por Mario Sales, FRC,SI,CRC 18°
Foi com muita alegria de nossa parte que pudemos finalmente ter Frater Francisco Canalli participando de nosso mini fórum das sextas. Para minha tristeza, ainda não aconteceu a estréia de Fernando em Porto Alegre, mas tudo a seu tempo.
Nossa defecção foi mestre Wilson Hackmey, por problemas de saúde na família. E surpreendentemente, Mestre Felipe Lozzano estava na reunião desta vez.
Um encontro atípico, mas muito produtivo.Só continuo achando muito tarde, tanto eu como Flávio, já que somos, pelo menos no meu caso, desde quinta feira passada, quase sexagenários, e começar uma leitura às 21 e 30hs não é a minha preferência.
Fora estas considerações, eu, Flávio, Felipe e Francisco fomos em frente a partir da página 85 da Edição da Diffusion Rosacruciene do livro em questão.
Saint Martin fala aqui da dificuldade do homem comum de se transformar em outro tipo de pessoa, e do quanto esta transformação, em suas palavras, é dolorosa.
Francisco deve ter se assustado. Talvez por ser a primeira vez que participa comigo de um debate, talvez não saiba que, a paixão e o calor me tornam veemente em excesso, para ser eufêmico.
E isto porque ao ler a palavra "dolorosa", como adjetivo desta transformação, comentei que esta era mais uma demonstração do quanto o caminho dito cristão do sofrimento faz parte da visão do Filósofo Desconhecido, pelas razões já discutidas em outros publicações aqui no blog.
Francisco ponderou, serenamente, que para ele, ao contrário, certas transformações eram sim dolorosas, porque afetavam seres humanos comuns, fato com o qual concordo. Mas ao desenvolver seu argumento ele citou um dos axiomas martinistas, acerca da necessidade da busca do retorno ao estado de plenitude do qual saímos durante o fenômeno conhecido como "A Queda".
Ato contínuo, lá estava eu a fazer discursos, e nem me dei conta do quão emocionadamente eu o fazia até tê-lo terminado.
O pessoal de Guarulhos já conhece minha posição e talvez não tenham se assustado com minha paixão ao analisar certos axiomas martinistas, principalmente este, de que estávamos bem e perdemos este bem por causa do pecado, o qual considero inadequado, antiquado e inaceitável, e isto tudo pelo fato de que, como já cansei de dizer, para mim, como descrito por Moisés, o autor desta descrição mítica, o Paraíso era na verdade um Inferno.
E eu explico: lá, não tínhamos dor, morte ou corrupção, ou seja, não tínhamos vida. Nada acontecia, apenas a eternidade, sem início, sem fim. Todas as necessidades satisfeitas, nada de desafios, sem motivações, sem novos horizontes a explorar.
O Paraíso, como tal , era um lugar de Morte, de não existência, do qual, graças ao bom Deus, fomos expulsos. Só quando saímos de lá, energia positiva e negativa, pólos masculino e feminino, a Criação, como a conhecemos, passou a existir.
Antes o Limbo da Existência na Não Existência; depois, a Existência no espaço tempo, o cotidiano, a paixão, o sangue, a respiração.
Que felicidade.
Pudemos finalmente, sentir o sol da tarde em nosso rosto, a mais fabulosa sensação de uma vida, o cheiro das rosas, o suceder no Céu das Luzes, o contemplar das estrelas.
Não, não caímos, progredimos, de um Não Ser para o Ser.
Peço desculpas ao Frater Francisco pela paixão com que defendo esta posição. É mais forte do que eu e em nenhum momento isto tem qualquer conotação de querer impor uma compreensão, mas todo o meu ser crê na inadequação deste mito do Paraíso e da Queda hoje, em nossa época, e em nossa civilização.
Aí já tínhamos fugido ao tema de Saint Martin.
Esses estudos são assim. Às vêzes enveredamos por uma trilha a beira da estrada principal de pensamento e nos perdemos por horas ali, no meio da floresta ao lado da estrada principal.
Mas tudo bem, é assim que se debatem as idéias.
E quando o foco é claro e a intenção justa, debates paralelos são como as estradas para Roma: todas levam ao mesmo lugar.
Nesse momento, Flávio já havia comentado de que não entendera o trecho em questão como uma declaração de que a transição é sempre dolorosa. Mas depois se calou e só acompanhou a leitura sem fazer qualquer intervenção e não ficou claro sua real posição sobre o trecho.
A verdade é que não nos vejo na mesma posição que o homem de que Saint Martin fala.
Todos nesta reunião são antigos iniciados. Todos nós somos ou temos sido leais servidores da rosacruz, trabalhando por ela desinteressada e dedicadamente.
Todos somos espiritualistas diferenciados e prova disso é que optamos voluntariamente por estar sexta feira a noite juntos, discutindo temas e textos de outro espiritualista, o qual publicou seus pensamentos mais de duzentos anos atrás.
Há em todos nós grande satisfação em fazer esses exercícicos aos quais nenhum de nós é ou foi obrigado.
O que nos motiva é a força de Deus em nós, o fato de sermos rosacruzes, martinistas e maçons, pelo menos dois de nós.
Ou seja, somos iniciados. Não podemos pensar a transformação de nosso interior como algo doloroso, já que esta transformação é tudo que buscamos e que nos motiva, é tudo que desejamos para nós e para nossa família.
Francisco falava orgulhoso de que seu filho, com apenas 18 anos, já é um rosacruz iniciado no 1° grau de templo, e recentemente foi iniciado no Martinismo.
Esta é a nossa felicidade, que aqueles que amamos sigam os mesmos passos que seguimos, e que possamos de alguma forma ajudá-los a trilhá-lho com mais facilidade do que aquela que tivemos.
Embora, por causa de um senso de humildade comuns aos que trilham a senda cristã, costumemos falar de nossa pequenez diante de todos, penso que a iluminação está mais perto desses irmãos do que eles supõem.
E que para eles, de forma alguma melhorar mais e mais a cada dia como espíritos e pessoas, não é senão prazeiroso e objeto de deleite.
Estamos no caminho.
Como Saint Martin, eu já disse, temos a mesma ânsia do Divino, o mesmo desejo pela água que, uma vez bebida, matará toda e qualquer sede.
Nós, como ele, desejamos que todos os seres vivos se voltem para dentro e contemplem que a Luz já está lá, e que precisa ser libertada da opacidade de nosso materialismo e de nossa compreensão equivocada de que somos um corpo com alma, em vez de uma alma em um corpo.
Nosso discurso é diferente, nossas épocas não são as mesmas, e para que mais pessoas tenham acesso a esta espiritualidade é preciso um upgrade desta fala, que precisa a meu ver ser mais confiante, mais positiva, mais capaz de seduzir em vez de admoestar, convencendo pela doçura aos corações mais empedernidos de que já são Deus manifesto, mas que não sabem disso.
Esta amnésia encarnacional pode ser desfeita não por um discurso moralista ou triste, mas por um que acolha o homem e a mulher de hoje amorosamente, ao estilo do Ministério do Cristo, famoso por sua bondade e misericórdia.
Esta é minha posição. Continuamos nossa leitura sexta feira que vem, se for a vontade de Altíssimo com a presença de Fernando, do Rio Grande do Sul, ele que tanto se identifica com alguns dos modelos do discurso de Saint Martin.
Estimulo a todos a realizarem estudos como este, não devocionais ou reverenciais, mas de natureza crítica, para exercitarem sua compreensão da mensagem do Filósofo Desconhecido.
É a melhor forma de homenageá-lo, pensar aquilo que ele escreveu, expor-se a interpretá-lo, correta ou incorretamente, mas mesmo assim expor-se, corajosamente, como ele o fez quando colocou no papel suas idéias acerca da espiritualidade e das possibilidades de evolução do homem comum para níveis mais altos de refinamento de consciência.
Não devemos olhar Saint Martin como um bibelô intocável em cima de nossa geladeira. Nem falar de suas crenças em voz baixa, temerosos.
Somos rosacruzes, iniciados, todos nós, e a mesma luz que estava no FD está em nós.
Assumamos pois nossos papéis de pensadores e "agentes de Deus na Terra", como ele gostava de dizer, ativos, não passivos.
Não confundamos humildade com pusilanimidade.
Não nos escondamos de nossas responsabilidades internas.
Não nos escondamos de nossas responsabilidades internas.
Mergulhemos fundo em nossos corações e, refrescados por este mergulho, emirjamos cheios de inspiração e êxtase.
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