biologicamente idênticas (gêmeos univitelinos, por exemplo) tenham comportamento diverso, para o místico, não chega a ser difícil explicar.
Corpos iguais, almas diferentes, comportamentos peculiares e individualizados.
Mas o que dizer de dois seres humanos que, biologicamente são diferentes, com um deles aparentemente em desvantagem por causa de uma limitação física e outro não, terem comportamentos e trajetórias em que, aquele beneficiado por um corpo absolutamente saudável não tem 1/3 do desempenho daquele que está preso a uma limitação física?
A mesma razão, a diferença entre as almas. E como essa diferença se expressa?
Algum tempo atrás, os pensadores e educadores responderiam sem hesitar que a Força Da Vontade em um era, com certeza, o diferencial em relação ao outro.
Hoje, eu não me sentiria seguro ao seguir este pensamento, no mínimo ingênuo neurofarmacologicamente.


Os Fatores Biológico e Bioquímico


E por que? Porque hoje, graças à genética e a neuroendocrinologia, sabemos da importância da presença ou da ausência de apenas um dos muitos hormônios que nos regem o comportamento, a disposição, a capacidade de reação.
Sabemos da importância da serotonina, este importante composto chave da alegria, na criação de personalidades frágeis ou fortes.


SEROTONINA


A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre as células do cérebro (neurônios). Ela é quimicamente representada pela 5-hidroxitriptamina (5-HT), sendo também freqüentemente designada por este nome.
Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio que rodeia o ser humano, e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Apesar de serem poucos os neurônios no nosso cérebro com capacidade para produzir e liberar serotonina, existe um grande número de células que detectam esse neurotransmissor. Desse modo, a serotonina desempenha um importante papel no funcionamento do nosso sistema nervoso e existem numerosas patologias relacionadas com alterações na atividade desse neurotransmissor.


(Fonte:http://perolas.blogs.sapo.pt/64216.html)


Quem como médico tratou de um depressivo e viu a transfiguração de sua face após a adequada administração das drogas corretas, nas doses corretas, sabe do que estou falando. Quem não é médico, mas passou pela experiência de viver o drama da depressão, e viu sua vida retornar às suas veias depois da abordagem farmacológica também sabe. Ou quem, vítima da deficiência do hormônio tireodiano viu sua capacidade de trabalho ir lentamente desaparecendo até que se inicia a reposição do mesmo e, mais uma vez, vê a existência descortinar-se a sua frente como um leque de possibilidades e não mais o arrastar-se de um dia atrás do outro, também sabe disso.
De que adiantaria dizer a essas pessoas “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer!” ?.
Nada. Não se trata de uma questão de vontade, trata-se de uma morbidade hormonal, bioquímica, uma circunstância específica que uma vez diagnosticada pode ser revertida e a qualidade de vida daquele homem ou daquela mulher, recuperada.
Até as áreas do otimismo nos seres humanos foram recentemente mapeadas.(vide artigo no final deste ensaio).
Mas por quantos séculos pessoas vítimas desta doença foram tratadas apenas como melancólicos sem fundamento? Quantos destes foram criticados como covardes, como fracos e rejeitados a uma condição secundária na sociedade, pelos defensores da Força de Vontade como explicação para todas as questões da existência? Quantos ouviram a frase: “Levante-se, você é o senhor de seu destino, você pode melhorar sozinho, com seus próprios recursos, basta querer?”
O que diferencia nossa época de todas as outras? Conhecimento. Temos mais conhecimento sobre a natureza intima do funcionamento do organismo do que tivemos antes e com certeza não sabemos ainda da missa a metade.
O que esta constatação óbvia nos ensina, de que, quanto mais temos conhecimento, mais percebemos que, o que antes parecia uma mera questão de escolha e determinação tem um fundamento hormonal ou bioquímico, reversível pela medicina moderna, é que devemos ser mais humildes e menos precipitados na prescrição de fórmulas de sucesso ou de conduta aqueles que queremos estimular, tanto dentro da Ordem quanto na vida profana.
Muitos são os seres humanos e muitas são as histórias de vida de cada um.
E se, como rosacruzes, acreditamos que o destino é uma construção de nossas escolhas ao longo de cada encarnação, devemos concordar também que parte de nossas escolhas já é feita dentro de um universo definido, dentro de uma arena pré traçada pela genética e pelas condições socioeconômicas através das quais retornamos a existência; e embora não sejam como supunham os marxistas, ou supõem hoje alguns biólogos, determinantes irrecorríveis de nosso comportamento, são influências que não podem ser desprezadas na avaliação do nosso desempenho psicológico e espiritual neste mundo.
Fazemos o melhor possível dentro de nossas circunstâncias.
E, como disse Ortega e Gasset, o que somos é a soma de nós mesmos com a nossa circunstância, e eu acrescentaria, circunstância interna, bioquímica, tanto quanto externa.


A Natureza Planetária da Rosacruz


Ao entrar em uma Ordem Esotérica mundial como a Rosacruz, estamos passando pela experiência iniciática de descobrir, para além dos nossos hábitos comportamentais, além de nossas peculiaridades locais, regionais, os sinais e os elementos universais que dormem em todos nós e os quais nos fazem habitantes do planeta terra, e membros da raça humana. Enfrentaremos , nesta iniciação, dois tipos de desafios: primeiro, o desafio cultural, no sentido antropológico da palavra depois, o desafio físico.
Consideremos o primeiro, o antrológico cultural.
Nós, estudantes rosacruzes, vimos de todas as partes do planeta e mesmo que achemos normal pensar o mundo a partir de nossa aldeia e de nossos costumes, muitas são as aldeias e os costumes, e cada tribo com suas lendas e seus deuses, seus mitos particulares. Uns são portadores de maior sensibilidade, outros tem o intelecto mais aguçado. Uns são mulheres, e de acordo com a região do planeta em que nasceram e cresceram, tornar-se-ão mulheres, como lembra Simone de Beauvoir, mais retraídas ou mais destemidas; outros são homens e, da mesma maneira serão influenciados pelas idéias correntes em seu meio sobre a noção de masculinidade específica de sua cultura.
Agora vejamos o segundo desafio: nossas peculiaridades biológicas e psicológicas. Tais características pessoais, físicas, nos precedem.
A existência de um equilíbrio emocional e bioquímico adequado, o hábito de fumar ou de beber, os efeitos que estes tipos de hábitos desencadearam ou desencadearão sobre o comportamento determinarão a capacidade de harmonização deste indivíduo com o Eterno. Nossa cor de pele, nossa estatura, nossa idade, são amostras de características que nos precederão. Podemos ser lentos ao falar, ou falar muito alto.
Tudo isto influenciará na nossa velocidade de harmonização com o meio místico que freqüentarmos.
E, afetando nossa harmonização social, poderá interferir com nossa harmonização espiritual.
Os místicos mais conservadores podem imaginar que este comentário não se sustenta já que as coisas da alma, na sua concepção, são tratadas pela alma, e a fé junto com a confiança superam todas as limitações; só que é preciso lembrar que todos os nossos movimentos, seja para cima, em direção a Deus, seja para baixo, em direção a nossos assuntos mundanos, passam por nossa mente, e esta, com certeza, é afetada pelo desempenho de nosso organismo, ou pelo menos pelo seu estado de conservação.
Como um indivíduo destruído pela ansiedade ou pela depressão pode sequer desejar compreender o misticismo em sua plenitude? Não falo de uma ansiedade fisiológica, mas de um quadro patológico, resultado de um trauma profundo. A vontade sozinha seria capaz de, neste caso, resolver o problema, ou um psicoterapeuta ou mesmo um psiquiatra deveria ser convocado?
Lembremos e modifiquemos um pouco o pensamento de Hermes Trimegistus: “O que está em cima, está em baixo, e o que está embaixo está em cima”, dizia ele.
E eu completo: o que está dentro está fora, bem como o que está fora, está dentro de nós, num movimento ininterrupto de criação e recriação do mundo, e recepção dos efeitos de nossa obra em nós.
Inter-relação entre os planos de atuação do Homem através da mente
É fácil, entender este último conceito: pensem em um escultor, que, após o término de sua obra, contempla-a e delicia-se com o resultado. O prazer estético que ele desfruta confunde-se com a sua auto-estima, reforçada pelo seu sucesso, e retro alimenta sua sensibilidade e vontade criadora.
E todos estes fluxos de percepção e reação passam através da mente que deve estar em mínimas condições de não interrompê-lo, como a lente dos óculos deve estar limpa para permitir a visão de quem a usa.
Assim, aquele que cria, também é transformado pela obra criada, da mesma maneira que Deus, o Criador, é modificado pelas nossas atitudes, nós, que segundo a Cabala fomos criados para retificar a criação.
Neste esquema fica claro que como intermedeia todas as movimentações de percepção e reação a mente deve ser saudável para permitir a comunicação entre todos os braços da cruz.
O importante não é, pois, a Cruz: o importante é a Rosa.
Deus, em nós, se aperfeiçoa. E este aperfeiçoamento pressupõe muito mais conhecimento do que vontade.
Schopenhauer, cético e desanimado com o desastre Napoleônico, fala de uma vontade cega que arrasta homens e nações pela história, a revelia de seus desejos, e conclui que o nosso sofrimento, enquanto seres humanos, seria inevitável.
Um hipotiroideu, que toma seu hormônio na forma de um simples comprimido, sabe que hoje, pelo menos, não é mais assim, já que o conhecimento acumulado permite que não seja.
Existe sim, como pressentiu o pensador alemão, uma Vontade por trás de todas as coisas, mas não apenas Vontade, porém antes de tudo uma Inteligência, que nada tem de cega, mas que, ao longo dos milênios, garante o crescimento do refinamento de nossa cultura e sensibilidade, e busca esse crescimento como seu bem mais precioso.
Entretanto, considerando a abrangência desta Inteligência, (que os Rosacruzes chamam de Consciência Cósmica),o explodir de Galáxias, o nascimento de estrelas, o surgimento ou o desaparecimento de civilizações inteiras, não são mais do que pequenos ajustes de curso.
Somos pó, enquanto seres corpóreos, e ao pó retornaremos, mas este pó que nos forma é o pó das estrelas, com as quais estamos em cumplicidade permanente, bem como com todas as coisas desta imensa criação.
Os Rosacruzes sabem, entretanto, como não sabia Schopenhauer, que não somos o corpo feito deste pó, mas estamos neste corpo, e que o corpo e tudo que existe de corpóreo não é nada mais do que um veículo para manifestação de nossa existência e experimentação de nossos sentimentos mais profundos nesta que é a mais fantástica experiência de Deus: a Vida Material, a Grande Ilusão, Maya.
Cegos somos nós, isto sim, pois jamais poderemos de nossas perspectivas isoladas, sozinhos, termos uma visão completa do Cenário Cósmico.
Ao contrário do que supõe Schopenhauer, o que nos afasta do deleite e do prazer da Vida não é a própria Vida, mas a nossa maneira de entendê-la, como uma situação hostil a nós ou harmônica conosco, como contrária a nós ou como uma força que conspira a nosso favor.
E quem controla esta percepção não é outra senão a mente, baseada no conhecimento que acumulou, principalmente o conhecimento emocional.


A evolução da Compreensão do Mundo através do Conhecimento Emocional


Esta maneira de ver a existência muda na medida em que também se transforma e aumenta nosso conhecimento sobre todas as coisas que nos cercam. Muda a partir das mudanças do Homem, a medida que sua consciência espiritual se expande e ele é tocado pela iniciação.
E iniciação é informação emocional, tanto quanto informação emocional é uma iniciação.
É a informação emocional e a cultura intelectual, somada ao desenvolvimento da sensibilidade estética e religiosa que nos transforma, e não a mera e simples Vontade, e para isto temos de estar aptos, neurológica, endocrinológica, antropologicamente.
Uma Vontade sem o refinamento do Conhecimento, mesmo que expressa em um corpo vigoroso, aí sim, é Cega, e por isso implica em mais sofrimento e esforço do que o necessário.
Já uma vontade não quantitativamente intensa, mas qualitativamente diferenciada, transforma o mundo a sua volta, coisa que nos ensina, todos os dias, o cientista Stephen Hawkins, preso por uma doença degenerativa a uma cadeira de rodas e nem por isso menos produtivo, ou o artista Cristopher Reeve que lutou até sua morte para superar as limitações de sua tetraplegia. Alguns pensarão que são ambos donos de uma vontade férrea. Eu diria que o conhecimento científico de Stephen e a motivação causada pela possibilidade de ajudar outros com problemas semelhantes, mas sem os recursos e a tecnologia da qual Reeve desfrutou, seriam suficientes para dar sentido e direção às suas vidas.
A força vem do conhecimento, não da simples vontade
Um corpo frágil que viaja pelo infinito, pelas galáxias e pelos buracos negros, através do conhecimento científico, em um caso; e no outro, uma mente clara, focada no benefício altruístico.
Metas e objetivos; direção e sentido de ação mental.
Isto é força. Isto sim é poder.
Pensem em Arquimedes e sua alavanca; pensem num mundo sem a roda e com a roda; pensem, enfim, em um mundo com livros e em um mundo sem livros.
Esta é a comparação que devemos fazer.
Este é o grande mistério: com o conhecimento correto, transformar um salão em trevas num local amplamente iluminado pode ser, simplesmente, a diferença entre abaixar ou levantar um mero interruptor.




APÊNDICE:
A origem do otimismo (publicado no Estado de São Paulo de 15 de novembro de 2007) por Fernando Reinach*


O ser humano é naturalmente otimista. É bem sabido que, independentemente de nosso nível de educação, temos uma enorme tendência de acreditar que o futuro será róseo. As pessoas superestimam sua longevidade e subestimam sua probabilidade de morrer. Acreditar que o Brasil é o país do futuro parece estar nos nossos genes. Essa característica de nosso cérebro faz sentido biológico. Sem ela, provavelmente seria mais difícil sobreviver em um ambiente em que impera a competição e a seleção natural. Uma das características da depressão é exatamente a redução desse otimismo e uma dificuldade em imaginar que o futuro é promissor.Por esse motivo, muitos neurologistas têm tentado descobrir em que área de nosso cérebro se origina o otimismo. Eles acreditam que essa tendência ao otimismo nada mais é que uma distorção sistemática da imaginação quando ela é aplicada a eventos que ainda estão por ocorrer, portanto no futuro.Agora, parece que um grupo de cientistas conseguiu mapear no cérebro a região responsável pelo otimismo.Voluntários foram colocados em uma máquina de ressonância magnética capaz de medir a cada instante a atividade de cada área do cérebro. Uma vez na máquina, eram instruídos a imaginar um evento no futuro ou relembrar um evento do passado.Quando terminavam de imaginar, a máquina era desligada e eles respondiam a um questionário sobre o que haviam imaginado. O evento era positivo ou negativo? Parecia distante ou próximo ao presente? A pessoa estava muito ou pouco envolvida no evento? Nos eventos que se relacionavam ao passado, fossem eles negativos ou positivos, ambos geravam respostas semelhantes. Nos relacionados ao futuro, sempre que o evento era positivo (vou ganhar um prêmio, vou me apaixonar), ele era mais intenso, imaginado mais perto do presente e a pessoa se via intimamente envolvida. Era o esperado, afinal somos otimistas.Na última parte do experimento, a atividade cerebral dos voluntários durante o tempo que imaginavam um evento positivos no futuro (vou comer um pernil ótimo amanhã) era comparada com a atividade cerebral quando as pessoas imaginavam eventos positivos no passado (ontem comi um pernil ótimo), um pensamento negativo no futuro (o pernil que vou comer amanhã vai me dar diarréia) ou um pensamento negativo no passado (o pernil que comi ontem me fez vomitar).
O resultado é que sempre que a imaginação se dirigia para o futuro e focava em um pensamento positivo, duas regiões do cérebro eram ativadas de maneira específica: a região da amígdala e a parte anterior do córtex cingulado rostral. Esses dados indicam que provavelmente é nessas partes do cérebro que se origina o otimismo. As duas regiões apresentam anomalias em pessoas afetadas por depressões profundas e pacientes com lesões nessas áreas tendem a apresentar depressão. Ficam incapazes de pensamentos otimistas. Esse experimento é um bom exemplo de como aos poucos estamos descobrindo como nosso cérebro cria nossa mente. Afinal, da mesma maneira que o coração bombeia sangue e o intestino digere os alimentos, a função do cérebro é criar e manter a mente. Mais informações em: Neural Mechanisms Mediating Optimism Bias. Nature, volume 450, página 102, ano 2007






Psicologia e Misticismo 3


O Papel do Treinamento Intelectual






"Uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' "
Definição de inteligência de "Mainstream Science on Intelligence",
que foi assinada por 52 pesquisadores em inteligência, em 1994:
INTELIGÊNCIA : fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Quando falamos que alguém é intelectualizado, referimo-nos via de regra a um indivíduo com grande quantidade de informações sobre um ou vários assuntos, geralmente dono de uma formação universitária e acostumado ao ato de raciocinar.Sabemos, entretanto que uma das características da inteligência é a sagacidade, ou melhor, a capacidade de desvencilhar-se de impasses e resolver problemas com rapidez e precisão. E nem sempre o indivíduo sagaz é intelectualizado ou vice versa.Resta a dúvida: a formação intelectual é suficiente para desenvolver sagacidade em um espírito ou isto terá mais a ver com a origem sociobiopsicológica deste mesmo indivíduo?Pode-se, colocando-se em outros termos, ensinar alguém a ser esperto, criativo?Provavelmente não.
O que faz de nós pessoas sagazes e de boa índole é a herança biológico cultural somada a educação e não só a educação.
Pode-se educar um indivíduo para pensar de forma lógica e encadeada, mas não necessariamente de forma original. Educa-se uma criança para saber colher informações, mas não necessariamente para sintetizá-las com elegância, síntese esta que é a base do crescimento de nossa capacidade intelectual.
Pensemos no quebra cabeça.
Todos podem ter acesso a todas as peças do quebra cabeça, mas a combinação dessas peças dever-se-á a capacidade de memória, observação e rapidez de combinar imagens e contornos de forma a completar a imagem geral.
Inteligência é um fenômeno dinâmico enquanto a intelectualidade é estático.
Todos sabem que é possível discursar por horas sem que nenhum conteúdo sólido seja passado adiante.
O intelecto é a falsa luz e defende, através do discurso, com igual veemência, o bem ou o mal.
Não argumentamos em defesa do que é certo apenas. Argumentamos em defesa de qualquer coisa, daquilo que acreditamos, mostrando que o argumento intelectual é escravo da crença e a crença na maioria das vezes não surge da reflexão, mas das tradições culturais antropológicas (pré-conceitos) daquele que argumenta.
Existe lógica possível até na defesa da crueldade.
Basta lermos “O Príncipe” de Maquiavel.
Isto não faz da crueldade algo lógico.
Da mesma maneira que distinguimos entre Intelectualizado e Sagaz, Culto e Criativo, é importante separar os conceitos de Intelectualizado do conceito de Evoluído. Evolução, do ponto de vista místico, refere-se ao aumento da Consciência Universal no Indivíduo, o que desencadeia neste um maior senso de altruísmo e senso de dever em relação à sociedade e a raça humana; mais, senso de dever e serviço com todas as formas de vida, não só as de conformação humanóide.
Um ser altamente evoluído, tocado pela graça de Deus, não precisa ser necessariamente intelectualizado, embora muitos seres intelectualizados nos pareçam, a primeira impressão, altamente evoluídos. Esta precipitação em julgar o caráter de alguém pela quantidade de livros que leu e títulos que tem gera muita decepção ao indivíduo mais ingênuo, e às vezes até, perplexidade, pois a confusão entre os dois é grande.
Não se trata, no entanto, de nada além de equívoco: uma coisa é ter cultura, outra é ser uma pessoa do Bem, por assim dizer.
O que nos leva a outra reflexão: tampouco há relação entre a falta de Intelecto e a Santidade.
Vale dizer, a ausência de um intelecto minimamente trabalhado, e da capacidade de raciocinar, não nos torna seres tocados pela luz, como certa época apregoou a Igreja de Roma, com uma campanha em prol da “simplicidade de espírito”, no sentido de que os mais humildes veriam a face de Deus enquanto os mais complexos deveriam ser (e eram) queimados como hereges e blasfemos.
Esta crença equivocada e maligna, de que a ignorância e por decorrência, a pobreza, fossem garantias de um lugar no céu após a morte, só interessavam aqueles que queriam e precisavam manter seu poder sobre as massas ignorantes de forma intocada.
Esta propaganda maldita foi tão persistente e durou tantos séculos que muitos a consideram inquestionável, de fato, até pessoas mais esclarecidas.Ignorância e pobreza foram, naqueles tempos, transformadas em virtudes purificadoras.Talvez por isso seja difícil para alguém ligado a esta corrente religiosa, pensar no lucro e no sucesso material com tranqüilidade, sem a impressão de que sua prosperidade material, mesmo aquela conseguida às custas de esforço e trabalho, não esteja tirando um pouco de sua alma.
Vê-se o mesmo tabu antropológico entre intelectuais que julgam severamente o Dalai-Lama indigno de confiança apenas porque vai às suas palestras de tênis, ou que criticam quaisquer forma de arrecadar fundos financeiros para manutenção de uma religião, mostrando em sua aversão vestígios da concepção católica, historicamente vitoriosa nesta região ibero sul-americana, do lucro como um pecado.
Mesmo depois de tantos séculos das pregações e dos texto de Calvino, o homem e a mulher comum, mesmo aquele educado e intelectualizado, não possui sagacidade para perceber, num processo simples de análise histórica, o papel da ideologia dentro de seu comportamento, fundamentando suas idéias do que é e não é correto em ambiente religioso.
Desta forma primária e preconceituosa, pobres e miseráveis fazem mais sucesso ao preencher o estereótipo do santo do que aqueles que possuem riqueza e abundância e fazem muito pela sociedade.
Quanto mais renúncia pessoal ao doar de si, mais digno é o indivíduo da alcunha de santo, como para citar um exemplo recente, o trabalho de Irmã Dulce no Brasil ou de Madre Teresa de Calcutá, na Índia e na Inglaterra.São preconceitos, noções que vão antes de nós, a nossa frente, dando cor às coisas que vemos, deformando-as e reformando-as ao sabor de nossas crenças.Em seguida surge o discurso, justificando nossa concepção e conduta, justificando nosso preconceito.O intelecto, por mais atraente e envolvente que nos pareça, é escravo das nossas crenças, escravo de nossos preconceitos.
O místico sabe que precisa do intelecto como precisa de um animal de transporte, um camelo, ou um cavalo, que transporte suas idéias de um ponto a outro do campo da existência.
Usa-o como auxiliar e sabe de suas limitações.
Nem por isso o despreza e, através deste intelecto, mergulha nos textos sagrados com o apetite de um exegeta dedicado, sabedor, no entanto, que a prudência é uma das sete virtudes dos mestres e que deve ir ao texto com cuidado e discursar com o coração, e não com sua cabeça, descrevendo sensações que vem do fundo de sua alma e não praticando apenas um jogo de palavras, frio, sem vida.


Cultura E Sensibilidade


Não, a ignorância e a miséria não contribuem para o aperfeiçoamento espiritual e nenhum místico equilibrado discordará disto.Precisamos, enquanto místicos, estar atentos ao nosso desenvolvimento intelectual o mais constantemente possível e ao aperfeiçoamento de nossa sensibilidade através da arte, seja a música ou a pintura, seja a literatura ou a escultura.Além disto, temos de educar nossas emoções, nossos sentimentos que não devem ser reprimidos ou negligenciados como parte importante parte de nossa personalidade que são.Já citei a psicoterapia como técnica de autoconhecimento, mas não é a única forma.
A meditação pode ajudar. E muito.
Tudo vai depender do perfil psicológico do místico e da sua educação.
“Homem, conhece-te a ti mesmo” lembrava a inscrição na entrada do oráculo de Delfos, “e conhecerás os deuses”, concluía.


O Oráculo de Delfos


O caminho é interior. A busca é para dentro.
Esta é outra obviedade mística, mas que não custa sempre repetir, principalmente quando as pessoas insistem em freqüentar formas mais espalhafatosas de organizações esotéricas, sempre em busca do espetáculo, ou mesmo grupos de atividade coletiva, de condicionamento de grupo, talvez cansados da solidão, talvez por não terem trabalhado bem seus sentimentos, e por anos, embora dedicados rosacruzes, não conseguiram elaborar sua insatisfação com alguns aspectos da convivência dentro de capítulos e lojas.
Lojas e capítulos rosacruzes são ambientes adequados aos rosacruzes, mas ainda assim são ambientes humanos, que podem acelerar nossas percepções pela interação social ou retardar nossa evolução humana e mística, caso não consigamos usar esta convivência para nosso crescimento.
O certo é que, embora sejam locais onde encontramos mentes afins continuam a ser ambientes humanos, marcados pela heterogeneidade de personalidades normal em qualquer agrupamento social.
Isso é bom e isso é ruim, ao mesmo tempo.É bom por que esta convivência reforça a nossa egrégora e a egrégora por si nos fortalece.Ruim porque a falta de maturidade e de elaboração pode levar a frustrações de falsas expectativas e isto gera conflito. Ao mesmo tempo isto é novamente bom por que desfaz ilusões e o crescimento emocional só é possível pela perda das ilusões e das fantasias.
O problema, repito, não está na Rosacruz e em seus corpos afiliados, mas naqueles estudantes rosacruzes que passam a freqüentar estes agrupamentos sem que tenham equilíbrio para freqüentar quaisquer outros ambientes humanos.E o que buscam os rosacruzes? Equilíbrio.Pregamos a Tolerância, mas esta depende antes de tudo deste equilíbrio e desta maturidade que buscamos.E este equilíbrio diferenciado que chamamos de Paz Profunda não advém apenas de elaborações espirituais, mas também de aperfeiçoamento comportamental se me permitem mais uma vez repetir este tópico.A Ordem faz a sua parte. Cada rosacruz deve, com honestidade, fazer a sua, de forma a não cobrar da Rosacruz aquilo que só cada um, pelo seu esforço pessoal, de modo solitário, pode conseguir.Para isto, Cultura Intelectual e Maturidade ajudam. O sucesso de cada um vai depender destes dois pilares, destas duas colunas, que quanto mais sólidas forem, melhor sustentarão um ambiente místico mais equilibrado.Lembro para encerrar um trecho de um dos muitos ensaios que Krishnamurti deixou (“Diálogos sobre a Mudança Interior”)
“Pode o indivíduo, que é responsável pelos conflitos e misérias em si mesmo existentes e, portanto, existentes também no mundo, consentir que seja a sua mente-coração embotada por filosofias e idéias falsas? Se vós, que tendes criado essa luta e sofrimento, não vos modificardes fundamentalmente, poderão os sistemas, as conferências, os planos, promover a ordem e a boa-vontade? É imperioso que vos transformeis, porquanto assim como sois o mundo é. Vossos conflitos interiores se traduzem por desastres exteriores. Vosso problema é o problema do mundo, e só vós o podeis resolver, não outrem; não podeis confiar a outros a solução. O político, o economista, o reformador, é, tal como vós, oportunista, idealizador de planos engenhosos; mas o nosso problema — esses conflitos e misérias humanos, essa existência vã, causadora de tantos desastres e angústias — reclama algo mais do que expedientes engenhosos, do que reformas superficiais de políticos e propagandistas. Requer-se uma mudança radical da mente humana, e pessoa alguma pode levar a efeito essa transformação, senão vós mesmos. Porque, conforme sois, assim é o vosso grupo, vossa sociedade, vosso chefe; sem vós, o mundo não existe; em vós está o começo e o fim de todas as coisas. Nenhum grupo, nenhum chefe pode estabelecer o valor eterno: só vós o podeis”.


É isto.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A CABALA E OS NÚMEROS

por Mario Sales FRC.:,S.:I.: e M.:M.:

Diz a wikipedia:

“Gematria, gemátria, guemátria ou guimátria é o método hermenêutico de análise das palavras bíblicas "somente" em hebraico, atribuindo um valor numérico definido a cada letra. É conhecido como "numerologia judaica" e existe na Torá (Pentateuco) há mais de 3.300 anos”.
A cada letra do alfabeto hebraico é atribuído um valor numérico.
Assim, uma palavra é o somatório dos valores das letras que a compõem. As escrituras são então explicadas pelo valor criptográfico numérico das palavras. Importante lembrar que nenhuma crença desse tipo pode ter alguma razão científica, são baseadas em pura ficção, e caso o resultado de tais predições coincida com a realidade (o que é razoavelmente comum, dada a abrangência de tais predições) não se deve atribuir isso à forças misteriosas, mas à puro acaso.
Os números tem uma única finalidade no misticismo judaico: representar certos princípios, sem que estes símbolos em nenhum momento fossem o próprio princípio em si, representado.

Observem a forma acima. O que está escrito em francês em baixo é: isto não é um cachimbo. É um dos mais instigantes quadros de um surrealista francês chamado René Magrite.
E porque ele diz que isto não é um cachimbo? Por que não é e pronto. No máximo , é um desenho de um cachimbo e não um cachimbo em si. Este desenho não pode ser fumado, dele não sairá fumaça, etc,etc,etc.
Da mesma forma, o três não é a perfeição, mas simboliza a perfeição.
O um não é a Unidade do Ser e o sete não é a vida interior ou mística embora a simbolize.
É preciso que tenhamos cuidado com o germe da superstição.
Temos que pensar com maturidade no misticismo da mesma maneira como lidamos com nossa vida profana.
Não há bom senso que ora se manifeste, ora não se manifeste.
Ou somos equilibrados ou não somos.
Ou somos sensatos ou não somos.
O número de nossa casa não pode ser mais importante do que as opções que fazemos com a nossa vida dentro desta casa, cotidianamente.
O que vai definir nossa felicidade e nossa infelicidade será apenas consequência de nossas opções cármicas no dia a dia.
Seria bom que um simples número nos abençoasse e retirasse de nós a necessidade de evoluir e melhorar como seres humanos.
Só que não é assim.
Ninguém se livrará de suas obrigações humanas através da fortuna material, ou da magia.
Números são parceiros e não nossos mestres na existência.
E apenas isto.
Todo o resto é pura superstição.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A PAZ DO NADA

Por Mario Sales


Quanta calma
TEM uma alma
sem apegos ,
medos ,
Emoções .


Correntes sem Alma
Ancoras ,
Paixões .

Paixões dez Não Limites
Nem Trajetos ,
tolices tão ,


Anda tonta ,
Cheia de Lágrimas
Lembranças ,
danças ,
bailados ,
Flutuações .




Será , no entanto,
Que Seja buscamos ISTO QUE?
Queremos ,
almejamos ?
A paz do nada ?
Calada,
sem ruídos ,
Canções ?


Diz o zen Que uma PAZ E o Nada
E nada Neste
Devemos mergulhar
Nadar sem nada
Nadear .


A Vida , no entanto,
Não É nada .
É plenitude ,
Não Vazio .




É o amigo
esguio OU gordo,
Sorriso UM,
Gratidão ,
afeto ,
Sentimento :
Vínculos ,
encantamento .

Ligações ,
transitórias Embora,
preciosas ,
valiosas
plenas de Consciência
Experiência e.



Evoluir É Integrar
Vazio e Plenitude,
Amar
Uma ilusão , o fictício ,
Como amamos o Teatro e suas Máscaras
Mesmo Sabendo-o Uma farsa .

Até a mentira  ter pode função.
A beleza está na correta Contemplação
Contemplação Consciente.


Mais :
Na Consciência ,
Não no nada ,
reside a Verdadeira paz .

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ARTE SÃ

Sobre o papel dos Artesãos e suas responsabilidades como líderes da AMORC


Por Mario Sales, FRC e S.:I.: e M.:M.:


Indaguemos inicialmente sobre qual a função daqueles que atingiram um nível tão nobre e tão respeitado dentro desta Ordem Milenar.


Talvez parafraseando o poeta devêssemos dizer que , do Artesão espera-se que indague ao Cósmico:


“...aonde está você além de aqui dentro de mim?...”


E uma vez obtendo-se uma resposta, encaminhasse seus passos naquela direção, buscando estar a postos para executar as missões que a Consciência Cósmica pudesse lhe entregar.


A função de um Artesão é Ouvir e Obedecer a Voz Interior, a Voz do Mestre que lhe diz seus próximos passos, seus próximos movimentos, palavras e ações.


O Artesão não tem vontades,mas instruções a obedecer, e todo o bem material e espiritual que possa auferir desta conexão só tem uma finalidade: o serviço.


Nós, praticantes desta Arte Mística, desta Arte Sã, não somos mais do que servidores, de preferência, os melhores servidores entre todos.


Não somos mais do que os trabalhadores mais dedicados e mais preparados de nossa Amada Ordem. É nisto que se apóia nossa liderança.


Somos os auxiliares visíveis que de forma visível ou invisível auxiliamos, estrategicamente, com intervenções pontuais ou constantes, de acordo com a necessidade para garantir a perpetuação da Tradição que recebemos e que devemos passar adiante, para as próximas gerações.


Nós somos os transmissores.


E como tal temos que ter algumas responsabilidades e cuidados que são intransferíveis:


1.Fidelidade: devemos manter intactos os conhecimentos e técnicas que recebemos e transmiti-las de forma íntegra aos nossos sucessores.


2.Humildade: devemos nos manter discretos ao manipular estas informações preciosas de forma a preservá-las da vaidade de modificá-las apenas para nossa glória pessoal, com o risco de destruir a força dos que nos foi dado preservar.


3.Criatividade: devemos ser capazes de adequar a maneira de transmitir estas informações a todas as eras em que estivermos, de maneira a facilitar e não dificultar a compreensão àqueles que ainda não foram iniciados.


4.Persistência: não devemos desanimar com as dificuldades operacionais de transmissão da tradição já que não se trata de um conhecimento comum, mas de uma sabedoria arcana.


5.Pragmatismo: devemos lançar mão de todos os meios ao nosso alcance , dentro da ética, para que o maior número de pessoas possível possa ser tocada por estes ensinamentos mesmo que a compreensão de sua importância não seja imediata ou simples.


6.Paciência: temos de ter a capacidade de esperar que as sementes lançadas cresçam lentamente, protegendo o terreno onde as lançamos de quaisquer perigos que possam ameaçá-lo.


7.Coragem: devemos ter firmeza de convicção para defender nossa Amada Ordem de quaisquer tentativas de ataque de que possa ser alvo, pois somos a primeira e a mais forte linha de defesa e de sustentação ao Imperator.


8. Confiança: não podemos em momento algum ceder às tentações do inimigo que dentro de nós, aonde se trava o Verdadeiro Combate , procura a todo instante minar nossa confiança no sucesso de nossa missão.


9. Desapego: todo artesão tem de ter claro para si que ele não é importante, só a Ordem importa, e que por isso deve abrir mão de qualquer reconhecimento desde que seja pelo bem da Ordem.


10.Consciência: o artesão deve ter consciência plena de seu papel entre os membros , sabendo deslocar-se com discrição, seja fora ou dentro da Ordem, levando suas sugestões e inspirações a todos os locais em que esteja e colaborando para a realização do reino de Deus na face da Terra . Deve saber transmitir de forma imperceptível e elegante os valores e o conhecimento esotérico.


11. Equilíbrio : a fala de um artesão deve ser equilibrada e despida de radicalismos. Isto não o isenta de paixão, nem o torna apático ao defender seus pontos de vista, mas o obriga a ter uma postura de alto nível em suas colocações de modo a demonstrar aos neófitos que, guardado o espírito de fraternidade e respeito mútuo, todos são livres para expor suas posições e além disso devem expô-las, de forma franca .


12. Liderança: todo artesão é um líder Rosacruz. Deve exercer esta liderança através de posturas adequadas a um líder, com a convicção de que seus gestos e atitudes são mais importantes do que suas palavras e suas palavras são mais importantes que seus pensamentos, já que palavras e atitudes são visíveis e geram impressões em outros frateres e sorores da Ordem , que podem concluir que tais atitudes refletem a própria Ordem, já que o Artesão é sempre um antigo Rosacruz e é visto como exemplo vivo dos efeitos da filiação rosacruz em um determinado indivíduo. Liderar é dar bons exemplos. Nada mais.


13. Serenidade: o rosacruz deve ter paixão na sua atividade dentro da Ordem, mas precisa ser sereno, acima de tudo. Esta serenidade demonstrará a qualquer um que a contemple, a mais importante característica de um artesão, já que a serenidade é o sinal daqueles que estão investidos do título de mestres, em outras ordens, mas no rosacrucianismo é o sinal do Discípulo.


Quando o Artesão mostrar que tem a verdadeira serenidade, será um Discípulo pronto.E todos aqui sabem o que acontece quando o discípulo está pronto.


14. O Toque da Espada Mística: por último, gostaria de lembrar que um Artesão às vezes torna-se Artesão e às vezes, nasce Artesão, já que este título, esta responsabilidade, tem dois níveis: o nível exotérico e o nível esotérico.


O nível Exotérico é o nível administrativo, decorrente do atingir uma determinada monografia, um determinado grau dentre os 16 graus iniciais da Ordem ( 3 de neófito, um de postulante e 12 de templo, fora os graus do Plano).


Além deste existe o nível Esotérico, que só é alcançado quando sentimos o peso da espada do Sublime Iniciador sobre nossas cabeças, uma espada feita de fogo, que toca nossa cabeça e incendeia nosso espírito, que nos transforma em algo completamente diferente daquilo que éramos quando chegamos aos portais da Ordem. Neste momento, sucede-nos o que sucedeu aos apóstolos no Pentecostes, relatado em Atos dos apóstolos capítulo 2, vers. de 1 a 6.


Uma labareda descerá dos céus sobre nossas cabeças, e falaremos com a mente e não com a língua, e todos que nos ouvirem nos compreenderão pelo espírito e pela mente, não mais pelos ouvidos.


Teremos então mais poder e mais responsabilidade pois, por determinação do Altíssimo, estaremos autorizados a falar em seu nome, para todos aqueles aos quais nos foi determinado falar, e aos quais o Altíssimo determinou que viessem nos ouvir.


Que neste momento , as virtudes da Fidelidade, Humildade, Criatividade, Persistência, Paciência, Coragem, Confiança, Desapego, Consciência, Equilíbrio, Liderança e Serenidade, façam de nossa própria língua uma Lança, feita do amálgama de 4 elementos que compõem o verbo, IHVH, aquele que é nosso verdadeiro e único mestre e do qual somos todos dedicados instrumentos.


Obrigado e Paz Profunda

domingo, 1 de agosto de 2010

SENSIBILIDADE, SAGACIDADE E ERUDIÇÃO, IIa parte

Por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:, M.:M.:


No artigo anterior, falei sobre a importância da Sagacidade, e naquela oportunidade, comentei que gostava da palavra Sagacidade ao invés de seu sinônimo, Esperteza, por causa da má conotação que esta última palavra recebeu nos últimos anos.
Podemos acrescentar, no entanto, que a Esperteza, do ponto de vista místico, seria a Sagacidade sem Sensibilidade. Ou seja, o místico Sagaz é o indivíduo que além de ter Discernimento, Viveka em Sânscrito, é ao mesmo tempo capaz de perceber as muitas e variadas vibrações provenientes do ambiente a sua volta, que é capaz de apreciar a boa música, a boa pintura, um gesto de misericórdia, ou a graça de uma criança.
Sensibilidade é uma virtude que aperfeiçoa a Sagacidade, que lhe dá beleza e leveza.
É a manifestação no místico da bondade e da compreensão aplicada à convivência em sociedade. É daí que vem a Tolerância.
Compreendendo, toleramos; aliás, nem necessitamos tolerar, já que compreendemos.
E a Compreensão não é mera aceitação; é um mergulho no outro e nas razões do outro, porque todos os seres humanos que existem acham que têm opiniões corretas sobre o mundo e sobre tudo, e os diferentes pontos de vista se referem a diferentes histórias pessoais, que culminam em diferentes compreensões e posturas.
Se ouvirmos com o coração, conseguiremos entender as razões do outro, entender a história do outro, e compreendê-lo.
Dar realmente atenção ao outro é Sensibilidade, seja este outro um animal, uma obra de arte ou uma pessoa.
Tudo na natureza tem a sua própria fala.
Cabe-nos escutá-la e compreendê-la.
Estamos instrumentalizados para isto, mas é claro, alguma preparação é necessária.
Conviver com o sofrimento alheio, ás vezes, é um bom começo neste preparo. Esta experiência coloca em perspectiva nossas idéias acerca do mundo, sobre a nossa própria existência e sobre seus percalços.
A música também ajuda. Ela penetra todo nosso ser e nos flexibiliza a alma. A música nos educa os sentidos e o espírito, ao mesmo tempo. Nos mostra delicadamente que tudo no universo tem ritmo, precisa do ritmo, para poder se expressar com magnificência. E cada ritmo tem seu tempo, que deve ser respeitado dentro de uma mesma sinfonia.
Aprendemos assim a esperar e compreender que a espera faz parte do ritmo, e que o silêncio dá contraste e completa o som.
O indivíduo sensível não é suscetível. Ele não se sente mal com aquilo que sente. Percebe o que percebe sem dor. Não chora junto com os que choram , nem sente de forma intensa a dor dos que sentem algum tipo de dor.
É um indivíduo equilibrado. Sabe que tal atitude, a susceptibilidade, é uma espécie de manifestação de desequilíbrio, e não de sensibilidade, e que quem precisa ser auxiliado não precisa de outra pessoa gemendo ao seu lado.
O que o indivíduo que sofre precisa realmente é de auxílio, misericórdia e alguma ação misericordiosa a partir desta, de forma a que seu sofrimento seja diminuído ou cesse.
Isto exige Objetividade, como já citamos no ensaio anterior, Objetividade diante da Subjetividade, em uma palavra, antiga, mas sempre útil, Fleugma, Elegância diante do sofrimento.
Nada mais inútil do que um sofredor profissional.
Nada mais útil do que alguém pragmático nas dificuldades, nas suas e nas de outrem.
Nós, que sabemos a importância do Serviço ao Outro, sabemos também a importância de servir bem.
Esta é a atitude Rosacruciana adequada em todos os casos de auxílio ao próximo. E é uma decorrência direta da Sensibilidade equilibrada do Místico Equilibrado.