Por Mario Sales, FRC.:;S.:I.:;M.:M.:
Já acusaram as escolas esotéricas de serem o refugio de pessoas infantilizadas, que buscam nessas agremiações algum falso status social, local, tentando envolver sua filiação em valores absolutamente fantasiosos.
Assim seriam por exemplo as referências às origens tradicionais milenares de algumas ordens, as quais conseguem, no mais das vezes, comprovar com documentos alguns séculos, algo em torno de sete ou oito deles (como se isso fosse pouco), com documentos datados do século XIII ou XII em outras ocasiões.
O vácuo documental daria então margem a um sem numero de invencionices e mitos que, por não poderem ser comprovados ou negados, tornam-se objeto de crença de seus membros, e como tal, matéria de caráter dogmático, não sujeito a verificação ou ao debate.
Essa é a tese defendida por um texto que chegou a ter alguma penetração no meio esotérico, um volume denso, mas às vêzes agressivo, cujo título é "A Verdadeira História dos Rosacruzes (no título em inglês), os Invisíveis - de um escritor chamado Tobias Churton. No Brasil, o livro foi traduzido e publicado pela editora Madras.
O autor, aliás, tem uma franca antipatia pelo trabalho de Harvey Spencer Lewis e pela sua obra na AMORC.
Se procurarmos no índice do livro o capítulo referente a H.S.Lewis encontraremos comentários explícitos e implícitos de suspeita sobre a seriedade de seu trabalho, a começar por dar-lhe com destaque a profissão de publicitário, quase numa insinuação não tão velada de que tudo que possa ter feito não passou de um simples golpe de marketing.
Tobias Churton
O Sr Churton tem o sagrado direito de expressar sua opinião. Não que isto em nada modifique a enorme influência no mundo ocidental do trabalho de H.S.Lewis e depois de seu filho, Ralph Lewis, na propagação da mensagem rosacruciana.
Ele, entretanto, atira em algo que viu e acerta naquilo que não viu, quando tece comentários sobre a enorme capacidade do ser humano de crer em coisas que não tem como provar. Ele diz que "a credulidade humana é infinita..."[1] e que só por isso o trabalho de Spencer Lewis prosperou, já que ele afirmava que as origens da Ordem Rosacruz remontavam aos tempos dos faraós e das pirâmides sem que tivesse meios de provar tais afirmações.
Sim, é verdade. Não temos referencias históricas em papiros ou achados arqueológicos onde o nome da Ordem da Rosa Vermelha e da Cruz Dourada apareça de forma inequívoca , o que sustentaria a tese de que suas origens reais são egípcias. Trata-se de uma informação, repassada entre nós, com a qual concordamos em trabalhar. Jamais nos demos ao trabalho de comprová-la porque na verdade, isto não tem importância para o âmago do trabalho da AMORC.
Pois se fossemos levar ao paredão todas as afirmações veiculadas por Ordens Esotéricas as mais variadas , desde a Ordem Maçônica e sua insistência em ver relações históricas com a Ordem dos Templários, uma Ordem de cunho Católico Cristã, quanto as estruturas sobre as quais se baseiam todo o edifício da Escola Teosófica, de Madame Blavatsky, já que ela apóia a Doutrina Secreta, sua obra mais importante, em textos que jamais foram encontrados, as chamadas Estâncias de Dzyan.
Digo que essas coisas não importam porque podemos usar para avaliá-las a mesma ótica que Foucault usou ao analisar a cientificidade da Psicanálise.
Durante um acirrado debate entre epistemologistas que atacavam a psicanálise como um método altamente subjetivo e por isso não científico, Foucault declara :
" Não importa se a psicanálise é ou não científica, já que ela é extremamente fecunda."
A importância das escolas esotéricas portanto não está nas suas origens históricas, documentadas ou não, mas em seu trabalho no presente.
Rosacruzes têm um enorme interesse histórico porque são extremamente curiosos. Gostariam de comprovar suas origens mas apenas por motivos acadêmicos e arqueológicos. Muitos membros de AMORC são arqueólogos em atividade, o que em nada os obriga a crer em idéias que não tenham comprovação científica, como bons e dedicados membros da comunidade positivista internacional. Isto em nada interfere em suas afiliações porque eles usufruem de modo satisfatório dos conhecimentos que receberam das monografias e dos livros de AMORC em suas vidas pessoais, hoje e agora.
Se os ensinamentos que receberam são ou não originários do Egito Antigo, isso em nada muda a eficácia dos mesmos. E enquanto funcionarem , serão em si mesmo a prova de sua importância enquanto um saber de utilidade indiscutível.
Por isso recomendo sempre que posso aos Irmãos maçons em Loja, ou aos Rosacruzes quando em reuniões da confraria, que não olhemos para o nosso passado com atenção demasiada, sob o risco de nos tornarmos estátuas de sal como a mulher de Ló em Gênesis 19,26.
Estas referências têm lá sua beleza e seu encanto mas como bem lembra este crítico de AMORC, Tobias Alex Churton, não são demonstráveis, e se prestam apenas a discussões estéreis como a que ele mesmo levanta em seu livro.
O que importa sim, para a Maçonaria, para a Rosacruz, seja a AMORC ou outras denominações, para a Escola Teosófica, é o que elas podem fazer pelo esoterista e pelo místico de hoje, no século XXI, se são ou não capazes de melhorar sua performance social e humana, no aqui e no agora.
Se a resposta a esta questão for sim, a seriedade de seus fundadores, homens e mulheres que ao contrário do Sr Churton não buscaram polemicas nem a fama pelo ataque simples a reputação de outros, principalmente aqueles que não podem mais se defender, estará comprovada não pela origem dos seus remédios, usemos essa imagem, mas pela cura que proporcionam àqueles que os utilizam.
[1] Na tradução da Madras existe um provável erro de tradução que verte para português a frase "a incredulidade humana é infinita" e não "a credulidade", como o contexto indica que deveria ser. Preferi fazer a referência do jeito que me pareceu mais consoante com a linha de pensamento do autor.
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