“Não
basta delirar e achar que está filosofando”
Luis Roberto
Salinas Fortes,
professor de
filosofia da USP,
citado por
Mario Sergio Cortella em
“Filosofia,
e nós com isso?”,
2019
“Diz o
teólogo: Um filosofo é parecido com um cego
procurando em um quarto escuro um
gato preto que não está lá.
E o Filósofo refuta: Sim, pode ser, mas com certeza
um
Teólogo teria achado esse gato”
Julian
Huxley, biólogo e pensador britânico, em “O Homem no mundo Moderno”
Esta é a frase por excelência, que resume toda a minha angústia como ouvinte de discursos os mais absurdos, os mais fantasiosos, porém relatados com uma calma e suavidade que supõe serenidade na insensatez, equilíbrio onde existe apenas loucura.
"Não basta delirar e achar que está filosofando". Da mesma maneira "não basta delirar e achar que é um mistico". Todos temos que pensar com lucidez.Pensar com lucidez, com Luz, exige cuidado, método, embasamento. “São demais os perigos desta vida para quem tem paixão” dizia o poeta. A razão precisa fazer o balanceamento da equação, seja aonde for que se faça necessária. Mesmo na Arte, que não prescinde do coração e do instinto para manifestar a beleza, a razão ali está no método, na combinação das cores de um quadro, nos contornos de uma escultura ou na harmonia ou desarmonia dos sons de uma composição.
Portanto não me venham dizer que “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Isso, na verdade, é apenas o Caos e a preguiça de estabelecer padrões de pensamento, que não vão engessar o raciocínio e a percepção, mas construirão, isso sim, a habilidade de recolher com mais habilidade e eficácia as imagens, os sons e os estímulos com os quais a realidade nos presenteia todos os dias, horas e minutos.
Se eu conheço as notas musicais e sei tocar um instrumento, representarei a beleza das águas em um rio, ou das florestas a minha volta em uma linda sinfonia, como fez Beethoven ou o nosso saudoso Vila. Mas se não tenho este conhecimento, este domínio da técnica musical, mas domino a habilidade da pintura, serei capaz não só de tentar reproduzir o que contemplo e eternizar aquele momento, aquele por de sol, aquelas montanhas, aquela mulher, transformando-os, todos , em estímulo e inspiração para os que vierem a contemplar meu trabalho.
A “metamorfose” em movimento não é a oscilação de posições ao sabor das emoções momentâneas e fugidias. Um indivíduo equilibrado deve ter, sim, princípios que o guiem na caminhada da vida. Não se constrói uma personalidade apoiado na Doxa, a opinião descompromissada com o real, a filha do Achismo, mas sim com a ajuda da Episteme, o conhecimento fundamentado na experiencia ou na matemática, ou em ambos de preferência. Tudo deve ser testado e verificado.
Toda declaração deve ser averiguada quanto a sua confiabilidade. E se aquele que a fornece é um indivíduo equilibrado, terá não só presteza, mas também prazer em apresentar seus argumentos e suas evidências.
Só o tolo se ofende com a crítica e o questionamento. Só o tirano e o estúpido não podem ser contestados, sem que isso pareça uma agressão de quem pergunta.
O homem do conhecimento, o filosofo, o cientista, e mesmo o místico mostrará satisfação em ser indagado, estímulo em que o interroguem, expressando sua noção de que só é útil aquele que pode servir a alguém ou ao grupo que pertença. Lembrando a frase do “Venerável Beda”, o monge britânico do século VIII, também lembrado por Cortella em seu texto, “há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina; não perguntar o que se ignora.”
E para ensinar é preciso saber, de modo seguro e fundamentado, aquilo que se sabe.
Ninguém, em sã consciência, passaria uma virose altamente mortal sabendo-se transmissor de tal mal. Da mesma maneira, nenhum ser humano de boa índole passaria adiante informações sem fundamentação, sem confiabilidade, reservando àqueles que deseja servir o conhecimento de excelência, aquele que resistiu ao teste dos séculos, sobre o qual repousam a cultura e o gênio de tantos homens e mulheres que trabalharam de modo obstinado para construí-lo.
Nenhum de nós, homens e mulheres de boa vontade, tem permissão para chamar o delírio, puro e simples, de conhecimento ou arte.
Temos o compromisso de analisar e aperfeiçoar o que foi recebido, melhorando nosso conhecimento a partir do ponto em que nossos ancestrais foram interrompidos, pela morte física ou pela incapacidade mental.
E isto vale para artistas, cientistas, filósofos e místicos.
Sem distinção.
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