UM EXERCÍCIO SOLITÁRIO, POÉTICO E FILOSÓFICO, BASEADO NO PRECEITO ROSACRUZ DA MAIS COMPLETA LIBERDADE (POSSÍVEL) DENTRO DA MAIS PERFEITA TOLERÂNCIA (POSSÍVEL). O MARTINISMO E O ROSACRUCIANISMO COMO REFLEXÃO.
Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
NOVAS BODAS ALQUÍMICAS DE CRISTIAN ROSENCREUTZ
Publicamos abaixo em língua portuguesa o mais novo manifesto da Ordem traduzido do espanhol por um frater da Loja Recife. Esperamos que auxilie a divulgação deste documento.
Novo casamento alquímico
Christian Rosenkreutz
1616 – 2016
A Lei Cósmica se cumpre!
Antiquus Mysticusque Ordo Rosae
Crucis
O Casamento Alquímico de
Christian Rosenkreutz
Como autor deste Manifesto e antes que você conheça o seu conteúdo,
gostaria de me apresentar. No passado, fui conhecido pelo nome de Christian
Rosenkreutz, mítico fundador da Ordem Rosacruz, Sociedade secreta cuja origem
os historiadores do esoterismo situam no início do século XVII, mas cuja
tradição é mais antiga e remonta as escolas de mistérios do antigo Egito.
No Manifesto "Fama Fraternitatis", publicado em 1614, é
explicado em detalhes por que e como, depois de viajar o mundo em busca dos
grandes eruditos da época, finalmente cheguei a fundar a Ordem Rosacruz.
Originalmente composta por alguns membros versados em hermetismo, na alquimia e
na Cabala, a Ordem se expandiu e se perpetuou até hoje. Sendo o seu fundador,
permaneci cuidando do seu destino algumas vezes, a partir do plano espiritual e
outras vezes encarnado na terra.
Um segundo Manifesto foi publicado no ano seguinte, em 1615: Foi
intitulado "Confessio Fraternitatis". Sem entrar em detalhes, vou
dizer que é uma extensão da "Fama" e a complementa dando detalhes
sobre as regras e o funcionamento da Fraternidade Rosacruz, exatamente como eu
havia estabelecido. No "Confessio Fraternitatis” se encontram igualmente
revelações sobre o “Liber Mundi" (O Livro do Mundo), o verdadeiro objetivo
da alquimia e da ciência que os Rosacruzes possuem para levar a cabo a regeneração
espiritual da humanidade.
Um terceiro Manifesto, publicado em 1616, foi anexado aos dois
anteriores. Em um estilo muito diferente, ele relata um sonho que eu tive na
época quando fundei a Ordem Rosacruz. Nesse sonho, eu me vi realizando um
périplo iniciático de sete dias, após o qual fui convidado a participar das
núpcias reais - o casamento de um rei e de uma rainha realizada em um
misterioso castelo. Este sonho alegórico, inspirada por referências alquímicas,
tem sido objeto de muitas interpretações, algumas eloquentes e inspiradoras,
outras, porém, fantasiosas e até mesmo absurdas.
Na minha atual encarnação, nasci em 13 de dezembro de 1982, em Paris, a
Cidade da Luz, onde os Rosacruzes se fizeram conhecer em 1623 através de
cartazes colocados nas paredes das ruas. Permita-me lembrá-los o que foi dito:
"Nós, os Deputados do
Colégio principal da Rosa + Cruz, constituímos residência visível e invisível a
esta cidade pela graça do Altíssimo, para o Qual se voltam oração dos justos. Nós
mostramos e ensinamos a falar sem livros nem sinais, a falar todas as espécies
de línguas dos países em que estamos para tirar os homens, nossos semelhantes,
do erro de morte.
Se alguém quiser nos ver somente
por curiosidade, jamais se comunicará conosco, mas se a vontade o levar
realmente a se inscrever nos registros de nossa Fraternidade, nós, que
avaliamos pensamentos, faremos com que ele veja a verdade de nossas promessas;
tanto é assim que não estabelecemos o local de nossa Morada nesta cidade, visto
que os pensamentos unidos à real vontade do leito serão capazes de nos fazer
conhecê-lo e ele a nós”.
Desejando permanecer anônimo, não vou dizer onde eu moro, ou quais são
as minhas atividades ou qualquer outra coisa que poderia vos conduzir até a
minha pessoa. De acordo com as regras que eu e meus irmãos estabelecemos no
passado, eu tenho que permanecer "invisível". Talvez vamos nos
encontrar algum dia, mas neste caso serei eu que vos encontrará. Saiba, porém, que o meu compromisso com a
Rosacruz é absoluto e continuará sendo a minha via espiritual até minha
reintegração final e definitiva no seio da alma universal.
Acredite ou não: jamais me aventuraria a escrever estas páginas se não
houvesse uma necessidade imprescindível de fazê-lo, depois de um sonho que tive
na noite de 20 de março 2015, o primeiro dia da primavera, cuja natureza e
conteúdo me inspiraram a contar. Julgue por si mesmo: Depois de ir para a cama,
mas não antes de meditar sobre o dia que acabava de terminar que aliás, me
pareceu construtivo, acabei adormecendo.
Em meu sono profundo, me vi, de repente, dentro de um ovo de cristal de
uns três metros de altura e de uns poucos centímetros de espessura;
transparente e perfeitamente simétrico era de grande beleza e perfeita
regularidade. Eu me encontrava de pé em seu centro, como se estivesse levitando
e sentindo-me particularmente bem...
Passado meu espanto, observei o ovo cuidadosamente. Vi então na parte superior gravado sobre o vidro e equidistante da totalidade da periferia os símbolos do sal, de mercúrio e do enxofre:
.
Passado meu espanto, observei o ovo cuidadosamente. Vi então na parte superior gravado sobre o vidro e equidistante da totalidade da periferia os símbolos do sal, de mercúrio e do enxofre:
.
Da maneira como eles foram colocados, pareciam que estavam unidos por um triangulo imaginário.No meio do ovo, reconheci os símbolos da terra, do ar, da água e do fogo.
Tal como foram colocados na circunferência, eles formavam um quadrado invisível.
Tal como foram colocados na circunferência, eles formavam um quadrado invisível.
Na parte inferior do ovo, a uma equidistância em torno de sua circunferência, pude observar as letras hebraicas aleph, mem e shin.
Elas também pareciam estarem unidas por um triângulo imaginário. Além disso, observei que a parte superior curva do ovo estava decorada pelo símbolo representativo do sol e a parte inferior pelo símbolo da lua.A partir do topo do ovo até a minha esquerda, estava escrito: Ad Rosam per Crucem, e de baixo para cima, a minha direita: Ad Crucem per rosam. O conjunto corresponde a uma fórmula esotérica familiar a todo Rosacruz, sobre a qual guardarei silêncio aqui.
Primeira etapa
Lunae auspiciis ...
☽
De repente, o ovo começou a elevar-se lentamente e verticalmente até
parar suavemente. Eu não poderia dizer quanto tempo durou esta ascensão, mas me
senti transportado para outra dimensão. Esta sensação se confirmou quando,
olhando para o espaço circundante, pude contemplar a Terra. Diante desta visão
tão harmoniosa e extraordinária compreendi porque ela se chama o “Planeta Azul”
e porque os astronautas ficam maravilhados quando a veem a partir de estações
espaciais ou de suas naves, a ponto de deixar de duvidar sobre a existência de
Deus. Enquanto estava mergulhado nesta contemplação, uma voz suave proveniente
do espaço se dirigiu para mim:
"Observa a grande obra da lua: os seres humanos dos quais você é
um deles, se reconciliaram com a natureza e vivem em perfeita harmonia com ela.
Finalmente compreenderam que o planeta sobre o qual têm o privilégio de viver é
sua mãe, e que os animais, que agora amam e respeitam, são seus irmãos. Melhor
ainda, eles sabem que todos os seres que nele habitam são veículos para a Alma
universal e que cada um a seu nível e a sua maneira participam da Evolução
cósmica."
Procurando descobrir de onde vinha aquela voz, percebi não muito longe
olhando para mim, um ser etéreo de matizes prateadas. Intrigado e fascinado por
esta visão, refleti sobre o significado que poderia ser dado em relação à
imagem idílica que se apresentou à minha visão, quando o ovo no qual me
encontrava em levitação, subiu novamente...
... Cosmic successit lex!
Segunda etapa
Martis auspiciis ...
Mais uma vez, depois de um período cuja duração não foi possível
avaliar, ovo parou. A visão que tive foi tão fascinante como inspiradora,
porque tinha uma vista ainda mais ampla da Terra. Enquanto observava isso com
alegria, outra figura etérea de um vermelho particularmente luminoso veio até
mim. Olhando-me suave e intensamente disse:
"Observa a grande obra de Marte: a economia está crescendo em todo
o planeta contribuindo para o bem-estar de todos os cidadãos, para que a
sociedade vivencie a paz e a harmonia. Com base em uma moeda única que favorece
o intercâmbio entre os países contribuindo para que sejam solidários. Não há
mais pobreza e nem miséria, porque todo mundo tem o que é preciso para ser
feliz e ter uma boa qualidade de vida no plano material ".
Enquanto observava a Terra e escutava o ser espiritual que me falava,
constatei que o cristal do ovo se tornara ligeiramente avermelhado sem,
entretanto, afetar as cores que eu via além dele. Também percebi que a sua
espessura Inicial diminuiu ligeiramente. Mas isso não me causou nenhum temor.
Senti-me muito bem e experimentei uma grande sensação de leveza.
Terceira etapa
Mercurii auspiciis ...
Quando o ovo se imobilizou pela terceira vez, observei a partir desse
“plano cósmico” muito além de sua transcendental beleza e suscitou em mim a
impressão de um mundo um pouco agitado, porém sereno. Tive a sensação de uma
desordem ordenada. Em seguida uma nova silhueta etérea com reflexos alaranjados
veio até mim e abriu minha mente:
"Observe o grande trabalho de Mercúrio: os homens e mulheres que
povoam Terra atuam como cidadãos do mundo, com tudo que resulta de positivo em
suas relações: cooperação, intercâmbio, solidariedade e fraternidade... Há um
governo mundial, o qual não substitui os governos nacionais, mas garante sua
soberania e promove o intercâmbio entre eles. A globalização, por muito tempo
temida e criticada, é agora um vetor de unidade, de compreensão mutua e de
progresso social para todos”.
Nesta fase do meu sonho, senti que esta estranha ascensão continuasse e
que minha alma seria ainda mais contemplada com visões sublimes, embora
desconhecesse até que plano me levaria. Foi, portanto, com curiosidade e
confiança que empreendi a próxima etapa sem, entretanto, deixar de olhar a
Terra a qual eu não sabia se era real ou não.
... Cosmic successit lex!
Quarta etapa
Jovis auspiciis ...
Antes de retomar sua ascensão o ovo, cujo cristal estava diminuindo de
espessura e intensificava sua aparência avermelhada, girou sobre si mesmo, de
modo que a parte superior se converteu na inferior e vice-versa. Curiosamente e
não sei por que milagre isto não afetou de forma alguma meu corpo, porque
permaneci na mesma posição de pé e levitando.
Tive a impressão que esta fase da minha ascensão durou muito mais tempo
do que as anteriores, a sensação era como se eu me tivesse tele transportado ao
invés de ter sido transportado. Enquanto isso, meu ângulo de visão aumentou
novamente e, assim, pude ver a terra numa perspectiva melhor. As palavras são insuficientes para descrever
o que então a minha alma percebeu. Como anteriormente, um ser etéreo se
aproximou de mim. O brilho da luz azulada que emanava dele quase se confundiu
com o azul do céu que me rodeava por todas as partes. Eis aqui o que ele disse:
"Observe o grande trabalho de Júpiter: todos os países e o mundo em
geral são governados com sabedoria, para que as relações Humanas sejam baseadas
na confiança e no respeito mútuo. Ficou para trás a época em que a política era
partidária e corporativista. Como se pode constatar, ela tornou-se
inter-relacionada com a filosofia e não tem outro propósito a não ser atender
as necessidades e os desejos mais legítimos de todos os cidadãos, sem
distinção”.
... Cosmic successit lex!
Quinta etapa
Veneriis auspiciis ...
A sensação de tele transporte anteriormente experimentada continuou até
a nova parada. A espessura do ovo continuou afinando dando a impressão de que o
vidro estava começando a se cristalizar. Quanto a cor vermelha, ela foi se
intensificando sem afetar o que se oferecia a minha visão do exterior mais que
exaltado.
De repente, lembrei-me que no quinto dia do "Casamento
Alquímico" tive a honra e o privilégio de contemplar Vênus, profundamente
adormecida em seu leito. Ao perceber a figura etérea que veio ao meu encontro,
compreendi por que tive essa lembrança. Sua irradiação, verde esmeralda, me fez
pensar nas auroras boreal e austral que dão aos polos da terra essa
luminosidade tão especial. Ela disse olhando para mim:
"Observa a grande Obra de Vênus: A paz reina finalmente neste
planeta onde você nasceu há muito tempo. A utilização de armas está proibida,
inclusive nos níveis governamentais. A própria ideia de guerra é repugnante aos
cidadãos tanto entre governantes como entre os governados. A Fraternidade entre
os indivíduos e os povos já não é mais uma utopia; corresponde a um ideal que
todo mundo cultiva em si mesmo e manifesta cotidianamente. A humanidade
finalmente vive ao ritmo do Amor Universal".
... Cosmic successit lex!
Sexta etapa
Saturni auspiciis ...
Eu gostaria de ter passado mais
tempo neste nível de contemplação, mas o ovo retomou a sua ascensão.
Emanava dele uma forma de vontade e de intenção que eu pressentia sem,
entretanto, entender. A espessura do vidro se reduziu a tal ponto que tive a
impressão de ser possível atravessá-lo com o dedo, mas não ousei fazer isto
temendo quebrá-lo. Tentava adivinhar o que desta vez alegraria meu coração,
minha mente e minha alma.
Quando o ovo parou, senti-me
novamente maravilhado diante de tanta beleza e pureza. Quanto mais eu olhava a
Terra, mais tinha a sensação de ser uno com ela e com a própria humanidade.
Mais uma vez, uma figura etérea veio ao meu encontro. Embora obscura em sua
aparência emanava dela uma luminescência que permitiu distingui-la
perfeitamente. Então ela me disse:
"Olhe
para o grande trabalho de Saturno: a Ciência trabalha em conformidade com o
interesse real da humanidade e com absoluto respeito a natureza. O seu único
objetivo é contribuir para o bem-estar de todos os seres humanos, melhorar suas
condições de vida, e expandir seus conhecimentos, ou melhor, seu saber. Em
outras palavras, se tornou profundamente humanista e seu real objetivo é a
felicidade de todos. "
... Cosmic successit lex!
Sétima etapa
Solis auspiciis ...
Sabia por experiência que um
sonho místico, que sem dúvida alguma era o caso em que eu estava, envolvido se
desenvolve geralmente seguindo uma espécie de protocolo hierático baseado no
sincronismo, na ciência dos números e na lei da correspondência. A razão mais
que a intuição me levava a pensar que esta ascensão celestial que vivenciava
com tanta curiosidade e felicidade acabaria no sétimo e último estágio;
portanto, quando o ovo retomou sua ascensão fiquei triste ao pensar que deveria
descer e voltar a esse mundo que havia deixado para trás. Esta tristeza me
acompanhou até aonde eu pensava seria a última parada.
Na verdade, o ovo, no qual ainda
me encontrava, se deteve suavemente. O vidro tornou-se tão fino que podíamos
distingui-lo apenas por sua coloração que havia se tornado na cor vermelha
vivo. Entretanto ainda não conseguia entender como esta coloração, que vi se
intensificar gradualmente durante minha ascensão celeste, deixava filtrar sem
nenhuma alteração tudo que era proveniente do exterior. A partir desta altura,
era impossível distinguir a Terra devido ao brilho intenso da aura ao redor
dela.
Então uma silhueta etérea com
reflexos dourados, veio até mim e me disse com inefável doçura:
"Observa
a grande obra do sol: a religião deu lugar a uma espiritualidade baseada não na
crença, mas no conhecimento.
“A
maioria dos seres humanos admitem como uma evidência a existência da alma e
sabem que, se vivem na Terra, é com o objetivo de tornarem-se melhores mediante
sua relação com os outros. Em vez de adorar a Deus Pai, Yahveh, Allah, Brahma
ou outro consagraram-se a compreender e a respeitar as leis divinas, ou seja,
as leis naturais, universais e espirituais. A humanidade está no caminho certo
para a regeneração e a reintegração”.
... Cosmic successit lex!
As palavras
"regeneração" e "reintegração" ainda ressoavam em minha
mente quando vi, a partir das seis direções do espaço, as seis entidades
espirituais que tinham se apresentado em cada uma das as etapas de minha
ascensão celeste. Eles formaram um círculo em torno da entidade que acabara de
se dirigir a mim, e depois entoaram o som OM nove vezes em uma nota que me era desconhecida. Na nona
entoação, diante dos meus olhos maravilhados, as sete entidades se fundiram
formando uma estrela branca. A estrela se projetou numa grande velocidade em
direção à Terra e se fundiu à luz que emana dela.
Momentos depois vi emergir dessa
luz uma forma alada de larga envergadura. À medida que se aproximava, não havia
mais dúvida: era uma Fênix esse pássaro mítico tão significativo para os
alquimistas. Vendo-a se dirigir para mim lembrei-me por um momento de uma
gravura que vira alguns dias antes no livro “Símbolos secretos dos Rosacruzes"
impresso pela primeira vez no século XVIII, e que sempre tem servido de base
significativa para meditação dos Rosacruzes. Esta gravura mostra duas fênix, uma sustentando o sol em seu bico e a outra, a lua.
Além do sétimo céu
Phoenicis auspiciis ...
Enquanto me lembrava dessa antiga
gravura, continuava contemplando a ave Fênix. Majestosa, possuía uma plumagem
magnífica que tinha exatamente a mesma cor do ovo no qual estava em levitação.
Enquanto olhava, percebi que ovo foi completamente desmaterializado, ou melhor,
espiritualizado, e que eu havia sido liberado dele. O resultado foi
imediato: caí no vácuo a uma velocidade cada vez mais vertiginosa; obviamente,
iria espatifar-me contra o solo e morrer ...
Em questão de segundos, revivi os
momentos mais significativos desta vida que chegava ao fim, especialmente os
momentos relacionados à senda Rosacruz como também os momentos que vivi na
companhia de seres queridos que haviam proporcionado tanta felicidade.
Entretanto, não sentia medo ou pena. Eu sabia que a morte não marca o fim
definitivo da nossa existência, mas é apenas uma transição da alma para o reino
espiritual. Sentia que com certeza ainda haviam tarefas a desempenhar neste
mundo, mas estas seriam para mais tarde, quando reencarnasse novamente.
Estava prestes a me chocar com o solo
quando senti que fui segurado. Olhando para cima, percebi que fui tomado
cuidadosamente pelas garras da Fênix salvando-me a vida desta maneira. Além
disso, ela voou para longe levando-me muito acima do sétimo céu. Nesta altura
celestial, eu podia ver não somente a Terra, sempre coberta pela radiante luz
de sua aura, mas também os outros planetas de nosso sistema solar, desde
Mercúrio, o menor, até Júpiter, o de maior volume. Mas a percepção que eu tinha
não era de caráter astronômico; sentia a energia oculta que emanava deles e
compreendia melhor o significado e o alcance de tudo que havia visto
anteriormente.
A Fênix se dirigia agora ao sol,
deixando para trás a Terra que se tornou imediatamente apenas um ponto luminoso
no espaço. Apesar de nos aproximarmos do sol, podia olhar para o mesmo sem
problema; sem ser incomodado pelo calor de seus raios. Sentia antes uma
sensação de espiritualização a ponto de perder a consciência de meu corpo e me
sentir uma alma em seu estado puro. Nunca havia experimentado tal sentimento de
liberdade, de pureza e de serenidade.
Enquanto a Fênix e eu estávamos
prestes a se fundir com o sol, me preparava interiormente para vivenciar essa
fusão com a maior lucidez e intensidade interior possível. Foi então que ouvi uma
música de extraordinária beleza. Diante dela nossas mais belas sinfonias se
assemelham a obras de crianças. Certamente, era a "música das
esferas" tão caras a Pitágoras, sábio entre os sábios. Lembrei-me desta
poesia musical conhecido pelos iniciados:
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
NOTA: Hino cantochão a São João Batista, com que os fiéis da Igreja Católica Romana rezam o Ofício Divino, ou Breviário, celebrando a festa da Natividade deste Santo (24 de junho). Um acróstico que relembra as notas musicais, onde o Ut representa o Dó e depois o Re, Mi, Fá, Sol, La, Si, este último formado pelas iniciais de Sancte Ioannes, e que se traduz a grosso modo, “Para que os servos possam, com suas vozes soltas, ressoar as maravilhas dos vossos atos, limpa a culpa do lábio manchado, ó São João”.
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Ioannes
NOTA: Hino cantochão a São João Batista, com que os fiéis da Igreja Católica Romana rezam o Ofício Divino, ou Breviário, celebrando a festa da Natividade deste Santo (24 de junho). Um acróstico que relembra as notas musicais, onde o Ut representa o Dó e depois o Re, Mi, Fá, Sol, La, Si, este último formado pelas iniciais de Sancte Ioannes, e que se traduz a grosso modo, “Para que os servos possam, com suas vozes soltas, ressoar as maravilhas dos vossos atos, limpa a culpa do lábio manchado, ó São João”.
Embalado por esta melodia
cósmica, deixei-me absorver pelo Sol com confiança, não sem antes olhar pela
última vez para os olhos da Fênix e agradecer-lhe, não tanto por ter salvado
minha vida, mas sobretudo por tudo que vivi em sua companhia. Nesse
preciso instante experimentei a forte sensação de ser uno com ela ou melhor, de unir minha
alma a sua e assim, vivenciar as “Núpcias Alquímicas” que todo rosacruz aspira.
Em seguida vivenciei a iluminação: remontei em consciência até as origens da
Criação, assisti ao big bang, esta explosão cósmica extraordinária a partir do
qual surgiu o universo, que não cessou de expandir-se até os confins do
infinito.
Vi também como Deus, essa
inteligência, essa consciência, essa Energia absoluta e atemporal, soprou uma
alma pura e perfeita no universo em formação e como essa Alma universal veio
animar todas as criaturas que o habitam desde os éons do tempo. O que eu pressentia
como a evidência foi, então, confirmado: existe uma infinidade de mundos na Criação,
sendo o nosso apenas um entre tantos outros. Alguns são mais evoluídos; outros
são menos.
Então, como um filme passando
rapidamente, vi o desenrolar das etapas que marcaram a formação da Terra, a
partir do estado de fogo inicial, até a formação dos continentes que conhecemos
hoje. Também testemunhei a ascensão da vida, desde as primeiras criaturas que
evoluíram nos mares e oceanos até a própria humanidade, passando pelo célebre
reino dos dinossauros. Certamente, os seres humanos não formam um reino
separado; eles são a culminação de um processo evolutivo que remonta aos
primeiros seres que habitaram o nosso planeta.
Depois foi a história da
humanidade em geral, que aflorou na tela da minha consciência, incluídas todas
as épocas e todos os países. Por um momento, vi muitos eventos; curiosamente,
todos eles foram positivos e construtivos, o que me fez repensar as
maravilhosas visões oferecidos para mim anteriormente. Esta viagem no tempo me
fez especialmente feliz e permitiu renovar a confiança que tenho colocado desde
sempre nos seres humanos, porque sei que sua origem é divina e a que a alma que
os anima é essencialmente benevolente.
Pensei que esta viagem estava
chegando ao fim, quando me vi, a mim mesmo, em uma época em que me fiz conhecer
pela primeira vez como o nome de Christian Rosenkreutz. Revivi com grande
emoção o périplo iniciático que me levou a fundar a Ordem Rosacruz e
os momentos que passei reunindo o conhecimento que meus irmãos e eu
desejávamos transmitir à posteridade. Entre esses momentos, estava aquele em
que nos dedicamos a transcrever o "Liber Mundi", acrescentando nossos
próprios comentários.
Estava feliz com a ideia de ver,
"desde o exterior", como minha morte aconteceu, ou melhor, a
transição da minha alma, e ver o túmulo onde meu corpo descansava, quando a
buzina de um veículo que passava na rua me acordou de repente. Ainda estava
escuro, mas em vez voltar a dormir, levantei-me para registrar com a maior
precisão possível o que tinha sonhado. Feito isso, meditei até o nascer do sol
sobre o significado de tudo o que tinha visto, ouvido e sentido através desta
estranha jornada além do tempo e espaço, não sem antes agradecer ao Deus do meu
coração por haver me inspirado.
Se desejei compartilhar esse
sonho, é porque pensei que poderia suscitar em algumas reflexões úteis. Tenho
consciência que, neste início de 2016, o mundo está longe das visões idílicas
que percebi durante o que me foi referido com o nome de “ascensão celestial”.
Seu contexto, em todos os aspectos é mais preocupante. Além disso, essas
visões podem ser consideradas como premonições ou são apenas projeções oníricas
do futuro que desejo fervorosamente para toda a humanidade? Cada um encontre a
sua resposta ...
Quem nunca sonhou com um mundo,
se não perfeito, pelo menos melhor, no qual viver é agradável a todos, não
importa o país onde se viva? Se o desejarmos verdadeiramente, este sonho pode
converter-se em realidade. Claro, isto supõe agir em conformidade, tanto
individual quanto coletivamente. Quatro séculos após a publicação das Bodas
Alquímicas de Christian Rosenkreutz, estas Novas Bodas são, também, uma
mensagem de esperança e um convite para se imaginar, hoje em dia, o que a
Humanidade futura pode e deve chegar a ser. Isto é, precisamente, o que me
impulsionou a contar-lhe meu sonho.
Como se sabe, a maioria dos
alquimistas de antigamente trabalhava para transmutar os metais inferiores em
ouro através da Pedra Filosofal, substancia subliminar que obtinham como
resultado de um processo operativo completado através de sete grandes etapas.
Porém, alguns deles, incluindo eu mesmo, se dedicavam à alquimia, não material,
mas espiritual. O que importava a eles não era a obtenção de ouro, porém a
aquisição da sabedoria. Este é, ainda, o objetivo dos Rosacruzes que vivem entre
os seres humanos, porque sei o quanto estão dispostos a contribuir para
melhorar o mundo.
No manifesto “Positio
Fraternitatis Rosae Crucis”, publicado no ano de 2001 pela Antiga e Mística
Ordem Rosa Cruz, se pode ler sobre a alquimia:
"Com certeza o leitor sabe que os rosacruzes do passado praticavam a
alquimia material, que consistia em transmutar metais inferiores em ouro,
principalmente o estanho e o chumbo. O que frequentemente se ignora é que eles
também se dedicavam à alquimia espiritual. Nós, rosacruzes dos tempos atuais,
damos prioridade a essa forma de alquimia, pois é dela que mais do que nunca o
mundo necessita.
Essa alquimia consiste, para todo ser humano, em transmutar cada um de
seus defeitos em sua qualidade oposta, a fim de, precisamente, adquirir as
virtudes a que já nos referimos. Pensamos, com efeito, que são essas virtudes
que fazem a dignidade humana, pois o Ser Humano só é digno do seu status se as
expressa através do que pensa, diz e faz. Não há dúvida de que, se todos os
indivíduos, sejam quais forem suas crenças religiosas, suas ideias políticas ou
outras, fizessem o esforço de adquiri-las, o mundo seria melhor."
Em 2014, a A.M.O.R.C. publicou um
segundo manifesto intitulado "Appellatio Fraternitatis Rosae Crucis" complementando
o "Positio"; assim como a “Confessio" complementou "Fama”, o
"Appellatio" não é estranho ao sonho que relatei nestas páginas.
Diria mesmo que este Manifesto contém as chaves e mostra o caminho a seguir
para tornar este sonho, esta utopia, em uma realidade. Depois de ter lido e
meditado, exorto-vos a fazer o mesmo, para conferir pleno sentido às Novas
Núpcias alquímicas de Christian Rosenkreutz. Para este propósito, gostaria de
mencionar um breve trecho do "Appellatio”:
"Os antropólogos acreditam que a humanidade moderna apareceu na Terra ao
redor de 200.000 anos atrás. Na escala de uma vida humana pode parecer muito antiga,
velha, mas em comparação com os ciclos da evolução se acha apenas na
adolescência, demonstrando as características desta etapa da vida: está em
busca de identidade, de um destino, demonstra irresponsabilidade e inclusive
inconsciência, acredita-se imortal, dedica-se a todo tipo de excessos, desafia
a razão e desconsidera o senso comum. Essa etapa evolutiva com toda a sua carga
de dificuldades, sofrimentos e fracassos, mas também de satisfações, conquistas
e esperanças é um passo necessário, que a permitirá crescer, amadurecer,
florescer e finalmente realizar-se nos planos material e espiritual. Mas para
isso, precisa transformar-se em um adulto."
Com estes pensamentos, vos
deixarei com suas ocupações e retomarei as minhas. Como disse antes sigo
vigilante os destinos da Ordem Rosacruz. Pode ser que um dia nos
encontremos. De qualquer modo quero expressar meus pensamentos fraternos e
enviar os meus melhores votos para a Paz Profunda, com a esperança de um futuro
mais harmonioso possível para o mundo inteiro...
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
A PRÁTICA DO MISTICISMO E A SAÚDE MENTAL
por Mario Sales, FRC, SI, CRC
Um tema recorrente nas discussões sobre o ambiente místico ainda hoje é a qualidade mental dos membros de escolas místicas.
Talvez o assunto tenha uma particular gravidade e importância pelo histórico da prática ocultista que reunia pessoas fortemente impressionáveis com charlatães manipuladores, geralmente cientes de sua capacidade de induzir os mais fracos de mente em condutas antiéticas sob as mais disparatadas justificativas, o que incluía o consumo de drogas e práticas de orgias com a justificativa da busca por estados de consciência mais elevados.
Não sou um moralista, não me entendam mal. Estudei durante minha formação intelectual a civilização grega aonde a escala de valores comportamentais é, em muitos anos luz, diferente dos valores da cultura judaico cristã (vide o Livro Paidéia, de Werner Jaeger).
É claro, entretanto, que os seres humanos não são tão complexos assim em seus comportamentos, mesmo os ocultistas, que no mais das vezes, são menos esotéricos e muito mais humanos ("... demasiadamente humanos”), do que gostariam de admitir.
E, se através de técnicas primárias de indução hipnótica e sugestão, induziam mentes despreparadas a satisfazer a sua luxúria ou sustentar financeiramente seus caprichos materiais, não o faziam pela busca da santidade e nem queriam alcançar um nível especial de percepção, mas apenas e tão somente usar pessoas, como se usam objetos, para seu próprio deleite.
E só o conseguiam por encontrarem material mental fértil e abundante a sua volta.
Como Nietzsche perguntava, devemos também perguntar se a culpa de um crime está na força do criminoso ou na fragilidade da vítima.
Ambientes esotéricos, com suas velas, seus incensos, seus discursos obscuros, sujeitos às interpretações as mais variadas e díspares, podem induzir mentes menos elaboradas ao erro, à superstição e à fantasia.
E aqui, como admirador de Espinosa que sou, gostaria de fazer de novo uma distinção importante entre fantasia e imaginação. Para Espinosa, ambas eram uma e a mesma coisa. O tempo, entretanto, passou, e a linguagem, bem como os conceitos, se aperfeiçoaram.
Hoje, portanto, enquanto imaginação é considerada uma qualidade positiva, base da criatividade artística e científica, a fantasia pode, em certas ocasiões, ser apenas e tão somente um delírio, uma fuga de uma realidade cotidiana indesejável, de forma a mergulhar o indivíduo em um estado de perda de vínculo com o mundo objetivo.
Na prática rosacruciana, na época de Spencer e Ralph Lewis, havia grande ênfase em manter a devida separação entre misticismo fantasioso e misticismo objetivo. As técnicas mentais (era assim que chamávamos) eram métodos que poderiam ser verificados, testados e repetidos por quaisquer pessoas que o desejassem fazer. Não havia o apelo a métodos obscuros, línguas estranhas ou pantomimas complexas como nos século XVIII, ou como na época de John Dee, no séc. XV. Não. A técnica rosacruz, fortemente ancorada no uso da visualização criativa mental e da imaginação, conseguiu dar a prática mística um perfil minimalista, límpido, objetivo e prático, seguro do ponto de vista psicológico e psiquiátrico, tão revolucionário como só mentes avançadas e pragmáticas como a de Spencer Lewis poderiam elaborar.
E parte deste esforço de retirar a “lama ocultista” de cima da luz do misticismo foi consequência da história de problemas mentais provenientes de práticas inadequadas feitas por pessoas emocionalmente despreparadas para lidar com situações heterodoxas, para dizer de maneira a mais simples possível.
Hoje em escolas esotéricas sérias, procura-se por todos os modos evitar este equívoco ainda frequente, que vê identidade entre misticismo e práticas bizarras, esoterismo e exotismo, de maneira que as pessoas que participem dessas escolas possam se beneficiar se sua filiação e não, ao contrário, ser vítimas delas.
Por isso AMORC tem tanto cuidado (às vêzes excessivo) com o culto da personalidade entre membros. Por isso existe a preocupação intermitente de manter controle sobre a natureza das práticas e palestras dentro de corpos afiliados. Na maçonaria, muito menos mística e esotérica que a rosacruz, esta preocupação não existe já que existe muito menor atração pelo mistério.
A espiritualidade na Maçonaria não tem caráter místico, mas religioso. E isto é compreensível.
O viés místico é extremamente complexo, exige a assunção de uma série de pressupostos psicológicos, como a mudança de olhar sobre o lugar do Sagrado, se ele está ou não está separado de nós; sobre a Onipresença divina ser apenas um conceito ou uma realidade; e a compreensão sobre a Tábua de Esmeralda, que diz que "O que está em cima está em baixo",e depois continua "e o que está em baixo está em cima". Religiosos prestam atenção na primeira parte da frase e místicos na segunda.
Maçons são mais religiosos. Acham que existe um Deus, que Ele é o Criador de todas as coisas.
Místicos rosacruzes são ou buscam ser o próprio Deus manifesto, vivenciando esta união a cada segundo de seus dias. Não param seus afazeres para orar. Estão permanentemente em oração e comunhão, mesmo em meio às suas obrigações mundanas.
Mas voltemos ao tema.
Precisamos ter cuidado com nossos frateres e sorores, um cuidado de pai para filho ou filha. Certas informações esotéricas são ocultas por uma simples razão: nem todos compreenderiam seu significado e poderiam, inadvertidamente, dar-lhe um sentido inexistente, fantasioso, psiquiatricamente patológico.
Um exemplo disso é o lidar com seres na maioria das vêzes invisíveis. O que eu não vejo, pode ou não estar lá, onde eu acho que está. O mais prudente é não se preocupar com isto a não ser que, por sua própria vontade, estes seres queiram tornar-se visíveis. E acreditem, é nessa hora que é importante ter uma mente equilibrada. Tais visões não costumam ser experiências muito tranquilas. Não à toa a primeira frase de qualquer anjo, no texto bíblico, ao se tornar visível a algum profeta era "Não temais."
Por causa disso, a mais importante lição que recebi de meu mestre foi a de que a prática mística esotérica não pode prescindir de bom senso e objetividade. Na época em que recebi este ensinamento, eu ainda vivia caminhando nas nuvens, sonhando com poderes paranormais, fascinado com tudo que pudesse ter ao menos uma aparência esotérica. Não dava atenção a necessidade de comprovação, das afirmações fantásticas que colhia de livros os mais variados, principalmente os de Eliphas Levi.
Depois que recebi esta orientação, da maneira como os mestres gostam de fazê-las, como uma sugestão mental, minha visão da prática mística mudou radicalmente. A partir daí, comecei a olhar textos muito belos, mas sem nenhuma base de comprovação, como apenas textos muito belos, não fundamentos de conhecimento.
Não que com isso eu os tachasse de balelas, mas desfrutava deles, o que depois vim a conhecer como técnica fenomenológica, deixando-os entre aspas, sem estabelecer sobre eles nenhum julgamento de valor.
O que antes eu lia como fontes de fatos, agora eram textos simbólicos que tinham importância pela sua beleza e não pelas suas afirmações serem expressões de fatos reais.
A primeira e mais marcante mudança é que desapareceu minha ansiedade pela manifestação de dons especiais como a telepatia, telecinesia, etc. Passei a prestar mais atenção na vida cotidiana, nos acontecimentos mais simples, no tom de voz das pessoas, no convívio com os amigos e com a sociedade.
Se estes dons tivessem que ser desenvolvidos, eles o seriam naturalmente, dentro do contexto de uma vida comum, no momento que Deus Todo Poderoso julgasse, em sua sabedoria e conhecimento infinitos, que fosse a hora adequada para isso.
Livre desta ansiedade, os dons começaram a se manifestar. Senti um aumento de minha capacidade intuitiva, comecei a perceber em mim a capacidade de ler mentes, nada que se assemelhasse aos telepatas do cinema, mas o suficiente para que eu tirasse as conclusões mais corretas sobre as pessoas com quem me relacionava. Descobri e passei a verbalizar em palestras o conceito de que a manifestação de dons esotéricos não acontece com fundo musical ou com sons incidentais, mas nas situações mais banais, em um supermercado, em uma feira, ou tomando banho.
A capacidade de fantasiar descontroladamente de certas pessoas é tão grande, certas vezes, que chegam a supor que fenômenos místicos manifestem-se sempre de modo cinematográfico e grandioso. Descobri que nada disso é real. A vida é simples e os dons se manifestam com simplicidade, como respirar ou ouvir um som. Passam naturalmente a fazer parte de nossos sentidos sem que sintamos nada em especial por causa disso.
O que meu mestre havia me ensinado era que a vida era despojamento, e embora a arte procurasse embelezar a existência, a beleza da vida já estava em si, sem nenhum acréscimo, sem nada que se retirar.
Só pela harmonização com o real, com o cotidiano, podemos contemplar esta beleza de que falo.
Observar com atenção os acontecimentos é o segredo. Prestar atenção em todos os fatos que desfilam a nossa frente.
Pessoas com uma mente descontrolada, fantasiosas, distorcem a realidade todo o tempo, e certas vezes parecem estar cegas a coisas evidentes. O esoterismo não pode e não deve ser um agravador desta situação.
Por isso defendi em um antigo ensaio, Psicologia e Misticismo, até hoje um dos mais acessados do blog, que todos os que desejassem praticar misticismo deveriam estar atentos a sua saúde mental, e se necessário, recorrerem aos préstimos de um psicólogo ou mesmo de um psiquiatra, na intenção de organizar sua mente e seus pensamentos. Não queria com isso dizer que estas pessoas sofressem de algum distúrbio mental, a priori, mas sim que deveriam estar atentas ao fato de que quanto mais embaçado o vidro, menos a luz será capaz de atravessá-lo, e a mente é a nossa lente, o nosso vidro, através da qual a luz de Deus chega até nós.
Uma mente não doente, mas apenas imatura, também necessita de educação adequada antes de entrar no meio místico. Isto garantirá que usufrua do conhecimento dos milênios e da tradição esotérica de maneira muito mais rica e de modo mais objetivo.
Sim, objetivo. Nós, como sempre falo, pessoas que lidam com a subjetividade, precisamos ter muita objetividade e quando olharmos para o céu nossos pés devem estar colocados bem firmes no solo abaixo de nós, para que a visão do infinito sobre nossa cabeça não nos provoque vertigens.
Não se pratica misticismo para piorar nossa condição mental, mas pelo contrário, para melhorarmos como pessoas.
E melhoramos na razão direta do desenvolvimento de bom senso, moderação e no aumento da nossa cultura.
Diz-se no Oriente, que quando recebemos um visitante, este deve ser tratado como o próprio Shiva, se este nos visitasse.
Imagine então se for Shiva em pessoa que visita nossa mente. Esta deve estar adequadamente arrumada para recebê-Lo em todo Seu esplendor, em toda Sua Glória.
Contemplar a luz sem o devido preparo pode ser enlouquecedor e por isso é bom que o façamos gradualmente.
Esta é, e sempre foi, a estratégia da prudência.
A saúde mental é um bem precioso que deve ser preservado com o mesmo carinho com que se preserva a saúde física. Cuidemos para que dentro de nossa Ordem, ao reconhecermos um irmão que precisa de mais elaboração e maturidade, saibamos aconselhá-lo a procurar, se necessário, auxílio profissional, evitando que práticas nobres e santas possam ser responsáveis pela piora da qualidade de vida dessas pessoas.
E parte deste esforço de retirar a “lama ocultista” de cima da luz do misticismo foi consequência da história de problemas mentais provenientes de práticas inadequadas feitas por pessoas emocionalmente despreparadas para lidar com situações heterodoxas, para dizer de maneira a mais simples possível.
Hoje em escolas esotéricas sérias, procura-se por todos os modos evitar este equívoco ainda frequente, que vê identidade entre misticismo e práticas bizarras, esoterismo e exotismo, de maneira que as pessoas que participem dessas escolas possam se beneficiar se sua filiação e não, ao contrário, ser vítimas delas.
Por isso AMORC tem tanto cuidado (às vêzes excessivo) com o culto da personalidade entre membros. Por isso existe a preocupação intermitente de manter controle sobre a natureza das práticas e palestras dentro de corpos afiliados. Na maçonaria, muito menos mística e esotérica que a rosacruz, esta preocupação não existe já que existe muito menor atração pelo mistério.
A espiritualidade na Maçonaria não tem caráter místico, mas religioso. E isto é compreensível.
O viés místico é extremamente complexo, exige a assunção de uma série de pressupostos psicológicos, como a mudança de olhar sobre o lugar do Sagrado, se ele está ou não está separado de nós; sobre a Onipresença divina ser apenas um conceito ou uma realidade; e a compreensão sobre a Tábua de Esmeralda, que diz que "O que está em cima está em baixo",e depois continua "e o que está em baixo está em cima". Religiosos prestam atenção na primeira parte da frase e místicos na segunda.
Maçons são mais religiosos. Acham que existe um Deus, que Ele é o Criador de todas as coisas.
Místicos rosacruzes são ou buscam ser o próprio Deus manifesto, vivenciando esta união a cada segundo de seus dias. Não param seus afazeres para orar. Estão permanentemente em oração e comunhão, mesmo em meio às suas obrigações mundanas.
Mas voltemos ao tema.
Precisamos ter cuidado com nossos frateres e sorores, um cuidado de pai para filho ou filha. Certas informações esotéricas são ocultas por uma simples razão: nem todos compreenderiam seu significado e poderiam, inadvertidamente, dar-lhe um sentido inexistente, fantasioso, psiquiatricamente patológico.
Um exemplo disso é o lidar com seres na maioria das vêzes invisíveis. O que eu não vejo, pode ou não estar lá, onde eu acho que está. O mais prudente é não se preocupar com isto a não ser que, por sua própria vontade, estes seres queiram tornar-se visíveis. E acreditem, é nessa hora que é importante ter uma mente equilibrada. Tais visões não costumam ser experiências muito tranquilas. Não à toa a primeira frase de qualquer anjo, no texto bíblico, ao se tornar visível a algum profeta era "Não temais."
Por causa disso, a mais importante lição que recebi de meu mestre foi a de que a prática mística esotérica não pode prescindir de bom senso e objetividade. Na época em que recebi este ensinamento, eu ainda vivia caminhando nas nuvens, sonhando com poderes paranormais, fascinado com tudo que pudesse ter ao menos uma aparência esotérica. Não dava atenção a necessidade de comprovação, das afirmações fantásticas que colhia de livros os mais variados, principalmente os de Eliphas Levi.
Depois que recebi esta orientação, da maneira como os mestres gostam de fazê-las, como uma sugestão mental, minha visão da prática mística mudou radicalmente. A partir daí, comecei a olhar textos muito belos, mas sem nenhuma base de comprovação, como apenas textos muito belos, não fundamentos de conhecimento.
Não que com isso eu os tachasse de balelas, mas desfrutava deles, o que depois vim a conhecer como técnica fenomenológica, deixando-os entre aspas, sem estabelecer sobre eles nenhum julgamento de valor.
O que antes eu lia como fontes de fatos, agora eram textos simbólicos que tinham importância pela sua beleza e não pelas suas afirmações serem expressões de fatos reais.
A primeira e mais marcante mudança é que desapareceu minha ansiedade pela manifestação de dons especiais como a telepatia, telecinesia, etc. Passei a prestar mais atenção na vida cotidiana, nos acontecimentos mais simples, no tom de voz das pessoas, no convívio com os amigos e com a sociedade.
Se estes dons tivessem que ser desenvolvidos, eles o seriam naturalmente, dentro do contexto de uma vida comum, no momento que Deus Todo Poderoso julgasse, em sua sabedoria e conhecimento infinitos, que fosse a hora adequada para isso.
Livre desta ansiedade, os dons começaram a se manifestar. Senti um aumento de minha capacidade intuitiva, comecei a perceber em mim a capacidade de ler mentes, nada que se assemelhasse aos telepatas do cinema, mas o suficiente para que eu tirasse as conclusões mais corretas sobre as pessoas com quem me relacionava. Descobri e passei a verbalizar em palestras o conceito de que a manifestação de dons esotéricos não acontece com fundo musical ou com sons incidentais, mas nas situações mais banais, em um supermercado, em uma feira, ou tomando banho.
A capacidade de fantasiar descontroladamente de certas pessoas é tão grande, certas vezes, que chegam a supor que fenômenos místicos manifestem-se sempre de modo cinematográfico e grandioso. Descobri que nada disso é real. A vida é simples e os dons se manifestam com simplicidade, como respirar ou ouvir um som. Passam naturalmente a fazer parte de nossos sentidos sem que sintamos nada em especial por causa disso.
O que meu mestre havia me ensinado era que a vida era despojamento, e embora a arte procurasse embelezar a existência, a beleza da vida já estava em si, sem nenhum acréscimo, sem nada que se retirar.
Só pela harmonização com o real, com o cotidiano, podemos contemplar esta beleza de que falo.
Observar com atenção os acontecimentos é o segredo. Prestar atenção em todos os fatos que desfilam a nossa frente.
Pessoas com uma mente descontrolada, fantasiosas, distorcem a realidade todo o tempo, e certas vezes parecem estar cegas a coisas evidentes. O esoterismo não pode e não deve ser um agravador desta situação.
Por isso defendi em um antigo ensaio, Psicologia e Misticismo, até hoje um dos mais acessados do blog, que todos os que desejassem praticar misticismo deveriam estar atentos a sua saúde mental, e se necessário, recorrerem aos préstimos de um psicólogo ou mesmo de um psiquiatra, na intenção de organizar sua mente e seus pensamentos. Não queria com isso dizer que estas pessoas sofressem de algum distúrbio mental, a priori, mas sim que deveriam estar atentas ao fato de que quanto mais embaçado o vidro, menos a luz será capaz de atravessá-lo, e a mente é a nossa lente, o nosso vidro, através da qual a luz de Deus chega até nós.
Uma mente não doente, mas apenas imatura, também necessita de educação adequada antes de entrar no meio místico. Isto garantirá que usufrua do conhecimento dos milênios e da tradição esotérica de maneira muito mais rica e de modo mais objetivo.
Sim, objetivo. Nós, como sempre falo, pessoas que lidam com a subjetividade, precisamos ter muita objetividade e quando olharmos para o céu nossos pés devem estar colocados bem firmes no solo abaixo de nós, para que a visão do infinito sobre nossa cabeça não nos provoque vertigens.
Não se pratica misticismo para piorar nossa condição mental, mas pelo contrário, para melhorarmos como pessoas.
E melhoramos na razão direta do desenvolvimento de bom senso, moderação e no aumento da nossa cultura.
Diz-se no Oriente, que quando recebemos um visitante, este deve ser tratado como o próprio Shiva, se este nos visitasse.
Imagine então se for Shiva em pessoa que visita nossa mente. Esta deve estar adequadamente arrumada para recebê-Lo em todo Seu esplendor, em toda Sua Glória.
Contemplar a luz sem o devido preparo pode ser enlouquecedor e por isso é bom que o façamos gradualmente.
Esta é, e sempre foi, a estratégia da prudência.
A saúde mental é um bem precioso que deve ser preservado com o mesmo carinho com que se preserva a saúde física. Cuidemos para que dentro de nossa Ordem, ao reconhecermos um irmão que precisa de mais elaboração e maturidade, saibamos aconselhá-lo a procurar, se necessário, auxílio profissional, evitando que práticas nobres e santas possam ser responsáveis pela piora da qualidade de vida dessas pessoas.
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