Por Mario Sales FRC, SI
Um dos conceitos mais
abstratos presente na estrutura simbólica da Árvore da Vida no Cabalá é a noção
de mundos e suas características.
Entender o primeiro e
mais alto mundo, Atziluth, com sua condição não-não (não temporal e não
espacial) é relativamente fácil.
Considerado um plano
altamente metafísico, no plano das idéias, não necessitaria nem de uma nem de
outra condição.
Da mesma forma, no
plano de Assiah, (aonde está Malkuth, O Reino, aonde estamos nós, na Terra),
também é relativamente simples, já que aqui temos uma combinação sim-sim (sim
para espaço e para tempo), o que intelectualmente não oferece nenhum problema
em ser compreendido.
O nó górdio está nos
planos intermediários, Briah e Yetzirah, o primeiro Temporal e Não Espacial, e
o segundo Não Temporal, mas Espacial.
Durante a conversa do
Grupo de Estudos Cabalísticos, aonde estamos encerrando a leitura do Sepher
Yetzirah, por alguma razão que já não me recordo, caímos neste debate.
Recorri a duas
imagens para digerir a questão e dar-lhes contornos mais palpáveis.
Primeiro, comparei o
Elemento Tempo ao conceito de Movimento.
Tempo, neste caso,
seria o movimento dos instantes, o devir como diz a filosofia, ou as durações, como chama Henry Bérgson,
se bem que no conceito deste filosofo francês, não existem instantes, mas um
todo indivisível e impossível de ser medido, um tecido único, ao contrário do
tempo dos segundos, minutos e horas.
De qualquer maneira,
tempo é o mesmo que movimento. E é assim que a vida começa o que chamamos
existência.
A comparação mais
fácil é com o projetor de cinema antigo, ao qual novamente recorro.
Nos antigos
projetores , o filme só podia ser projetado se corresse, ou melhor, se
movimentasse, em grande velocidade, na frente da lâmpada do projetor.
Mesmo em havendo
filme no projetor, duas condições deveriam ser preenchidas para que o filme
fosse projetado: primeiro, a lâmpada do projetor, a Luz, deveria ser acesa e
segundo, o filme deveria movimentar-se diante dela.
São essas duas coisas
que fazem o milagre do cinema, a sensação de que a nossa frente, uma realidade
se descortina, com sensação de profundidade, com a vivencia de sentimentos,
provocando em nós, espectadores passivos do que ocorre emoções fortes de amor,
ódio, medo ou carinho.
Como já disse, é de
Richard Bach esta idéia de reproduzir as noções da Doutrina Vedântica
Hinduísta, de Maya, comparando-a com uma sala de cinema.
Nossa vida é Ilusão,
diz o Hinduísmo. Como um filme, ele acontece com a única finalidade de desencadear
em nós aprendizado emocional. Mestre é aquele que percebendo isso, torna-se um
observador mais atento e não se confunde com o que ocorre na tela de projeção, cônscio
todo o tempo de que trata-se de uma ilusão, mesmo que concedamos temporariamente
em aceita-la como real, pelo menos pelo tempo de uma encarnação ou de uma
sessão de cinema.
Portanto, partindo do
princípio de que “a Luz é um atributo do Ser”, o projetor lança sua luz através
do filme reservado para aquela sessão, para aquela encarnação, e a fantasia, a
ilusão, se inicia, para nosso aprendizado e diversão.
Voltando aos mundos
da Árvore da Vida, usando o modelo do projetor, o espaço sem tempo seria o
momento em que a extensão com o filme, (espaço) está posta no projetor, mas o
mesmo ainda não foi ligado. No nosso recurso comparativo, é o momento antes do
tempo e do espaço estarem atuando juntos.
Em que momento existe
tempo (movimento do filme) e espaço (o filme em si no projetor)? Segundo a
árvore, em Assiah, aonde está Malkuth.
E aonde temos espaço
sem tempo (filme parado ainda sem se movimentar)? Em Yetzirah, antes de Assiah.
Perfeito até aqui.
Nosso modelo começa a
fazer água quando tentamos usá-lo para descrever o Tempo sem espaço, o
Movimento sem filme no projetor.
E isto acontece
porque consideramos Espaço como referindo-se sempre a fita de acetato do filme,
já no rolo, e Tempo sempre como o Movimento desta fita.
Foi aqui que percebi
que o Espaço e o Tempo de Yetzirah não são os mesmos de Briah.
Temos que sair do
projetor para entender isso.
Em Briah tudo está
sendo idealizado para ser projetado depois em Assiah, nossa tela de projeção da
vida, a Maya de todos nós.
Portanto, o Tempo de
Briah é Movimento na cabeça do Diretor, por isso não necessita de Espaço, embora
depois vá se materializar na fita de acetato daquelas eras pré cinema digital.
Existe Movimento sim, mas o movimento das idéias e das imagens que o Diretor
elabora e que depois vai descrever para seus atores, recorrendo até a um story
board (esboço sequencial) para que eles vejam o que ele vê em sua própria cabeça.
Só que realmente não
há ainda o filme material, se bem que as ideias já se movimentam (Tempo).
Story board de uma cena mostrando um casal que vai ao cinema quadro a
quadro
Em Briah existe
Movimento, mas apenas mental, sem fita de acetato, sem projetor, ainda. Tempo, pois, sem
espaço.
O diretor James Cameron ao lado de um dos personagens de Avatar
Acho que assim estes
conceitos extremamente abstratos ganham uma clareza didática maior.
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