Por Mario Sales FRC, SI
A falta de Frater Reginaldo é sempre sentida, mas talvez
exatamente nestas oportunidades, quando por mera diversão mergulho em símbolos
rosacruzes antigos, é que sua ausência se faz mais notável. Ele gostava desse
exercício tanto quanto eu e passávamos horas, às vezes dias, em esforços
hermenêuticos atrás do esclarecimento da forma de um símbolo que, depois de
diversas publicações, aparecia apagado; mas “deixemos de coisa e cuidemos da
vida, pois senão vem a morte ou coisa parecida e nos arrasta moços, sem ter
visto a vida”.
Vamos lá então.
A questão fundamental deste ensaio é demonstrar que um
símbolo não pode ter tantas interpretações quantas quisermos lhe impor, mas sim
um número de interpretações limitado, definidos em um contexto.
Já elaborei sobre isso e acredito respondi esta questão[1] mostrando que existem duas
possibilidades:
1. Cada símbolo possui sim um significado definido e claro, mas ao relacionar-se com outros símbolos estabelece combinações diferentes, combinações estas que em si terão novos significados, sem que o significado do símbolo se perca.O exemplo aqui são as letras, onde A é sempre A e B sempre B; L, sempre será um L e O, sempre e apenas O; no entanto, [ESQUEMA 1] podemos reuni-los em um conjunto, B O L A, que imediatamente trará a nossa consciência a imagem de uma esfera, algo diferente de cada letra isolada. Se recombinarmos as letras em outra sequência, como L O B A, nossa mente imediatamente visualiza um animal, que tem características próprias, definidas.
ESQUEMA 1
Claro que as mesmas letras deverão estar contextualizadas em algum idioma determinado, já que a mesma combinação de letras em inglês não daria origem as palavras supramencionadas. (BOLA sendo BALL e LOBA, WOLF).
Daí concluirmos que um símbolo tem um significado que lhe é
próprio e específico, e mesmo assim, dependendo do contexto e da sua combinação
com outros símbolos, ele pode dar origem a uma interpretação diferente daquela
anterior.
Por isso em Alquimia o Sol é símbolo da Luz e do Ouro; já o
Leão é símbolo da Matéria, do que é estável, fixo; mas no símbolo do Leão Verde
comendo o Sol, este Sol representará a Sabedoria sendo absorvida, ou a Força
Vital que deve ser destilada pela matéria, o VITRIOLO, o ácido sulfúrico,
modificando sua interpretação.
2. Pode-se encarar o símbolo, além disso, de maneiras
diferentes daquela que o seu criador supôs primitivamente, como se o simbolista
compusesse o símbolo por duas vias: uma consciente e outra subconsciente, de
tal forma que esta via mais subjetiva possa até passar despercebida para ele mesmo,
simbolista criador.
É o caso de algumas formas geométricas como o círculo que em
princípio tem em si o significado de circularidade, mas se analisado de modo
mais profundo pode significar a Eternidade, já que não tem princípio nem fim.
O primeiro Círculo desenhado provavelmente não tinha em si a
responsabilidade de representar o que é eterno, mas com o passar do tempo e
através da reflexão sobre sua forma, este interessante significado tornou-se
óbvio para quem o contemplava.
ESQUEMA 2
O que é importante é lembrar que o símbolo de per si, quando
usado para transmitir uma mensagem específica, pode não ser claro o suficiente
para fazê-lo, de forma que é necessário que textos acompanhem este símbolo,
orientando o interpretador no caminho hermenêutico correto.
Quando os símbolos são compostos, com várias partes se
articulando umas com as outras, textos são fundamentais para fazer a ligação
entre estas partes.
Considerando que eu faço a imagem para ocultar o que quero
dizer, acrescentar frases elucidadoras não faria o menor sentido. Portanto
estes textos tentam ser tão herméticos quantos os símbolos que querem ajudar a
compor, e muitas vezes recorrem, neste símbolo em particular que usarei como
exemplo, a apresentações poéticas, com frases curtas, repleto de referências
alquímicas, linguagem corrente entre os esoteristas da época.
Impressiona a beleza plástica dessas construções gráficas,
mesmo ressaltando a simplicidade de suas inter-relações. Nem por isso, os
conceitos que elas propagam, deixam de ter grande profundidade.
(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)
[1]
Recomendo a leitura de três ensaios daqui do blog: “O Navio, o Oceano e o Farol” de
17 de fevereiro de 2011; "Os símbolos estáticos, os dinâmicos e os
pré-dinâmicos ou suavizados" de 23 de fevereiro de 2011; e “O que
simbolizam os símbolos” de 5 de agosto de 2013