Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sexta-feira, 28 de abril de 2017

FIGURA DIVINA, UM SÍMBOLO ALQUÍMICO. Ia PARTE


Por Mario Sales FRC, SI



A falta de Frater Reginaldo é sempre sentida, mas talvez exatamente nestas oportunidades, quando por mera diversão mergulho em símbolos rosacruzes antigos, é que sua ausência se faz mais notável. Ele gostava desse exercício tanto quanto eu e passávamos horas, às vezes dias, em esforços hermenêuticos atrás do esclarecimento da forma de um símbolo que, depois de diversas publicações, aparecia apagado; mas “deixemos de coisa e cuidemos da vida, pois senão vem a morte ou coisa parecida e nos arrasta moços, sem ter visto a vida”.
Vamos lá então.
A questão fundamental deste ensaio é demonstrar que um símbolo não pode ter tantas interpretações quantas quisermos lhe impor, mas sim um número de interpretações limitado, definidos em um contexto.
Já elaborei sobre isso e acredito respondi esta questão[1] mostrando que existem duas possibilidades:
1. Cada símbolo possui sim um significado definido e claro, mas ao relacionar-se com outros símbolos estabelece combinações diferentes, combinações estas que em si terão novos significados, sem que o significado do símbolo se perca.
O exemplo aqui são as letras, onde A é sempre A e B sempre B; L, sempre será um L e O, sempre e apenas O; no entanto, [ESQUEMA 1] podemos reuni-los em um conjunto, B O L A, que imediatamente trará a nossa consciência a imagem de uma esfera, algo diferente de cada letra isolada. Se recombinarmos as letras em outra sequência, como L O B A, nossa mente imediatamente visualiza um animal, que tem características próprias, definidas.



ESQUEMA 1
                                               


Claro que as mesmas letras deverão estar contextualizadas em algum idioma determinado, já que a mesma combinação de letras em inglês não daria origem as palavras supramencionadas. (BOLA sendo BALL e LOBA, WOLF).
Daí concluirmos que um símbolo tem um significado que lhe é próprio e específico, e mesmo assim, dependendo do contexto e da sua combinação com outros símbolos, ele pode dar origem a uma interpretação diferente daquela anterior.
Por isso em Alquimia o Sol é símbolo da Luz e do Ouro; já o Leão é símbolo da Matéria, do que é estável, fixo; mas no símbolo do Leão Verde comendo o Sol, este Sol representará a Sabedoria sendo absorvida, ou a Força Vital que deve ser destilada pela matéria, o VITRIOLO, o ácido sulfúrico, modificando sua interpretação.
2. Pode-se encarar o símbolo, além disso, de maneiras diferentes daquela que o seu criador supôs primitivamente, como se o simbolista compusesse o símbolo por duas vias: uma consciente e outra subconsciente, de tal forma que esta via mais subjetiva possa até passar despercebida para ele mesmo, simbolista criador.
É o caso de algumas formas geométricas como o círculo que em princípio tem em si o significado de circularidade, mas se analisado de modo mais profundo pode significar a Eternidade, já que não tem princípio nem fim.
O primeiro Círculo desenhado provavelmente não tinha em si a responsabilidade de representar o que é eterno, mas com o passar do tempo e através da reflexão sobre sua forma, este interessante significado tornou-se óbvio para quem o contemplava.
ESQUEMA 2


O que é importante é lembrar que o símbolo de per si, quando usado para transmitir uma mensagem específica, pode não ser claro o suficiente para fazê-lo, de forma que é necessário que textos acompanhem este símbolo, orientando o interpretador no caminho hermenêutico correto.
Quando os símbolos são compostos, com várias partes se articulando umas com as outras, textos são fundamentais para fazer a ligação entre estas partes.
Considerando que eu faço a imagem para ocultar o que quero dizer, acrescentar frases elucidadoras não faria o menor sentido. Portanto estes textos tentam ser tão herméticos quantos os símbolos que querem ajudar a compor, e muitas vezes recorrem, neste símbolo em particular que usarei como exemplo, a apresentações poéticas, com frases curtas, repleto de referências alquímicas, linguagem corrente entre os esoteristas da época.
Impressiona a beleza plástica dessas construções gráficas, mesmo ressaltando a simplicidade de suas inter-relações. Nem por isso, os conceitos que elas propagam, deixam de ter grande profundidade.


(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)



[1] Recomendo a leitura de três ensaios daqui do blog: “O Navio, o Oceano e o Farol” de 17 de fevereiro de 2011; "Os símbolos estáticos, os dinâmicos e os pré-dinâmicos ou suavizados" de 23 de fevereiro de 2011; e “O que simbolizam os símbolos” de 5 de agosto de 2013

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