por Mario Sales
Luz é o que se diz da energia radiante que nos banha e do
conhecimento que nos educa.
Refletir é o que acontece com a luz que se projeta sobre uma
superfície polida e retorna até nossos olhos, ou o que também se diz sobre a prática de pensar.
Refletimos, nos iluminamos, quando pensamos e quando a luz
toca em nosso corpo, reflete neste corpo e provoca nossa aparição ao olhos dos
outros.
Não temos luz própria, no aspecto ótico. Se somos visíveis é
porque a luz refletiu em nós. Alguns acham que tem luz própria no pensamento.
Também não é verdade e somos reflexo do conhecimento que absorvemos ao longo da
vida.
Como nossa imagem visível é o reflexo da luz do Sol ou das
lâmpadas em nós, também o que sabemos fazer e mesmo o que conhecemos é reflexo
do que outros nos ensinaram.
Tanto a luz solar quanto a luz do conhecimento executam um
caminho tortuoso de reflexos em várias superfícies até nos atingir e tanto uma
como a outra não discriminam pessoas, atingindo a todos que a elas forem
expostos, da mesma forma, com a mesma intensidade.
Alguns materiais absorvem mais a luz que outros, como é o
caso de corpos negros ou de cor clara, sendo aqueles grandes absorvedores e
estes grande refletores.
Mentes claras, queiram ou não, também refletem a luz que
recebem a todos à sua volta. É de sua natureza ser assim.
Mas o pensamento não é capaz de produzir a não ser reflexos
da luz original.
Como quando a imagem está à frente de um espelho, e vemos a
nós mesmos ali, refletidos. Parece-nos que produzimos outro ser, outro mundo,
mas trata-se, todos os que tem bom senso sabem disso, de uma mera ilusão de ótica, um fenômeno
físico, inevitável, já que todo corpo iluminado produz reflexo.
Não é o próprio corpo que emite luz, mas reflete, ao espelho que o reflete, a luz que recebeu de outra fonte.
Não é o próprio corpo que emite luz, mas reflete, ao espelho que o reflete, a luz que recebeu de outra fonte.
E mesmo que a mente pareça produzir imensos pensamentos,
refletir pensamentos é como refletir imagens entre dois espelhos, um às nossas
costas e outro à nossa frente, de tal forma que espelho reflita o outro espelho e
pareçamos ter produzido uma sucessão de cópias e um espaço profundo diante e
atrás de nós, quando na verdade, só nós existimos, só nós mesmos somos reais, e
aquela profusão de imagens desapareceria imediatamente se com um martelo,
destruíssemos quaisquer um dos espelhos.
Muitos pensamentos humanos são apenas luzes refletidas,
aparentemente profundos, mas na verdade superficiais como o vidro dos espelhos,
e frágil como eles, passíveis, de modo fácil e súbito, de desaparecer dos nossos
olhos.
Aconteceu com linhas de pensamento que revolucionaram o planeta,
custaram muitas vidas, preciosas vidas, e sumiram na poeira da História;
aconteceu com líderes políticos, com tiranos; aconteceu com escolas
filosóficas, com verdades da ciência, com verdades da moral social.
Tudo desapareceu, ou como espelhos que se quebraram e
levaram com eles os reflexos que aparentavam existir dentro deles, ou como
espelhos que se moveram lateralmente e perderam o ângulo correto que permite a ilusão do
infinito.
Dois espelhos, ou muitas mentes, precisam estar na posição
certa para parecerem viver um sonho de eternidade ou grandeza ou imortalidade
que se desfará eventualmente, já que nenhum espelho fica na mesma posição para
sempre, ou mesmo dura para sempre.
Imagens são apenas imagens, reflexos, como nossos
pensamentos. É deste estofo, deste material dos sonhos e das fantasias que
muitos se utilizaram para arrastar outros para suas posições, que também
chamamos, visões de mundo.
Imagens mobilizaram milhares de exércitos, eletrizaram multidões, em todos os períodos da História.
Imagens mentais, idéias de mundo, expressas em palavras, em
discursos, palavras de poder na boca daqueles que sabem manipular este poder.
Viajando da imagem para o som que evoca a imagem, o Iniciado aprende com a lição de Ulisses ao passar
pelo Canto das Sereias.
Perto de poderosas e perigosas imagens,é preciso estar
sempre preparado: cera nos ouvidos, amarrados com cordas fortes ao mastro de
nosso barco para não perder o rumo de nossa viagem.
Oremos e vigiemos.
Nunca é demais lembrar.
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