por Mario Sales
A atitude mental mais importante para que aquilo que é
sabidamente impossível, torne-se possível, é não duvidar disso. Parece um
truísmo, uma obviedade tola, mas é um esforço hercúleo. Por que às vezes o que parece impossível não o é, só que não sabemos disso, mas nossa ignorância de outros fatos diferentes daqueles que conhecemos, luta contra isso.
Nosso conhecimento funda-se em algumas convicções que lhe dão um caráter de aparente solidez.
Nosso conhecimento funda-se em algumas convicções que lhe dão um caráter de aparente solidez.
Reflitamos sobre o que chamamos conhecimento sólido.
O peso que um conhecimento, nascido da experiência e de anos
de contemplação da natureza, tem sobre nossa mente é indiscutível. A ciência,
conjunto de conhecimentos fundamentados na experimentação direta com o chamado
mundo real, é a sustentação das crenças de filósofos, cientistas e místicos
rosacruzes. Crenças estas que são nomeadas de convicções, idéias de mundo que
nos fazem fazer diagnósticos e prognósticos acerca de eventos no cotidiano.
Com nossa maneira de entender o mundo, vemos o mundo que
entendemos. Não conseguimos enxergar outras possibilidades de mundo, e não o conseguimos porque nossas convicções nos impedem de fazê-lo. Mesmo sendo um
conhecimento científico, e não uma superstição, uma convicção científica é
sólida o suficiente para que nossas projeções estejam em linha com suas
diretrizes.
Quem está morto, morreu. Desde que o cérebro pare, não há
mais forma de que esta pessoa retorne a ter atividade cerebral.
Cachoeiras não cairão para cima, pois seguirão a
determinação da força da gravidade.
O céu, à noite, sempre será escuro e cheio de estrelas, pois
o Sol estará encoberto pela própria Terra, e assim não refletirá na atmosfera,
nos dando a impressão da cor azul do dia claro. As estrelas estarão lá, mas os
fenômenos óticos não permitirão que as distingamos.
Como crer em situações opostas a estas que temos acompanhado
e experimentado todos os dias?
O inusitado, o impossível, portanto, assim é considerado porque
tem sido impossível por milênios (de acordo com nossa observação da Natureza ao
longo de nossa curta existência juntamente com os relatos dos que nos
precederam, ao longo de séculos).
Outra coisa é o desconhecido.
Achamos, equivocadamente, que o possível é o que conhecemos e o que não conhecemos não é possível
E então, na Índia, no início do século passado, uma família abastada espera, triste, a
morte de um de seus membros, muito doente e desenganado pelos médicos da época.
Um mendigo, ou melhor, um sadhu, ou homem de renúncia, bate a porta em busca de
doações de alimento e água. Ao ver a tristeza que se abate sobre a casa, indaga
aos empregados por que todos se lamentam. É então informado de que um dos
membros da família está à morte, vítima de uma doença grave. Pede, polidamente,
para ver o moribundo.
O empregado, achando que naquela situação nada de mal aquele
desconhecido poderia fazer, permite, como só um indiano permitiria, que o
peregrino em trajes sumários entre na casa e chegue ao quarto do doente.
Condoído da situação do doente, o sadhu retira de uma pequena bolsa de pano
atada a cintura um macerado de folhas que esfrega no lábio do acamado e insere
em sua boca. Diz algumas palavras, agradece, e vai embora.
Pela rapidez com que tudo acontece, o empregado não vê
necessidade de dizer aos seus senhores nada sobre o ocorrido. Até que, meia
hora depois, aquele que estava moribundo senta-se na cama, lúcido e diz que lhe
tragam comida, porque está faminto.
A família, que já se preparava para o enterro, é tomada por
um misto de incredulidade e alegria.
Pergunta-se várias vezes ao ex doente o que aconteceu que o
fez recuperar-se tanto em tão pouco tempo. Este diz que não sabe. Que sonhou
com um homem que lhe dava algo para mastigar, mas que não tem certeza se foi um
sonho.
O empregado então, temeroso, se vê obrigado a revelar o que
havia testemunhado.
É interrogado por todos: quem era este? Como se chamava? O
que vestia? Para onde foi depois que saiu? A todas as perguntas o empregado
responde com a perplexidade. Não, não sabia seu nome; não, não sabia de onde
tinha vindo ou para onde tinha ido depois; não ele nada pedira a não ser
alimento e água, o que na Índia é comum. Quanto ao que vestia, a resposta era:
quase nada, apenas alguns panos, nada mais.
O episódio relatado acima, que, lenda ou realidade, foi
relatado como fato em matéria publicada anos atrás sobre ocorrências que
transformaram a visão de um filho de médico indiano, formado na Inglaterra, Sri
Aurobindo, também ele educado na Inglaterra, ocidentalizado, num dos mais
devotos adeptos da espiritualidade indiana, situa-se entre o impossível e o
desconhecido.
Classificado como um milagre, ou seja, um fato tornado real
embora impossível, como descrito acima, na verdade está mais para a
manifestação de um conhecimento perdido, capaz de alterar nossas expectativas
fundamentadas na experiência científica daquela época. Desde a década de 1920,
quando o irmão de Aurobindo foi espantosamente salvo de um destino já dado como
certo, a Medicina evoluiu. O que não impede que, naquela época, alguém fosse
portador de um conhecimento que, para a época, poderia ser considerado sem
erro, revolucionário.
Não é na verdade o impossível que foi tornado possível, mas
sim o que eles achavam ser impossível, por causa de suas limitações de
conhecimento, foi posto em cheque pela técnica deste sadhu que em muito, ao que
parece, superava as técnicas oficiais da época.
Isto não acontece sempre, mas também não é incomum.
A vida é surpreendente. Quem tivesse um diagnóstico de
sífilis, no mês de descoberta da penicilina, acharia que, como todos aqueles
que tiveram sífilis antes dele terminaria sua vida louco em um hospício. E dias
depois estaria curado, para sua surpresa, após uma simples injeção, na época,
de 300000 unidades de penicilina.
O que antes não era possível, tornou-se possível através do
conhecimento. Na cabeça deste indivíduo salvo do mal mais famoso de seu tempo
por uma simples injeção, um milagre havia ocorrido. Na verdade estamos falando
apenas de conhecido e desconhecido. O que eu não conheço, suponho que não
existe e o que eu conheço, da mesma maneira, suponho que existe.
E no orgulho de nosso ego estúpido acreditamos convictos que
o mundo conhecido é o único possível, quando na verdade, não é.
Existe sob nossos pés quilômetros e quilômetros de mistério
sobre o qual caminhamos, inocentes.
O que chamamos milagre é apenas e tão somente a manifestação
destes ainda misteriosos fenômenos, que no futuro, se Deus permitir,
transformar-se-ão em conhecimento corriqueiro.
E ao visitarmos outras civilizações em outros mundos, mais
atrasadas técnica e socialmente, poderemos disfarçados de mendigos bater à
porta de um ou de outro, e de maneira discreta, abençoá-los com algo de nossa
própria bolsa que provavelmente deixará a todos maravilhados, confusos,
inventando explicações para fatos que para nós, mais avançados, não terão a
mínima importância.
Frater, esse texto é incrível.
ResponderExcluirJosé Miranda.