por Mario Sales
Como já disse, não sou cristão, sou hinduísta.
Categorias como culpa e arrependimento não fazem nenhum sentido para
mim.
Culpa, no sentido de achar que a situação que eu provoquei, seja ela
qual for, e que causou algum mal estar a terceiros, foi inteira e totalmente
responsabilidade minha, é presunção e orgulho do Ego, que acha-se senhor de
suas escolhas e vontades, quando, como lembra Espinoza, no mais das vezes
satisfazemos necessidades.
Não tenho a ilusão de Arjuna, aos pés de Krishna, cabisbaixo, dizendo
que não pode mais lutar porque não quer matar seus tios, seu professor e seus
primos.
Estamos todos nas mãos de Krishna, de Shiva, que lembra a Arjuna (e a
nós mesmos que) "...Enquanto falas palavras sábias, estás lamentando
aquilo com que não precisas te afligir. Os sábios não lamentam nem os vivos nem
os mortos. Nunca houve um tempo que Eu não existisse, nem tu, nem todos esses
reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. Assim como, neste corpo, a
alma corporificada seguidamente passa da infância à juventude e à velhice, do
mesmo modo, chegando a morte, a alma passa para outro corpo. Uma pessoa
ponderada não fica confusa com essa mudança. Ó Filho de Kunti, o aparecimento
transitório de felicidade e aflição, e seu desaparecimento no devido tempo, são
como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem
da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a
tolerá-los sem perturbar-se".
Tudo é Maya, e nós, seres humanos, encerrados nesta armadura grosseira
e limitada, neste escafandro que torna nossos movimentos lentos e limitados e
nossa percepção confusa e imperfeita, não podemos nem devemos nos sentir
culpados pelos erros que inevitavelmente cometeremos.
Só o Altíssimo tudo sabe, tudo conhece, e mesmo assim, nos criou para
continuar aprendendo.
Deus é sedento de conhecimento. Nós somos seus pesquisadores.
Perdoar-se não é a mesma coisa que ser auto condescendente. É apenas
reconhecer a inevitabilidade do erro em condições de consciência tão adversas.
Da mesma forma e dentro do mesmo raciocínio, não pode haver arrependimento, já
que arrepender-se é olhar para trás e lamentar e a vida é progresso, evolução, aperfeiçoamento.
Melhoraremos, desde que aprendamos aonde erramos e corrijamos nosso
rumo e comportamento, em busca daquilo que é mais ético, mais digno, mais
misericordioso, dentro de nossas possibilidades, dentro de nossa realidade.
Cristãos, que se julgam Cristãos mas na verdade são Paulinos,
lamentam-se.
Não os Hinduístas, reencarnacionistas que são, conscientes que são de
que as vidas que se sucedem trazem sempre uma melhora de nosso desempenho como
seres humanos e como almas imortais.
Nossa missão aqui, como dizia Richard Bach, só tem dois aspectos:
divertir-se ou aprender.
Não há lugar para lamentos morais ou arrependimentos, apenas para a
vida, pois não se conhece criança que sinta culpa por seus erros ou
arrependimento por seus acidentes durante as intermináveis brincadeiras
exploratórias do mundo.
Como a criança, encaremos cada queda como parte da diversão, e cada
arranhão como um evento a mais para ser computado no nosso inventário de acontecimentos
interessantes.
Desfrutemos pois.
Olá Mário, leio seu blog porque gosto dele.
ResponderExcluirNão tenho críticas quanto a ideia de fundo do texto, porque ela é positiva, contudo, acredito que a auto intitulação de "não cristão" é devido a uma má compreensão do cristianismo.
Dois fatores a se considerar neste sentido:
Eliphas Levi dizia que Krishna é simplesmente o Cristo dos Hindus, indicando neste sentido que não são apenas idéias semelhantes, mas manifestações de uma mesma força.
E, além disso, dizer-se não cristão e martinista é algo completa e absolutamente antagônico.
Por outro lado Mario, há quem se diga Cristão e não pratique a caridade.
O que quero dizer com isso é que é desculpável o título que se dê perante a atitude que se tenha, conforme São Tiago já dizia em sua epístola, mas um texto de pessoa vasta cultura sempre espera-se precisão nas expressões.
Abraço
Não sei quem faz o comentario por que o frater ou a soror ou o comentarista que não for membro da nenhuma das tres ordens não se identifica e isto, como ja disse varias vezes, é extremamente desconfortavel. Gosto de conversar mas preciso ver o rosto das pessoas, saber seus nomes e feições.Dito isso, vamos ao texto: meu(inha) caro(a), o termo cristão, embora os cristãos achem tratar-se de uma categoria filosofica, na verdade não é transcendental, mas sim a designacao de quem pertence a linha de pensamento descrita nos evangelhos de Mateus, Lucas,Marcos e João, 3 deles discipulos e um que nunca esteve em pessoa com Jesus , o Cristo. Como todo brasileiro eu fui criado no Catolicismo, uma das linhas religiosas derivadas do ministerio cristico, mas aos 15 anos abandonei a Igreja de Roma, arrebatado pela beleza dos Vedas. Tornei-me um estudioso e converti-me a esta linha que não tem profeta, ja fazem 40 anos. Portanto, realmente, Cristao é quem segue o cristianismo, como descrito nos textos dos evangelistas e de Paulo apostolo, da mesma forma que quem segue os ensinamentos do Vedanta, e do Bhagavad Gita é hinduista. Portanto, não ser cristao é não pertencer a uma linha religiosa cristã.So isso. Quanto a ser martinista, sugiro que releia a Carta de Stanilas de Guaita, lida no segundo conventiculo do grau SI da TOM.
ExcluirPP
Enviado pelo meu aparelho BlackBerry® da Vivo
CONCISO.....SIMPLES....CURTO E GROSSO, COMO DEVE SER A VIDA...........
ResponderExcluirCaro Mário. Está esclarecida tua posição, obrigado.Desculpe se fui brusco ao escrever e agradeço a resposta.
ResponderExcluirNão tenho acesso a referida carta de Guaita, a qual gostaria. De qualquer forma o martinismo preconiza, logicamente, seguir os preceitos de LCSM, e SM em todos seus livros refere o Cristo tendo como referência a doutrina de Jacob Boheme, que também sustenta um cristianismo dos mais perfeitos. Sabemos que o cristianismo não fica restrito apenas aos evangelhos, apesar de participar deles, sustentando neste sentido a existencia de doutrina esotérica e exotérica.
Nas cartas de LCSM com Barão de K. inúmeras vezes é referido o tema.
Abraço
Ja que voce não é da TOM ou não teve acesso ao texto em questão ainda, pode lê-lo em http://imaginariodomario.blogspot.com.br/2010/10/liberdade-de-pensamento-e-pratica-do.html
ResponderExcluirLá, no final, eu transcrevo trechos fundamentais desta maravilhosa carta e aí minha visaõ, que é por tudo e em tudo igual a de Guaita, ficará mais clara.
Grande Abraço
PS Ainda não sei nem seu nome nem de onde vc escreve. Agradeceria se vc depois me falasse.
Mario, outro anônimo lhe escreve, que não é o mesmo acima! Não sois nada, nem qualquer condicionamento ou doutrinação jamais será você. Não sois qualquer *ismo, ou qualquer *ão, pois sua natureza é "como é" desde o princípio e não existe nada além da auto-liberação. Mesmo o que pensa ser "eu ou "você" não existe, assim como não existe nenhum deus ou qualquer outro ser originário da imaginação fértil dos religiosos...
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau, de forma incondicional.
ExcluirO texto em sua forma completa na internet!
ResponderExcluirDiscurso iniciático relativo a uma iniciação martinista
(reunião do 3° grau)
http://www.hermanubis.com.br/artigos/BR/artigoportugues007Discursoiniciaticorelativoaumainiciacaomartinista.htm
Muito Obrigado, belo texto, eu já o havia lido no Umbral do Mistério.
ResponderExcluirDe qualquer forma, no referido texto, há referência ao Adão Celeste e, como dito antes, Jacob Boheme vai fundo neste ponto e SM concorda com ele.
Por outro lado, concordo plenamente quanto a impossibilidade de se dogmatizar, pois acaba virando letra morte e isto é fundamental que se se evite, contudo sabemos que existem postulados mínimos de doutrina e é neste sentido que defendi.
Um grande abraço.