Por Mario Sales, FRC
Certas coisas sabemos; outras, não.
Saber é conhecer com clareza e distinção aquilo que é
conhecido. Não há necessidades de algum tipo de crença especial em algo que
sabemos, porque saber é a ausência de dúvida acerca do que se sabe.
Assim, sabemos que um triangulo tem três lados, ou que um
quadrado tem quatro.
Isto não depende de fé, mas de compreensão intelectual.
O mundo esotérico, por natureza, conduz-se em um jogo de velar
e desvelar. De esconder alguma coisa que em princípio alguém, outra pessoa,
quer descobrir.
O mundo esotérico, infelizmente, equivoca-se acerca de sua própria
importância, fazem alguns séculos.
Um trauma que remonta ao período da inquisição, da
perseguição a cientistas, belas mulheres e livres pensadores. Tudo isso passou,
mas o trauma permaneceu. O esoterismo ainda se comporta como se muitos tivessem
o único objetivo na vida de descobrir o que os ocultistas dizem ocultar.
E digo “dizem” por que em realidade, como já discuti em
outro ensaio, “Crenças e Fatos”, não existem evidências abundantes das
afirmações feitas nos livros esotéricos.
O esoterismo, no jogo dos saberes, não mostra suas cartas
alegando que não pode fazê-lo, quando ao fim e ao cabo, ninguém, ou muito
poucos, estão interessados em vê-las. Lembro a frase de Gerard Encausse,
Pappus:
“Jogue nas mãos de um profano um texto esotérico. Ele,
displicentemente, não o lerá. Se o ler, não o compreenderá. E se compreender,
não acreditará.”
O ensino esotérico como preconizado por Spencer Lewis,
baseado em experimentos de confirmação, no domínio de certas técnicas
didaticamente ofertadas aos que as estudam, em monografias simples e diretas,
foi aos poucos relegado a um plano secundário, e a ênfase em crenças e
reflexões éticas aumentou.
As técnicas estão lá, os “experimentos”, ou visualizações
mentais, ainda estão lá; mas salvo engano, corrijam-me se eu estiver equivocado,
são tratadas hoje em dia como práticas não positivistas, mas exercícios de
fortalecimento da fé.
Nessa hora, ficamos muito parecidos com uma religião, o que
não somos, nem nunca fomos.
Dito isto, reitero meu pedido de alguns anos.
Em relação ao conhecimento esotérico, precisamos revisar
nossos métodos didáticos e retomar a busca positivista de evidências de nossas
afirmações.
Precisamos, antes de tudo, fazer um levantamento de nossos
telepatas, de nossos telecinéticos, de nossos terapeutas. Precisamos recensear
entre nós quais tem maior habilidade em projeções astrais, quais têm sonhos
proféticos. Esses indivíduos devem ser convocados a discutir suas habilidades
com seus colegas afins (fratres e sorores) que tenham habilidades semelhantes,
de forma a construir um conhecimento comum e organizar meios de distribuir as
informações práticas referentes a esses dons.
Temos condições, hoje, de fazer seminários virtuais acerca
desses assuntos.
Temos também possibilidade de realmente saber
quem, entre nós, domina e conhece tais habilidades e pode ensinar como fazê-lo.
Lemos frequentemente sobre feitos que nunca testemunhamos.
Vivemos uma época de narrativas, como aqueles descritos na Doutrina Secreta, os
quais Blavatsky chama de “fatos”, dos quais, entretanto, não dá nenhuma demonstração
ou suporte empírico.
Lembro-me, que li em uma monografia, que durante uma simples
convenção rosacruz, Spencer Lewis levitou no palco enquanto afirmava não estar
em nenhum tipo de transe, demonstrando, para todos os presentes, suas
afirmações.
Eu sigo seus passos.
Anseio que a Ordem recupere seu caráter positivista que a
distingue no mundo esotérico.
Pelo menos para que nós, iniciados, possamos lidar com um
saber constituído de solidas bases, e não de convicções que dependam de crença
ou da fé.
Queremos saber, não crer, para citar Carl Sagan.
Não acho que seja pedir muito.
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