por Mario Sales
Alguns maçons e mesmo alguns rosacruzes supõem viver o pleno
misticismo e serem dotados de poderes ocultos apenas por estarem filiados à estas
Ordens.
Quando uma vez discursando em minha Loja Maçônica defendi a
tese de que não havia misticismo na Maçonaria, tive um irmão que sentiu-se
extremamente desconfortável, e não fosse o espírito fraterno , talvez a conversa não teria sido tão polida.
Mesmo quando defini meus conhecidos critérios para o uso destas expressões,
dizendo que concebia Misticismo como a busca de Deus em nosso interior, uma
busca totalmente pessoal, independente da religião exterior do buscador, e
Ocultismo como o conjunto de práticas visando a intervenção e o domínio nas
coisas da Natureza (Magia) ou/e coisas dos céus (Teurgia); e Esoterismo, por
fim, a condição de segredo imposto aos seus membros e a preservação do mesmo
através de um juramento, criando um sem número de códigos para a comunicação,
meu irmão mesmo assim não aceitou a minha posição.
Em sua opinião, havia misticismo sim na Ordem Maçônica,
bastava ver que todo Maçon trabalha em Loja sobre a égide do GADU, solicitada
no início da sessão e, quanto ao Ocultismo, expressava-se este na Cadeia de
União.
Sim, é verdade que essas coisas têm em si um caráter por um
lado místico e por outro ocultista. Concedo.
Mas são, hoje, os únicos sinais de tais aspectos, quase como
resquícios de algo maior, mais parecidas com cinzas frias de um incêndio avassalador no
passado longínquo.
A finalidade mais importante do conceito de GADU (Grande
Arquiteto do Universo) sempre foi, de fato, social, e não mística. Havia a
necessidade de nivelar crenças e credos, de forma a desfazer dentro do
possível, o risco de um conflito religioso em Loja, paixões estas que já
deixaram lembranças terríveis na história da Humanidade, história da qual a
Maçonaria participou.
Cito o caso do Massacre dos Huguenotes, dos reis católicos
contra os huguenotes protestantes,que iniciou-se em 23 e 24 de agosto de 1572,
em Paris, e prosseguiu por meses, tendo até hoje um número de mortos não
definidos entre 7 e 70 mil pessoas, de acordo com o relato, e por ter
acontecido nesta data, também conhecido por Massacre da Noite de São
Bartolomeu.
A Maçonaria gosta de supor-se de supor-se uma Ordem Ocultista
e Mística, apenas por ser Esotérica, coisa que hoje em dia também não é mais.
Não é Mística, e quem está além das colunas sabe que eu não
estou cometendo uma injustiça. A busca pessoal de cada um , seja maçon ou não,
autoriza-o a ter como objetivo em sua vida dentro da Ordem Maçônica aquilo que
bem desejar (já que somos homens livres), mas isto nada tem a ver com as
práticas , os ritos e mesmo a mecânica do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Já o ritual da Rosacruz Amorc, o mesmo que foi introduzido
por Cagliostro, este sim é focado no aspecto místico. É difícil até, dadas as
características do ritual, que durante o mesmo ocorram discussões de cunho
administrativo. Não há espaço psicológico para isso.
Mesmo o discurso do Mestre está em um contexto de busca
interior e serve mais ao propósito de reflexão sobre temas os mais elevados do
que sobre questões mundanas, mesmo que internas à Ordem Rosacruz.
É um ritual voltado a busca interna do Deus em nós, do
Mestre Interior, um ritual místico, portanto.
Ali exercita-se, rotineiramente, a mudança de plano de
percepção. Busca-se, durante aqueles pouco minutos, vivenciar-se um estado
diferenciado daquele que estamos habituados, no nosso cotidiano.
E a este estado pode-se chamar de o Estado do Iniciado.
E que estado é este?
Primeiro, a perda temporária da noção de Ego e de
Individualidade. Segundo, a percepção da vida como uma Ilusão, formada de
valores transitórios, efêmeros, seja nos relacionamentos pessoais, familiares,
seja na nossa idéia de nós mesmos. Terceiro, o mergulho na experiência de
comunhão com o Deus de nossos corações, o Deus de nossas compreensões, aonde
fenômenos como Vida e Morte perdem significado e só a Vida Eterna da Alma ganha
realidade.
Todo rosacruz sai, ou deveria sair de um ritual rosacruciano
com a mente aliviada, por alguns instantes, do fardo da ilusão.
Uma das primeiras e mais profundas é a descrita em Marcos 3,
31-35:
"Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando
fora, mandaram-no chamar.
E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora.
E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?
E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe."
E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora.
E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?
E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe."
Esta é a noção verdadeira de fraternidade, o olhar do
iniciado, o qual vivenciamos apenas por alguns instantes, a cada ritual
rosacruciano.
Esse olhar, que não vê senão a Vida, que não vê senão uma
grande família humana, onde laços de parentesco, seja como filhos ou como pais,
não tem mais a importância que teriam fora dali, são uma visão de mundo tão
peculiar que muitos, a maioria, não consegue suportar.
Nós estamos encaixados como peças de um quebra cabeça em posições
psico sociais definidas. Acreditamos nestas posições e nestes rótulos, vivemos
por eles, morremos por eles. Ao Iniciado tais noções não são permitidas, com na
fala do Cristo citada acima. Tudo muda. Não somos mais quem achávamos que
éramos.
Tudo em nosso redor se modifica.
Portanto, o primeiro sinal da Iniciação verdadeira é o
estranhamento de todas as coisas, as coisas do Mundo.
Paramahansa Yogananda lembra em seu famoso texto
"Autobiografia de um Yogue Contemporâneo" o critério definido por
Patânjali em suas sutras (1: 17-18) sobre os dois tipos básicos de iluminação
ou Samadhy.
Diz ele que existem dois tipos de Samadhy: um é o
samprajanata samadhy, aonde ainda persiste uma diferenciação entre Conhecedor e
Conhecido, algo como uma distinção entre o Eu e o Isso; e outro estágio, o
assamprajnata samadhy, aonde esta distinção desaparece, e tudo se funde no Um.
O Iniciado comum está no Samprajnata samadhy. Ele sabe que
não é deste mundo, sabe que não pertence a este mundo mas ainda se afeta com as
coisas do mundo.
No assamprajnata samadhy a iniciação se completou e agora, o
indivíduo sabe que não é deste mundo, sabe que não pertence a este mundo, e não
mais se afeta com as coisas deste mundo.
A isto chamamos de "divina indiferença", um estado
de completa desidentificação com os valores mundanos e um mergulho total na
união com a Mente Cósmica ou Mente Suprema.
Este olhar indiferente, aonde tudo faz parte de tudo, aonde
não existem mais diferenças entre pessoas, em que até os vínculos familiares
foram abandonados, este é o Olhar do Iniciado.
Quem na Maçonaria, ou mesmo na Rosacruz AMORC, pode dizer
que tem este olhar? Quem como Gautama, o Buda, abandonaria sua jovem esposa e
seu filho recém nascido, hoje, e mergulharia na floresta em busca de Iluminação
Espiritual?
Não tenho este número, mas com certeza muito poucos na
Rosacruz, e quase ninguém na Maçonaria.
Diva Ogeda, minha amiga e Mestra na Rosacruz, dizia sempre
que Misticismo era "pra se tomar na veia", não era uma experiência
lúdica ou para todos.
Ser um místico tem o seu preço, como também ser um
Ocultista. Por não entender exatamente o que significa Misticismo, a busca que
torna tudo ao nosso redor sem importância, alguns supõem-se místicos quando na
verdade possuem alguma religiosidade em seus corações.
São níveis diferentes de profundidade e isto, acredito, fica
claro, pela fala do próprio Paulo, apóstolo em Gálatas, 2:20 :"...e vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim...".
Quem de nós se sente assim? Quem de nós é um verdadeiro
místico? Quem enfim, apenas por estar na Ordem Maçônica ou na Ordem Rosacruz,
possui este Olhar, o Olhar do Iniciado?
Caro Frater e Irmão, estive ausente nos comentários e aproveito para dividir com você um fato que ocorre com alguns estudantes rosacruzes. Converso muito com membros recem iniciados na Loja Belo Horizonte e é muito comum esses novos membros me relatarem que antes de se filiarem a AMORC tinham sonhos premonitórios, uma quantidade grande diz que conseguiam se projetar para fora do corpo e esses fenômenos foram contribuiram para se se filiarem a nossa Ordem. Porém todos dizem que logo que passam a frequentar o Pronoaos esse tipo de situação acaba, ou seja, antes eles fazem sem controle, depois da filiação isso acaba. Acredito que ao fazer parte da Egrégora acontece alguns ajustes energéticos e algumas faculdades são adormecidas para que no devido tempo e com a técnica certa virem a tona novamente. Qual a sua opinião? Outra coisa, você acredita que mesmo com as mudanças realizadas pela Suprema Grande Loja da AMORC os rituais continuam tendo a mesma essência dos rituais criados por Cagliostro?
ResponderExcluirRenato, eu jÁ RESPONDI AO SEU COMENTÁRIO JÁ FAZEM ALGUNS DIAS MAS O TEXTO FICOU PRESO NO MEU TELEFONE E NÃO FOI. pEÇO DESCULPAS.Usei naquela oportunidade a imagem que repito aqui: o curso de piano. Quem gosta de musica e tocava de ouvido antes de aprender piano conseguia de modo selvagem e instintivo executar peças até muito bonitas mas sem a técnica do estudante aperfeiçoado. Quando entra na escola de piano começa do zero a estudar escala e mais escala, de modo tão monótono e insistente que aos poucos vai se bloqueado para seus instintos e hipertrofiando o dominio intelectual do teclado e depois de seis a sete anos, bingo, senta no teclado e agora sim, fortalecido pelo aprendizado e pelo aperfeiçoamento técnico ele executa com perfeição as mais belas peças, às quais acrescentará aquela sensibilidade ainda tosca que possuia antes de aprender a arte da maneira correta.Quanto aos rituais, acredito que o desconforto está ligado ao hábito. Nós os rosacruzes mais velhos sentimos faltas de algumas coisas que aprendemos a amar e venerar. Os mais novos sentirão falta de coisas que para nós são mudanças e para eles tradição. A essência da ritualistica ainda é Cagliostriana, no entanto, a columba, o shekinah, a entrada do mestre, tudo lembra aquilo que Mestre Giusepe Bálsamo organizou.Grande abraço.
ExcluirMario
Muito obrigado Frater Mário! Como sempre impecável nas respostas.
ResponderExcluirCaro Frater Mario,
ResponderExcluirPaz Profunda!
Meu nome é Luciana, estou na Rosa Cruz de SP faz 3 meses. Encontrei seu blog por acaso na internet e todos os dias leio um de seus textos. Amo as testeiras do seu blog sempre com alguma imagem que me faz refletir (esses guardiões ficaram perfeitos). Só gostaria de agradecer e dizer que suas mensagens enriquecem muito as monografias que estou lendo.
Obrigada!
Sou eu que quero agradecer suas palavras carinhosas e sua presença. Que os textos possam ser estímulos para sua reflexão na longa caminhada que voce começou, uma das mais belas sendas do Misticismo. O rosacrucianismo é contagiante e sua tradição poderosa. Paz profundíssima.
ResponderExcluirMario
Frater concordo plenamente. A iniciação não se dá em instituições, aliás, algumas são veladamente contra-iniciáticas, ou seja, vão distanciando o buscador cada vez mais da verdadeira iniciação, através de elementos que brilham mas não são ouro.
ResponderExcluirOlá Frater, muito bem dirigido o texto. Fazendo-se sempre necessário ao buscador essa verificação da Realidade.
ResponderExcluirAparando os pontos, separando com sinceridade o que é seu, o que é externo, o que está sendo válido e o que não. E o que está sendo útil para a Grande Obra.
Vencer Maya.