Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

TUDO É OU FOI CIÊNCIA

por Mario Sales

Vocês devem ter achado estranho estes posts mais recentes sobre robôs e óculos informatizados e devem estar se perguntando o que tem a ver robotica com misticismo.
Na verdade eu estou apenas sendo fiel ao nome do meu blog, Imaginário do Mario, e no meu imaginário, ambas as coisas, ciência aplicada e misticismo convivem pari passo.


Nas últimas semanas eu e meu 3 vêzes Irmão, Flavio, temos lido e estudado, como já contei aqui, a obra de Balavatsky, A Doutrina Secreta. E lá , independente do seu contexto social e científico, que era completamente diferente do de hoje, o que nos chamou a atenção entre outras coisas, foi o fato de que HPB, a todo o momento, tentava criar pontes com o conhecimento científico ortodoxo da época, ora tentando demonstrar que ele estava errado, à luz de seus conhecimentos esotéricos, ora usando-o como comprovação de que ela estaria correta.
Blavatsky, a esoterista das esoteristas do século XIX, mostra de modo inconfundível, preocupação em dialogar com o conhecimento científico daquele momento, para explicar a sua noção de cosmos, de criação do Universo, e da evolução da própria vida através dos reinos mineral, vegetal e animal. Existe, generalizando, em todo estudioso de assuntos esotéricos, uma impressão de que aquilo que ele estuda é ciência em algum lugar do Universo, mesmo que não seja considerado assim em nosso planeta ou em nossa cultura atual.


Eu e Flavio já discutimos, salvo engano meu, que se viva fosse, HPB se deliciaria com as milhares de informações disponíveis a quem queira pesquisar, nos dias de hoje. Provavelmente a velha senhora russa se sentiria extremamente feliz em contemplar as fotos do Hubble, não o astrônomo, mas o telescópio, e a construção das imagens após a superposição das de origem térmica, as fotos de raio x e as simplesmente óticas.
Os berços de criação de estrelas, as nebulosas, tudo a fascinaria. A microscopia eletrônica , a física quântica com suas incertezas, a rede internacional de computadores, tudo, tenho certeza, a atrairia, mesmo que como símbolos ou imagens daqueles conceitos quase incompreensíveis que ela descreve lançando mão de comparações entre as tradições indiana, judaica e egípcia.


Algo que sempre me vem a mente é que, não o misticismo, que é uma busca interior de Deus atemporal e solitária, mas o esoterismo, este acúmulo de informações acerca de religiões comparadas, mitologias de várias nações e culturas, e seus possíveis sentidos ocultos, muito se beneficiou e se beneficiará da informática, no sentido de organização dos dados disponíveis e de sua sistemática catalogação, de forma a permitir rápidas consultas ou comparações, na busca do sonho de Jung de uma simbologia Universal, um conjunto cultural que diga respeito a toda a humanidade, de onde talvez estas múltiplas tradições e manifestações tenham se originado. Existe muita informação no Universo esotérico à espera de organização adequada.

Pessoalmente acredito que Jung, embora tenha fracassado no seu objetivo de compilar os símbolos da humanidade e, na verdade, tenha criado novas categorias simbólicas, como os Arquétipos do Velho, da Mãe e da Sombra, estava certo em supor que existisse uma raiz comum para todos estes ramos atuais.



Penso que esta raiz era a Cultura Atlantiana, que a semelhança de um país, cujas diversas regiões acabam por modificar a língua pátria com entonações diferentes e costumes regionais, criando os chamados sotaques locais, ou mesmo dialetos derivados de uma mesma língua mãe, também a Cultura Atlantiana, poderosa como se diz que era, deve ter tido, no seu tempo, dezenas de embaixadas espalhadas por todo o planeta, comunidades satélites distantes, que exatamente em função da distância do centro civilizatório, devem ter desenvolvido seus próprios dialetos para narrar a mesma história comum.




Daí as peculiaridades em cada cultura (Babilônica, Celta, Indígena Americana, Indígena Australiana, Chinesa, Jônica, Viking, etc.) em que mitologias absolutamente diversas nos propõem idéias de Cosmogêneses semelhantes mesmo que descritas em histórias absolutamente diferentes.


Não há como provar tais coisas, mas minha intuição é forte de que esta é a explicação mais coerente. E de que, além disso, tudo o que nós chamamos de esotérico, e mesmo a linha de pensamento e praxis chamada Ocultismo, provavelmente não passam de um eco deformado de uma ciência pregressa e esquecida, em um tempo em que estas coisas não eram sobrenaturais mas partes integrantes de um corpo de conhecimento sólido e funcional, que auxiliou provavelmente na construção de civilizações e no desenvolvimento e bem estar de uma grande sociedade.
Tudo é ou foi ciência. 
E existem, do ponto de vista da epistemologia, o ramo da filosofia que estuda a constituição de um corpo de saber humano e dos critérios de verdade que fundamentam este saber, muitas possibilidades de desenvolver uma cultura científica. Cada povo caracteriza-se por enfatizar um tipo de abordagem científica da realidade e provavelmente cada um supõe, em seu momento, que sua abordagem é a mais perfeita e a mais avançada. Só que a moderna antropologia já não aceita a comparação linear de sociedades, nem a classificação das mesmas em sociedades pré e pós industriais, ou primitivas e avançadas, pois tantos são os aspectos e critérios possíveis a serem considerados para se classificar uma sociedade como avançada que fica difícil traçar-se um comparativo sem cometer injustiças sem definir quais critérios usaremos para isso.


Se consideramos a ecologia ninguém é mais avançado que os indígenas, sejam americanos, australianos, africanos ou brasileiros. A harmonia destes povos com a natureza e o respeito aos ritmos do cosmos que cultivavam e cultivam até hoje são notórios.



Se considerarmos a Medicina, o modelo tecnológico-químico americano e europeu não supera a tradicional acupuntura chinesa, antes se complementam de forma admirável, num somatório de conhecimentos e linhas de raciocínio diversas que podem, se reunidas, ampliar como hoje acontece, a oferta de possibilidades terapêuticas ao paciente.





Nossa sociedade ocidental moderna, por exemplo, tem como base de sua ciência a tríade elétrica, química, e mecânica.




Agora, imaginem que uma outra sociedade baseasse toda sua atividade, social, militar e científica, em diferentes aplicações da Acústica, e através de sons conseguisse construir prédios, defender-se de seus inimigos e propiciar terapêutica aos seus doentes.Talvez os nossos mantras sejam apenas um vestígio de uma vasta quantidade de sons que um dia constituíram a base de um conhecimento muito mais vasto e variado.

Tudo é ou foi ciência.
O que nos falta é a lembrança disso e dados que comprovem esta ligação entre corpos de conhecimento científico que foram descontinuados ou por catástrofes naturais, como a destruição de Atlântida, ou atos de barbárie anticulturais que custaram um preço incalculável à história do conhecimento, como a destruição da Biblioteca de Alexandria.



O que sinto é que os mitos não são apenas mitos, mas podem ocultar a História de outros tempos, tão intensa, tão real e palpável, quanto as notícias dos nossos jornais da manhã. Mas o tempo, este terrível ácido, destrói a solidez de qualquer lembrança, e faz com que suponhamos sonhos coisas que antes eram tão densas quanto as paredes de nossas casas.




A história de Tróia é uma demonstração disso. Considerada uma lenda por séculos,"Troia (em grego antigo Τροία, transliterado Troia, ou Ίλιον, transliterado Ílion; em latim Troia ou Ilium; em hitita Wilusa ou Truwisa; em turco Truva) é uma cidade onde ocorreu a célebre Guerra de Troia, descrita na Ilíada, um dos poemas atribuídos a Homero. Hoje é o nome de um sítio arqueológico em Hissarlik, na Anatólia, próximo à costa em que está hoje a província turca de Canakkale, a sudoeste do Monte Ida.Uma nova cidade foi fundada no sítio no reinado do imperador romano Augusto. Floresceu até o estabelecimento de Constantinopla, e declinou gradualmente durante os tempos bizantinos. Nos anos 1870 o arqueólogo alemão Heinrich Schiliemann escavou a área. As escavações revelaram várias cidades construídas em sucessão a cada outra. Uma das cidades (Troia VII) é frequentemente identificada com a Troia homérica"[1].


A lenda, graças a Arqueologia, tornou-se parte da História.
Que mais desenterraremos se continuarmos a cavar? 
O que mais pode ser descoberto com a melhoria das técnicas de investigação arqueológica? Esperemos. Muitas coisas provavelmente ainda aguardam para vir à luz.


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Troia

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